Pensamento de Segunda
Nos afogamos em informação ao mesmo tempo que morremos de sede de sabedoria. O mundo, daqui em diante, será dirigido por sintetizadores, pessoas capazes de reunir as informações certas na hora certa, pensá-la criticamente e tomar decisões importantes com inteligência.
Edward Wilson
O bonobo fetichista
Naquela manhã, no consultório psicanalítico…
-Bom dia, meus amigos. A Sra. vai esperar seu parceiro aqui? Fique à vontade. – A doutora virou-se para sua secretária para pedir algumas revistas para a macaquinha que esperaria ali, mas era visível o semblante de “precisamos conversar em particular” da secretária. As duas seguiram até um canto da pequena antessala. Sua nova secretária era uma evangélica fervorosa de saia comprida, um cabelo longo e maltratado, sobrancelhas que nunca viram uma pinça e pernas mais cabeludas do que as do bonobo que esperava sua consulta.
-Doutora, esses dois aí foram ao banheiro. – Sussurrou a secretária.
-Sim, e o que tem isso?
-Juntos, doutora. Acho que eles estavam de saliência. – Falou a secretária agora esquecendo-se de manter baixo o volume da voz.
A doutora lançou-lhe um olhar de repreensão que se transformou num sorriso à medida que ela virava o rosto para o cliente da vez. – Por favor, entre e vá se acomodando no divã, Sr. paniscus. Como posso lhe ajudar? – Perguntou a Dra. assim que encostou a porta.
-Doutora, estou cansado de ser menosprezado pelos trogloditas dos meus primos na jaula ao lado. Eles se julgam muito superiores, verdadeiros gênios. No entanto não veem meus méritos e habilidades. – Disse o símio apertando o estofado do divã com seu polegar opositor do pé.
-Que coisa! E o que é que esses primos sabem fazer de tão especial?
-Nossos primos chimpanzés são de fato espertos, doutora, usam folhas como abrigo da chuva, gravetos para pescar cupins e pedras para abrir coquinhos. Mas isso não quer dizer que eu não tenha meus truques também, eles só são diferentes. Olha, nossas meninas aprenderam a usar cascas de coco para levar água a outros do nosso bando, folhas de palmeira para limpar o corpo, brincamos e nos catamos usando gravetos e nos dias quentes brincamos esguichando água em nossos filhotes usando garrafas que os tratadores nos dão no zoológico.
-Ora, vocês me parecem muito habilidosos. E, sociáveis que são, usam mais as ferramentas para interagir com os outros do que para comer, como fazem os chimpanzés. O que mais sabem fazer? – Perguntou a analista.
Por um instante o Bonobo pareceu enrubescer mesmo sob a pele escura e a psicóloga se perguntando se não havia sido Darwin que disse que o homem era o único animal capaz disso.
-Doutora, minha parceira aprendeu a fazer uma ferramenta interessante com vagens de uma árvore. Usamos essa vagem para nos excitarmos.
– Ele disse agora com um ligeiro sorriso na boca.
-Era isso que vocês estavam fazendo no lavabo antes da sessão? – Um nó se formou na garganta do Sr. paniscus que o impedia de responder ou respirar. Alguns instantes se passaram.
-Me desculpe, é que ela não me deixa parar de usar a vagem. Me pede o tempo todo e, a bem da verdade, eu também gosto.
-Sr. paniscus, há quanto tempo não têm uma relação sexual sem usar a vagem?
– Ah, doutora, nem consigo me lembrar. Ela é parte da nossa vida sexual há anos. – Respondeu o primata.
-Essa dependência do objeto transicional não é saudável para ela, também não é saudável se esse passatempo de vocês atrapalhar outras atividades rotineiras.-Sentenciou a terapeuta.
-Objeto transicional?- Perguntou o Sr. paniscus.
-Vou fazer uma pergunta apenas para o senhor pensar sobre ela. Não é necessário me responder. Quando esse afã sexual atinge sua parceira, ela deseja você ou o fetiche, a vagem?
Dava para ler no rosto do bonobo que aquela pergunta o havia levado à compreensão. Ao final da sessão ele se arrastou porta afora com a cabeça pendendo e as mãos quase tocando o chão.
Na antessala a secretária ainda sustentava ares de censura, mas a macaquinha não estava. Do lavabo vinham uns ruidos estranhos.
-Amor, vamos voltar ao zoológico. Terminamos a sessão.-Chamou o bonobo.
A Sra. paniscus e sua vagem deixaram o banheiro sorridentes, mas não encontraram no parceiro boas-vindas. Partiram como quem tem muito o que discutir. Assim como ficaram a doutora e sua secretária.
-Terapia, humpf! Esses sem-vergonhas precisam é ir para a igreja. – Depois dessa declaração da secretária a doutora já pensava no anúncio de jornal procurando uma funcionária nova.
Gruber, T., Clay, Z., & Zuberbühler, K. (2010). A comparison of bonobo and chimpanzee tool use: evidence for a female bias in the Pan lineage Animal Behaviour, 80 (6), 1023-1033 DOI: 10.1016/j.anbehav.2010.09.005

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Doutores e o mercado de trabalho–Resultado
Obrigado a todos que participaram da enquete e desculpem a demora em analisar os resultados. A eles:
Compartilho do otimismo receoso dos enquetados quanto às futuras contratações. Acredito, e de fato desejo, que passemos de uma fase de crescimento em tamanho para uma fase de crescimento em qualidade. Além disso, acredito que passaremos a ter mais investimento em outra fatia da educação muito relegada a segundo plano, a educação técnica, vedete dos programas eleitorais de mais de um candidato no pleito do ano passado (não que promessa eleitoral queira dizer muita coisa, é claro).
Ok, essa foi uma questão meio óbvia, mas foi interessante ver o resultado. Ela de fato é relativa, se as coisas ficam brabas de verdade, claro que não há solução senão abdicar da carreira sonhada. O resultado para mim reflete um pouco de quanto o cientista é apaixonado pelo que faz. Quantas profissões manteriam 35% de seus adeptos numa condição de escassez de vagas de emprego e baixa oferta salarial? De qualquer forma demonstra bem a importância das políticas públicas de fixação dos bons profissionais para a sobrevivência científica do país.
Mais um resultado interessante, talvez aponte para o perfil dos participantes da enquete, mas caso contrário dá uma boa amostra de que muito mais vagas ainda são necessárias.
Gostei do comentário do Leonardo Gedraite que o ReUni é uma boa forma de fixar professores universitários e não pesquisadores. Essa dicotomia é difícil de fazer no Brasil, já que as duas coisas estão tão entrelaçadas, o que tem vantagens e desvantagens. Já ouvi pesquisadores brasileiros e extrangeiros dizerem que este vínculo é justamente um dos complicadores para o Brasil ganhar projeção científica internacional. Confesso que não tenho uma opinião formada. De qualquer forma, o programa do governo engordou a universidade e segurou muita gente boa que estava perdendo as esperanças. Favorecendo, além disso, o acesso ao ensino superior para muito mais gente ao aumentar o número de vagas nas universidades (gráfico abaixo), mesmo que de maneira desproporcional, como o Marcelo Hermes ressaltou. Pelo menos acredito mais nesse mecanismo do que nas cotas.
Para encerrar, queria anunciar o vencedor do sorteio da enquete. Roberto Berlinck, o chaveiro de erlemeyer abaixo seguirá para o seu endereço. Para os que ficarem com inveja, encomendem seus próprios chaveiros laboratoriais de patchwork. No mais, não percam o próximo concurso.
Pensamento de Segunda
Como é possível que haja pessoas que nem refutam logicamente uma argumentação e nem aceitam as suas conclusões?
Ayn Randt
Não temam, não há crise nenhuma! Um diálogo dialético com Boaventura de Souza Santos
“De certa maneira, o sujeito dialético é interpolado em uma narrativa construtiva que inclui a cultura em sua totalidade. Abundantes teorias existem enfocando o paradigma textual da narrativa, mas o modernismo sugere que o consenso é, apenas e tão somente, um produto da comunicação, desde que o ensaio de Lyotard sobre a narrativa construtiva seja considerado válido. Assim, diversas construções acerca do paradigma materialista do gênero podem ser desveladas.”
Sabe do que se trata o texto acima? Nem eu. Ele foi produzido por sorteio de palavras no divertido site Pos-modernism generator e traduzido livremente por mim. Comecei o texto com esta citação falsa para dar uma ideia de a que sobrevivi.
Semana passada superei um desafio: Li de capa a capa um livro cujo conteúdo eu discordava escrito em uma linguagem que entendo pouco e que, mais importante, me seduz menos ainda. Em um grupo de discussão do qual participo sobre o conceito de ciência nos foi sugerida a leitura e discussão do livro “ Um discurso sobre a ciência”, do sociólogo português Boaventura de Souza Santos. Em síntese o autor sugere que a ciência como a conhecemos está em crise e se encaminhando para ser substituída por uma nova forma de fazer ciência. O livro foi o texto curto mais longo que já li. Apesar de serem apenas 51 páginas, tudo é escrito em termos tão empolados e circulares, como bem cabe a um pós-modernista, que poderia muito bem ter sido gerado no programa do site referido acima.
Santos sugere pesquisas emblemáticas da física como a relatividade de Einstein e a Física quântica como evidências de que a ciência vai mal das pernas. Aliás, relatividade e princípio da incerteza de Heisemberg são dois dos conceitos preferidos de quem quer dobrar a compreensão do que é ciência. Isso porque, a princípio, estes campos subvertem algumas de nossas certezas. É de fato desconcertante pensar que um objeto está e não está em um dado lugar ao mesmo tempo, mas todos que se apropriam destes conceitos o tiram de contexto de forma a ajudar a denegrir o próprio empreendimento que os gerou, a ciência. Para entender melhor o que estes conceitos da física falam e como eles foram distorcidos no raciocínio do Boaventura veja o post do Kentaro.
Boaventura segue argumentando que, a seu ver, tudo o que a ciência faz é subjetivo, já que nem suas medidas nem suas ferramentas de análise (a matemática) são precisas. Este é outro exercício corriqueiro dos pós-modernistas. Relativizar tudo (talvez daí o gosto pela teoria da relatividade em mais um mal-entendido) é dizer que nada é bem assim como pensamos que seja. Entes primitivos da matemática como ponto e zero demandam uma definição, mas daí a dizer que nada que use matemática é preciso é um exagero. Assim o autor escreve: “Em vez da eternidade, a história; em vez do determinismo, a imprevisibilidade, […] em vez da ordem, a desordem.” O que ele descreve como sintomas de uma ciência convalescente, quase moribunda, pode ser apreciado por outros como as ideias que permitiram algumas das maiores revoluções tecnológicas para sedimentar a forma atual de fazer ciência. Não existe uma crise na forma com que fazemos ciência.
De fato, a ciência desenvolveu tamanho status que formas de produção de conhecimento, que mereceriam atenção e respeito simplesmente por serem produtoras de conhecimento, disputam para serem aceitas como ciência, muito embora não apliquem o próprio método que define o que é ciência. As limitações e percalços da ciência parecem perder importância, tornando-se a proverbial grama do vizinho.
Boaventura continua discutindo que a ciência está em crise porque não é bela. Em suas próprias palavras: “o conhecimento científico moderno é um conhecimento desencantado e triste, que transforma a natureza num autômato.” Ora, como bom relativista o autor deveria saber que a beleza está nos olhos de quem vê. Parafraseando o livro de Richard Dawkins, um arco-iris é mais bonito se não soubermos que ele é o resultado da difração da luz por gotículas de água dispersas na atmosfera? Acredito que não. Ao contrário, aos interessados, a compreensão só irá aumentar a beleza ou o interesse de determinado assunto.
Boaventura de Souza Santos encerra seu livro apresentando como será o novo modelo de produção científica. Bem, ele tentou ao menos. Seus presságios foram escritos perto de 1985 e até o momento nenhuma de suas profecias passou nem perto de concretizar-se. Ele começa propondo que as ciências duras e humanas se fundirão, convergindo para o modo de ser das ciências humanas. A ciência dura busca isentar-se de interferir em seus resultados, já as ciências sociais acreditam que a interação é inevitável. Buscar alterar o mínimo possível seus resultados precisa ser um objetivo do cientista, abdicar disto é jogar para cima todo o procedimento que fez a ciência atingir seu status atual. Se esta previsão do autor se concretizasse a ciência perderia seu caráter, felizmente ele tem se demonstrado muito ruim de chute.
Em mais um exemplo de malabarismo literário o autor afirma que, em sua ciência pós-moderna, não haverá mais separação do conhecimento em áreas. Novamente transcrevendo-o: “Todo conhecimento é local e total […] Sendo um conhecimento disciplinar, tende a ser disciplinado, ou seja, segrega uma organização do saber orientada para policiar as fronteiras entre as disciplinas e reprimir os que as quiserem transpor.” Mais uma vez o autor não conhece nada de como se faz ciência de ponta hoje, numa edição recente da Nature a matéria de capa estudava a relação entre formas de governo polinésias usando sistemática filogenética, uma ferramenta tradicionalmente da biologia. Atravessar barreiras é uma das formas mais culturalmente ricas e cientificamente elegantes de gerar novos conhecimentos. Talvez aí o autor acerte caso suas premonições se concretizem. Particionar o conhecimento em disciplinas acontece porque o volume de informação é tão grande que é impossível dominar muitas áreas. Já que a ciência pós-moderna que ele propõe parece inviabilizar a produção de um grande volume de conhecimento, é possível que com o tempo voltemos a dominar muitas áreas como na época da história natural.
As duas últimas propostas do autor são: a ciência do futuro será uma forma do cientista se auto-conhecer e que todo conhecimento científico quer ser conhecimento popular. O primeiro é mais uma investida relativista, cientista que quer se conhecer não vai estudar as ligações atômicas possíveis entre elementos químicos, vai fazer terapia! A ideia é que as pesquisas, as hipóteses e as conclusões que um pesquisador elabora falam mais sobre o pesquisador do que sobre a pergunta. Não é que não falem sobre o pesquisador, mas o foco delas não é este. Quem quer auto-conhecimento não vira pesquisador, vira sujeito experimental. Quanto ao senso-comum, até poderia aceitar que seria interessante que o conhecimento científico fosse tão bem divulgado que fizesse parte do repertório de conhecimento do cidadão comum, mas não tornando-se saber popular. Ele pode ser dominado pelo público sem perder seu caráter de ciência.
Se valeu o sofrimento da leitura? Como disse o Karl, pelo menos o livro ainda gera discussões e posts. Mas nas próximas reuniões vou pressionar para ser algo mais digesto. E chega que eu acho que este é o post mais longo da história do Ciência à Bessa…
Pensamento de Segunda
Fatos inexatos são muito prejudiciais à ciência, já que, em geral, resistem por muito tempo; mas visões incorretas, desde que sustentadas por alguma evidência, geram pouco prejuízo, pois todos se ocupam do saudável prazer de refutá-las.
Charles Darwin
Quais os saberes biológicos e didáticos que o biólogo deve constituir?
Apontar tópicos específicos seria tão exaustivo quanto uma reunião pedagógica, para isso existem os documentos do MEC e CFBio, os índices dos bons livros textos e as ementas. O que um formando em biologia precisa é de ferramentas específicas e grandes temas. Eu listaria quatro temas centrais que as disciplinas de Ciências Biológicas deveriam rodear, estes quatro temas deveriam ser tão exaustivamente explorados ao longo de uma graduação que se sedimentariam naturalmente na consciência dos alunos: Evolução biológica, níveis de organização da vida desde célula até biosfera, diversidade biológica e leis da hereditariedade. Como toda lista, esta está incompleta e sujeita a críticas. Façam bom uso do espaço para comentários.
Fora esses tópicos eu sugiro que algumas ferramentas sejam fortemente recomendadas aos estudantes: senso crítico, raciocínio e busca pela informação. O senso crítico ajudará o profissional que está sendo formado a duvidar sempre, primar pelo método científico, não engolir argumentos de autoridade ou falaciosos em geral. O raciocínio significa estimular o estudante , não só a saber conceitos, mas também conectá-los de maneira a resolver problemas mais reais. O gosto pela informação o ajudará a manter-se atualizado numa situação de progresso do conhecimento tão acelerado que pouco tempo parado significa obsolescência cognitiva. Com estas ferramentas e conhecimentos os profissionais que se formarem estarão muito bem munidos para o futuro.
Como deve aprender biologia aquele que em um futuro próximo dedicar-se-á a ensiná-la?
Com prazer! Essa seria minha resposta mais imediata, mas vou elaborá-la. Existem muitos livros de Zoologia de Vertebrados com muitíssimas informações, possivelmente mais informações desse assunto do que cabe na minha cabeça. Por que então minha disciplina não é apenas uma leitura destes excelentes livros? Acredito que o que difere um curso da leitura de seu livro texto é a emoção, o prazer. Nas minhas aulas posso emocionar com uma sinfonia de cantos de anfíbios ameaçados de extinção, posso cativar com fotos de mamíferos fofos, posso intrigar com a simulação de uma expedição naturalística e fazer rir com um cladograma de sapatos chulerentos. O Pough não pode nada disso em sua encadernação de enésima edição da Vida dos Vertebrados.
Às vezes vale a pena abrir mão de um pouco do conteúdo para encantar sua audiência. Se ela se apaixonar pelo assunto, o que não foi possível ensinar como se deveria, ela irá buscar por interesse próprio porque o professor cumpriu este papel de encantar.
A grande dificuldade reside em saber encantar e em encantar a todos. Quanto ao segundo problema eu já lhes alivio: vocês não conseguirão. É impossível tocar a todos do mesmo jeito, uns sempre se motivarão mais do que outros, isso é natural. Cabe ao professor diversificar as experiências de forma a tentar abraçar a maior parte da sua plateia, mas cabe também a leveza de espírito de saber-se humano e sujeito a incapacidades. Já o saber encantar eu vejo mais como uma auto-sondagem. Pergunte-se por que você ama tanto aquilo que ensina, começar por aí já é um excelente caminho.
Que biologia deve saber um futuro professor de biologia?
As semanas que antecedem o início das aulas são características pela realização das reuniões pedagógicas. Essas reuniões podem ser maçantes e pouco produtivas, mas não precisam ser assim, é apenas uma questão de organização e proposição de objetivos. Aliás, para os leitores em algum grau ligados à realização de reuniões, sugiro o livro da série Você S/A “Administre seu tempo” e “Trabalho em equipe” e o livro de administração da vida acadêmica do Gilson Volpato. Há outras dicas boas neste site, de repente vale a pena mandar essas referências para seus chefes de um e-mail anônimo como uma crítica construtiva. Este ano, nossa coordenadora pedagógica nos sugeriu uma lista de reflexões que eu resolvi responder via Ciência à Bessa. Fica assim documentado que eu fiz o meu dever de casa.
Pergunta 1) Que biologia deve saber um futuro professor de biologia?
Acredito que o conhecimento que deva ser exigido de um futuro professor de Biologia seja como os oceanos do Cambriano, muito vastos, mas não necessariamente profundos demais. O profissional que se lança nessa carreira pegará amanhã aulas de ciências para a 5ª série fundamental sobre ciclo da água, depois um pré-vestibular em genética, a seguir botânica para o 1º ano, óptica para a 8ª série e por aí vai. A diversidade de temas cobrados será grande, portanto não será possível aprofundar-se em demasia.
Por outro lado, temo bastante as políticas do MEC para os cursos de licenciatura que preveem uma carga horária assombrosa de disciplinas pedagógicas enquanto que os assuntos daquela formação ficam resumidos a poucas aulas. Em biologia, por exemplo, o Conselho Nacional de Educação regulamentou acerca dos conteúdos mínimos para licenciados. Exige-se um mínimo de 400 horas de prática docente contra 40 horas de zoologia de vertebrados, a minha disciplina na UNEMAT. Acredito que esta medida visa formar excelentes professores, mas sabe-se lá do que! Pessoas pedagogicamente bem preparadas para lidar com a sala de aula, mas que terão muito trabalho em conhecer bem o conteúdo que ministrarão.
Qual a medida certa desta profundidade de conhecimentos então? Difícil responder, mas vou pela fala de uma professora minha que merece um pensamento de segunda. “O professor precisa saber, saber que sabe e saber acima de tudo que o aluno não precisa saber tudo o que ele sabe. O conhecimento do professor precisa ir até o ponto que lhe dê o conforto de saber tudo o que precisa ensinar e uma margem de segurança.” Era o que nos dizia a Prof. Sônia Lopes, autora de um dos livros-textos mais usados em Biologia.
No mais, acredito que o professor deva aprender sua própria maneira de encantar o estudante, mostrar como é belo o conhecimento, falar aos seus corações, além de seus cérebros. Sendo bem sucedido nisso, do resto o tempo toma conta.