GPS e a Relatividade

header.jpg
Um vídeo, premiado (menção honrosa) no 2010 International Science & Engineering Visualization Challenge, concurso organizado pela National Science Foundation americana, que tem como objectivo difundir diferentes formas de difusão da Ciência, seja um vídeo, poster ou ilustração.
Neste vídeo, e de uma forma clara, várias ideias são apresentadas, umas utilizadas por quase todos diariamente, como o GPS, e outras que quase ninguém percebe mas que muitos falam, como a Teoria da Relatividade.
Gosto quando conceitos aparentemente afastados e distintos são dissecados revelando a proximidade escondida.
Este vídeo apresenta apenas um pequeno senão (não para mim…): os seus 8 minutos são demasiado longos para jovens que acham que um vídeo do Youtube com 2 minutos é uma seca…

No site do 2010 International Science & Engineering Visualization Challenge todos os premiados.
Aqui fica o vídeo que agrega o trabalho de alguns dos vencedores deste concurso.

Imagem: 2010 International Science & Engineering Visualization Challenge

Doutores

deolinda (Large).jpgAcordei e entretive o café com mais um bom texto do Rui Tavares(1).
As palavras sarnavam a minha geração, transferindo-as para uma letra dos Deolinda(2).
Depois dei com os vídeos abaixo(3), feitos por gente que estuda, e roubados ao blog do parceiro Átila Iamarino, meu parceiro blogueiro no Science Blogs Brasil.
Não sei que fazer com estes dois blocos de informação.
Triste, pela cada vez maior estufa profissional que gerações de gente qualificada são obrigadas a suportar?
Alegre, pelo manancial de jovens ultra-preparados?
Ou que quando for hora, terão ferramentas e não só boas vontades para mudar o mundo?
Não sei.
Digam-me vocês…

Referências:
1 – artigo de Rui Tavares no Público de 2 de Fevereiro de 2011.
2 – vídeo dos Deolinda, “Parva Que Sou” (na página a letra da música).
3 – blog Rainha Vermelha de Atila Imarino

Pirâmides nas trevas

Em 1988, eu e o meu pai tínhamos chegado ao Cairo pela noite.
A escuridão e o calor foram as primeiras sensações que tive do Cairo.
Era tarde e fomos transportados directamente do aeroporto para o hotel. Cansado, acabei por adormecer sem verdadeiramente perceber que estava noutro país, noutro continente.
Acordei bastante cedo, despertado pelo sol que entrava pelas cortinas do quarto. O meu pai ainda dormia. Levantei-me e, como sempre, procurei o sol matinal.
Abri as cortinas com as duas mãos para ver a cidade do alto, já que o nosso quarto estava num dos últimos andares hotel.
Não mais esqueço a sensação que tive de seguida. A interromper a paisagem amarelada, de casas que me pareciam de areia ou cartão, ao fundo plantava-se um objecto geométrico, enorme. A escala do objecto foi o que me deixou sem fôlego. Apesar de estar a vários quilómetros de distância, o objecto, porque apenas um me parecia, interrompia-me o horizonte de uma forma como nada até aí o havia feito.
“Pai, anda ver!”, chamei.
O meu pai, sem que eu tivesse percebido, estava desperto, atrás de mim.
“Sim, são as pirâmides”, disse-me ele.
E ficámos os dois, por uns instantes, a ver aqueles gigantescos objectos que interrompiam o horizonte, como se tivessem caído do céu.
Na véspera, a escuridão não havia deixado perceber a escala das coisas.
giza-pyramids-soaring-above-500.jpg
Esta banal história veio-me à memória, no meio de informações ininterruptas que me chegam do Egipto e do Cairo.
Algo grande aparece no horizonte, mas ainda não se entende o que é, através da escuridão que é a incerteza.
Que não venham as trevas, espero, quer sob a forma de Irmandades Muçulmanas, quer de quaisquer outros tipos.
Apenas isso.
Que as trevas não impeçam que se veja a escala das coisas.
Já agora: proporá também a Esfinge egípcia um enigma aos manifestantes?

Imagem: daqui

Aprender de Ouvido

Em crianças, balbuciamos o que ouvimos, esperando que nos escutem. Praticamos futuros discursos a partir de ouvidas conversas, trauteando a música de palavras que desconhecemos, cobertos por emprestadas capas sonoras.
Vemos os nossos pais também com os ouvidos, numa aprendizagem que é conhecida por todos, enfim.
Mas não somos os únicos a fazê-lo.
Cheryl Warrick1.jpgAs aves canoras aprendem igualmente com um adulto a arte que as irá transformar em verdadeiras bandas-sonoras ambulantes. Aprendem de ouvido, deduzo.
O que agora revelam os cientistas é a descoberta de uma zona cerebral responsável pela memorização/aprendizagem do canto pelas aves.
ResearchBlogging.orgA novidade científica é importante para a poesia ou para a compreensão dos processos biológicos dos animais que povoam os nossos céus, arrisco. Para os colegas cientistas, o essencial desta descoberta reside em que poderá contribuir para a compreensão dos processos de aprendizagem da linguagem no ser humano. Tal como nós, nas aves canoras as zonas da memória auditiva e da produção sonora estão localizadas em áreas distintas dos seus cérebros. A memória auditiva, por vezes negligenciada tanto no nosso imaginário, como sobretudo em áreas da pedagogia, tem um papel vital na aprendizagem da produção oral.
Memorizar o que se ouve é fundamental na aquisição e desenvolvimento da linguagem pelas crianças. Há que ouvir, para depois falar, sempre ouvi dizer… as aves que o comprovem, canto eu de galo.
As memórias sonoras parecem ser assim responsáveis pela iniciação musical das divas que voam nos campos.
Numa das suas saborosas crónicas, Fernando Alves citava um destes dias um provérbio chinês: “Um passarinho não canta porque tem uma resposta. Canta porque tem uma canção.”
Cheryl Warrick.jpgE de onde lhes vem a canção que cantam?
Já vimos que ouvindo um mestre, mas é preciso algo mais que saber ouvir.
O cérebro das jovens aves revive, durante a noite, o canto do progenitor, sendo activadas as zonas cerebrais da memória sonora. A activação neuronal nocturna implica, assim, a memória auditiva.
Para cantar, a jovem ave sonha com o canto do mestre, penso eu.
Sem solfejo ou conservatório, as aves canoras aprendem.
Aprendem de ouvido.
Nos dias alcatifados de sons em que vivemos, estará a arte de aprender ouvindo próxima do silêncio total?
Referência:
Gobes, S., Zandbergen, M., & Bolhuis, J. (2010). Memory in the making: localized brain activation related to song learning in young songbirds Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, 277 (1698), 3343-3351 DOI: 10.1098/rspb.2010.0870
Imagens: Cheryl Warrick
Publicado no jornal barlavento de 20 de Janeiro de 2011

Eoraptor e Eodromaeus – o que foi não volta a ser

Eodromaeus murphi (Large).jpgNa minha tese [3], seguindo o autor Paul Sereno, Eoraptor era um terópode basal.
Assim o comparei com outros dinossauros e com mamíferos, em termos morfométricos a fim de perceber a evolução do esqueleto apendicular e da disparidade morfológica nestes grupos.
Agora, vem à baila outro dinossauro primitivo do Triásico da Argentina, o Eodromaeus murphi [1].
Neste novo estudo, o Eoraptor lunensis parece ser enquadrado não como um terópode, mas como um sauropodomorfo.
Deixou de ser um membro basal de Theropoda, dinossauros carnívoros, e pertence agora à linhagem Sauropodomorpha, que inclui os dinossauros saurópodes, de cauda e pescoços compridos.
Ainda bem que já defendi a tese, caso contrário teria muitos cálculos a refazer.
Observem lá bem a sequência dos cladogramas ao longo do tempo, científico, claro está…
EORAPTOR_POSITION (Large).jpg
A análise mais aprofundada das implicações evolutivas de todas estas movimentações ficará para outra altura…
Referências:
1 – Martinez et al. 2011. A Basal Dinosaur from the Dawn of the Dinosaur Era in Southwestern Pangaea. Science, DOI: 10.1126/science.1198467
2 – Sereno, P.C. 2007b. The phylogenetic relationships of early dinosaurs: a comparative report. Historical Biology 19(1): 145-155.
3 – Rodrigues, L.A. 2009. Sauropodomorpha (Dinosauria, Saurischia) appendicular skeleton disparity: theoretical morphology and Compositional Data Analysis. Universidad Autónoma de Madrid, Ph.D. Thesis. Supervised by Angela Delgado Buscalioni and Co-supervised by Jeffrey A. Wilson. ISBN 978-84-693-3839-1
Imagens:
1 – Características anatómicas pós-craneais de Eodromaeus murphi – de 1.
2 – Cladogramas com os diferentes posicionamentos de Eoraptor lunensis – adaptada por Luís Azevedo Rodrigues a partir de 1 e de 2.
Actualização 14/01/2010
Um dos autores do estudo, Paul Sereno, fala sobre o mesmo:

Bioformas…

Gosto.
Recordou-me este post.
800px-Trachelophorus_giraffa_male_01.jpg
Nome: Trachelophorus giraffa
Imagem: daqui

Ensitel ou o Preço da Justiça

tyrtyt.jpgO caso Ensitel (aqui e aqui, por exemplo) veio demonstrar algumas tendências, pelo menos do que acompanhei pela Twitter.
Gostaria de fazer algumas considerações prévias sobre este “caso”:
1 – Considero que o comportamento da Ensitel foi e é de profundo desprezo pelo seu cliente;
2 – O comportamento da Ensitel revelou um enorme desconhecimento do actual papel/influência das redes sociais como mecanismo de pressão/divulgação;
No dia 28 de Dezembro tentei manifestar as minhas opiniões sobre este assunto no Twitter.
Qual anti-cristo, fui apelidado de quase tudo.
O que penso:
1 – Este caso não teria sido ampliado como foi caso a cliente em causa não fosse gestora dos blogs da Sapo;
2 – Que o caso serviu de válvula de escape a desejos de actuação directa que a maioria dos utilizadores das redes sociais nomeadamente do Twitter e do Facebook têm.
Estes desejos de acção directa foram ampliados pelos recentes acontecimentos de boicote/sabotagem dos sites de algumas empresas por apoiantes de Julian Assange e da Wikileaks.
3 – Se os custos da justiça/legais em Portugal não fossem proibitivos para o cidadão comum, a cliente/gestora dos blogs da Sapo processava a Ensitel por tentativa de condicionamento da sua liberdade de expressão.
Assim, o cerne do problema é o cidadão comum não ter dinheiro para travar batalha legal contra um batalhão de advogados da Ensitel.
Desta forma, a sensação de David contra Golias, apesar de não consciencializada, é ampliada neste caso, sendo facilitada pela resposta perfeitamente básica da Ensitel.
4 – Apesar de ser uma causa justa e a resposta colectiva interessante, pela tentativa de condicionar liberdade de expressão, considero que foi um desperdício de energia reivindicativa já que o caso poderia ter sido simplesmente resolvido não fora o ponto 3.
Nos dias que correm, as redes sociais poderão ser o veículo do descontentamento político que as estruturas partidárias não permitem.
Parafraseando-me do Twitter:
“Caríssimos: apesar de justa, a causa de Ensitel permite que se sintam válidos. Boa. Mas fazei mé mé mais baixo…”
Imagem: daqui
P.S. (30/12/2010) – este texto, melhor argumentado que o meu, reflecte no geral as mesmas ideias que o meu. Do Apdeites

Tempos de Crise – apertar o coração e o fígado

texto publicado no jornal Barlavento, 9 de Dezembro de 2010
PDF do artigo
A adaptação é fundamental para que se sobreviva.
Animal, planta, empresa ou mesmo uma relação sentimental, todos se devem adaptar a novas condições.
animal-mummies-gazelle-615.jpg
A contenção é tanto mais importante quanto maiores forem as adversidades ambientais. Um destes ambientes com condições de vida inóspitas é o deserto, onde as altas temperaturas dificultam a sobrevivência, as grandes amplitudes térmicas entre o dia e a noite tornam o ambiente inacessível à maioria dos seres vivos. Contudo, é a falta de água que, de forma directa (para beber) ou indirecta (reduzindo o número de plantas que são a base da cadeia alimentar) condiciona a habitabilidade dos desertos.
Como é que, então, sobrevivem os animais que habitam esses ecossistemas com tais condições extremas?
Num artigo da revista “Physiological and Biochemical Zoology” são apresentadas alguns dos mecanismos de sobrevivência em ambientes desérticos.
A espécie analisada, a gazela da areia – Gazella subgutturosa marica, habita o Deserto da Arábia, um dos locais com condições climáticas mais extremas a nível mundial. Os investigadores verificaram que estes animais eram os que apresentavam menores perdas de água destes ambientes. Ainformação, embora importante, não surpreende, pois é a resposta que se espera de animais que sobrevivem nos desertos.
Como evitar, então, as perdas de um bem tão precioso como a água?
Nas nossas casas sabemos que quando a entrada de dinheiro diminui só há uma coisa a fazer para equilibrar o orçamento: cortar nos gastos.
Pois a gazela faz exactamente o mesmo, embora deixar de ir ao cinema esteja longe dos seus pensamentos… Em momentos de maior carência hídrica e alimentar, estes animais reduzem quer o peso do fígado, quer o peso do próprio coração. As alterações fisiológicas naqueles órgãos revelam a diminuição na taxa metabólica, ou seja, da actividade celular dos organismos.
Assim, tal como fazemos na economia doméstica em tempos de necessidade, as gazelas apertam literalmente onde podem – corações e fígados.
Contudo, descobriu-se que estes animais aumentam o conteúdo de gordura no cérebro, oferecendo ao órgão fundamental a energia necessária ao seu funcionamento nos momentos difíceis.
Assim, as gazelas do Deserto da Arábia conseguem contornar os tempos de crise – reduzem o peso do fígado e coração mas aumentam a gordura no cérebro.
Pura economia biológica.
Pena é que a redução do coração e fígado económicos, que estamos a aguentar, não seja acompanhada do correspondente engordar do cérebro governativo.
Imagem – National Geograhic

Esta é Nossa

O pouco que se fez muito no meu sentir Portugal aconteceu quinta-feira.
Num mundo de homens-cópia* e países-clone, na quinta fomos diferentes.
Celebrámos um homem que não era cotado em Londres ou Tóquio, que não tinha valor em Nova Iorque.
Era rico em coisa nenhuma, vendia o que não dá lucro, esbanjava tempo, em tempos de crédito mal-parado.
Era homem num mundo de ratices.
Dizia adeus de braços abertos, sem nada em troca.
Há tempos assim.
Tempos em que sinto gana de não ser de outro lado que de um país que acena a quem passa.
País que tinha um bom louco que acenava.
Dá-nos pão?
Se calhar, mas pão para um alma desgastada.
Há maior poesia que esta?
Há.
Mas esta é nossa.

O Adeus, ao Sr. do ADEUS from João Nunes on Vimeo.

P.S. – para os meus queridos leitores do Brasil em baixo poderão perceber sobre quem falo no texto:
Aqui, aqui e aqui
* – palavra de José Manuel dos Santos, um dos melhores cronistas portugueses.

A Imortalidade de Um Saco Plástico

Sobre o vórtice do pacífico.
Sobre os dramas existenciais.
Sobre a morte e a necessidade de sermos desejados.
Sobre nós.
Tudo a partir da imortalidade de um saco plástico.
P.S. – uma lição de conservação planetária, bem melhor que lamechices à Al Gore.

Fonte – “Future States”
Inspiração – Micaela Sousa, “a place to be”