Seia, Trás-os-Montes

“Mas é mesmo esse! Olhe, está a ver, queijo curado de ovelha!”.

“Minha cara senhora…Como já lhe disse, este queijo é de Seia e Seia pode ser em qualquer lugar menos ser em Trás-os-Montes!! E o queijo que quero é de Seia e esse preço é de um queijo de Trás-os-Montes!
De maneira que o preço que me está a mostrar não pode ser esse!”

“Pois onde fica Seia não sei…mas o preço é esse!!”, disse-me enquanto me olhava com o desprezo que deve nutrir por preciosistas-geográficos como eu…

Parte de um diálogo trocado com funcionária de um supermercado…

O certo é que o preço não era aquele, Seia regressou à Serra da Estrela e Trás-os-Montes…não ceei nenhum dos seus queijos!

DINO POR ELEFANTE?

Em linguagem comum: como confundir um elefante com um dinossáurio!

Resumo da notícia da Reuters:

“A police officer displays a fossil jawbone they found while investigating a suspicious package on a bus in the mountains of Peru, during a news conference in Arequipa March 25, 2008. The fossil, initially identified by acheologist Pablo de la Vera Cruz of the National University as possibly that of a triceratops, weighs some 19 pounds and was found in the cargo hold of an interprovincial bus.”

O que parece da foto é que o arqueólogo em causa não sabe o mínimo de anatomia comparada, confundindo um dinossáurio pela mandíbula de um qualquer Proboscidea fóssil

Moral da História:
1- se queres aparecer na Reuters diz-lhes que encontraste seja o que for de dinossáurio, nem que seja um leitor de MP3;

2- em caso de dúvida sobre um fóssil pergunta sempre a um arqueólogo, assim como assim, o Indiana Jones sabia de tudo.

3- Não perguntes a opinião a um paleontólogo porque o nome é muito difícil de ser dito;

4- O Dumbo era um dinossáurio, toda a gente sabe…;

5- só espero que a credibilidade do resto das notícias da Reuters não seja aferida por esta.

Agora comparem a imagem da uma mandíbula de mamute norte-americano com a de uma mandíbula de um Triceratops.

Notícia – daqui
Comentário – daqui
Imagens – Reuters/Stringer; mandíbula de mamute – daqui; TriceratopsKris Kripchak

Os Museus também se abatem…!

“Museu dos dinossauros é fechado em Uberaba

Prefeitura da cidade informou que vai reabrir o local e assumir a direção

Foram fechados, nesta terça-feira, o museu dos dinossauros e o centro de pesquisas paleontológicas de Uberaba, no Triângulo Mineiro. A fundação responsável pelo local não renovou o convênio com a prefeitura, que garantia o repasse de recursos para manter o museu. O acervo do centro de pesquisas já começou a ser retirado e todos os funcionários foram demitidos.

O prefeito de Uberaba, Anderson Adauto, disse que a prefeitura vai reabrir o Museu de Peirópolis. A direção também será assumida temporariamente. Em duas décadas, o local já foi visitado por 300 mil pessoas.”

FONTE – Globominas.com

Disparates

Depois de em Novembro aqui ter referido a descoberta de um mega escorpião marinho, verifiquei que o Oceanário voltou a meter a “pata na poça”.

Não sei quem fará a revisão destas notícias mas afirmar Cientistas ingleses descobriram um insecto que, por mais que quiséssemos, não conseguíamos dar cabo dele com o mata-moscas! Os cientistas encontraram uma das garras do insecto e esta é tão grande que rapidamente concluíram que terá pertencido ao maior insecto de todos os tempos! é um bocadinho exagerado!

É que Insecta é diferente de Eurypterida (escorpiões marinhos, extintos), apesar de ambos pertencerem a Arthropoda.
Seria como noticiar a descoberta de uma nova espécie de porco gigante e classificá-la como o maior morcego já existente.

Enfim…preciosismos de quem tem que descansar a descobrir erros nos materiais do Oceanário.

Imagens – Ernst Haeckel’s “Kunstformen der Natur”; daqui

Carta a um pesquisador histórico, assalariado do Sr. Miguel Sousa Tavares

(Publicado no jornal O Primeiro de Janeiro a 27/12/2007)

Carta a um pesquisador histórico, assalariado do Sr. Miguel Sousa Tavares,


“Há duas tragédias na vida. Uma é não se ter o que o coração deseja. A outra é ter.”

George Bernard Shaw

Caro Pesquisador histórico, assalariado do Sr. Miguel Sousa Tavares,

Quanto à informação histórica solicitada, é com tristeza que o informo de que não a poderei fornecer.
Tal facto deve-se sobretudo a contenções orçamentais de vária ordem, como as recentemente sugeridas pelo seu empregador, nomeadamente os “desperdícios” orçamentais em actividades de descrição, inventariação, estudo e publicação ou preservação do património histórico-natural.
Assim, esse tipo de informação, gerada por aquelas actividades, passará a ser produzida unicamente por entidades privadas, como aquela que o Sr. representa. Desta forma, não caberá ao Estado tal supérfluo papel.

Passo a explicar: toda e qualquer acção que vise preservar e estudar actividades, marcas e reminiscências, quer humanas quer biológicas, não se enquadra nas funções do Estado português. São antes actividades que representam um desperdício de fundos indispensáveis aos nossos concidadãos.
Como iria compreender e aceitar um contribuinte de Bragança, por exemplo, que eu tivesse gerado e lhe fornecesse informações históricas, ou de outro tipo, resultantes de investimento público, se esse contribuinte não tem sequer um Centro de Saúde disponível?
Bem sei que nem só de pão vive o Homem, mas como sugere o seu chefe, não caberá ao Estado a provisão dessas outras exigências não-acessórias.
Além das necessidades básicas, deverão existir entidades privadas, como aquela que o seu empregador representa, que invistam em investigações e actividades de preservação do Património Histórico e Natural, absolutamente dispensáveis no actual contexto económico.

O povo quer informação histórica?
Que a tenha gerada pelo sector privado, de preferência sob a forma romanceada, na prateleira de um qualquer hiper-mercado suburbano.
O povo quer o seu património natural protegido?
Que o pague e se junte ao seu empregador, em fins-de-semana lúdicos nas reservas de caça privadas do Alentejo natural.
O povo quer conhecer o património histórico-natural?
Que compre livros do Michael Crichton e do seu exército de pesquisadores, que vasculham a investigação patrocinada pelo despesista contribuinte norte-americano.
Ou que visite os centros paleontológicos ou arqueológicos, na pobre vizinha Espanha, tais como o Museu do Jurássico nas Astúrias ou Atapuerca.

Os referidos contribuintes americanos e espanhóis com certeza desconhecerão as visões do seu empregador, ou não seriam tão burlados como são.
Desta forma, e na linha das profecias economicistas do seu empregador, não poderemos satisfazer os seus pedidos de informação histórica para o seu futuro best-seller.
O referido senhor deverá dirigir-se ao Centro de Emprego mais próximo e contratar um qualquer bando de profissionais, como biólogos, geólogos, paleontólogos, arqueólogos, historiadores e outros capacitados para emitir pareceres, que, de cabeça baixa e subservientes, engrossarão a vasta equipa geradora de preciosidades romanceadas de um passado mais brilhante do que este que nos oferecem.

Atenciosamente

Um funcionário

P.S. – comentário ao artigo de opinião de Miguel Sousa Tavares, no jornal Expresso de 22 de Dezembro de 2007.
O Sr. Tavares dever-se-ia preocupar nos motivos e nas causas da falta de rentabilização de algumas das infra-estruturas culturais que refere e não no património subjacente. Por vezes há que investir mais do que 10 para se poderem obter 100.
E não carpir nos 10 que se investiram.
É o que espanhóis, americanos e outros povos “enganados” fazem.
P.P.S.- já em 2001 o douto autor havia desencadeado semelhante ataque ao qual respondi em carta ao director no Público.

IMAGENS – daqui, daqui e daqui

Opção ou como já foi a segunda figura do Estado

Fui chamado à atenção da resolução Conselho da Europa “The dangers of creationism in education (Doc. 11375)”, a qual teve o seguinte resultado, em que destaco os deputados portugueses:
João Bosco Mota Amaral votou contra;
-Maria Manuela Melo e Ana Catarina Mendonça votaram a favor.

Caro Senhor ex-Presidente da Assembleia da República, João Bosco Mota Amaral,
Não me revejo de todo na sua posição.
Apesar de ter sido a segunda figura do estado português de 2002 a 2005, sinto vergonha pelo sentido de voto na referida resolução do Conselho da Europa.
Mais vergonha sinto por um português ter integrado as “fileiras” criacionistas – espero que de forma involuntária.

No meio das claques…

(Na sequência de um post que publiquei e a que a Palmira F. Silva fez referência fui apelidado, por um blogger anónimo, de “…(e agora até liga outros) blogs anti-religião.”)

Caro anónimo(s) jonatasianos e criacionistas menos derivados,

Raramente vos comento em matérias que não envolvam a minha área de trabalho.
Não poderia, no entanto, deixaria de vos dizer o seguinte:
-com agrado, fundado apenas na ignorância de pessoas por quem nutro desacordo intelectual, verifiquei que os epítetos à minha pessoa entraram num campo original – apelidarem-me de anti-religioso.
-poderia tecer considerações sobre a minha religiosidade ou a inexistência dela mas seria, na minha opinião, revelar pormenores pessoais que somente a mim dizem respeito – não conhece quem quer, apenas quem a isso está disposto – e Vossas Excelências não merecem tal agrado.
-é com satisfação que vejo que não largaram as dicotomias argumentativas a que, habitualmente, se recorrem – ou pró-criacionismo ou anti-religioso.
Deverei, por analogia e no mesmo nível de raciocínio, perguntar-vos que se for pró-Beira-Mar serei um esconjurado anti-Académica? Pois então sim! Venham de lá essas capas da Briosa inundar os meus ovos-moles beira-maristas!!

E quanto ao Sumol? Prazenteiros consumidores de Sumol de ananás inibirão a consulta de blogs pró-Sumol de laranja?

Se ser anti-religioso é pactuar intelectualmente com as atoardas, ignorâncias voluntárias e maniqueísmos de Ciência vs Religião, pois que seja.

Prefiro partilhar o Inferno com os primos Pan troglodytes que o Céu com exemplares Homo sapiens como vós.
Ao menos sei o que move os meus primos – felicidade, seja a procriar, comer ou o que for.
A vós o que vos move? A felicidade dos outros?
Duvido.
O medo. A ignorância. A manipulação deliberada.
A mim move-me procurar a minha felicidade e a dos outros.
Se passar pela religião, que passe.
Se não passar, deixai-a.
O que vos digo é o mesmo que digo a quem critica a religião alheia: não voltareis a provocar que sinta tristeza por pertencer ao mesmo género e espécie que vós.
Ignoro-vos. Ou melhor, tento.

Luís Azevedo Rodrigues

Qualquer dia prefiro os criacionistas…se calhar não!

“No Verão vêem-se mais OVNIs em Portugal”
“os fenómenos OVNI estão bastante localizados em Portugal, com maior incidência junto à água, nas barragens e nas Serras da Gardunha, de Sintra, de Montejunto, da Estrela e de Monchique».”

Jornal Sol on-line, 30/06/2007

O curioso é que descobri uma referência a um grupo de investigação numa universidade privada portuguesa e que se dedica a este tipo de questões – CTEC – Centro Transdiciplinar de Estudos da Consciência, Universidade Fernando Pessoa.
Outro grupo português, Sociedade Portuguesa de Ovnilogia, cujo lema é “Estudar sériamente observações de OVNIS em Portugal”.
Já agora, e seriamente, não há ninguém que os avise que “seriamente” não é acentuado?

Algumas perguntas breves, que tenho uma tese à espera (citações subsequentes do site do CTEC):

“Os territórios do CTEC atendem, sobretudo, à convicção de que não é mais possível ignorar as profunda e potencias consequências de relações, até há pouco indiscerníveis, entre a consciência humana, a mente e o corpo.”
Convicção? Se já partem da convicção em algo talvez não seja um ponto de partida muito fiável para um processo científico…
“…estudar as implicações dos modelos holográficos e quânticos da consciência…”

Desculpem a ignorância…alguém me pode explicar o que são os ditos modelos?
“…promovendo a compreensão das relações do ser humano com o universo;…”

Isto também eu gostava de perceber… Para mentes simples como a minha talvez fosse melhor – Qual é o sentido da Vida?
“…testar e ampliar novas metodologias exigidas pelas dimensões físicas e neurofisiológicas como por exemplo, as experiências para-religiosas, “próximas da morte”, “fora do corpo”, onde se esbate a nossa actual definição de Real.”

O Real…o meu real é tudo aquilo que percepciono por intermédio do meu corpo…se sair dele o que tenho?
O extra-real ou o Real?

Muito New Age para o meu gosto….
Mas que sei eu?
Nada!

(o “outro” lado, na visão publicitária)

(adenda – 01/07/2007 – DN)
“Espécie de ovni avistado nos céus do Alentejo”
“É um fenómeno muito visto. São umas luzes que têm comportamentos inteligentes. Nalguns casos ficam como que a observar, noutros há testemunhos de pessoas perseguidas por estas luzes”, diz. Luís Aparício conta que “muitos idosos chamam-lhes “avejões“, que é a mistura de ave com anjo”.
Coisa m’ai linda!!

Para o Verão…

Daqui…

Bofetada que dói mais…


Era quase meia-noite quando passei pelo cartaz no Marquês.
Pensei “Outra vez os imbecis dos racistas!”
Nos centésimos de segundo o meu cérebro percebeu que não eram os imbecis mas os que me fazem rir…
Vim a rir para dentro e a pensar “Genial, meu caro, genial! Que melhor reacção que esta com a intolerância?”
Hoje vi imagem no Público.
Humor e intervenção social!
Que quero mais?

Foto: Sérgio B. Gomes/PUBLICO.PT