Design Inteligente x Algoritmo Genético
Brincadeira de criança – balançar de pé, mais rápido, mais alto. Nesta versão virtual, no entanto, quem ganha: o boneco com movimentos programados pelo designer muito inteligente, o usuário “munimuni”, ou aqueles resultado de um algoritmo genético após 22 gerações?
O algoritmo genético simula a evolução natural. De início, os movimentos são aleatórios, desengonçados, em uma convulsão descoordenada. O percurso do balanço foi dividido em 32 partes, e para cada uma delas o boneco pode abaixar ou levantar (0 ou 1). Os melhores movimentos de cada geração são transmitidos para a próxima, com pequenas variações, e assim sucessivamente. É fascinante ver cada batalhão dentro de uma geração e a evolução em pleno curso.
O resultado você vê ao final do vídeo. O boneco verde faz os movimentos programados pelo designer inteligente, muito parecidos com aquele que todos nós fazemos. Já o boneco vermelho, com movimentos determinados pelo algoritmo genético, continua com trejeitos um tanto engraçados. Mas os resultados podem surpreender!
Confira muito mais no canal de 99munimuni no Youtube.
The Buchanan Brothers – “Atomic Power”
O hit dos irmãos country de 1946 revela uma época em que o poder atômico era visto como um presente de deus.
“Ó este mundo está tremendo com sua força e grande poder
Lá enviando ao céu com o fogo de enxofre
Escute o aviso meu caro irmão, cuidado com o que planeja
Você está trabalhando com o poder da própria mão sagrada de DeusPoder atômico, poder atômico
Foi dado pela poderosa mão de Deus
Poder atômico, poder atômico
Foi dado pela poderosa mão de DeusVocê se lembra de duas grandes cidades em uma terra estrangeira distante
Foi varrido da face da Terra o poder do Japão
Cuidado meu caro irmão, não roube a alegria
Mas o use para o bem da humanidade e nunca para destruirRefrão
Hiroshima, Nagasaki pagaram um grande preço por seus pecados
Quando varridas da face da Terra suas batalhas não puderam ganhar
Mas no dia do julgamento quando vier o poder maior
Não saberemos o minuto e nem a horaRefrão”
Em toda sua ingenuidade e viés religioso, esta primeira visão popular do poder nuclear é ao menos em um ponto mais apropriada do que a partilhada por boa parte da população hoje: note como não se atribui um valor positivo ou negativo ao poder atômico em si, e sim a como ele é usado. É uma força poderosíssima, que deve ser usada “para o bem da humanidade” e “nunca para destruir”.
Esta visão deu lugar à posição, também ingênua, de que a energia nuclear é intrinsecamente nociva. Alguns cantariam que o “poder atômico foi liberado pela ardilosa mão do Diabo”, mas deus e diabo, desde o início, somos nós mesmos.
Ramanujan e 11/11/11 11:11:11
“O Twitter divulgou um vídeo que mostra uma visualização global de todos os Tweets mencionando 11:11 no dia 11/11/11. Depois há uma segunda onda que seriam os tweets às 23h11, ou 11:11 PM” – Renê Fraga
O vídeo é curioso pela onda que acompanha o fuso horário, e porque a segunda onda que comenta o 11:11 PM se destaca mais nos EUA, onde de fato se usa a convenção AM/PM e não algo como 23h11. Talvez melhor do que qualquer texto longo isso ilustre como o momento é resultado de uma série de convenções arbitrárias, indo do fuso horário à forma como registramos as horas ao longo do dia.
É o não tão velho dilema de que determinar a data e hora exatas do Fim do Mundo deve lidar hoje com questões de fuso horário, e mesmo do horário de verão. Foi-se o tempo em que o Sol parar no céu era um fenômeno universal.
Enquanto uma pequena parte da população mais crédula esperou algo acontecer ansiosamente nesse momento, outra parte da população mais cética desdenhou da superstição – enquanto imagino que quase todos tenham visto o evento apenas como uma curiosidade.
O que ele revela também é nossa fascinação por reconhecer padrões. O padrão 11/11/11 é óbvio, mas o óbvio é muito relativo. Uma famosa anedota matemática conta que o matemático inglês G.H. Hardy foi visitar o gênio indiano Srinivasa Ramanujan no hospital, mas Ramanujan não era um gênio qualquer: era um gênio matemático, considerado por muitos um dos maiores que já existiu.
“Eu havia pegado um táxi de número 1729 e comentei que o número parecia bem monótono”, contou Hardy, “e esperava que isso não fosse um mau agouro”.
“Não”, respondeu Ramanujan de pronto, “é um número muito interessante; é o menor número que pode ser expresso como a soma de dois cubos [positivos] em duas formas diferentes”.
As duas formas são 1^3 + 12^3 = 9^3 + 10^3 = 1729.
Se para nós 11/11/11 é um padrão interessante evidente, para Ramanujan não só 1729, como praticamente todos os números possuíam e eram parte de padrões interessantes. E como se vê, mesmo entre matemáticos como Hardy e Ramanujan tais padrões podem ser vistos como sinais.
“Todo positivo inteiro é um dos amigos pessoais de Ramanujan” – J.E. Littlewood
A prova de que todos os números são interessantes é mesmo um paradoxo divertido: se houvesse números que não fossem interessantes, então o menor desses números se tornaria automaticamente interessante por ser o menor número não-interessante. E assim por diante.
O arranha-céu e o caminhão de cocô
Menos de uma década depois que John F. Kennedy anunciou que iríamos à Lua e faríamos outras coisas “não porque são fáceis, mas porque são difíceis”, Neil Armstrong deu seu pequeno passo e seu grande salto para a Humanidade.
Em apenas 10 anos, imagens aéreas registram o progresso espetacular de Dubai neste vídeo criado para promover o TEDxDubai 2011. Sobre a areia do deserto onde no século 19 mal viviam pouco mais de 1.200 habitantes, hoje floresce uma cidade moderna rumo a duas milhões de pessoas em torno dos mais altos arranha-céus do mundo.
Moderna, sim, mas assustadoramente moderna: Kate Ascher, autora de um livro sobre os arranha-céus de Dubai, contou em uma entrevista à NPR:
“TERRY GROSS: Então você escreveu que em Dubai eles não têm uma infra-estutura de saneamento que suporte arranha-céus como esse. Então o que eles fazem com o esgoto?
KATE ASCHER: Alguns prédios por lá podem acessar o sistema municipal, mas muitos deles em verdade usam caminhões para levar o esgoto dos prédios individuais e então esperam em fila para jogá-lo na usina de tratamento. Então é um sistema bem primitivo.
GROSS: Bem, esses caminhões podem esperar horas e horas na fila.
ASCHER: É verdade. Disseram-me que podem esperar até 24 horas antes que cheguem ao final. Agora, há um sistema municipal que está sendo desenvolvido e presumo que irão conectar todos esses prédios altos em algum ponto no futuro, mas eles certamente não estão sozinhos. Na Índia muitos prédios são responsáveis por fornecer seu próprio sistema de água e remoção de esgoto. Então é realmente – somos muito afortunados neste país [EUA] de que podemos contar com o fato de nos conectarmos a um sistema urbano que possa lidar com qualquer esgoto que um prédio produza. Esse não é o caso por todo o resto do mundo.
GROSS: Bem, ele realmente ilustra um dos paradoxos da vida moderna, que temos essas estruturas que alcançam o céu e então em um lugar como Dubai você tem uma fila de 24 horas de caminhões esperando para jogar for o esgoto desses prédios.
ASCHER: Isso. É preciso lembrar que um lugar como Dubai realmente emergiu nos últimos 50 anos. Era uma sonolenta cidade beduína há meio século. E o que você faz quando traz os mais sofisticados arquitetos e engenheiros, você pode literalmente construir qualquer coisa, incluindo um prédio de 140 ou 150 andares. Mas projetar uma rede municipal de tratamento de esgoto é de algumas formas mais complexo. Certamente requer mais dinheiro e tempo para ser feito, então um pulou à frente do outro.”
A situação no Brasil está muito mais próxima de Dubai do que dos EUA, onde mais da metade do país não possui saneamento básico e mesmo nas maiores metrópoles urbanas vêem-se luxuosos empreendimentos milionários sendo construídos sem um tratamento adequado de seu esgoto.
O Brasil não surgiu há 50 anos, e sim há 500 anos, e os motivos para este paradoxo são outro ponto em comum com Dubai: a desigualdade social e a disponibilidade de mão-de-obra quase escrava.
Somos já há praticamente uma década líderes mundiais na reciclagem de alumínio, com taxas se aproximando de 100%. Um feito fabuloso se fosse resultado da conscientização popular sobre a redução do impacto ambiental e um sofisticado sistema de seleção de coleta de lixo.
Mas nosso recorde de reciclagem é resultado da conscientização da camada mais desfavorecida da população de que revirar o lixo em busca de latas de alumínio jogadas no meio de lixo orgânico, vidro e mesmo em sarjetas é uma das únicas formas disponíveis de subsistência. Uma multidão de catadores da latinhas que todos vemos ao andar pelas ruas responde pelo nosso recorde.
O futuro moderno onde vivemos é aquele onde temos arranha-céus quase quilométricos que dependem de filas quilométricas de caminhões cheios de cocô, dirigidos por motoristas de cocô pagos para ficar quase um dia inteiro esperando sua vez de despejar o cocô de pessoas mais ricas. Onde celebramos o recorde de reciclagem de alumínio, graças a uma multidão de catadores dispostos a revirar todos os lixos da cidade para coletar as preciosas latas que jogamos fora.
Deve estar claro que o recorde de arranha-céu mais alto do mundo ou o de taxa de reciclagem de alumínio não são indicadores muito confiáveis de desenvolvimento, de fato podem ser exatamente o oposto. E enquanto celebramos o tímido progresso econômico de nosso país e seu posicionamento entre as maiores economias do mundo, é bom lembrar que estes são apenas outros indicadores que vistos mais de perto podem revelar um caminho muito mais longo pela frente. [via BoingBoing]
Um guia rápido para o novo Google Reader
Com as mudanças colocadas em prática hoje, as funcionalidades sociais do Google Reader foram extintas. E agora?
O botão +1 substitui o antigo “Like”, você clica e estará promovendo a popularidade do item que está lendo. Importante: ao clicar neste botão você não estará compartilhando o item que está lendo com ninguém. Veja o próximo item.
Para onde foi o botão de “Share”, para compartilhar posts? Ele está no topo do Reader! Do lado superior direito:
É preciso selecionar o item que você quer compartilhar e então clicar em “Share” no topo, escolher os círculos com que deseja compartilhar e então finalmente em “Share” outra vez.
Também é possível compartilhar um item no Google+ dentro do item, clicando no botão +1, passando o mouse sobre ele para ver a opção de “Share on Google+”, selecionando os círculos e compartilhando.
Anteriormente, ao compartilhar um item você o compartilhava com todos seus amigos ou mesmo com toda a rede. Agora, para compartilhar com o mesmo nível de abertura será preciso escolher os “Extended Circles”. Do contrário, apenas as pessoas nos círculos que você escolheu verão seu item, e mesmo que alguém destes círculos queira “re-compartilhar” o item com mais pessoas, poderá ter problemas.
Sim, são no mínimo três cliques, talvez mais, para substituir uma funcionalidade que na versão anterior do Google Reader necessitava de apenas um clique ou tecla.
E o bookmarklet para compartilhar qualquer página? O Google Reader se integrava com o Notes para permitir compartilhar páginas com um bookmarklet. Ele não funciona mais, mas há o bookmarklet do Google+. Ele permite compartilhar a página atual no G+ com um clique.
Para onde foram meus amigos? Quem eu seguia, quem me seguia? Todos estão no Google+ e a única forma de ler os itens deles, e deles lerem os seus, será através dos streams de círculos no Google+.
Mas onde estão os meus amigos do Reader no Google+? Para descobrir todos a quem você seguia e quem lhe seguiam, será preciso acessar as configurações do Reader. Dentro do Reader, no canto superior direito há uma engrenagem, acesse “Reader Settings”, e então a tab “Import/Export”.
Lá você encontrará tanto a “List of people that you follow” quanto a “List of people that follow you” para fazer o download no formato JSON. O nome e endereço dos perfis deles estão lá, nos arquivos exportados following.JSON e followers.JSON.
E o que faço com esses JSON? O formato JSON foi feito para ser mais amigável e compreensível, mas se você abrir mesmo a pequena lista de amigos que acabou de baixar nesse formato em um editor de texto, pode não entender nada.
Thiago Avelino criou um app que filtra os arquivos JSON e lista o endereço dos perfis: http://readertogplusfriends.appspot.com/
Ainda será preciso visitar cada um dos perfis e adicioná-los um a um aos círculos do G+.
E agora? Se você se antecipou à mudança e já criou um círculo com todas as pessoas que você seguia no Reader, ou se os criou agora, basta acessar o stream desse círculo no G+ e basta que todos nesse círculo passem a compartilhar os itens no G+ e basta que aqueles que o seguiam também tenham criado seus círculos incluindo você e você também compartilhe tudo no G+ e nenhuma das pessoas tenha se confundido ou esteja compartilhando com círculos fechados para que tudo fique quase como era antes.
O Google Reader era, e continua sendo, a forma mais prática de consumir conteúdo da rede. Os sites disponibilizam o feed RSS de seu conteúdo, e o Reader, em um aplicativo completamente na nuvem, permite que você organize e acompanhe esses feeds em tempo real a partir de uma única interface focada no conteúdo. Lamentavelmente, esta atualização pouco (ou nada) adicionou de funcionalidade no Reader como leitor de feeds.
O Google Reader também era, e não é mais, uma rede social distinta focada nos usuários desse aplicativo.
100nexos, o vídeo. Com macacos
Assista ao vídeo. São macacos. No começo, as selvas no coração da África e as tentativas de comunicação com nossos parentes símios. Sua fisiologia não permite que falem como nós, mas como nós, eles têm mãos. E como nós, têm olhos e olhares que expressam a qualquer ser humano com alguma humanidade que há uma porção desta mesma humanidade mesmo naqueles classificados como não-humanos.
Logo, a insana jornada de alguns destes macacos da selva, atravessando um oceano até um outro continente, onde seriam treinados para serem pioneiros de uma das maiores viagens que a vida no planeta já empreendeu. A viagem ao espaço sem vida.
Tão próximos e tão distantes, foram chimpanzés os primeiros macacos no espaço. Lançados por humanos, antes de humanos, para garantir a segurança de humanos. Humanos que ao final também são macacos. Enquanto os macacos orbitavam em cápsulas espaciais a selva onde nasceram, também sobrevoavam macacos humanos matando uns aos outros.
Se há uma imagem que resuma a ideia central que este blog pretende transmitir é a de um macaco no espaço. É a ideia de que macacos sejam capazes de feitos extraordinários como lançar macacos ao espaço. Mas ainda sejam macacos.
O macaco no vídeo? Ele retornou a salvo à Terra e viveu por mais 17 anos nos zoológicos de Washington e então da Carolina do Norte. Somos capazes de feitos extraordinários. Mas ainda somos macacos.
[Clipe espetacular de M83, “Wait”]
Dois Prêmios Nobel?
“Desafio aceito”. É quase o que se pode ver nesta fotografia de Marie Skłodowska Curie aos 16 anos, mais conhecida como Madame Curie, até hoje a única pessoa a ganhar dois prêmios Nobel em categorias diferentes, em física e química.
As conquistas de Marie Curie se tornam ainda mais extraordinárias quando apreciamos sua vida. Curie foi a primeira mulher a ganhar um Nobel e a se tornar titular da Universidade de Paris – porque a universidade de seu país de origem lhe negou o cargo porque era, afinal, uma mulher.
Em parceria com Pierre Curie, com quem se casou, a dupla dedicou seus esforços à ciência no estudo da radioatividade, em uma bela história que lhes rendeu o primeiro Nobel em física. Enquanto até hoje se fala em mulheres pilotando fogão, Marie Curie pilotou um caldeirão químico purificando, com a força de seus próprios braços em condições extremas, literalmente toneladas de material na descoberta do polônio e rádio.
Pierre morreria tragicamente em um acidente em 1906, mas Marie continuou seus esforços e foi reconhecida novamente em 1911 com o Nobel em química. A história já seria admirável se parasse aqui, mas Marie decidiu não patentear os processos de purificação que desenvolveu porque acreditava que o conhecimento pertencia à humanidade. Sempre viveu humildemente.
Tudo isso seria quase inacreditável, mas se torna ainda mais surpreendente porque Marie ainda foi uma mãe de duas filhas. Uma delas, Irène, em conjunto com seu genro, Frédéric, também receberia o prêmio Nobel de química em 1935, um ano após sua morte.
Mesmo em sua morte Marie Curie representou um ideal de vida. Ao descobrir a radioatividade, Curie acabou contaminada com doses letais de radiação. Suas anotações da época em que trabalhou purificando materiais são radioativos até hoje, preservados em caixas de chumbo, mas o conhecimento que avançou realmente impulsionou revoluções científicas.
Marie Curie, desafio cumprido. [via Kuriositas]
De onde vem o Mol?
“Juro lealdade ao mol, à União Internacional de Química Pura e Aplicada e à massa atômica que representa, um número, bem divisível, com átomos e moléculas para todos” – Sylvia Cooper, estudante secundária de West Virginia, EUA
Hoje, dia 23/10, precisamente das 6h02 da manhã às 6h02 da noite estará sendo celebrado o Dia do Mol, a unidade básica da química representado na constante de Avogadro, 6,02 x 10^23.
Renato Russo já expressou seu ódio à química, e o mol, como uma de suas unidades básicas serve bem para entender por que a matéria é tão pouco apreciada.
É fácil encontrar a definição dada pelos livros-texto do mol. É “a quantidade de matéria de um sistema que contém tantas entidades elementares quanto são os átomos contidos em 12 gramas de carbono-12”. Todos recitamos isso como robôs, mas por quê?
Você sabe de onde vem o mol?
A resposta fundamental está não no carbono-12, mas no hidrogênio-1. Composto de um próton positivo e um elétron negativo, é o átomo mais simples e em um mundo ideal, 1 grama de hidrogênio-1 teria 1 mol de átomos. Seria tão mais simples entender o mol!
Basta pegar uma balança ultra-precisa e medir a massa de 1 próton e 1 elétron para chegar à massa de 1 átomo de hidrogênio, e então calcular quantos átomos desses são necessários para chegar a 1 grama. Vamos fazer isso?
A massa do próton é de 1,67 x 10^-24 gramas. A massa do elétron é 9,11 x 10^-28 gramas, mais de 1.800 vezes menor e para nossos cálculos de verso de envelope, vamos ignorá-la.
Agora, façamos a conta muito complexa da regra de três e vamos dividir:
1 g / (1,67 x 10^-24 g)
Para obter o número aproximado de átomos de hidrogênio-1 contidos em 1 g.
O resultado?
5,99 x 10^23
Parece familiar? É praticamente a constante de Avogadro que celebramos hoje, 6,02×10^23, ou seiscentos e dois quintilhões. Isso não é coincidência, em um mundo “ideal” o valor seria exatamente igual, e seria muito mais fácil entender de onde vem o mol. 1 grama de hidrogênio-1 possuiria exatamente 1 mol de átomos.
De onde vem a diferença? Pode-se pensar que a diferença vem da massa do elétron que desprezamos, mas este é apenas parte do problema. A resposta “porque sim” é porque não se usa o hidrogênio-1 como padrão, e sim o carbono-12. Mas por quê? Por que definimos o mol como o número de átomos em 12 gramas de carbono-12?
Bem, pesar um único átomo é muito complicado. Historicamente, nem o hidrogênio nem o carbono foram usados inicialmente: usava-se o oxigênio, porque ele se combina com quase todos os outros átomos, formando desde o dióxido de carbono no ar ao óxido de ferro da ferrugem, facilitando muito a análise. Mas mesmo nisso havia uma complicação: físicos mediam apenas o isótopo puro de oxigênio-16, porque seus espectrômetros permitiam essa precisão, enquanto químicos lidavam com a mistura de isótopos de oxigênio 16, 17 e 18 que ocorre naturalmente no ar que respiramos – e é extremamente difícil separar isótopos quimicamente. Não vivemos em um mundo “ideal”.
Em 1961 após uma sangrenta batalha, ou melhor, uma pacífica convenção, físicos e químicos chegaram a um acordo e passaram a usar o carbono-12 como referência, que é o que usamos até hoje. Essa nova referência significou que tanto físicos quanto químicos precisaram ajustar suas tabelas apenas um pouco para que houvesse finalmente um padrão unificado.
Mas por que não se usou o hidrogênio-1? E afinal, por que, se a massa de prótons e nêutrons é praticamente idêntica, o peso atômico do carbono-12, com seis prótons e seis nêutrons, não é exatamente 12 vezes maior que o do hidrogênio-1, com um próton?
A resposta é uma bomba. É a energia nuclear que mantém o núcleo unido, e como Einstein formalizou na famosa fórmula, E = mc^2, essa energia equivale a massa. É uma massa muito pequena, a diferença entre usar como referência o hidrogênio, o carbono ou o oxigênio é menor que 1%, mas ela existe e multiplicada pelos quintilhões que existem em apenas 1 grama de hidrogênio, é uma das mais poderosas forças que já dominamos.
É devido a essa energia nuclear, equivalente a massa, que não podemos simplesmente somar a massa individual de prótons e nêutrons para chegar à massa de todos os átomos. É devido a essa, e algumas outras histórias, que não usamos o hidrogênio como referência para o mol, e é por isso que precisamos decorar, arbitrariamente, que o mol é definido por 12 gramas de carbono-12.
Entender de onde vem o mol é entender desde a ideia básica por trás da constante, que dificilmente é ensinada, até os detalhes tanto históricos quanto da própria natureza que fizeram com que tenhamos chegado a essa definição. É um tanto mais complicado, mas uma vez que você compreenda, deve entender a lógica por trás de tudo isso, indo desde a massa de um único próton à energia nuclear que o une a outras partículas para formar átomos mais pesados.
Entender por que o mol é tão importante, e a definição de mol envolvendo 22,4L, bem, essa fica para o Dia do Mol do ano que vem!
“Obrigado por apontar o meu erro”
A aritmética é uma das representações mais puras de uma realidade objetiva. Na distopia de George Orwell, 1984, o protagonista finalmente sucumbe à loucura do regime opressor quando passa a aceitar que “2+2=5”. A partir daí, sua sanidade já não é mais nem uma memória distante – é um conceito completamente abandonado. Sem aritmética, absolutamente tudo é possível e onde absolutamente tudo é possível nada deve ser real.
Pois que o anúncio do professor de matemática, Ed Nelson, de que a aritmética é inconsistente seria uma das maiores revoluções na história da ciência. Como brinca Steven Landsburg, “seria uma notícia muito mais impressionante que neutrinos mais rápidos que a luz, que o Sul ganhou a Guerra Civil Americana ou que toda a vida na terra foi projetada por um ser inteligente”. Seria muito mais impressionante que o que alguns chamam de Deus.
Professor da Universidade de Princeton, Nelson é um ultrafinitista que vem há muitos anos questionando a consistência dos axiomas de Peano, que formalizam aquilo que chamamos de aritmética. Se tais axiomas forem de fato inconsistentes, realmente existiria algo contraditório como “2+2=5” que não seria fruto de uma mente insana, mas da matemática em si mesma.
Foi no dia 26 de setembro de 2011 que o professor Nelson divulgou o que seria a prova desta inconsistência, em duas versões, prometendo uma outra mais extensa a ser publicada com mais detalhes. Seria o marco de sua carreira e sua entrada para a História.
Em alguns dias blogs científicos especializados em matemática borbulharam de discussão sobre a prova, e em n-Category Cafe Terence Tao, ganhador da medalha Fields, expôs uma falha na prova. Nelson não concordou com a contestação, publicando uma réplica nos comentários, mas ao mesmo tempo Daniel Tausk, professor do Instituto de Matemática e Estatística da USP também discutiu a falha de forma privada com Nelson.
Em 1 de outubro, menos de uma semana depois de seu anúncio, o professor Ed Nelson publicou o comentário em resposta a Tao:
“Você está certo mesmo, e minha réplica original estava errada.
Obrigado por apontar o meu erro.
Eu retiro o meu anúncio [de ter encontrado uma prova de que os axioma de Peano são inconsistentes]”.
Pense bem nisto. A beleza ética e a estatura moral que fazem um professor respeitado reconhecer em alguns dias que o trabalho em que investiu anos estava simplesmente errado, e a agradecer àqueles que apontaram seu erro, é o lado humano e moral da filosofia de Popper de que só sabemos que algo é científico quando pode ser provado falso.
Se a aritmética representa a pureza de uma realidade objetiva, poucas palavras podem representar tão bem a busca sincera por se aproximar desta realidade quanto “obrigado por apontar o meu erro”.
No caso aqui, especialmente belo porque o erro era justamente sobre a inconsistência da aritmética. Na frieza da objetividade está o lugar comum que fundamenta o que de melhor podemos fazer com tudo aquilo que nos é subjetivo. [via Albener Pessoa, thx!]
O Universo em uma Bolha de Sabão
Tom Storm descobriu por acaso que bolhas de sabão podem gerar imagens incríveis através de seu reflexo.
Ou reflexos, no plural, porque o que vemos na imagem é o reflexo na parte externa sobreposto ao reflexo na parte interna da bolha.
Daí porque as imagens estão duplicadas, e uma delas está invertida. A invertida é o reflexo da parte côncava da bolha no seu lado de dentro. [via Win]