Analista microbiológico – Profissão Biólogo

Profissão Biólogo

Pensamento de segunda

Assim como uma casa é feita de tijolos, a ciência é feita de fatos. Mas assim como uma pilha de tijolos não é uma casa, um amontoado de fatos não é ciência.
Jules Poincaré

Pensamento de segunda

É como um professor de matemática não acreditar em álgebra!
William Wallace, representante dos professores de biologia dos EUA sobre a maioria dos professores desta disciplina não aceitarem a evolução por seleção natural.

Pensamento de segunda

O palpite, a hipótese criativa, o salto corajoso para uma explicação inovadora, eis as moedas mais valiosas do pensador ativo.

Jerome Bruner

Sorteio de Natal – Livro de Comportamento Animal

Semana passada ocorreu o lançamento do meu livro com a Prof. Ana Arnt, Comportamento animal, teoria e prática pedagógica, pela Editora Mediação. O livro foi escrito para professores de ensino fundamental e médio e traz uma coletânea de textos sobre o comportamento animal em suas diversas faces seguidos de atividades práticas simples para ilustrarem os conceitos apresentados.

Capa do livroTem experimentos sobre socialidade com cupinzeiros, simulações do comportamento de predação usando confeitos de chocolate e várias outras sugestões para tornar as aulas mais agradáveis e compreensíveis. Todos os capítulos se pautaram por perguntas que poderiam muito bem ser perguntas científicas de etólogos. Sempre acreditei no comportamento animal como uma forma de encantar pessoas pela biologia por se tratar de eventos mais fáceis de ver no espaço (ao contrário da respiração celular na escala micro e da convergência evolutiva entre mamíferos sul-americanos e marsupiais australianos na escala macro, por exemplo) e no tempo (ao contrário do desenvolvimento embrionário, por exemplo).

Então lanço agora o desafio. Quero que vocês me contem nos comentários quem foi o melhor professor da vida de vocês e por que. Vou sortear dia 2 de dezembro dois exemplares para quem responder, assim chega de presente de Newtal. Não se esqueçam de deixar seu e-mail para eu entrar em contato com os ganhadores.

Simpósio de bem-estar animal – últimos dias

Quem se preocupa com a forma como lidamos com os animais tem na próxima semana uma boa oportunidade de embasar sua argumentação com dados sólidos em vez da abordagem piegas e emotiva que o tema muitas vezes assume. O simpósio de bem-estar animal que ocorrerá entre 3 e 5 de novembro no IBILCE, campus da UNESP de São José do Rio Preto, irá trazer palestras, mesas-redondas e mini-cursos com as mais diversas temáticas. As vagas estão terminando e a oportunidade é imperdível.

Fernanda Poletto – O futuro do doutorado

Nossa personagem de hoje: Fernanda Poletto
Apesar da foto já ter alguns anos ela permanece com a mesma cara

Fernanda Poletto é formada em Farmácia Industrial pela UFRGS, com mestrado em Ciências Farmacêuticas pela mesma universidade, onde desenvolveu partículas poliméricas capazes de liberar fármacos com velocidade controlada. Depois do mestrado, participou de um projeto FINEP na área de nanobiotecnologia, em parceria com a iniciativa privada, por 2 anos. Após o fim desse projeto, iniciou seu dotourado em química, também na UFRGS, e desde então vem estudando tanto aspectos da organização supramolecular de nanopartículas poliméricas quanto seu potencial de aplicação biológica como carreadores de fármacos para doenças negligenciadas. Atualmente, está no último ano de doutorado com financiamentos da CAPES (1º ano) e CNPq (daí em diante).

1)O que levou você a procurar a carreira científica? Como isto resultou no ingresso num programa de doutorado?

As pessoas que seguem a carreira acadêmica costumam responder a esse tipo de pergunta com o argumento de que sempre foram muito curiosas sobre como as coisas funcionam e que sempre se interessaram por assuntos científicos; muitas sonhavam em ser cientistas desde a infância. Comigo foi um pouco diferente. No colégio, sempre tive predileção pela área de humanas. História, literatura e línguas me fascinavam. Sempre tinha opinião para tudo e meu jeito preferido de expressá-la era escrevendo (talvez o blog de divulgação de ciência que mantenho seja em parte impulsionado por essa predileção de juventude). Esse interesse pela condição humana e seu contexto social, somado a um senso mais prático, acabou influenciando na minha escolha por um curso universitário na área de saúde. Durante o curso de farmácia, fiz um longo estágio em hospital, onde aprendi muito. Nesse mesmo período, cursei as disciplinas que compõem o ciclo básico do curso, e foram essas disciplinas que lentamente despertaram meu interesse pela construção de novos conhecimentos científicos. Foi apenas na graduação que entendi o quanto a química, a bioquímica, a fisiologia, etc podem ser absurdamente fascinantes. Quando ingressei no ciclo profissionalizante do curso, já tinha claro que meu caminho era a ciência, pois queria muito fazer parte daquilo, contribuir com meu “tijolinho”. Troquei o estágio no hospital pela iniciação científica. Fiz a iniciação científica e o mestrado na área de tecnologia farmacêutica, que é bem aplicada. Minha fome de conhecimento mais fundamental, que atingiu seu ápice no mestrado, acabou me levando ao doutorado em química. Foi uma escolha muito feliz, pois encontrei o que estava procurando. Foi também (e continua sendo) uma grande lição de humildade, porque precisei aprender muitas coisas praticamente do zero. Mas é essa saída da zona de conforto que nos faz crescer, não é?

2)Quais os seus planos para sua carreira depois da titulação? Até o momento essa expectativa tem se cumprido?

Meus planos envolvem um pós-doutorado onde eu possa continuar investigando sistemas nanoestruturados poliméricos aplicados à terapêutica, meu foco principal de estudo. E, subsequentemente, uma carreira de docência e pesquisa em universidade na mesma linha. Embora esteja no meu último ano de doutorado, ainda é cedo para fazer uma avaliação completa de todo o caminho percorrido, mas posso dizer que até agora o saldo é positivo: trabalho num assunto que me encanta e que me desafia, tenho acesso a recursos compatíveis com os melhores grupos de pesquisa do mundo, tenho feito excelentes contatos, participado de congressos importantes na área de ciência de materiais e vejo um país em franco crescimento científico. É melhor ser cientista hoje no Brasil que há dez, quinze, vinte anos. E será melhor ainda para a geração posterior à minha. Há quem diga que sou excessivamente otimista. Não acho. É uma questão de conhecer nosso passado, perceber as mudanças, reconhecer o quanto evoluímos e ter olhos para as oportunidades.

3)Em linhas gerais, como é sua rotina de trabalho no doutorado?

Vou confessar que não tenho muita rotina. Às vezes, passo dias inteiros na frente do computador tratando dados e escrevendo. Em outros momentos, posso ficar até 14h, 16h no laboratório envolvida com experimentos. Nesse último ano, tem sido freqüente trabalhar inclusive à noite e nos finais de semana. Costumo brincar que pensar dói. Tentar entender algo que nem você nem ninguém tenham entendido antes não é trivial. E no fundo, esse é meu trabalho. Demanda tempo, esforço, dedicação. Minha força motriz é meu interesse, minha curiosidade. Escrevi sobre isso, há quase 1 ano, no Bala mágica.

4)Quais os problemas que a pós-graduação no Brasil tem encarado?

Temos um problema em comum com muitos outros países, que é o famoso “publish or perish”. Há uma pressão muito forte para que se publique em quantidade, o que não necessariamente está correlacionado à boa ciência. No que se refere a problemas nacionais, especificamente, é preciso apontar a excessiva burocracia que rege o gerenciamento das universidades brasileiras, em especial as públicas. Além disso, ainda há certo conservadorismo de alguns grupos quanto às fontes de captação de recursos para pesquisa. Acredito que esse aspecto esteja mudando, com a valorização da inovação pela iniciativa privada. O acesso a recursos financeiros, em especial no caso das ciências duras, impacta no tipo de pesquisa realizado e certamente se refletirá no perfil do aluno formado. Outro ponto importante é o inglês praticamente ausente na rotina dos alunos de pós-graduação no Brasil. A língua da ciência inegavelmente é o inglês. Uma mudança nesse sentido seria fundamental, como aulas ministradas em inglês, por exemplo. Isso não tem nada a ver com desvalorizar o português. Tem a ver com valorizar a comunicação acadêmica. Certamente, teríamos
mais colegas de outros países fazendo pós-graduação aqui, o que geraria uma troca de conhecimento e cultura muito enriquecedora e aumentaria a visibilidade da pós-graduação brasileira no mundo.    

5)Que conselhos você daria a alguém considerando agora ingressar na carreira acadêmica?

Diria para esse alguém pensar num assunto que é capaz de interessa-lo por horas e horas num dia, e que seja capaz de se imaginar mantendo esse interesse ao longo de muitos anos. Esse é o primeiro passo, e talvez um dos mais importantes. A rotina acadêmica é árdua, e a frustração é um sentimento muito presente. Saber lidar com essa frustração e ser resiliente é pré-requisito para não desistir. Como comentei acima, entender algo novo não é trivial. Ainda não terminei minha tese, mas já tenho uma frase que é forte candidata a epígrafe: “I’ve failed over and over and over again in my life and that is why I succeed.” (Michael Jordan – sim, o jogador de basquete). Para que se possa falhar e aprender, para então acertar, é preciso estar em ambiente propício, que crie oportunidades e permita liberdade de pensamento. Informar-se sobre o grupo de pesquisa de interesse é fundamental antes de tentar uma vaga, e grupos bem-estabelecidos em suas áreas sempre devem ter preferência. Se for possível, acho altamente recomendável fazer alguns meses de “estágio” no lugar antes de ocupar a vaga definitivamente. Nesse período é possível perceber se há afinidade com o orientador, se a rotina do laboratório é compatível com as expectativas criadas e se o assunto escolhido realmente é de interesse a ponto de merecer anos de dedicação.

Fabrício Barreto Teresa- O futuro do doutorado


Fabrício, nosso personagem de hoje, em ação
Foto de Daniel De Granville | Photo in Natura

Fabrício Barreto Teresa é biólogo, mestre em biologia animal e atualmente encontra-se na fase final do curso de doutorado em biologia animal na UNESP de São José do Rio Preto, SP. Suas pesquisas são financiadas pela Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo, FAPESP e envolvem aspectos ecológicos e comportamentais de organismos aquáticos em ambientes de água doce, em especial os peixes, focando mais especificamente na investigação dos fatores ambientais responsáveis pela organização das comunidades.

 

1) O que levou você a procurar a carreira científica? Como isto resultou no ingresso num programa de doutorado?

 O desejo pela carreira científica surgiu durante o curso de graduação em Biologia na UNESP. Meu interesse pelo ensino foi despertado com a prática, proferindo seminários, participando de projetos de extensão e também nos livros de Rubem Alves e a paixão pela pesquisa científica foi acentuada a partir dos estágios e iniciação científica. A partir dessas convicções busquei me qualificar, traçando um caminho em direção à carreira científica junto à Universidade. O ingresso no mestrado e, posteriormente no doutorado foram os caminhos naturais tendo em mente esses objetivos.

 

2) Quais os seus planos para sua carreira depois da titulação? Até o momento essa expectativa tem se cumprido?

Espero ingressar em uma Universidade Pública por meio de concurso para poder fazer o que mais gosto que é lecionar e desenvolver pesquisas. A oferta de vagas nas Universidades não tem acompanhado a demanda, por isso os concursos têm sido bem concorridos. Sou otimista e espero terminar o doutorado competitivo para pleitear uma vaga em curto prazo. Se isso não for possível, existem diversas oportunidades de pós-doutorado que são opções para recém-doutores desempregados manterem-se produtivos academicamente enquanto não são absorvidos pelas Universidades.

 

3)      Em linhas gerais, como é sua rotina de trabalho no doutorado?

O desenvolvimento da tese é a principal atividade. Acabei de terminar a coleta dos dados. Durante esse período fazia viagens ao campo para coletar peixes alternando com atividades no laboratório (identificação e pesagem dos peixes, análise do que comeram por meio da inspeção do conteúdo estomacal, etc). Agora estou na fase de análise dos dados e redação da tese buscando perceber padrões dentro do conjunto de dados que acumulei, uma etapa que exige muito tempo, reflexão e leitura. Paralelamente ao desenvolvimento da tese envolvo-me em atividades da Pós-Graduação tais como disciplinas, além de participar de outros projetos paralelos, palestras e eventos científicos.

 

4)      Quais os problemas que a pós-graduação no Brasil tem encarado?

Um dos problemas que destaco na Pós-Graduação é a sua concentração regional. Muitas regiões do Brasil não oferecem cursos de mestrado e/ou doutorado. Uma das causas é a falta de condições (recursos humanos e estruturais) para criação de cursos em muitas regiões. Por isso, o fortalecimento das instituições de ensino e pesquisa de nível superior por meio da contratação de profissionais qualificados e o
investimento na consolidação das Universidades são imprescindíveis. Outro aspecto relevante diz respeito à qualidade dos doutores que estão sendo formados. Por exemplo, a supervalorização da produção quantitativa de artigos científicos na Pós-Graduação tem resultado em um menor investimento no desenvolvimento de outras habilidades importantes para um doutor, tais como conhecimento filosófico e bases teóricas de ciência. O título de doutor tem sido banalizado e não é mais sinônimo de excelência.

 

5)      Que conselhos você daria a alguém considerando agora ingressar na carreira acadêmica?</p>

Sugiro inicialmente investir um bom tempo pensando sobre o assunto. Não é uma decisão banal, o tempo investido para se tornar competitivo nesse mercado de trabalho é muito longo. Quando você se torna apto a entrar em uma Universidade como docente/pesquisador já poderia ter uma carreira consolidada em outras áreas. Por isso, sugiro que se pense onde se quer estar daqui uns 10-15 anos. Se a carreira acadêmica estiver envolvida nessa projeção então siga em frente. Nesse caso, procure locais de bom nível para sua formação e durante a formação inicial (graduação) envolva-se ativamente com o máximo de atividades que a Universidade possa oferecer em diferentes áreas do conhecimento. Isso possibilitará identificar vocações e facilitará a escolha de uma área compatível com o seu perfil para investir na Pós-Graduação.

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O Futuro do doutorado

O que vem pela frente?

Fonte: www.nature.com

A revista Nature publicou recentemente um encarte especial sobre o futuro do PhD, um dos itens que integrou este material foi um conjunto de sete entrevistas com doutorandos de diversas áreas sobre sua visão do papel de um doutor ou pós-doutor e o que cada um espera do futuro. As entrevistas são muito interessantes, mas elas, assim como boa parte da discussão levantada pela Nature, fogem da realidade brasileira devido às especificidades de nosso país, nosso histórico científico e as políticas públicas voltadas ao ensino superior. Assim, seguindo a sugestão do Felipe, um leitor do meu Blog, decidi replicar o experimento aqui no Brasil.

Elegi via currículo Lattes, meus contatos, google e sites institucionais pesquisadores em diversas áreas científicas e de diversas regiões do Brasil para responder cinco perguntas sobre o futuro do doutorado. Nos próximos meses vocês poderão acompanhar pelo Ciência à Bessa as respostas desses cientistas. A primeira postagem sairá semana que vem com o Fabrício Barreto Teresa, doutorando em Biologia Animal na UNESP de São José do Rio Preto.

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