Notícias Frescas do Caso Vioxx 10 Anos Depois

O Vioxx – rofecoxib da Merck-Sharp & Dohme é uma medicação analgésica/antiinflamatória de excelente eficácia. Pertence a uma classe nova de medicamentos chamados inibidores da ciclo-oxigenase II (COX2). Lançado em 1999, foi utilizado até sua retirada do mercado mundial em 2004 devido a denúncias de efeitos colaterais cardiovasculares que poderiam levar os usuários à morte. Os estudos que respaldaram seu uso foram objeto de investigação, fraudes científicas foram descobertas. Alguns documentos foram revelados.

A partir do Blog de Paulo Lotufo

“O artigo inicial (que embasava o uso do medicamento) publicado em novembro de 2000
chamado VIGOR mostrava a que o rofecoxib e, um medicamento tradicional,
naproxeno eram tão efetivos quanto no tratamento da artrite reumatóide.
Mas, os efeitos gastrointestinais eram raros no grupo que usou o
rofecoxib. Inicou-se a febre Vioxx.

Menos de
um ano após a publicação, uma revisão dos próprios dados do VIGOR e de
outros dois menores apontava o risco maior de infarto do miocárdio. A empresa abafou o fato de acordo com a capacidade de reação de cada comunidade acadêmica. Para isso publicou um artigo na revista Circulation contradizendo a análise que apontava risco.”

Do Heartwire de 30 de Abril de 2009, Por 
Lisa Nainggolan

Melbourne, AustraliaO importante cardiologista Dr Marvin Konstam (Tufts University Medical Center, Boston, MA) concordou em ser o autor principal de um paper na influente revista Circulation sobre o inibidor da COX-2 rofecoxib (Vioxx, Merck), que foi escrito intramuros pelos cientistas da Merck. (…) O paper foi desenhado para rebater as críticas, que alguns especialistas imaginava seguir-se ao artigo do Journal of the American Medical Association (JAMA) dois meses antes, que primeiro demonstraram um aumento de efeitos cardiovasculares indesejáveis com o uso da droga. O Rofecoxib não foi retirado do mercado até  2004.”

O resumo da história é:

1) o remédio era muito bom, para usos de curta duração.

2) os efeitos adversos cardiovasculares foram abafados até o estudo do JAMA de 2001.

3) foi publicado um estudo totalmente escrito por marketeiros da Merck com intuito de rebater as afirmações do estudo do JAMA em 2001.

4) para isso, foi escolhido um médico importante dentro do cenário mundial da cardiologia, que não aceitou (Dr Rory Collins – Clinical Trial Services Unit, Oxford UK).

5) diante da recusa, foi escolhido o Dr. Marvin Konstam que topou ser o autor do estudo escrito pelos “ghost-writers” da Merck.

6) o medicamento ficou no mercado até 2004, quando foi retirado do mercado mundial.

7) a documentação do laboratório e a comprovação do “laranja” foram revelados em 2009.

Por pior que alguém possa se sentir ao conhecer essa história, a vergonha e os 5 bilhões de dólares que a Merck desembolsou para encerrar o caso não serão jamais suficientes. A ciência é uma forma de conhecer a realidade na qual confiamos e para qual dedicamos nossas vidas. Isso causa um tipo de sensação muito ruim, semelhante ao de uma traição e leva fatalmente à conclusão: A ciência é uma atividade humana como outra qualquer. Devemos sempre estar alertas pois ela também estará sujeita às contingências e vicissitudes humanas.

Vida: Definição

Dizem que “vida” é um conceito que até hoje carece de uma definição adequada. Alguns “cientistas” com certeza há muito resolveram esse problema. Para eles,

A vida é uma doença fatal, de herança genética, transmitida sexualmente”.

A Epidemia Hiperreal

A célebre estorinha conta que uma mãe passeava com o bebê no carrinho quando uma amiga chega e, encantada com a criança, diz: “Ah, que bebê mais lindo!” A mãe, toda orgulhosa, comete a frase que sintetiza tudo o que eu gostaria de dizer sobre a epidemia da gripe suína: “Você não viu a foto que tenho dele em casa!” Uma das maneiras de entender essa estória nos ajuda a compreender o fenômeno da epidemia da gripe que nos assola (não a gripe, pelo menos, ainda não! O fenômeno!).

28296.jpg

Se admitirmos, pragmaticamente, que somos seres comunicativos e que “produzimos” nossa própria realidade por meio da linguagem e da manipulação de símbolos, temos que aceitar que por vezes podemos “hiper-produzir” uma realidade: uma hiperrealidade. Mais “legal” do que o real, no sentido de mais crível, no sentido também de ser uma produção compartilhada por mais pessoas e por isso, mais real.

Não é uma mentira! Só é mais factível e por isso, mais “cool“. Sempre foi assim. O problema é que em tempos de comunicação ultra-rápida e globalizada, a chance disso ocorrer é bem maior. Ainda mais, quando parece imitar um roteiro hollywoodiano. O povo delira. A quantidade de fontes e textos sobre o fato reproduz-se mais rápido que um vírus. Toma corpo e vida própria. Sim, que importa que morram 200 pessoas anualmente no Brasil de gripe? (sem contar as mortes atribuídas que seguramente ultrapassam os milhares). Que importam nossas mortes violentas? Que importa agora o cerco à Palestina ?

A foto é mais interessante que o bebê real. A pressa em se buscar números, em divulgar, em embargar, matar porcos, criar listas de recomendações, faz a bolsa subir e descer, faz executivos pirarem, empresas falirem, coronárias entupirem. Faz as pessoas ficarem com aquela sensação estranha de falta de sentido, logo ele, sentido, tão importante na nossa vida. Mas isso é que nem gripe. Logo passa. Até a próxima doença hiperreal.