Etiquette-Based Medicine?
Mais um aspecto do não-mensurável, não-medido, não-dito? O universal se contrapõe ao particular. Seria a hora de prestarmos mais atenção ao singular, que está fora desse eixo, como pensou um médico-filósofo? Segue o texto do psiquiatra Michael W. Kahn.
“Etiquette-based medicine would prioritize behavior over feeling. It would stress practice and mastery over character development. It would put professionalism and patient satisfaction at the center of the clinical encounter and bring back some of the elements of ritual that have always been an important part of the healing professions. We should continue our efforts to develop compassionate physicians, but let’s not overlook the possibly more immediate benefits of emphasizing good behavior.”
Jaytcheenyoo
Pode parecer inacreditável, mas existe uma especialista em Jeitinho Brasileiro. Ela é brasileira, socióloga, se chama Fernanda Duarte e está radicada na Austrália desde 1974, lecionando na Universidade de Sydney. O paper original é muito engraçado pois explica em inglês as malandragens brasileiras para se conseguir as coisas que, pelas vias normais, seriam impossíveis. Começa pela pronúncia do fenômeno: Jaytcheenyoo é demais!!! Veja a frase:
“People explicitly request a jeitinho by uttering the phrase ‘Da um jeitinho pra mim’ [Give me a jeitinho], taking for granted that the other person knows exactly what they mean. There is also an expectation that the jeitinho will be always granted, considering that generosity, cordiality, warmth and empathy are highly valued attributes in Brazilian society.”
A contrapartida do jeitinho na Medicina tem inúmeros exemplos. O mais recente é sobre o número de cursos médicos no Brasil. Só perdemos para Índia. Fora os que vão à Bolívia estudar e voltam médicos para o Brasil, validando o título…
El inglés, idioma internacional de la medicina
Reproduzo aqui partes do fantástico artigo de Fernando Navarro, tradutor da Roche na Suíça. O artigo, com o título do post, se preocupa em entender porque o inglês se tornou a língua oficial da medicina. Alguns acreditam que isso ocorre devido a características específicas da língua inglesa que a tornam especialmente talhada para comunicação científica. Vejam o que Fernando Navarro escreve sobre isso:
“El genio de la lengua inglesa, se oye con frecuencia, se presta de forma admirable para la expresión de la ciencia. Se admite de forma general, en efecto, que el inglés se ha convertido en el idioma internacional de la medicina gracias a sus características intrínsecas de sencillez y claridad, que lo hacen especialmente apto para la comunicación científica. ¡¿Un idioma sencillo el inglés?! Con un léxico riquísimo en el que se superponen palabras de origen germánico y sus sinónimos latinos, una fonética y una ortografía endiabladas, amén de un complejísimo sistema prepositivo, el inglés era precisamente el idioma teóricamente menos adecuado para enseñarlo como lengua auxiliar o de comunicación. Y si no es un idioma sencillo, menos aún es un idioma claro o preciso: ¿qué es un World Pollution Symposium?; ¿un simposio mundial sobre la contaminación o un simposio sobre la contaminación mundial? Idénticos problemas de imprecisión plantean expresiones como platelet growth factor (¿factor de crecimiento plaquetario o factor plaquetario de crecimiento?) o mixed lymphocyte culture (¿cultivo mixto de linfocitos o cultivo de linfocitos mixtos?). Casi siempre que en inglés se anteponen dos o más adjetivos a un sustantivo –lo cual en el lenguaje científico es bastante habitual– existe riesgo de imprecisión, que en los idiomas latinos nos encargamos de deshacer con nuestro recurso más frecuente al uso de preposiciones. No es raro hallar en inglés sustantivos precedidos de cinco o más calificativos, como en el siguiente ejemplo: human immunodeficiency virus type 1 envelope glycoprotein precursor oligomerization. Quien no esté muy ducho en virología únicamente sabe que la traducción española comienza por oligomerización, pero dudaría ya a la hora de escoger el segundo término: ¿oligomerización del precursor de las glucoproteínas?, ¿oligomerización de los precursores de la glucoproteína?, ¿oligomerización humana? ¿oligomerización de tipo 1? Si alguien consigue dar sin problemas con la traducción correcta –oligomerización de los precursores de las glucoproteínas de cubierta del virus de la inmunodeficiencia humana de tipo 1– no será, desde luego, por la claridad gramatical del inglés, sino más bien por sus nada comunes conocimientos sobre la biología molecular del virus del sida.”
Imortalidade
Há duas formas de conseguir a imortalidade: A primeira é coletiva. O ser humano individual é mortal, mas não as totalidades humanas as quais ele pertence. A Igreja, a Nação, o Partido, a Causa, vão viver muito mais que o indivíduo, talvez até para sempre. Assim, pode-se justificar a morte individual: “Não foi em vão!” Mas o indivíduo se vai de qualquer forma. A imortalidade individual dissolve-se no empreendimento de servir à imortalidade do grupo.
A segunda forma é individual. Fisicamente, todos os homens vão morrer, exceto alguns, que permanecerão na memória dos outros homens. Para isso ocorrer, esses homens devem ter realizado feitos incomuns à maioria dos homens.
Zygmunt Bauman nota que a imortalidade individual não é particularmente adequada ao consumo de massa pois só tem sentido enquanto a individualidade permanece o privilégio de poucos. A imortalidade coletiva por sua vez, requer a supressão da individualidade.
Se a modernidade se esforçou para desconstruir a morte, em nossa época pós-moderna é a vez de a imortalidade ser desconstruída. Esse é mais um exemplo do atraso da medicina, ramo da cultura humana que ainda permanece tentando desconstruir a morte! Mas, continua Bauman:
“A imortalidade não é mais a transcendência da mortalidade. É tão instável e extinguível quanto a própria vida, tão irreal quanto se tornou a morte transformada no ato do desaparecimento: ambas são receptivas à interminável ressurreição, mas nenhuma à finalidade. Foi a consciência da morte que insuflou vida na história humana. Por trás da ilimitada inventiva sedimentada na cultura humana, achava-se o conhecimento da morte, que convertia a brevidade da vida numa ofensa à dignidade humana – um desafio à inteligência humana, que requeria transcendência, alargava a imaginação, incitava à ação. Sem conhecer a morte, os animais vivem na imortalidade sem realmente se esforçar por isso; os seres humanos devem merecer, conquistar, construir a sua imortalidade.
Eles enfim o conseguiram, mas somente ao ceder a imortalidade a uma espécie artificial, vivendo a própria imortalidade como uma realidade virtual. Com essas oposições entre realidade e representação, signo e significado, virtual e “real” progressivamente obliteradas, a imortalidade técnica e virtual não se apoderaria do que a imortalidade outrora possuiu como um empreendimento, como sonho irrealizado? A nova imortalidade virtual e técnica, a imortalidade por procuração, não é um desvio, um sinuoso retorno à imortalidade a priori, imortalidade por desconhecimento da espécie não-humana (e inumana!)?”
É a imortalidade que buscamos a nossos pacientes? Que exemplo melhor de imortalidade técnica e vida na realidade virtual que aquela das unidades de terapia intensiva? Como Bauman, perguntamos se essa imortalidade é a humana, ou se é a hiperrealidade sem sentido que nos acomete pós-modernamente? O mundo está salpicado de belíssimas tentativas humanas em escapar da morte. Mas, tal busca pela imortalidade não pode se converter em crua imoralidade.
Mais do Conundrum de Williams
“In the 1960s and 1970s it was assumed that physicians who also developed expertise in one of the fundamental sciences by obtaining a PhD degree would use their knowledge of the fundamental science to address problems in the clinical arena. In retrospect, this assumption was naive. The physician-scientists were being trained to be reductionists. The fundamental research approaches they were learning did not lend themselves to an understanding of human physiology or pathophysiology. As a consequence, physiology as a discipline atrophied. In many medical schools, it became extinct, as pointed out by Feinstein (8) in this issue of The American Journal of Medicine. Physiology does not readily lend itself to a reductionist approach. Indeed, by its very nature, it uses the tools of integration to understand complex processes. Thus, it would seem unlikely that scientists trained in a reductionist environment would develop research careers in the fields of human research. Rather, they would spend their time in the fields of the fundamental scientific laboratories in which they were trained, far removed from the bedside.”
Para os textos integrais de Williams e Feinstein clique aqui
A Ciência Médica
Segundo Gordon Williams, a Ciência Médica produz informação a partir de 3 domínios: 1) laboratório; 2) pacientes; e 3) populações. É interessante notar as diferentes abordagens nos três domínios. No laboratório, nos primórdios da Ciência Médica com Claude Bernard, eram utilizadas preparações de animais inteiros como modelos interpretativos. Atualmente, o laboratório é o local onde se produzem os conhecimentos de Biologia Molecular e Celular.
Dos estudos centrados nos pacientes, podem surgir informações de 3 tipos: Ensaios Clínicos, Farmacologia Clínica e Fisiologia Humana (incluindo Fisiopatologia e Genética). Dos estudos populacionais temos as pesquisas de desfecho clínico e toda a Epidemiologia Clínica.
Nas últimas décadas, vem havendo uma mudança importante no perfil das pesquisas realizadas associado a/ou decorrente de uma mudança na filosofia das agências fomentadoras: as ciências integrativas vêm minguando progressivamente em detrimento às populacionais e de biologia molecular. Quais as causas e implicações desse fenômeno?