Tempo de Não Tremer

global.home.splash.380x237.jpg
Miguel Nicolelis emplacou outro artigo. Desta vez na Science. O estudo, considerado uma nova esperança para pacientes com o mal de Parkinson, foi conduzido na Univesidade de Duke, onde ele chefia um laboratório de pesquisa de ponta em neurociência.
Em ciência, às vezes os estudos empacam em determinado ponto. Os cientistas ficam girando em torno do problema, as publicações se repetem. Tentativas cada vez mais sofisticadas de aplicação do conhecimento adquirido são sintomáticas desse período. De repente, por alguma razão, alguém reconfigura o conhecimento. Rearranja os mesmos dados num formato diferente e enxerga o que ninguém via antes. Foi mais ou menos isso que aconteceu com esse estudo.
Miguel reconfigurou dados e aproximou o mal de Parkinson de outro monstro mitológico da neurologia: a epilepsia. Como o próprio Miguel disse em entrevista: “Foi um momento de súbita iluminação. Estávamos analisando a atividade cerebral de camundongos com Parkinson e, de repente, me lembrei de uma pesquisa que fiz sobre epilepsia uma década antes. A partir dali, as idéias começaram a fluir”. A atividade cerebral nos modelos experimentais de Parkinson se assemelha a convulsões leves e de baixa frequência observadas em modelos de ratos com epilepsia.
Por mais inusitada e genial que possa parecer essa idéia, ela não é totalmente original. No filme Tempo de Despertar o personagem de Robin Williams, o Dr. Malcolm Sayer reconta a história verídica de Oliver Sacks, neurologista que na década de 60 imaginou que pacientes catatônicos poderiam ter um tipo de mal de Parkinson com tremores tão finos, que seriam imperceptíveis. Ao tratá-los com L-dopa, medicação utilizada na época para o tratamento do Parkinson, obtem melhora impressionante dos pacientes. O filme gira em torno do drama da melhora brilhante com os efeitos colaterais da droga que viriam a inviabilizar seu uso a longo prazo.
Longe de desmerecer a estupenda descoberta, prefiro enveredar pelo caminho da religação dos saberes. Cada vez mais, ultraespecialistas darão lugar a cientistas que saibam buscar respostas nas mais diferentes áreas do conhecimento humano. Mesmo que seja da ficção. Aliás, quem disse que ficção não é conhecimento?

Continue lendo…