"Bela demais para não ser verdadeira"

Estou lendo novamente ‘O Fim da Ciência’ de John Horgan. Como editor da Scientific American durante muitos anos, Horgan teve de entrevistar algumas das maiores mentes científicas do século XX. E a todas elas fez a pergunta: “Você acha que a ciência já acabou?”

Logo nas primeiras páginas, ele fala que foi entrevistar Roger Penrose. Penrose havia acabado de escrever ‘A mente nova do emperador’ um livro que ele próprio (Horgan) classificou como denso e difícil. Eu confesso que a primeira vez que vi o tijolo que é esse livro, fiquei assustado. Foi durante o mestrado, em Rio Grande, nas mãos do meu amigo André ‘Batata’ Barreto. O Batata, Nerd mais gente boa que já conheci, falou sobre o quão viajante, doido e difícil era o livro. E se o Batata tinha achado difícil… é porque realmente era.

Mas o que Horgan fala é que Penrose, desiludido com o que o panorama da ciência tinha a oferecer naquele momento para explicar o que ele definia como ‘a última fronteira do conhecimento’, a consciência, se permite criar toda uma teoria para explicar o pensamento, sem nenhuma evidência para suas especulações. Claro… ele simplesmente estava propondo uma maneira de realizar a tão sonhada unificação da mecânica quântica com a relatividade geral de Einstein (em cuja interface residiria a consciência).

A base científica dos argumentos é um dos principais critérios quando avalio uma tese ou quando um artigo meu é avaliado por um referee. Sem essa base, tudo vira especulação. Ou imaginação?

É que uma (especulação) tem conotação negativa enquanto a outra (imaginação) tem conotação positiva. Mas será que elas são diferentes? E de quanta especulação precisa a ciência para crescer?

Enquanto escrevo minha mente não para. “Será que na verdade a diferença está em ‘quem’ especula?”

Sim, porque, pensem comigo, quando um cientista desinformado especula por preguiça de ler, a chance dessa especulação ser criativa e trazer nova luz a problemas sem solução é muito pequena. A maior chance é que ele re-invente a roda. Já se um cientista como Penrose esgota as possibilidades de explicação com base nas evidências existentes e começa a especular sem base nas evidências, ai pode ser que algo de produtivo apareça.

Ainda assim, essa nova especulação deve ter algum tipo de critério. “Penrose é um platônico confesso” Diz Horgan, “Os cientistas não inventam a verdade, eles as descobrem. Das verdades genuínas emana uma beleza, uma correção, uma qualidade evidente por si mesma, que lhes dá o poder da revelação.” Para Penrose, a ‘beleza’ é o critério.

A beleza não é um critério totalmente subjetivo: simetria, ordem, padrão, são todos critérios de beleza que podem ser medidos e avaliados. Mas também há novidade e diversidade e esses… são critérios difíceis de serem avaliados, porque dependem de contexto.

Apesar da subjetividade, a beleza está presente no método científico. E de uma maneira muito… bonita. É a beleza (ou como quer que você queira determinar um critério estético) que vai determinar, entre duas perguntas similares, qual é aquela que o pesquisador vai escolher para estudar. Para aplicar o método científico. E a escolha… na minha opinião, é o que diferencia o cientista espetacular do cientista bom, ou muito bom.

“É bela demais para não ser verdadeira” disse Rosalin Franklin ao ver o esquema da estrutura da dupla hélice do DNA proposto por Watson e Crick, enquanto o modelo proposto por ela, responsável pelas imagens de difração de raios X de alta qualidade que os dois outros pesquisadores usaram para fazer sua descoberta, não se sustentava. A beleza não pode ser considerada uma evidência, mas parece que elas andam lado a lado. Uma evidência de qualidade é sempre bonita.

Agora, lendo essas colocações de Horgan e Penrose, penso que existe mais uma brecha no método científico onde a beleza se encaixa: na especulação da discussão. Mas com muito cuidado. A beleza só pode ser utilizada como argumento quando todas as outras evidências tiverem se esgotado. Mas quando podemos considerar que esgotamos todas as evidências e podemos começar a utilizar a beleza como argumento?

Quando você descobrir, vai conseguir diferenciar um cientista ruim de um bom.

O experimento Global

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