Ciência Política

// deadliest-animals-bill-gates.jpg.650x0_q70_crop-smart

The World’s Deadliest AnimalWhat’s the deadliest animal in the world? The answer may just surprise you.
Publicado por GOOD em Segunda, 21 de março de 2016

Nesses tempos de ânimos acirrados por paixões descontroladas, esse infográfico (e video) nos ajuda(m) a entender que, por mais que nossos achismos, viés, preconceitos e visões de mundo, nos digam uma coisa; e que essa coisa nos ajude a apaziguar nossas angustias e medos; nada muda a realidade dos fatos.

Nada que eu disser pode te convencer a entrar na água na praia de Boa Viagem no Recife ou para de beijar seu cãozinho na boca, mas isso não muda o fato que, esse ano, mais pessoas, no mundo, morrerão por terem tropeçado no próprio cadarço do sapato, do que atacadas por tubarões.

E que cães matam mais que leões. Ou que Lombrigas matam mais que cobras. E que só mosquitos matam mais que humanos.

O desejo inerente dos humanos por segurança e novidade gera conflitos internos inevitáveis. A necessidade de independência e compromisso também. Esse conflitos inevitáveis também estão presentes na sociedade que garante na lei, interesses individuais e coletivos que não são plenamente conciliáveis.

Para negociar com objetividade e tranquilidade, e para alcançar um compromisso que permita avançar, é importante observar para além do necessário somente para confirmar nossas expectativas e preconceitos.

É isso que nos permite o olhar científico, mesmo (e principalmente) de fatos sociais e políticos.

Leia para além de encontrar o que confirma seus preconceitos. E da próxima vez, vote com base nas evidências que podem ser medidas, testadas, comprovadas ou refutadas. Senão, de pouco adianta todo o barulho nas ruas. De um lado ou de outro.

O que posso consertar sozinho?

Pensar não é fácil. Por isso, nossa primeira reação a uma pergunta é tentar ‘lembrar’ a resposta. Usar a memória ao invés do raciocínio. Sem encontrar a solução, nossa segunda reação talvez seja ‘perguntar pra alguém’. Ainda muito mais fácil do que pensar.

Há algumas semanas participei de um treinamento para uma apresentação. Um dos nossos projetos estava concorrendo a um prêmio e os organizadores queriam ter certeza que todas as apresentações estariam de acordo com as expectativas de forma e conteúdo dos juízes e da platéia. Ao final de cada apresentação, o mediador não fazia nenhum comentário sobre a apresentação. Não criticava, nem elogiava. Não dizia o que estava bom ou ruim. Apenas repetia uma séria de perguntas:

  • Você caracterizou bem o problema?
  • Você mostrou a solução?
  • Você apresentou bem a sua equipe?
  • Você demonstrou a necessidade de financiamento?
  • Você acredita que explicou como vai utilizar os recursos?
  • Você explicou os resultados no longo prazo?
  • Sua apresentação está dentro do tempo estipulado?

Não importava sobre o que era o projeto ou quem era o apresentador. Menos ainda como ele tinha se saído. As perguntas eram as mesmas e o resultado, inequivocamente o mesmo: a pessoa era capaz de reconhecer sozinha os problemas da própria apresentação e voltava para seu computador para consertar.

Foram 7 versões (e um dia e uma noite de trabalho intenso) até eu finalmente ter ficado satisfeito com a minha apresentação e responder positivamente a todas as perguntas do moderador.

O princípio não é novo. Já escrevi aqui sobre a estratégia dos escritores de aprender com os próprios erros. Mas eu nunca tinha visto uma metodologia para colocar em prática esse princípio e o uso das perguntas para questionar o próprio texto me tomou de arrebate pela simplicidade e o poder.

Hoje, lendo o livro ‘Vender é da Natureza Humana’ de Daniel Pink vi uma boa explicação para o poder dessa abordagem, que ele chama de ‘conversa pessoal interrogativa’: “A interrogativa, por sua própria forma, incita respostas – e dentro das respostas há estratégias para de fato realizar a tarefa.[…] Três pesquisadores – Ibrahim Senay, Dolores Albarracín e Kenji Noguchi – confirmaram a [sua] eficácia em uma série de experiências que eles conduziram em 2010. […] “[Ela] pode inspirar pensamentos sóbre razões autônomas ou intrinsecamente motivadas para buscar o objetivo”. […] As pessoas tendem a agir e atuar bem quando as motivações vêm de escolhas intrinsecas, em lugar de pressões extrínseca, A conversa pessoal afirmativa tem o risco de ignorar as motivações da pessoa. O questionamento pessoal evoca as razões para fazer algo e lembra às pessoas que muitas dessas razões vêm de dentro.”

Outro exemplo excelente que o autor usa é o desenho animado Bob, o construtor, que para induzir a si mesmo e a sua equipe faz uma pergunta: Podemos consertar?

Esperar a crítica dos nossos superiores e amigos, apesar de ser uma ótima solução no curto prazo, traz vários problemas no longo: não nos permite praticar solução de problemas, aprender coisas novas. Mas  talvez mais importante do que tudo isso, nos tira o domínio sobre a solução dos nossos problemas. É claro que ninguém sabe tudo e todos precisamos de ajuda, mas será que antes de tornar um problema nosso em um problema dos outros (e portanto sujeito a disponibilidade e prioridades dos outros) não deveríamos esgotar todas as nossas opções?

Biofísica para(didático) Biologia

Acesse o livro!

Ao longo dos últimos 10 anos, fui professor da disciplina Biofísica Geral para o curso de graduação em ciências biológicas da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Tendo sido também aluno desse mesmo curso 20 anos atrás, eu acredito que possuo uma perspectiva única sobre ele, que me motivou a organizar um livro.

Há 20 anos não havia internet e nem redes sociais. Não havia telefones celulares e muito menos os smartphones e todas as possibilidades que eles oferecem hoje. Não havia o mesmo número de computadores nos domicílios brasileiros que existem hoje, as notícias circulavam em jornais impressos e ainda que a biblioteca da UFRJ se parecesse muito com o que é hoje, ela tinha um papel mais importante já que toda informação científica publicada em periódicos estava armazenada nas suas estantes e para descobrir o que havia de novo tínhamos de vasculhar guias como o Current Contents por artigos a partir de palavras chaves do título e resumo. Eu usei muito os leitores de microfilmes, onde podíamos buscar quais os periódicos, volumes e números estavam disponíveis em quais bibliotecas do Brasil. Havia umas poucas livrarias no Rio de Janeiro onde podíamos comprar livros importados, apenas em inglês, com as últimas novidades da ciência. Eram os últimos suspiros de uma era. Hoje tudo está diferente.

(…)

Estamos expostos diariamente a uma quantidade de informação proporcional ao conteúdo de 6 jornais. No entanto, nosso cérebro não pode armazenar mais informação do que armazenava antes. Sabemos sobre mais coisas, mas somos mais superficiais.

Esse volume todo de informação começou a estimular fortemente a pesquisa científica nas áreas da neurociência da cognição. Nunca se publicou tanto sobre emoções, memória, visão, audição e aprendizagem. Sabemos hoje mais sobre como aprendemos do que em nenhuma outra época. Ainda assim, nossos métodos de ensino e estudo permanecem os mesmos. Estamos preparando as novas gerações com métodos obsoletos para um mundo obsoleto. Enquanto a tecnologia avança e os computadores e robôs substituem os seres humanos em trabalhos braçais e repetitivos, temos uma necessidade crescente de mão de obra para trabalhos intelectuais, aquele que as máquinas (ainda?) não podem nos substituir.

A criatividade, no entanto, ainda que seja uma habilidade inata dos seres humanos, uma propriedade emergente do nosso cérebro complexo, como a nossa consciência, depende fortemente do nosso conhecimento das coisas. Para criarmos inovação, nos baseamos naquilo que já sabemos, naquilo que temos em nossas cabeças, em nossa memória de longa duração e não aquilo que temos armazenado nas nossas estantes de livros, pendrives ou nos HDs virtuais da Google e da Amazon.

(…)

Vivemos em um mundo de caos. Nosso papel não é resistir a ele, mas sim abraçá-lo. Nesse novo mundo, não há mais espaço para o professor da minha época. E nem para o aluno que eu fui.

O professor há 20 anos era o único que dominava o conteúdo. Fora os anos de experiência, era o único que oportunidade de uma vez ao ano ir a um congresso no exterior, comprar livros atualizados e preparar aulas com as últimas informações disponíveis sobre determinado assunto. Se o aluno nas aulas se dedicasse a prestar atenção, teria a oportunidade única de ser exposto a um conteúdo que, de outra maneira, seria praticamente impossível de acessar. Mas hoje tudo está acessível ao toque dos dedos, em diferentes mídias, linguagens, línguas. Tanto que é difícil decidir qual informação é a mais viável ou correta. O aluno não pode mais confiar plenamente no professor como fonte porque não há como o professor estar atualizado. O aluno tem que decidir por si só em quem confiar e para isso, mais do que interesse e atenção, vai precisar de organização e autonomia. Nesse mundo, o papel do professor é ensinar o aluno a ter critério é selecionar a informação mais importante.

(…)

Ao longo desses 10 anos, ficou claro que os alunos chegam ao 4º período do curso de biologia sem ter uma ideia clara do que seja biofísica. É possível que a biofísica tenha sido a primeira, talvez após a bioquímica, das ciências que foram formadas pela união de duas outras categorias mais básicas. Hoje temos a bioinformática, bioengenharia, bioeconomia… Mas como decidir o conteúdo para ser colocado em um período limitado de tempo e espaço?

É o momento no qual cabe ao professor fazer escolhas e assumir compromissos.

Foi o que fizemos nesse livro, criando uma nova ementa, da maneira que explicamos no texto de abertura. Esperamos que, mais do que ‘o que é biofísica’, você aprenda sobre como devemos estudar e aprender nesse admirável mundo novo.

O livro foi feito com a colaboração de muitas pessoas, inclusive da turma do Scienceblogs, edição da Numina Labs e apoio da FAPERJ.  Acesse preferencialmente de dispositivos móveis conectados a internet.

Construindo confiança

IMG_3373

Outro dia assisti uma apresentação sobre como fazer uma apresentação de projeto.

“O que é mais importante na apresentação de um projeto? É você! Quem vai realizar o projeto”

Faz todo sentido. Se os financiadores, sejam eles investidores ou avaliadores de uma agência de fomento, não tiverem confiança na sua capacidade de realizar o projeto, não adianta a ideia ser espetacular.

Como diz o meu amigo Arvind Grupta: “Execute ideas. Execution matters!” A execução é fundamental!

Como todo projeto tem riscos, a decisão de investir em depende então, principalmente, quase exclusivamente, da confiança na capacidade de execução do cientista/empreendedor.

Confiança então é a palavra chave. Como demonstrar que você é confiável?

Confiança você não demonstra, você conquista. E como conquistamos confiança? Com integridade.

Mas como no último post, se você não entende o significado de ‘execução’, ‘confiança’ e ‘integridade’, essas palavras não passam de sons que impressionam por serem politicamente corretos.

Então vou compartilhar com vocês uma tabela que me foi apresentada no ano passado no congresso do Industry Research Institute – IRI, em Denver, Colorado, nos EUA. Foi durante uma sessão de discussão sobre o tema ‘weak ties and innovation’. A tradução literal de ‘ligações fracas e inovação’ não dá a idéia precisa do que foi o evento. Nele, o moderador, Andrew Maxwell, falou da importância da confiança para a inovação, já que, se dependermos dos advogados colocarem todos os termos e variantes dos termos em um contrato, o tempo da inovação já terá passado. Por isso a confiança é tão importante: sem ela, não se pode avançar.

Mas assim como o respeito, que a sabedoria popular diz “Você leva uma vida para conquistar e um minuto para perder” a confiança também é algo que se conquista, vivendo a vida com integridade.

E como fazer para sermos íntegros e dignos de confiança? Andrew nos deu a tabela da figura acima, que eu traduzi livremente abaixo. Ela nos mostra os comportamentos que constroem, abalam e quebram a confiança.

Achei essa tabela I-N-C-R-Í-V-E-L! Um guia real não só para ter integridade, como para balizar e melhorar as relações entre as pessoas. Claro, uma comunicação transparente é parte importante da integridade e da confiança. Quais desses comportamentos você pratica?

 

Dimensão da Confiança Construção de confiança Abalam a confiança

Quebra de confiança

Confiabilidade

Consistência

Comportamento que confirma uma promessa anterior Mostrar inconsistência entre palavras e ações

Não manter promessas e acordos

Benevolência

Mostrar preocupação com o bem estar dos outros Mostrar interesse próprio e frente do bem estar dos outros

Tirar vantagens dos outros quando eles estão vulneráveis

Alinhamento

Ações que confirmam valores ou objetivos compartilhados Apresentar comportamento inconsistente com os valores declarados

Demonstrar falta de valores compartilhados e vontade de se comprometer

Capacidade

Competência

Demonstrar habilidades técnicas ou de negócios Demonstrar falta de competência contexto-específica

Dizer que possui habilidades que não possui

Experiência

Evidência de trabalho relevante ou experiência prática Se baseia em experiência inapropriada para tomar decisões

Tenta demonstrar experiência que não possui

Julgamento Confirma habilidades para tomar decisões bem informadas

Se baseia inapropriadamente em terceiros ou fontes ruins

Julga os outros sem dar a eles chance de se explicarem

Confiança

Compartilhamento

Mostra vulnerabilidade ao compartilhar informação confidencial Compartilha informação confidencial sem pensar nas consequências

Compartilha informação confidencial que pode causar dano

Dependência

Mostra disponibilidade em ficar vulnerável ao delegar tarefas Relutante em delegar ou introduzir controles na performance dos empregados Indisponível para se basear na representações de outros ou se recusa a participar
Receptividade Demonstra capacidade de aprender e vontade de mudar Adia ou evita a implementação de novas ideias ou

Recusa feedback ou culpa outras pessoas

Comunicação

Acurácia

Contribui com informação verdadeira no momento apropriado De forma não intencional, representa erroneamente ou atrasa a transmissão de informação Deliberadamente representa erroneamente ou esconde informação crítica
Explicação

Explica detalhes e consequências da informação fornecida

Ignora pedidos de explicação

Nega pedidos de explicações

Abertura Aberto a novas ideias ou novas formas de fazer as coisas Não ouve ou ignora novas ideias

Impede ou sabota novas ideias.

Será que você marcou alguns dos quadros de comportamentos que ‘abalam’ ou ‘quebram’ a confiança? Eu espero que sim, porque estamos longe de ser perfeitos, não é?! Mas se não (ou independente disso), seria interessante pedir a outras pessoas, mais ou menos próximas de você, que preencham esse quadro a seu respeito. Será que essas pessoas vêem você com os mesmos comportamentos que você se vê?

Eu farei isso com a minha equipe.

O Brasil tem um dos maiores índices de desconfiança do mundo e isso atrapalha enormemente as nossas relações (como no exemplo dos contratos acima). É um das, senão a principal, razões pelas quais arriscamos pouco e inovamos pouco. E precisamos mudar isso urgentemente.

Pra terminar, deixo vocês com uma pérola de sabedoria retirada de Homem- Aranha 2: “Change is not just a word. Change comes with commitment and persistence.” Mudança não é apenas uma palavra. Mudança vem com compromisso e persistência.

 

Como contar uma história sem usar uma palavra

HQ_BioBureau_Baixa
O cérebro é realmente incrível e mais incrível ainda é como a nossa mente funciona utilizando as coisas que vemos e sabemos como peças na criação de coisas novas.

Como professor e empreendedor, eu tenho me defrontado com o constante desafio de dizer as pessoas o que eu faço, usando o menor tempo possível e causando o maior impacto possível. Homens de negócio e investidores tem pouco tempo, alunos tem pouca atenção. Se você não causar impacto imediato: Bum! Perdeu a sua chance.

Assuntos complexos não ajudam. Biodiversidade, biotecnologia, engenharia genética, são coisas que as pessoas tem dificuldade de entender mesmo depois de uma vida de estudo. Mas isso só torna o desafio mais importante. Ainda assim, muito difícil.

Mas as vezes tudo que a gente precisa é saber que é possível. Sabendo que é possível, é muito mais fácil acreditar e perseverar na busca do objetivo.

E foi com um quadrinho do Calvin que eu descobri que era possível. How to tell a story without a wordNesse quadrinho genial, Bill Watson explica que nas tirinhas de domingo, onde o espaço dele no jornal é maior, ele pode explorar mais nuances e eliminar completamente o diálogo.

A história de Calvin tem todos os elementos importantes da narrativa (situação inicial, personagens, conflito, conclusão) e responde todas as perguntas do lead jornalístico e da retórica greco-romana: o que, quem, como, quando, onde, porque. Tudo isso Sem Dizer Uma Palavra!

Tomei para mim então o desafio de contar a história do que fazemos no nosso laboratório e empresa em apenas uma página e sem usar nenhuma palavra. Um quadrinho que pudesse ser usado em qualquer país, lingua, cultura, com clareza e precisão, do mesmo jeito que Bill Watson fez com as peripécias de Calvin.

Falei com a unica pessoa que seria capaz de colocar essas minhas idéias doidas no papel: Julia Back, a melhor designer do mundo(!), que não se intimidou com o desafio (que não era só de criação, mas também de tempo: tinha que ficar pronto em 3 semanas.

Seguindo a estrutura do Bill Watson, mandei um roteiro para Julia com uma descrição de uma linha para cada quadrinho. O resultado superou as expectativas. As minhas pelo menos.

Educar para a ciência não é trabalho de ‘alguém’. Todo cientista precisa se dedicar a contar a sua história de forma que todo mundo possa entender.

O que são 'órbitas'? O que são 'elípticas'? O que são 'planetas'?

Screenshot 2015-04-27 10.08.03

(Professor – “Como vocês podem ver, a órbita de um planeta é elíptica”. Aluno #1 – O que é uma órbita?; Aluno #2 – O que é um planeta?; Aluno #3 – O que é elíptica?. Retirado do livro “Good practice in science teaching: what research has to say’ de Jonathan Osborne e Justin Dillon)

Assisti Jonathan Osborne na Academia Brasileira de Ciências em novembro de 2013 no simpósio ‘Educação Científica: um desafio para a sociedade’ falando sobre a importância e os desafio do ensino de ciências. No ano passado tive o privilégio de conversar com ele em sua sala na Universidade de Stanford sobre o que motiva os alunos: “Mauro, as pessoas buscam duas coisas: Felicidade e Significado. Em geral, quanto mais temos de uma, menos temos da outra.”

Isso por sí só já tornaria qualquer empreitada de ensino um desafio gigantesco para um professor em uma sala de aula com 60 alunos.

Mas não para por aí. Na palestra de 2013, ele mostrou a grande diferença entre o que os professores ensinam e o que os alunos querem aprender, e que isso também varia de meninos para meninas. Em seu livro ‘Good practice in science teaching: what research has to say’ (Boas práticas no ensino de ciências: o que a pesquisa tem a dizer) ele mostra quais são os 5 principais tópicos que os alunos querem aprender:

  • Meninos
    • Produtos químicos explosivos
    • Como se sente ao ficar sem peso no espaço
    • Como funcionam as bombas atômicas
    • Armas químicas e biológicas e o que eles fazem com o corpo humano
    • Os buracos negros, supernovas e outros objetos espetaculares no espaço exterior
  • Meninas
    • Por que nós sonhamos quando estamos dormindo e o que os sonhos podem significar
    • Câncer – o que sabemos e como podemos tratá-lo
    • Como realizar os primeiros socorros e uso básico de equipamento médico
    • Como exercitar o corpo para mante-lo forte e em forma
    • Doenças sexualmente transmissíveis e como se proteger contra elas

Em um mundo perfeito, esses seriam os desafios de um professor de ciências. No mundo real, no entanto, temos outros problemas. O principal deles, que os alunos chegam até a universidade com grandes diferenças entre o que sabem e o que deveriam saber. É de se esperar que essa diferença tenha aumentado com as cotas, mas ela já existia antes delas.

Em uma enquete simples que realizei com alunos do 4o período do curso de Biologia da UFRJ prestes a cursar a disciplina de biofísica, os resultados foram muito esclarecedores e mostram o enorme desafio dos professores, não só no dia a dia na sala de aula, como na discussão de um curriculo base (até mesmo sobre a ‘possibilidade’ de um currículo base). A enquete tinha 3 perguntas objetivas:

“Enuncie 3 coisas que você ACREDITA que PRECISA saber para aprender BIOFÍSICA e que você JÁ SABE?”
“Enuncie 3 coisas que você ACREDITA que PRECISA saber para aprender BIOFÍSICA e que você NÃO SABE?”
“Enuncie 3 coisas que você GOSTARIA DE APRENDER em BIOFÍSICA?”

A primeira coisa que aparece na enquete é a dificuldade dos alunos se expressarem. São perguntas objetivas e ainda assim, grande parte deles deu respostas vagas (artigo da sonia no bioletim). Na primeira pergunta, ‘o que você já sabe’, as respostas que mais apareceram foram “Física Básica” (27), “Biologia Básica” (24) e “química básica” (13) . A quarta foi: “Não sei” (12).

Não precisamos entrar no mérito da discussão do significado de ‘básico’ e o que eles quiseram dizer com isso, porque, logo depois, na pergunta ‘o que precisa saber mas não sabe’, eles responderam: “Física avançada”, “Biologia avançada” e “Química avançada”. As vezes ‘mais física’ e ‘mais química’. Ainda que as palavras sejam vagas, o contra-ponto sugere que eles tem critério o suficiente para saber que o seu conhecimento do assunto é insuficiente. Isso deveria ser um grande motivador para a aprendizagem, mas como essa atitude não aparece em sala de aula, o que será que está errado?

De 130 conceitos que os alunos listaram (veja tabela em anexo), 87 deles já deveriam ser do conhecimento dos alunos. De todos eles! Seja do ensino médio como de outros dos primeiros períodos de biologia. No entanto, pelo menos uma pessoa afirma não saber pelo menos 63 desses conceitos. Só que 53 deles são conceitos de importância fundamental! Que precisam saber! Sem esses conceitos, até a comunicação em sala de aula fica prejudicada (como mostra a charge acima). Um exemplo da enquete deixou isso claro. A Cinesiologia é o estudo do movimento animal (humanos incluídos). Ainda que 13 pessoas tenham falado do seu interesse em aprender sobre “como nos movimentamos” ou “como se movimentam os animais”, nenhuma tinha o termo preciso com o significado correto no seu vocabulário.

Outro exemplo, ainda mais sério – Uma pessoa responde no que SABE: “apenas um pouco de biologia”. No que NÃO SABE: “física, química e como a física afeta das funções dos seres vivos” e no que GOSTARIA DE APRENDER: “mecânica animal; como funciona o cérebro e pensamento multidisciplinar para que meus conhecimentos se completem”. Vejam que essa pessoa ‘sabe’ que sabe menos do que precisa saber, ‘sabe’ que não sabe coisas importantes e ‘sabe’ que coisas,  importantes ou interessantes, tem curiosidade de aprender. Mas não parece saber que, sem o básico, ela não pode relacionar e conteúdos, que é a principal ferramenta para o aprendizado, e completar seus conhecimentos.

Dos 71 conceitos que eles que querem saber, 32 eu considerei ‘interessantes’ e tem um maior potencial para despertar a atenção do aluno em sala de aula e para permitir diferentes abordagens de ensino ao professor. No entanto, 7 não tinham a ver com biofísica. Dos 20 conceitos que marquei como ‘fundamentais’ e que tiveram interesse manifestado dos alunos, 2 não tinham a ver com biofísica.

Uma análise mais cuidadosa das respostas fala muito sobre o público na sala de aula: temos sempre alguns engraçadinhos (JÁ SEI: “Que as rãs pulam”), os que tem conceitos equivocados (JÁ SEI: “Que a luz é a transmissão de elétrons”) e os que não dá pra entender (QUERO SABER: “Interdependência das coisas que permite a existência” -?!?). Sempre tem aqueles que não querem pensar: seja porque respondem o óbvio (NÃO SEI: “Biofísica” – que é justamente o que vão aprender), porque copiaram suas respostas de outras pessoas, ou porque repetiram coisas que eu mesmo havia falado antes de passar a enquete (como a diferença entre sentir e perceber). Temos sempre os pretensiosos (JÁ SEI: “origem da vida”, “Origem do universo”) e os mais ambiciosos (QUERO SABER: “Por que tudo existe?”, “Com funciona o universo?”). Até “Se Deus existe?” os alunos queriam saber.

Uma pessoa perguntou: “Como é possível os organismos possuírem uma programação que define o que fazem?” É muito preocupante que essa pergunta apareça no 4o período de biologia, já que o conhecimento da resposta, o DNA, deveria ser a razão que leva uma pessoa ao curso. Talvez o desconhecimento da ‘biologia’ pelos alunos de biologia explique o enorme percentual de evangélicos, que negam a teoria da evolução, o principal pilar da biologia, nas salas de aula desse curso.

Fiquei feliz ao ver que muitos alunos queriam saber como diferentes coisas FUNCIONAM (30). Richard Feynman dizia que “o que não podemos criar, não podemos entender”. Por isso, entender o funcionamento é fundamental para podermos criar novas coisas, que é o que o século XXI precisa que nossos cientistas façam. Outros queriam verificar SE (5) algumas premissas eram verdadeiras e outros queriam saber o por quê (5) de coisas.

Também fiquei feliz ao ver que alguns alunos queriam aprender a ‘pensar’ melhor: pensar com mais eficiência, pensar sobre o que não sabe, pensar de maneira multidisciplinar.

Finalmente, não pude deixar de perceber que os conceitos que alguns alunos dizem não saber ou querer saber, são dominados por outros. Mesmo quando são conceitos fundamentais e algumas vezes difíceis, como ‘termodinâmica’ (7 sabem, 12 não sabem e 9 querem aprender). Essa é a chave para resolver o problema da apatia na sala de aula, mas vou deixar para concluir abaixo, no final do texto.

Antes de terminar, me permitam enunciar algumas das curiosidades que os alunos querem saciar:

  • Como a borracha apaga o lápis?
  • Como funciona o cérebro apaixonado? (dá uma aula incrível sobre química a anatomia do cérebro)
  • Como é feito leite em pó?
  • Como uma árvore constata seu tamanho exato para o equilíbrio?
  • O que é o De ja vu? (dá uma aula bacana de percepção, memória, atenção e como nossos sentidos nos enganam)
  • Deus existe? (Não é uma questão científica)
  • Sobre Fenomenos sobrenarurais? (Não é uma questão científica, mas dá pra falar um monte de coisas sobre estatística e método científico)
  • Sobre a Física no dia a dia do biólogo
  • O que são as Marés?
  • O que é preciso para entender uns aos outros? (se alguém soubesse…)
  • Qual a Origem de tudo? (se alguém soubesse…)
  • Por que a Terra é o único planeta com H2O líquida? (Não é!)
  • Por que a voz soa diferente no gravador?
  • Por que raio X não imprimi papel?
  • Como tudo acontece? (se alguém soubesse…)
  • O que leva a tudo isso?  (se alguém soubesse…)
  • Por que existem coisas? (se alguém soubesse…)
  • Como funciona o Telefone Celular?
  • O Teletransporte é possível?
  • Questões relacionadas a ‘Vida’ que eu agrupei em: definição, componentes, origem, funcionamento, relação com universo.

Cheguei a e conclusões:

  1. Precisamos, PRECISAMOS, fazer palestras sobre o Instituto de Biofísica na Biologia e nos outros Institutos da UFRJ. Até chegarem ao 4o período, nenhum aluno tem, sequer, uma vaga idéia do que seja a Biofísica.
  2. Direcionar o curriculo para cobrir lacunas ou diferenças no conhecimento dos alunos, é impossível, porque são muito diferentes e os temas em que são diferentes variam de ano a ano. Não é novidade que existem mais temas para serem tratados em biofísica do que tempo para tratar deles e por isso é preciso estabelecer quais são os conceitos fundamentais, que os alunos precisam saber para que possam depreender o maior número possível de novos conceitos, o que permitirá a eles aprenderem novos conceitos (e responderem as perguntas especificas de interesse geral ou individual). É preciso determinar quais são os conceitos básicos que eles precisam saber (e saber corretamente) ANTES de iniciar o curso, sem os quais a aprendizagem será praticamente impossível.
  3. É fundamental, para aumentar a eficiência do processo de ensino e aprendizagem, que o professor, em sala de aula, envolva os alunos que JÁ SABEM conceitos fundamentais ou interessantes no ensino dos que ainda não sabem esses conceitos (veja De muitos para muitos). E, fora da sala de aula, que disponibilize conteúdo original ou ‘não-formatado’ para que os alunos possam preencher as lacunas de conhecimento básico que trazem consigo.

Sem meio termo

feynman_blackboard5

Ao longo dos primeiros meses desse ano, acompanhei muitos artigos que, de maneira contundente, urgem a comunidade científica brasileira a assumir um verdadeiro compromisso com a qualidade da ciência produzida no país. Não podemos considerar nosso critério adequado com os indicadores que temos hoje. Eu sou daqueles que concorda, em grau, número e gênero, com o texto do artigo “Produção científica e lixo acadêmico no Brasil” do professor Rogério Cezar de Cerqueira Leite publicado na Folha de São Paulo em 06/01/15.

No artigo É hora de rever o sistema de pós-graduação brasileiro de 26/01/15, o professor emérito da Unicamp Lewis Joel Greene aponta o problema: “Em meados da década de 1970, houve muitas discussões sobre o fato de que o Brasil precisava produzir milhares de doutores para chegar a níveis de primeiro mundo em número de doutores/100.000 habitantes. Reconhecia-se que a maioria dos primeiros formados teriam uma formação menos que ideal, porém entendia-se e esperava-se que o sistema se tornasse mais rigoroso com o tempo. Infelizmente, isso não ocorreu e, para piorar a situação, os doutores mal treinados estão agora formando a próxima geração de doutores.”

O artigo me fez lembrar do que li no livro ‘Aprendiz da ciência’ de Carlos Chagas Filho. Ele fala da importância da “criação de um conceito fundamental para o nosso país: o emprego de modelos nacionais estudados pelas técnicas as mais avançadas, o que, de um modo geral, significam técnicas internacionais. Esse conceito define e determina o que se deve chamar ‘a ciência nacional’. Isto não significa nenhum tipo de xenofobismo ou de estreito nacionalismo, mas é o melhor caminho para o desenvolvimento natural e social de nosso país.”

Para mim, e acredito que para ele também, não eram apenas as técnicas internacionais, mas também os critérios internacionais de qualidade. A ciência é um conjunto de ferramentas para entender como o mundo funciona. Seus critérios não podem ser flexíveis, porque as leis da natureza não são. Não há como discutir e chegar a um ‘consenso’ do que é o melhor. Não há ‘negociação’ com as evidências. Não há meio termo.

Ainda que eu admire o discurso do professor Domenico de Masi que diz que “as universidades do Brasil só não são consideradas as melhores do mundo porque os critérios para a escolha das melhores são determinados pelas mesmas universidades que publicam o ranking“, tendo tido a oportunidade e o privilégio de visitar Harvard e Stanford, não posso dizer que sejam critérios ruins.

Ainda assim, para mim, existe um critério melhor do que qualquer ranking. Um critério absoluto. O critério do que funciona e do que resolve problemas no mundo real. Quando Ioannidis publicou Why most published research findings are false‘ em 2005, era exatamente disso que ele estava falando: basta de coisas que não são replicáveis, não são confiáveis, coisas que não funcionam!

Nós precisamos fazer coisas que funcionem. Sejam elas teorias ou patentes, precisamos de ciência que ajude a resolver problemas no mundo real.

Precisamos do padrão Richard Feynman: “O que eu não posso criar, eu não posso entender.”

Ou do critério Ayn Rand em ‘A Revolta de Atlas’: “Não há nada de importante na vida exceto sua competência no seu trabalho. Nada. Só isso. Tudo o mais que você for, vem disso. É a única medida do valor humano. Todos os códigos de ética que vão tentar enfiar na sua cabeça não passam de dinheiro falso impresso por vigaristas para despojar as pessoas de suas virtudes. O código de competência é o único sistema moral baseado no padrão ouro.”

A comunidade científica acredita hoje que os artigos científicos são o propósito. O ‘fim’. Entendi, recentemente, ainda que só tenha consolidado essa compreensão agora, neste exato momento, que os artigos científicos são apenas o começo. Se um artigo científico se encerra em si, ele não fez jus aos recursos que foram empenhados nele. Estou falando de transformar dados em informação e informação em conhecimento. E sim, conhecimento em coisas que funcionem.

Patentes ou teorias, artigos tem que se transformar em coisas que funcionem. 

Lembrei da metáfora da fábrica de tijolos. Em 1963 Bernard K. Forscher enviou uma carta a Science na qual usava a metafora de uma fábrica de tijolos para fazer exatamente essa crítica a ciência que estava sendo produzida no mundo (Caos na Fábrica de TijolosChaos in the brickyeard).

Sou um cientista que entende que o modelo de financiamento de ciência no mundo está esgotado. Também sei que a percepção do cientista sobre seu papel no desenvolvimento social e econômico do país é uma, a percepção da sociedade sobre esse mesmo papel é outra e o seu real papel, outro ainda. Espero contribuir com inovações que ajudem a chegarmos a um novo modelo, onde todas essas variáveis se reconciliem em um equilíbrio sustentável. Porque voltar ao que era (“nós pesquisamos o que quisermos e vocês pagam a conta”) simplesmente não é mais uma opção.

Há 4 anos atrás o artigo ‘Fabrica de doutores’ (PhD Factory) publicado na Nature chamava a atenção para o excesso de doutores sendo produzidos no mundo. Na semana passada, outro artigo na Nature, ‘O futuro do Postdoc’ (The future of postdoc), mostra como o problema aumentou.

No mundo inteiro, em qualquer área, as únicas pessoas com trabalho garantido são aquelas que aprenderam a se tornar indispensáveis. A maior parte das pessoas quer fazer o que quer fazer e ser paga, com benefícios, por isso. Temo que não seja possível.

Precisamos de muitas pessoas fazendo muita ciência, mas não qualquer pessoa e não qualquer ciência.

Você acredita em magia? (terminei de ler…)

IMG_0197

As vezes a gente ouve uma música que diz tudo aquilo que a gente está sentindo. Ficamos impressionados de como alguém pode ter escrito as palavras que estavam em nossa cabeça, a gente só não sabia até ouvir. Ou isso nunca aconteceu com você ouvindo uma música do Chico Buarque? A verdade é que mesmo que quiséssemos, não poderíamos escrever a música. Mas que dava vontade de ter escrito, dava.

As vezes isso acontece comigo também quando leio um livro. E foi assim com ‘Do you believe in magic? The sense and non sense of alternative medicine’ (você acredita em magia? O sentido e o sem sentido da medicina alternativa) de Paul Offit.

Eu, que desde 2011 tenho rascunhos de textos no blog para falar sobre o fiasco do artigo da memória da água, publicado na prestigiosa revista ‘Nature’ em 1988 pelo francês Jacques Benveniste, só para depois ser retratado pelos editores (que não conseguiram reproduzir os resultados e terminaram acusando os autores de fraude), ou sobre a descoberta da via de ação do efeito placebo; quando li o livro de Offit, fiquei maravilhado: deletei os rascunhos velhos porque tudo que eu gostaria de ter dito, ele escreveu. Não sei se melhor do que eu escreveria ;-), mas muito bem escrito.

E ainda mais, ele traz TODOS os fatos relacionados ao crescimento descontrolado, desregulado e perigoso da industria de vitaminas: datas, montantes, leis, atos; nomes de lobistas, congressistas, CEOs de empresas, pseudo xamãs e celebridades que, equivocadas ou mal intencionadas, promovem o que não só não ajuda a saúde (soluções de água pura ou pílulas de açúcar) como o que pode fazer mal e até matar (excesso de antioxidantes).

Os resultados científicos compilados por Offit ao longo de mais de 100 anos da história da medicina científica colocam por terra as falsas promessas das milenares das ‘medicinas’ ayurvédica e chinesas. Assim como a acupuntura, quiropraxia, Roff, etc, etc, etc. Como ele diz no livro: “Não existe medicina e medicina alternativa. Existe medicina que funciona, de maneira reprodutível e comprovada cientificamente, e medicina que não funciona”.

Além disso, mostra como a atenção do médico e o efeito placebo podem, realmente, ajudar em algumas situações, mas quase exclusivamente situações onde a ‘dor’ (que tem um forte componente psicológico) está envolvida. E não… não se cura AIDS ou Cancer com o efeito placebo. Ou com ativação do sistema imune.

Diferente do classico programa dos anos 80 ‘Acredite, se quiser’ (Ripley’s Believe It or Not!), onde Jack Palace apresentava historias verdadeiras, mas quase inacreditáveis, Offit nos mostra como historias falsas, foram contadas de maneira muito acreditável por servir aos interesses de uma industria de vitaminas e suplementos alimentares que fatura tanto quanto a industria farmacêutica criticada pelos adeptos dessas práticas, mas sem gastar nenhum tostão em controle de qualidade, prova de eficácia ou eficiência.

Acredite somente se quiser, porque não há nenhuma outra razão para isso.

Terminei de ler… A nascente

The Fountainhead (1949) from El origen del mundo on Vimeo.
É lindo quando um livro nos comove e entretem ao mesmo tempo.
A história do arquiteto Howard Roark, o homem ‘possível’ da autora e filósofa Russa Ayn Rand, cuja integridade moral, criatividade genial e inabilidade social transformam sua vida numa montanha russa, surpreende a cada página. Me fez pensar (como qualquer outra coisa faz) tanto na ciência e na ciência brasileira: Não podemos fazer concessões! Custe o que custar. Doa a quem doer. A ciência não pode fazer concessões! É tão difícil, mas não podemos nunca nos esquecer.
A Nascente foi publicado em 1943 e mas continua moderno porque é real! Troque ‘arquiteto’ por qualquer outra coisa e a história continua verossímil.
Em 1949 foi lançado o filme (acima) que, apesar de ter roteiro da própria autora, pegou leve com os conflitos morais e éticos dos personagens, com a trama e com os diálogos. É… diferente de seu personagem, Ayn Rand abriu concessões. É uma alternativa para quem não tiver fôlego para as 800 páginas do livro, mas não tem comparação. E Gary Cooper como o jovem arquiteto Irlandês de cabelos cor de abóbora… não convence.
Para aqueles que precisam só de um pequeno estímulo, aqui vão alguns trechos de um testemunho de Roark:
“Nada e dado ao homem na Terra. Tudo o que ele precisa tem que ser produzido. E esta e a alternativa básica que o homem enfrenta: ele pode sobreviver de duas maneiras: por meio do uso independente de sua mente ou como um parasita alimentado pelas mentes de outros. O criador origina. O parasita toma emprestado. O criador enfrenta a natureza sozinho. O parasita enfrenta a natureza através de um intermediário.” […] “O criador vive em função do seu trabalho. Ele não precisa de ninguém. Seu objetivo principal esta dentro de si mesmo. O parasita vive em função dos outros. Ele precisa dos outros. Os outros são a sua motivação principal.  […] “A necessidade básica do criador e a independência. A mente racional não pode funcionar sob qualquer forma de coação. Não pode ser limitada, sacrificada ou subordinada a nenhum tipo de consideração. Ela exige total independência no seu funcionamento e na sua motivação.” […] “Aos homens foi ensinado que a maior virtude não e realizar, e dar. Mas nada pode ser dado antes de ser criado. A criação precede a distribuição … ou não haveria nada a distribuir. As necessidades do criador tem precedência sabre as de qualquer possível beneficiário. Entretanto, somos ensinados a ter mais admiração pelo parasita que distribui presentes que não criou do que pelo homem que tornou os presentes possíveis. Nos elogiamos um ato de caridade e ficamos indiferentes a um ato de realização.” […] “Duas concepções foram oferecidas a ele como polos do bem e do mal: altruísmo e egoísmo. O egoísmo passou a significar o sacrifício dos outros ao ego, para beneficia próprio; o altruísmo, o sacrifício pessoal em beneficia dos outros. Essas concepções ataram irrevogavelmente o homem a outros homens e lhe deixaram apenas uma escolha de dor: sua própria dor, suportada para beneficia de outros, ou a infligida a outros, para beneficia próprio. Quando a essas concepções foi adicionada a ideia de que o homem deve se alegrar com o sacrifício pessoal, a autoimolação, a armadilha se fechou. O homem foi forçado a aceitar o masoquismo como seu ideal, sob a ameaça de que o sadismo era sua única alternativa.” […] “Graus de habilidade variam, mas o principia básico permanece o mesmo: o grau de independência, iniciativa e amor pelo seu trabalho e que determina seu talento como trabalhador e seu valor como homem. A independência de um homem e a única medida da sua virtude e do seu valor: O que um homem e, e O que faz de si mesmo; não O que fez, ou deixou de fazer, pelos outros. Não ha substituto para a dignidade pessoal. O único padrão de dignidade pessoal que existe e a independência.” […] “Em todos os relacionamentos dignos de respeito ninguém se sacrifica por ninguém”.

Coisas que aprendi ao longo do último ano

IMG_3327
Retirado de leituras de altíssima qualidade como ‘Por que pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas’ de Michael Shermen e ‘Why students don’t like school’ de Dan Willingham e os vídeos do curso de ‘irrational behavior’ de Dan Ariely.
Sobre o PENSAMENTO
  1. O pensamento é um processo altamente desgastante e impreciso. O fato de podermos pensar não significa que sejamos bons nele.
  2. Não somos bons em pensar e por isso queremos usar a ‘intuição’. A intuição não traz resultados reprodutíveis.
    1. ‘Confirmation bias’ e outros fenômenos nos iludem do poder da intuição.
    2. O pensamento é a inteligência são atividades que podem melhorar com método e prática.
    3. Existe diferença entre experiência e pratica. Experiência é fruto de repetição. Pratica tem o objetivo de melhoria qualitativa e quantitativa.
    4. Escolher tarefas que sejam levemente além do seu grau de conhecimento e trabalhar duro para resolver o problema (o que caracteriza pratica) é a única forma de avançar.
  3. O interesse não é suficiente para manter a atenção. A atenção tem que ser conquistada capítulo a capítulo.
  4. A distração é um problema maior do que todos queremos que seja e do que estamos dispostos a enfrentar.
  5. Melhorar o conteúdo para o leitor é uma tarefa do autor.
Sobre ESCOLHAS
  1. A expectativa é a mãe de toda frustração. (Expectation is the mother of all fuck-ups)
  2. Nossas escolhas NÃO são, na maioria das vezes, frutos de processos inteligentes. São fruto das opções em dadas circunstâncias, do medo e da vontade de agradar aos nossos pares.
  3. A inteligência entra quando criamos narrativas e selecionamos argumentos que possam sustentar, intelectualmente, nossas escolhas.
  4. A  preguiça e a resistência são uma saída para quem tem medo e dificuldade de se organizar, ou resistir às distrações ou simplesmente não se sente qualificado o suficiente.
  5. Não ter medo de errar e aceitar o fracasso como parte do processo de aprendizagem é a única forma de avançar. (Isso não significa aceitar ser um fracassado).
Sobre MOTIVAÇÃO
  1. As pessoas querem significado e/ou felicidade.
    1. Em geral um não vem acompanhado do outro
  2. Motivação depende de muito mais do que dinheiro: Depende de propósito, realização, compartilhamento e reconhecimento.
    1. As pessoas querem ser ouvidas sem necessariamente ter algo a dizer. Estão todos parados em conhecimento superficial e com ideias não verificadas que imitam o que outras pessoas já disseram.
  3. As pessoas adoram as suas próprias ideias e tendem a acreditar que elas são melhores. Sempre.
Eu resolvi compartilhar essas idéias porque me ajudam a enfrentar os desafios de ser um melhor professor, empreendedor, cientista e cidadão.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM