Diário de um Biólogo – Domingo 27/01/2008

Salvador. Meio dia. Termina o 4º dia de curso. As aulas começavam às 8h e terminavam às 18h e apesar de eu e a Bahia sermos velhos conhecidos, ainda não pude ver nada da folia.

Um mestrado profissionalizante tem suas particularidades. Metade da turma era de gestores. Como fazer pra falar pra essa turma sobre bioquímica, biologia molecular, meio ambiente? Mas mestrado é sempre mestrado. Quero dizer, é um treinamento em ciência, e o treinamento em ciência é o melhor treinamento em solução de problemas que se pode ter. Qualquer que seja o seu problema. Por isso não pode ter moleza. Mas eles foram bem, e acho que eu também, já que quando a aula terminou, me chamaram pra ir pro Pelourinho.

No carro, os alunos começam a contar sobre suas expectativas quanto ao mestrado. Principalmente um emprego melhor. Um deles é chefe de manutenção de uma petroquímica e comanda uma equipe de 6000 homens que trabalham em turno 24/24h. Ainda essa semana tinha sido convidado pra trabalhar em Macaé, mas só se fosse pra ganhar mais do que os R$ 8.000,00 que ganha hoje. Papo vai papo vem, descobri que o meu era o menor salário do carro. Chegamos no Pelô e pedi pra ir comer moqueca. Os outros encontraram com a gente e quando sentamos, descobrimos que o meu era o menor salário da mesa.

Veio a conta: R$ 40,00 a muqueca de camarão com dendê, R$ 60,00 a mariscada, R$ 10,00 a dose do Red Label e R$ 4,50 a Skol.

Sou professor de uma das maiores universidades federais do país, mestrado, doutorado e dois pós-doutorados. Um monte de artigos publicados. Falo 4 idiomas. Anos investidos em livros e cursos. Colaboro com grupos de pesquisa em todo o Brasil e no mundo. Sou convidado para dar um curso na Bahia e meus alunos não deixaram eu pagar a conta porque ficaram com pena do meu salário. Nessas horas que eu fico com pena dele também e vejo como somos desvalorizados.

Fui pro ensaio da Timbalada. Já que a gente ganha pouco, tem pelo menos que se divertir.

Sangue do meu sangue

Na mesa do almoço de Domingo, com a extraordinária presença do meu primo Felipe, meu pai, que adora uma polêmica (e o Eurico Miranda), interveio criando grande dúvida: Afinal, primos de 2º grau são os filhos de dois primos irmãos (mesma geração) ou pais e os filhos de primos irmãos (duas gerações)? Confesso que na hora fiquei decidido a achar a informação e escrever um texto contando resolvendo a pendenga, mas como já escrevi aqui, é impressionante como uma idéia (ou um texto) toma vida, e sendo assim, resolvi mudar o enfoque.

Sorry Pap’s, a pendenga vai continuar em aberto.

As relações de parentes alcançam maior comoção em humanos do que em qualquer outro animal.

Eu adoro minha família, mas nossos laços são mais do que de sangue. Quando morei na Itália, os primos do meu tio, marido da irmã da minha mãe (ou seja, um tio não consangüíneo), me trataram em Florença mais que como um sobrinho distante. Maria Luiza, Patrizia, Graziano e Mario cuidaram de mim como se cuida de um filho. Riccardo e Raffaella como um fratello. E se eu estivesse em Roma, Humberto e Giulia, cujo vínculo comigo era minha amizade com sua filha Margheritta, me recebiam aos domingos para o almoço de família, com direito a irmãos, irmãs, sobrinhos, sobrinhas, cunhados, cunhadas. Além do risoto da Margheritta, aquilo diminuía a ‘saudade’ palavra que só existe no português e que só a gente parece saber exatamente o que quer dizer.


Biologicamente, será que faz algum sentido? Jared Diammond conta em “Armas, germes e aço” que na Nova Guiné, dois estranhos que se encontram na rua, ficam discutindo horas até encontrarem algum parentesco em comum, o que é a única desculpa para não se matarem. Qualquer um que nõ é um parente é um competido e deve ser eliminado. Essa é a lógica.

Nos anos 70, Richard Dawkins desenvolveu a teoria do ‘gene egoísta’. De acordo com ela, nos somos apenas máquinas altamente especializadas a serviço da propagação dos nossos genes. Mas importante do que cada um de nós como indivíduos, é a individualidade dos genes que carregamos.

Se vocês se lembram um pouquinho da genética, cada um de nós possui (ou pelo menos deveria possuir, leia aqui) 23 pares de cromossomos (46 no total). Herdamos metade de nosso pai e metade de nossa mãe, e doamos metade dos nossos para nossos filhos.

Com uma matemática relativamente simples, podemos entender porque a palavra em inglês para parentes ‘relatives’ é mais adequada do que a em português. Nossa relação com os outros pode ser medida pelo número de genes que temos em comum. Esse não é o critério apenas dos Papua da Nova Guiné, mas de todo o reino animal.

Pais e filhos, irmãos e irmãs tem o maior número de genes em comum: 50%. Avôs e netos, tios e sobrinhos vêm em segundo com 25%. Os primos irmãos e bisnetos vêm a seguir com 12,5% e já para o final na árvore genealógica estão os primos de segundo grau, que aqui diferem de uma geração, com 3,12%. Parentes distantes como primos de terceiro grau tem tanta probabilidade de ter genes em comum com você do que com um estranho qualquer: 0,78%. Agora vejam, os gêmeos idênticos tem 100% dos genes iguais. Do ponto de vista genético, a vida do seu irmão gêmeo vale tanto quanto a sua própria. E a do seu irmão tanto quanto a do seu filho. Mas você escolheria o seu irmão ao seu filho? Pergunta difícil não é? Apesar dos números igualarem as prioridades, a resposta mais comum seria a escolha do filho. Por que?

Porque para os genes, o tempo restante de vida é importante, já que aumenta as chances de reprodução de mais uma geração e de perpetuação desses genes. Em uma escolha como essa, a vida de quem tem mais chances de passar os genes adiante deve ser privilegiada, mesmo que em detrimento da sua própria.

Esse cálculo de probabilidades pode ficar complicado, e outros animais não têm como fazê-lo antes de decidirem se defendem ou atacam outro indivíduo com base no parentesco. Por isso, usam outros artifícios. A distância física por exemplo. Territorialismo e outros tipos de comportamentos animais acabam favorecendo, ainda que indiretamente, o reconhecimento do grupo familiar e, conseqüentemente, por quem vale a pena lutar e por quem vale a pena morrer. Tente entrar em um grupo de babuínos, ou no seletíssimo grupo das meninas da biologia da UFRJ turma de 89/1 e você vai ver do que estou falando: vai levar uma corrida!

Apesar disso, os humanos são extremamente permissíveis a indivíduos externos ao grupo familiar e a explicação mais plausível para isso é o altruísmo recíproco (veja aqui). Raffaella e Manoele me hospedaram e me levaram pra tomar gelatto em San Gimminiano quando eu estive em Florença, e eu hospedei e levei eles pra tomar caipirinha no Rio Scenarium quando estiveram no Rio. Não é justificativa mais do que suficiente?

Que bichinho é esse? Que plantinha é essa?


Por trás dessas perguntas simples, que certamente estão entre as mais escutadas por qualquer biólogo, está um dos maiores problemas da biologia: a classificação dos seres vivos

A taxonomia é a parte da biologia que se ocupa em identificar e nomear os organismos e grupos de organismos. Ela faz isso utilizando características que são comuns a esses grupos. Quanto mais características comuns, mais os mesmos organismos avançam na escala de classificação. A classificação mais ampla é a de domínio, mas nem mesmo nessa existe consenso. A maior parte considera apenas procariotos e eucariotos. Mas há aqueles que reconheçam o domínio Arquea, com bactérias tão antigas quanto a Terra e que diferenças fisiológicas e morfológicas que os caras julgam como suficientes para a separação. Depois vem os reinos, que podem ser cinco (ou seis dependendo do autor): Monera (as bactérias de novo), protista (os eucariotos unicelulares, principalmente os protozoários), Fungi (ótimos em pizzas e macarronadas), animal (com movimento próprio) e vegetal (sem movimento próprio), protista, monera).

Depois vem os Filos (ou para os puristas, fila no plural em latim). Classe, ordem, família e gênero são todos degraus dessa escala taxonômica. O nível taxonômico mais alto em que não se pode ser mais ou menos inclusivo é o de espécie: um conceito importantíssimo na biologia, mas que continua insuficientemente bem definido. Pode ser a forma como as pessoas leigas se referem a diferentes tipos de organismos: Cães são de uma espécie e gatos são de outra. Pode ser a nomenclatura binomial padrão criada por Carl von Linné através da qual cientistas se referem ao organismos: Canis familiaris e Felis Catus.

As espécies são geralmente definidas como um grupo com muitas características em comum, mas a principal é que eles são capazes de se reproduzir entre si e formar uma prole fértil. No caso dos animais superiores isso quer dizer que eles são capazes de trocar genes uns com os outros, uma idéia subjacentes ao conceito de espécie e muito importante. No entanto, em muitos, muitos casos, essa medida não é adequada e é necessário usar parâmetros com maior poder de distinção, como similaridade do DNA ou traços modificados localmente.

Geralmente, a distinção entre diferentes espécies, ainda que muito próximas, é relativamente simples. O cavalo (Equus caballus) e o burro (Equus asinus) são facilmente separados mesmo sem estudo ou treino. No entanto, eles são tão próximos que podem cruzar. Mas como a prole resultante, a mula, não é fertil, eles são claramente separados como espécies.

Abre parênteses:

Se você é biólogo, corre o risco de já ter visto a Mula Rouca, um outro ‘híbrido’, só que muito mais ‘fértil’, como vocês podem ver no vídeo abaixo.

Fecha parênteses.

Para Darwin, espécie era “um termo arbitrário dado por conveniência a um grupo de indivíduos que se parecem muito…ele não difere, essencialmente, do termo variedade, que é dado para formas menos distintas e mais flutuantes. O termo variedade, novamente em comparação com uma mera diferença individual, é também aplicado arbitrariamente por pura conveniência.”

A dificuldade de definir espécie reside na dificuldade fundamental da biologia de identificar partes dentro de um todo. Apesar da visão mecanicista de Descartes, os organismos não são uma máquina, mas sim um ‘contínuo’, que torna muitas vezes dificílimo, e algumas vezes mesmo impossível, determinar onde termina uma e começa outra. Essa dificuldade não se restringe as partes e também existe para diferenciar um organismo inteiro, ou uma espécie, de outro.

Isso acontece porque a evolução é, em si, um processo contínuo e muitas vezes a separação entre duas espécies está em um gradiente que dificulta a determinação de onde começa e onde termina.

Existem alguns mecanismos de especiação. Formas que nós, ao olharmos para a natureza, identificamos como responsáveis pela formação dos diferentes grupos de indivíduos. A anagênese é quando a evolução atua dentro da espécie, selecionando novas adaptações por um processo Darwiniano de seleção natural. A cladogênese leva a formação (mais drástica?) de novas espécies, também pelo processo darwiniano de seleção natural. Qual a diferença entre as duas? Talvez seja a forma como elas ocorrem. O isolamento reprodutivo, quase sempre gerado por um isolamento geográfico, é a principal maneira de gerar especiação. Para o grande biólogo evolucionista Ernst Mayr as espécies “representam grupos de populações isolados (ou potencialmente isolados) reprodutivamente”. O isolamento é tão importante que para ele era o que efetivamente definia a espécie.

Mas esses conceitos bem definidos foram perdendo força a medida que os botânicos foram encontrando muitas ocorrências de híbridos (até entre gêneros) que tornou a definição biológica de espécie menos atraente e depois, totalmente ineficiente. Os microbiologistas também tiveram muitos problemas com essa definição, já que microorganismos não apresentam tantas diferenças morfológicas, ainda que suas funções bioquímicas possam ser muito diferentes.

Finalmente, os zoólogos que trabalham com animais em isolamento geográfico, o que acontece muito com peixes perenes em poças e lagos, descobriram também uma desconexão entre o isolamento geográfico e reprodutivo que os levou a optar pelos critérios morfológicos do isolamento geográfico para classificarem seus indivíduos. A confusão se instaurou e foi necessária a criação de outros conceitos. Hoje existem quase tantas definições de espécie quanto espécies. Tudo bem, esse foi um exagero. Existem pelo menos 1,5 milhões de espécies descritas e algo como umas 27 definições de espécies. Espécie filogenética, baseada na separação genealógica de grupos de populações por características derivadas comuns; espécie molecular, baseada na separação por semelhança de DNA, proteínas ou vias metabólicas; espécies morfológicas, ecológicas…

Esse peixinho meio sem graça é o Phalloceros caudimaculatus, que se diferencia de outros do seu genero apenas pela macula/mancha na cauda. Já o nome do gênero vem do enorme pênis em forma de chifre que ele apresenta

Cada definição tem seus prós e contras. No entanto, não podemos dizer que existe um conceito universal, aceito por todos. Ou melhor, que possa ser aplicado por todos.

Quando é assim, é quase impossível acertar. Ou não errar. Então, o melhor é definir antes, o que você considera como espécie. Ou onde começa uma divisão e termina a outra. Pode não estar certo, mas você não cria mais um problema.

Deu na CBN

Depois da reportagem na Folha de São Paulo, a Rádio CBN que fez um entrevista comigo no Domingo as 12:15h sobre as dificuldades para importação de material para pesquisa no país. Quem estava na praia, pode ouvir a entrevista aqui. Ontem o editorial da Folha de São Paulo novamente chamou atenção para o dia-a-dia Kafkiano dos cientistas importadores. A luta continua!

Quem é você?


Tem uma frase do Mário Quintana que eu acho incrível. “Buscas a perfeição? Não sejas vulgar. A autenticidade é muito mais difícil!”

E é mesmo.

Da perfeição eu já desisti há muito tempo. Como a autenticidade veio de fábrica, eu corro atrás da originalidade. Bem, não sempre. Não procuro originalidade nos passos de dança. E olha que eu adoro dançar. Olho pro lado, é bacana, eu copio. Não fico em casa bolando novos passos de dança. Mas quando você é um cientista… dá tudo por uma idéia original.

Mas que isso, invisto grandes quantidades de tempo na busca da idéia original. Minha mente nunca se desliga. Tem um monte de gente, em um monte de empregos, que bateu 17h podem ir pra casa e não pensar mais naquilo. Mas o meu não desgruda de mim nunca. Sou cientista 24h por dia, 7 dias por semana. É tanto açúcar que o cérebro queima pensando, que eu tenho que compensar enchendo a cara de macarronada. A minha forma de recuperar o combustível (só que depois dos 30 é mais difícil se livrar das reservas, quando elas se formam).

Quando tenho uma idéia nova, original, sento e escrevo. Sempre fiz isso. Mas nem sempre funcionou. Na verdade, pouquíssimas vezes funcionou.

Uma das razões para não ter funcionado, eu descobri, também a duras penas, é que originalidade apenas não basta. Para que sua originalidade seja reconhecida você precisa de uma de duas coisas: genialidade ou credibilidade. A genialidade também vem de fábrica, mas é muito rara e eu não fui um dos contemplados. A credibilidade, essa a gente tem que conquistar, em geral, matando um leão por dia.

O resultado é muitas vezes frustrante. Por que? Porque não basta ter a idéia e guardá-la para você. Você tem que saber comunicá-la e muitas vezes, executá-la. Para saber comunica-la você precisa ter educação, o que elimina grande parte da população do processo criativo (se já não tivessem sido eliminadas antes). Para poder executa-la você precisa de recursos, o que elimina outra grande parte. A maior parte das idéias originais morre na cabeça do seu criador. Mas acontece que nos somos muitos. Quase 6 bilhões. Na verdade muito mais, porque competimos com todos aqueles cérebros que já existiram. Uma idéia não é original se alguém pensou nela junto com você, um pouco antes (10 min) ou muito antes (500 anos atrás). Somos um tipo de 6 bi! (a exclamação, na matemática, pra quem não lembra, é o símbolo do fatorial). Uma idéia original acaba escapando. Alguém escreve.


Mas chega o próximo desafio. Alguém tem de ler. Sem uma platéia, um comunicador está mudo. A busca por uma platéia pode exaurir um pensador. É um conselho desestimulador, mas, se você busca uma idéia original, busque antes uma platéia. Tente também conquistar algum reconhecimento e credibilidade. Essas três coisas você consegue se for um repetidor esforçado e competente. Porque se você é daqueles revoltados com o sistema, que não gosta de “jogar com a bola dos outros”, pode ser que não tenha ninguém pra jogar quando conseguir a sua própria bola.

Eu acho que tive algumas boas idéias até hoje. Observei a natureza das coisas, vi o que era, vi o que não era, e tive um vislumbre de como poderiam, ou como deveriam ser.

Coloquei no papel. Mandei até para uma revista. Mas foi rejeitada. Não sabiam quem eu era. Tudo bem, pode ser que eles só não achassem uma boa idéia. Mandei então para outra revista. Eles também não acharam a idéia boa. Depois mandei para muitas outras revistas. Um revisor, uma vez, disse que era uma boa idéia, mas que era inócua. Não ajudava a resolver nenhum problema. Descrevia o problema de uma forma mais correta, mas não ajudava a resolve-lo. Então aprendi que uma idéia original precisa, além de tudo, de ser útil. Mas isso é no caso especial de você não ter credibilidade nem reconhecimento. Nesse caso, quanto maior a utilidade, maior a probabilidade da sua idéia original vingar.

Com o tempo, paramos um pouco de investir na comunicação de algumas idéias. Cansa. De vez em quando tentamos dar uma espanada nelas, para ver se alguma nova estratégia de comunicação aparece, alguma utilidade não vislumbrada. Mas em geral, nada e acabamos investindo em novas idéias.

Um dia o reconhecimento virá. E vem mesmo. Só que para outro. Descobrimos nossas idéias originais publicadas por um outro com maior habilidade de comunicação, senso de utilidade, público, credibilidade, reconhecimento e… um editor.

No meu caso, terminei de ler um livro essa semana que resume grande parte dos pensamentos da minha vida científica que eu achava originais: “A tripla Hélice” de Richard Lewontin. Pelo menos ele é um cara realmente foda!

Nos resta a o gosto amargo da vitória sobre todos os revisores que algum dia disseram que sua idéia não era boa. Ela era (ainda que você talvez é que não fosse)! Nessa hora, o único consolo pode ser pensar que nenhum deles consegue dançar forró.

Dia-a-dia Kafkiano dos cientistas

Vocês já devem saber que eu não gosto de publicar aqui coisas que saíram em outro lugar. Mas como a “Folha de São Paulo” restringe o acesso do site aos assinantes do jornal (e do UOL), eu vou colocar pra vocês o artigo que publiquei hoje com o prof. Stevens Rehen (o Bitty). Sim, porque ser cientista também é ter que passar pelo “Processo”, mas não deveria ser.

Folha de São Paulo, segunda-feira, 07 de janeiro de 2008

É difícil importar material científico no Brasil
MAURO REBELO e STEVENS REHEN


Somente uma ação coordenada será capaz de viabilizar o desembaraço ágil de produtos essenciais ao progresso científico do Brasil


PAÍSES QUE investem em ciência precisam agregar pesquisadores com habilidades técnicas, criatividade e motivação. No caso dos profissionais brasileiros, acrescenta-se uma dose cavalar de paciência à sua lista de predicados.

Um levantamento realizado pela FeSBE (Federação de Sociedades de Biologia Experimental) em parceria com a SBNeC (Sociedade Brasileira de Neurociências e Comportamento) indica que, no Brasil, um cientista espera,em média, quatro meses pelo desembaraço alfandegário de
insumos essenciais ao exercício de sua profissão. Se trabalhasse no exterior, aguardaria 24 horas.

Durante o anúncio do Plano de Ação da Ciência e Tecnologia (o “PAC da Ciência”), o presidente Lula instituiu o prazo de 45 dias para que os ministérios da Ciência e Tecnologia, da Fazenda, da Saúde e do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior disciplinem o desembaraço
aduaneiro simplificado na importação dos bens para pesquisa. Às vésperas de 2008, a Receita Federal baixou instrução normativa que estabelece “sinal verde” para importações feitas por pesquisadores vinculados ao CNPq (Conselho Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento).

Faz sentido, já que são compras realizadas quase exclusivamente com dinheiro público e de forma bastante controlada. A Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária) também apresentou resolução que dispõe sobre o tema. A proposta está disponível para consulta pública na internet.

São notícias que merecem comemoração, principalmente a iniciativa da Anvisa, apontada no levantamento da FeSBE/SBNeC como grande responsável pela demora no desembaraço de material para pesquisa. Entretanto, o processo de importação de bens científicos é tão complexo que ações não coordenadas podem agravar ainda mais o já kafkiano dia-a-dia dos cientistas importadores.

O objetivo das normas é determinar prioridade na liberação, o que já seria esperado pela própria natureza perecível da maioria dos produtos requisitados pela comunidade científica. Fato que nunca se traduziu em desembaraço rápido.

O processo começa com o preenchimento de uma licença de importação no Siscomex (Sistema de Comércio Exterior). Cada produto a ser importado tem um código, a nomenclatura comum do Mercosul (NCM). A partir das informações contidas na NCM, o Siscomex define os órgãos fiscalizadores para cada item importado. Essas informações, por sua vez, são fornecidas pelo Serpro (Serviço Federal de Processamento de Dados), vinculado ao Ministério da Fazenda. Como o Serpro classifica as diferentes mercadorias não está claro.

A proposta da Anvisa é bem-intencionada, mas não contempla questões relacionadas à NCM e ao Siscomex. Mesmo com o novo regulamento, não é possível, por exemplo, discriminar reagentes utilizados em seres humanos daqueles específicos para camundongos e ratos, mas estes
últimos, em tese, não precisariam da anuência da agência. Também é comum um mesmo produto precisar da anuência de mais de um órgão, o que acarreta sobrefiscalização e
estende o tempo de espera.

Para complicar ainda mais, os benefícios previstos pela nova determinação só se aplicam a bens transportados por encomenda tradicional (via Siscomex) ou pelos Correios. Serviços de entrega expressa não podem ser acionados, apesar de serem a principal maneira de transportar material
científico em todo o mundo. Paradoxalmente, mesmo que os Correios do Brasil fossem
tão rápidos quanto os serviços expressos internacionais, não poderiam ser utilizados para a maioria dos casos. A autoridade mundial do setor não permite o transporte de
substâncias perecíveis, 70% da demanda da comunidade científica brasileira.

Tão importante quanto um novo regulamento técnico para a importação de material para pesquisa em saúde é a necessidade de treinamento adequado dos fiscais da Anvisa, além da criação, pela Receita Federal, de entrepostos que permitam desembaraço em 48 horas, com instalações capazes de estocar as cargas importadas pelos cientistas, incluindo células e animais.
Para que se cumpra o prazo estipulado pelo presidente na resolução desse imbróglio, mais do que um “PAC da Ciência”, será necessário um pacto pela ciência envolvendo
todos os órgãos subordinados ao governo federal. Somente uma ação coordenada será capaz de viabilizar o desembaraço ágil de produtos essenciais ao progresso científico brasileiro.

I'm back!


No ano passado foi a mesma coisa. Chega Dezembro e a quantidade de provas, finais ou não, e prazos acabam impedindo que eu consiga me dedicar ao blog. Não vou dizer que é de todo ruim. Toda vez que eu encontro a Lina, namorada do Fefê, ela reclama: “Abandonou os seus leitores!” com seu sotaque argentino. Acabo redescobrindo que tenho leitores e que eles sentem minha falta.

Eu poderia listar minhas propostas para 2008, mas elas são as mesmas de 2007: fazer mais exercício (minha coluna está pior do que nunca), trabalhar menos, encontrar mais meus pais, comer melhor, dormir mais e viajar mais. Mas vou me contentar com apenas uma, que ouvi hoje: Não cometer os mesmos erros do ano passado! Que sejam erros diferentes! Assim como no ano passado, foi um final de ano difícil e uma passagem difícil também. Não fiz a viagem que eu queria e não fiz nenhuma outra viagem. E como por desencanto, 2008 chegou.

Baixo astral, né?! Mas minha acupunturista resolveu meu problema (não o dá coluna). Segundo ela, o ano que importa é o ano novo chinês. O que passou foi o ano do Javali, que, como eu tenho 36 anos, bate com o meu ano ‘não sei o que’, que é especialmente difícil. Truncado, com muitas solicitações e decisões, uma atrás da outra. Mas o ano que entra agora é o do Rato. Apesar da cultura ocidental desprezar o bichinho, parece que na cultura oriental ele é festejado. O ano do rato é de fartura e animação. Quem viu Ratatouille sabe do que eu estou falando. Pois é, então, o Ízio, grande baixista, mandou de novo um e-mail bacana sobre a virada do ano. Segundo as informações dele, o 1o de janeiro foi instituido por Julio César como o dia do ano novo em 46 A.C.

Se os chineses dizem uma coisa e os Romanos inventaram outra, eu posso muito bem fazer uma adaptaçãozinha pra espantar a tristeza. Então resolvi que meu ano ainda não virou. Só vai virar quando virar entrar o ano do rato, dia 7 de fevereiro.

Onde quer que eu esteja, e eu vou estar, vai estourar champagne!

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