Uma bolsa e um porta-lápis

É justa a preocupação do ministro da educação com a mal distribuição das bolsas de pos graduação no Brasil. Uma breve analise do site do CNPq mostra que no ano de 2000, 60% das bolsas e do fomento a pesquisa se concentram no sudeste, enquanto na região norte, por exemplo, o percentual é de 2,5 %. Em 2001 a CAPES titulou, na área de ciências biológicas, 987 mestres e 599 doutores na região sudeste, enquanto na norte foram 61 mestre e 29 doutores.

Seria justa também a preocupação do ministro com relação a falta de aumento nas bolsas de pós-graduandos nos últimos 10 anos.

Em recente resposta da CAPES ao manifesto entregue ao presidente Luis Inácio pelos Pós-graduandos, a culpa foi colocada no restrições econômicas as quais estão submetidos os diferentes ministérios.

O problema das bolsas de pos graduação no pais é o mesmo de tantas outras políticas: a falta de uma política a longo prazo.

Em 2001 o lançamento do programa Profix do CNPq chamou a atenção de muitos recém doutores. No entanto o numero de bolsas ainda foi muito aquém das necessidades causada pela interrupação dos programas anteriores de recém doutor e fixação das agencias. O resultado foi uma enxurrada de pedidos, também muito concentrados no sudeste

A pós graduação no Brasil cresceu nos últimos 20 anos e com ela a produção cientifica do pais, que entrou no seleto grupo dos 20 paises responsáveis por mais de 1% da produçÃo cientifica mundial. Mesmo com a redução do fomento a pesquisa, o numero de bolsas se manteve ou aumentou. A produção cresceu se apoiando no esforço desses jovens cientistas.

Existem programas de iniciação cientifica e de jovens talentos que levam jovens estudantes para dentro dos laboratórios das universidades e abrem as portas para um mundo de pesquisa que é muito sedutor. No entanto, as agencias parecem esquecer que esses vão virar alunos de mestrado e doutorado, vão precisar de reagentes, saídas de campo, instrumentação, discussão em congressos, publicação de dados em revistas, comprar livros, assistir aulas sem que falte luz, realizar experimentos em laboratórios onde não falte água.

Como dizia a música do Casseta e Planeta, “Se aqui é assim, imagine na Jamaica”. Mesmo com um sistema de pesquisa saturado, é melhor se apertar em um laboratório montado do sudeste, em uma universidade com professores doutorados que ainda tem chance de participar pelo menos uma vez por ano em um congresso internacional (finaciando do seu próprio bolso ou com dinheiro de agencias internacionais) do que ir pra uma universidade nova, onde não existem equipamentos ou uma “massa crítica” que possibilite a produção científica e a construção do conhecimento.

Enquanto o governo achar que vai conseguir levar jovens doutores formados no exterior ou no sudeste para pequenas universidades do norte e nordeste apenas com uma maior oferta de bolsas, a única coisa que vai conseguir é aumentar a competição por um menor numero de bolas no sudeste. Uma passagem do Rio de Janeiro até Porto velho custa mais que uma viagem a Europa. Isso quer dizer que um pesquisador não poderia visitar sua família. Que o frete de material cientifico que já é problemático no sul e sudeste seria desastroso. No Acre as estradas ficam submersas 6 meses por ano por causa das cheias dos Rios. Ainda é melhor lutar contra a falta de água e luz e dinheiro na UFRJ do que na UNIR.

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