Apagar das luzes
Anos atrás, quando eu morava na Itália, lembro de ver uma reportagem da Veja que dizia que a Itália estava se tornando o Brasil, numa espécie de ‘de volta para o futuro’ ao contrário (ou ‘avante para o passado’) com todas as semelhanças entre Berlusconi e os políticos brasileiros e toda a vergonha da política italiana.
Ainda que eu entenda o sentimento de revolta de um povo contra a fogueira das vaidades de seus governantes, e a manifestação desse através da sua única arma que é o voto. Só temo que, para contrariar Berlusconi, os italianos tenham atirado no pé ao votar contra o uso energia nuclear.
É claro, não foram e não são só os italianos. Os Estados Unidos já fecharam algumas usinas nucleares (mas ainda assim possuem 104!), a Suécia vai fechar as suas, assim como a Alemanha. O mundo está todo assustado por causa do que aconteceu com o Japão. Mas eu acho que tomar decisões estratégicas em momentos de alarme é (quase sempre) um grande erro. Dá pra tomar uma decisão levando em conta a probabilidade de um terremoto? Vou discutir isso no post seguinte. Me deixem voltar a questão nuclear.
Duas semanas atrás tive oportunidade de mediar uma mesa redonda sobre ‘O futuro da matriz energética brasileira’ na XV Semana de Biologia da UFRJ com a participação de Ivan Pedro Salati de Almeida da CNEM, Frederico de Meirelles Pereira do IB/UFRJ e Marcelo Motta da Geografia da PUC-RJ. Numa apresentação contundente, Ivan Salati mostrou que o mundo e o Brasil precisarão de mais energia. E por N razões, não podemos prescindir do uso da energia nuclear. Esse post não é para discutir os prós e contras dessa energia, por isso não vou aprofundar a discussão.
Abre parênteses: Sinceramente… acho que não há discussão: se quisermos que todos tenham acesso aos avanços tecnológicos e ao conforto proporcionado por eles, além de água para beber e ar para respirar, vamos precisar do nuclear! (rimou). Fecha Parênteses.
O risco da energia nuclear, que apavora todos, principalmente aqueles que moram nas redondezas de Angra 1, 2 e 3; como eu e qualquer outro dos 12 milhões de habitantes da grande Rio de Janeiro não deve ser comparado com o risco de outras fontes de energia. Deve ser comparado com a nossa vontade de andar de metro, de elevador, de escada rolante. De ver os holofótes do Maracanã acessos quando o Vascão entra em campo, de organizar Olimpíadas, de usar forno de microondas e chuveiro elétrico, de ter 37 spots de luz apenas na sala de estar de 21 m2 como queria a minha arquiteta. Mas o Greepeace não fala nada disso quando faz propaganda contra a energia nuclear. Aliás, se eu estivesse em Roma e ao visitar o Coliseu visse uma faixa gigantesca do Greenpeace cobrindo o monumento, eles já perderiam o meu voto.
“James Cameron perdeu uma grande oportunidade de mostrar ao mundo uma civilização biotecnologicamente avançada, que utiliza os recursos da floresta para gerar riqueza” disse o Marcelo Motta na mesa redonda. Um dos responsáveis pelo Estudo de Impacto Ambiental da controversa hidroelétrica de Belo Monte, ele falou que Avatar foi um retrocesso na mentalidade ambiental do mundo. “Não sabemos aproveitar nada da Floresta. Não investimos nada em conhecimento da Floresta”. Estamos utilizando um modelo ultrapassado de gerar riqueza. Em alguns, talvez não muitos, seremos uma China, que segue o mesmo modelo, só que numa velocidade arrasadoramente alta, fruto da disponibilidade de um bilhão de mãos para trabalhar.
A Floresta pode dar tanto, mas não estamos investindo nada para entender o que, como e para que podemos explorar a floresta. É um claro resultado da ‘exclusão científica’ da nossa população: ao invés de inovar ciência e tecnologias limpas, criar demanda e padrões, usamos a força bruta para aproveitar o máximo que pudermos, enquanto pudermos, com as tecnologias existentes e que já exauriram recursos em outros lugares. Ai, construímos siderúrgicas em Sepetiba, para deixarmos funcionar só com a licença provisória. Instalamos Angra III, que se já era obsoleta quando foi comprada 40 anos atrás, imaginem agora.
Se a Sigourney Weaver quer se vestir de azul para protestar contra alguma coisa, que seja contra a igreja proibir o uso de métodos contraceptivos. Não há crescimento que seja sustentável!
Batendo o martelo
Eu sabia que entrariam no mundo profissional e criaram novos e fantásticos programas de computação, projetos de animação e recursos de entretenimento. Mas eu também sabia que que eles tinham o potencial para frustrar milhões de pessoas no processo.
Nós, engenheiros e cientistas da computação, nem sempre criarmos coisas fáceis de usar. Muitos de nós somos terríveis quando explicamos tarefas complexas de modo simples. Já leram algum manual de instruções de um videocassete? Então já viveram a frustração a que me refiro. Por isso sempre quis enfatizar a meus alunos a importância de pensarem nos usuários finais de suas criações. Como eu poderia tornar clara para eles a necessidade de não criarem uma tecnologia frustrante? Arranjei um meio sensacional de lhes prender a atenção.
No primeiro dia de aula eu levava um aparelho de videocassete funcionando. Colocava o aparelho sobre uma mesa, na frente da sala, pegava uma marreta e o destruía. Em seguida, dizia: “Quando se constrói algo difícil de usar, as pessoas se aborrecem. Ficam tão irritadas que querem destruí-lo. E nós não queremos criar objetos que as pessoas queiram destruir”.
Sensacional esse trecho do texto “Atraia a atenção das pessoas” de Randy Pausch (do livro “A lição final”, presente da minha querida amiga Cristine Barreto.
Mas não são apenas os engenheiros que constroem coisas difíceis de usar. Alunos de pós-graduação em geral fazem isso. Constroem teses dificilíssimas de ler. Por isso lembrei desse texto, porque foi exatamente assim que eu me senti depois de ler uma tese essa semana: vontade de pegar um martelo e destruí-la!
Porque as pessoas querem fazer coisas que ninguém entende depois? Ou pior, como é que aluno e orientador podem ler um trem daquele e achar que está bom? Preguiça, só pode ser preguiça. E ai passam a responsabilidade pro revisor.
Dá vontade de martelar.
Sinais de fumaça
Foi uma decisão acertada, professor de biologia aplicada a medicina na University College London, esse engenheiro civil que resolveu estudar desenvolvimento celular depois de ouvir falar das propriedades mecânicas da membrana plasmática tinha idéias interessantíssimas.
Mas como o meu conhecimento sobre o desenvolvimento embrionário é restrito (o suficiente para não conseguir distinguir a brilhantismo dele), ele me impressionou muito ao chamar atenção para coisas óbvias em biologia as quais eu nunca tinha levado em consideração.
Uma das coisas intrigrantes da célula é a comunicação celular. A célula está isolada do meio externo por uma membrana, que é semi-permeável mas muito, muito seletiva. Mas essa barreira também é a principal ferramenta de ‘percepção’ do meio externo. Proteínas na membrana são capazes de perceber variações no meio (pH, temperatura, carga, concentração de elementos), sinais de outras células ou órgãos (citocinas, neutrotransmissores, hormônios), além de xenobióticos (substâncias estranhas ao organismo como poluentes, venenos, remédios).
A detecção dessas variações no meio externo pode (e geralmente) desencadear uma resposta no meio interno, geralmente fruto de alterações na estrutura de proteínas e na expressão gênica. Mas como o sinal não ultrapassa a membrana, ele tem que ser transmitido do meio externo para o meio interno. Para isso a célula possui uma gama enorme de proteínas e moléculas sinalizadoras que funcionam de forma encadeada, em cascatas. São as vias de sinalização celular.
Apesar da sua grande variedade, a lógica é sempre a mesma: uma coisa modifica outra, que modifica outra, que modifica outra, que modifica outra, que modifica uma mais uma outra, até que modifica uma última coisa que dispara uma resposta, uma ação, por parte da célula. Essa resposta pode ser a produção de uma proteína, a modificação de outra, a divisão ou a morte celular.
A lógica é perfeita, o problema é o quão longas e complicadas podem ser as cadeias de eventos que participam da sinalização celular. Principalmente se pensarmos no ‘princípio da economia da natureza’ (sobre o qual já falei aqui e aqui)
Apesar de não ser uma lei universal, como a 2a lei da termodinâmica, que eu adoro, a ‘Navalha de Occam’ (que é o outro nome dado ao princípio, assim como parcimônia) é também um conceito importante a bastante útil. Ele diz que na natureza, tudo é feito da mais forma mais simples possível para que o fenômeno aconteça (veja, que não é possível. Se for simples e não funcionar… não vale).
Como nos brinquedos (cujo nome genérico eu não sei) dos filminhos, tirados de um episódio de Arquivo X, a reação (o enforcamento em um e a cesta em outro) decorrentes da ação (acionar um botão) passam por uma infinidade de etapas intermediárias, que gastam energia e que são simplesmente inúteis. Sim, elas devem permitir algum nível de controle e de ajuste fino, não mas isso não explica o número enorme de etapas, o gasto de energia e nem o risco de erro em cada uma delas. Para mim a sinalização celular simplesmente não fazia sentido.
Até a palestra de Wolpert. Ele mostrou que gastamos 95% da nossa energia para produzir eletricidade. Sim, corrente elétrica. Mais uma vez, os robôs do Matrix estavam certos: nos alimentem e nos deixem quietos que nós iluminaremos o mundo! Transmissão de impulsos nervosos, contração muscular, pensamento… tudo isso depende de potenciais de ação, a forma primária de comunicação entre as células através das longas distâncias do corpo (proporcionalmente ao tamanho da célula). Com o tanto de energia que temos que gastar para levantar um copo ou para corremos 5 km em 30 min (meu melhor tempo até agora), a quantidade de ATP que gastamos nas etapas intermediárias da fosforilação nas diferentes cascatas de sinalização celular é irrelevante. Talvez por isso a ‘seleção natural’ nunca tenha se preocupado com ela.
Talvez a sinalização celular não seja tão simples como poderia ser, mas é tão econômica quando comparado a uma corrida no aterro de Flamengo, que isso nem importa.
Terminei de ler… O último teorema de Fermat.
O livro conta histórias da matemática, não só para apresentar ao leitor o contexto em que o teorema extremamente simples foi criado, mas também para familiarizar o leitor com as técnicas matemáticas (e seus inventores) que foram utilizadas nas inúmeras tentativas de resposta e, finalmente, na solução apresentada pelo matemático inglês Andrew Wiles.
Abre parênteses: O teorema de Fermat é uma variação do famoso teorema de Pitágoras que todos aprenderam em trigonometria na escola: a2+b2=c2, e que é muito útil em geometria. Só que substituindo o valor da potência por qualquer outro número maior que 2, o resultado é o ‘monstrengo matemático’ an+bn=cn, que devorou algumas das mentes mais brilhantes da história. Fecha parênteses.
São essas histórias, mais que a epopéia de Wiles em si (já que a matemática que ele usou está além das capacidades de nós, meros mortais, e por isso é pouco discutida e pouco contribui para o enredo), que ilustram e dão a idéia do tamanho do desafio e do brilhantismo da descoberta. E que tornam o livro tão fascinante. Entre elas eu escolhi 3 para dividir com vocês. A primeira é a identificação, por Pitágoras, de que relações numéricas simples são as responsáveis pela harmonia na música:
“[Ele] aplicou sua nova teoria de proporções musicais à Lira, examinando as propriedades de uma única corda. Tocando simplesmente uma corda,temos uma nota padrão, que é produzida pela vibração da corda inteira. Prendendo a corda em determinados pontos de seu comprimento é possível produzir outras vibrações ou notas (…). As notas harmônicas ocorrem somente em pontos muito específicos. Por exemplo, fixando a corda num ponto correspondente à metade do seu comprimento, ela produz, ao ser tocada, uma nota que é uma oitava mais alta e em harmonia com a nota original. De modo semelhante, se prendermos a corda em pontos correspondentes a um terço, um quarto e um quinto do seu comprimento, produziremos outras notas harmônicas. Já se prendermos a corda em outros pontos que não formam uma fração simples do seu comprimento, a nota produzida não se harmoniza com as outras.”
A segunda é como Alan Turing estabeleceu os princípios da computação aplicando a ‘teoria dos jogos’ a ‘quebra de códigos’ durante a segunda guerra:
“Em especial, ele queria saber se havia um meio de definir quais as perguntas que eram ou não decidíveis e tentou desenvolver um meio metódico de responder a esta pergunta. Naquela época os aparelhos de cálculo eram primitivos e efetivamente inúteis para a matemática séria. Assim Turing baseou suas idéias no conceito de uma máquina imaginária capaz de computação infinita. Está máquina hipotética, capaz de consumir quantidades infinitas de fita telegráfica, poderia computar durante toda a eternidade e era tudo de que ele necessitava para explorar suas perguntas abstratas de lógica., O que Turing não percebia era que sua mecanização imaginária de questões hipotéticas iria levar a um avanço fantástico na realização de cálculos reais em máquinas de verdade.”
Mas a terceira foi a mais importante pra mim e a que eu considero que todo cientísta, iniciante ou senior, estudante ou avançado, deve ter em mente: A descoberta por Pitágoras da ‘prova definitiva’, e a diferença entre o conceito de prova científica e prova matemática.
“Em matemática, o conceito de prova é muito mais rigoroso e poderoso do que o que usamos em nosso dia-a-dia e até mesmo mais preciso do que o conceito de prova como entendido pelos físicos e químicos. A diferença entre a prova científica e a prova matemática é ao mesmo tempo sutil e profunda. (…) A idéia da demonstração matemática clássica começa com uma série de axiomas, declarações que julgamos serem verdadeiros ou que são verdades evidentes. Então, através da argumentação lógica, passo a passo, é possível chegar a uma conclusão. Se os axiomas estiverem corretos e a lógica for impecável, então a conclusão será inegável. Esta conclusão é o teorema.
Os teoremas matemáticos dependem deste processo lógico, e uma vez demonstrados eles serão considerados verdade até o final dos tempos. A prova matemática é absoluta. Para apreciar o valor da prova matemática devemos compará-las com sua prima pobre, a prova científica. Na ciência, apresenta=se uma hipótese para explicar um fenômeno físico Se as observações do fenômeno são favoráveis à hipótese, então elas se tornam evidências a favor dela. Além disso, a hipótese não deve meramente descrever um fenômeno conhecido, mas também prever os resultados de outros fenômenos. Experiências podem ser feitas para testar a capacidade da hipótese em prever os resultados, e se o resultado for bem-sucedido teremos mais evidências para apoiar a hipótese. Por fim, a soma das evidências pode ser tão grande que a hipótese passará a ser aceita como teoria científica.
Contudo, uma teoria científica nunca pode ser provada do mesmo modo absoluto quanto um teorema matemático. ela é meramente considerada como altamente provável, com base nas evidências disponíveis. A assim chamada prova científica depende da observação e da percepção, e ambas são falíveis, fornecendo somente aproximações em relação à verdade. Como disse certa vez Bertrand Russel: “Embora isto possa parecer um paradoxo, toda ciência exata é dominada pela idéia da aproximação.” Até mesmo as ‘provas’ científicas mais aceitas possuem um pequeno elemento de dúvida dentro delas. Às vezes esta dúvida diminui, mas nunca desaparece completamente. E e outras ocasiões descobre-se que a prova estava errada. Esta fraqueza das provas científicas leva às revoluções na ciência, quando uma teoria que se considerava correta é substituída por outra, a qual pode ser meramente um aperfeiçoamento da teoria original, ou pode ser sua completa contradição.”
A história do criador de enigmas Pierre de Fermat e do homem (do Nerd) que solucionou o problema mais famoso da matemática Andrew Wiles é uma história de homens e mulheres em busca da verdade e do conhecimento, mais do que da fama e do reconhecimento. É um exemplo da perseverança do espírito humano. É fascinante e é obrigatória para todo mundo que faz e gosta de ciência.
Ecologia é Biofísica, que é Ecologia.
Na semana passada falei para os alunos do curso de graduação em Biofísica e Nanotecnologia da UFRJ sobre Biofísica e Ecologia. Mais precisamente sobre a semelhança entre esses dois ramos das ciências biológicas. A aula tem 1:30h, mas eu dividi em blocos de 4-12min por assunto ou conceito, assim fica mais fácil só consultar uma parte. Você pode acionar o vídeo e acompanhar a apresentação no prezi acima.
Parte 1: Apresentação. Terra está viva! Hipótese Gaia. Conceito de retroalimentação.
Parte 02: (só) A Hipótese Gaia.
Parte 3: Apresentação. Hipótese Gaia. O modelo do mundo das margaridas e a autoregulação da Terra pelos organismos.
Parte 4: Relação entre os conceitos de homeostase e estresse entre organismos e ecossistemas. Relação com o conceito de poluição.
Parte 5: Estresse em sistemas biológicos de escala planetária. Explosão do Vulcão Pinatubo e definição termodinâmica de poluição.
Parte 6: A Origem da vida.
Parte 7: Sistema de informação genética primitivo e o ancestral comum.
Parte 8: Genes conservados filogeneticamente e utilização de modelos não-tradicionais em pesquisa.
Parte 09: Carlos Chagas Filho: O ‘Homem Tropical’ e a criação de um modelo de pesquisa para o Brasil.
Parte 10: O mercúrio na Amazônia e a abrodagem ecossistêmica para problemas de saúde humana.
Parte 11: Invasão biológical e o risco do mexilhão dourado na Amazônia
Parte 12: Encerramento. Uma nova definição para biofísica.
Os titulares e os reservas
Foi a única pergunta que a banca repetiu a todos os candidatos do concurso para professor titular onde foi selecionado Stevens Rehen. Nenhum deles estava realmente preparado para essa pergunta e as respostas variaram de um pífio “porque eu tenho o perfíl” até tentativas mais objetivas, mas que demonstravam claramente a falta de familiaridade com a função mais privilegiada da universidade.
Passei os últimos dois dias me debatendo com essa pergunta, porque ao tentar formular qual seria a minha resposta, descobri que também não sei e-x-a-t-a-m-e-n-t-e o que faz um titular. Se eu paro e olho a minha volta para ver os exemplos que conheço, não consigo encontrar um padrão de atitudes que possa caracterizar a função. Não um que justifique o título.
- Não os vejo organizarem eventos que divulguem o nome do instituto para a academia ou a sociedade, tanto nacional quanto internacionalmente; certamente não mais do que seus colegas adjuntos e associados.
- Não os vejo trazerem projetos e recursos que ampliem o capital e as fontes de financiamento da instituição; pelo menos não mais do que seus colegas associados e adjuntos.
- Não os vejo criando espaços físicos e recuperando infra-estrutura; definitivamente não mais do que seus colegas professores sem o título.
- Não os vejo estimulando jovens talentos a ingressar na carreira ou a assumir grandes responsabilidades na vida acadêmica. Ao contrário da maioria dos seus colegas adjuntos e associados, muitas vezes os vemos tolindo esses jovens.
- Não os vejo utilizarem seu título e prestígio para trazerem talentos reconhecidos, do nível de um laureado Nobel, para dar cursos e conferências. Nada além do que conseguem trazer seus colegas associados e adjuntos.
- Não os vejo vendo o futuro, estabelecendo estratégias de ação, criando vias de desenvolvimento e mecanismo de gestão, reconhecendo novas oportunidades, estimulando competências; definitivamente não mais do que qualquer um de nós, professores mortais.
Eu queria um titular que fizesse isso. Mas não tenho.
O título de titular concede acesso a instâncias e discussões privilegiadas. Ser titular se tornou a principal forma de administrar e fazer política universitária, geralmente em causa própria ou do próprio feudo. Na melhor das hipóteses, visão se manter na frente na corrida com seus pares pela mais alta qualidade das produções científicas, ou cargos administrativos em colegiados superiores como a FINEP e o CNPq. Em uma outra hipótese… não fazem nada… e vão curtir o seu título em suas escrivaninhas ou em uma casa nas montanhas. A vaga de titular virou moeda de barganha política nos institutos e não mais parte de um programa para realizar uma missão institucional.
Esses titulares estão merecendo mais é ir para reserva.
Fila, basta de banco. Lista, só de supermercado.
A seleção de Stevens Rehen para Professor Titular do Instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ na última 5a feira lavou a alma e deu esperança a toda uma geração.
Cientista brilhante, selecionado pela revista Época como um dos brasileiros mais promissores da atualidade e meu grande amigo, ele concorreu, juntamente com a também brilhante e também minha amiga Suzana Herculano, não só contra outros candidatos, mas contra o ‘sistema’. Contra uma aristocracia acadêmica que impregna os institutos de pesquisa brasileiros (bom, e do mundo afora também) e que trata seus grupos de pesquisa como pequenos feudos, mas que se intitula ‘Vanguarda’.
A competência venceu o ‘acordão’. Vamos torcer para ser o fim das listas e filas de espera de vagas para titular.