Ciência Política

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The World’s Deadliest AnimalWhat’s the deadliest animal in the world? The answer may just surprise you.
Publicado por GOOD em Segunda, 21 de março de 2016

Nesses tempos de ânimos acirrados por paixões descontroladas, esse infográfico (e video) nos ajuda(m) a entender que, por mais que nossos achismos, viés, preconceitos e visões de mundo, nos digam uma coisa; e que essa coisa nos ajude a apaziguar nossas angustias e medos; nada muda a realidade dos fatos.

Nada que eu disser pode te convencer a entrar na água na praia de Boa Viagem no Recife ou para de beijar seu cãozinho na boca, mas isso não muda o fato que, esse ano, mais pessoas, no mundo, morrerão por terem tropeçado no próprio cadarço do sapato, do que atacadas por tubarões.

E que cães matam mais que leões. Ou que Lombrigas matam mais que cobras. E que só mosquitos matam mais que humanos.

O desejo inerente dos humanos por segurança e novidade gera conflitos internos inevitáveis. A necessidade de independência e compromisso também. Esse conflitos inevitáveis também estão presentes na sociedade que garante na lei, interesses individuais e coletivos que não são plenamente conciliáveis.

Para negociar com objetividade e tranquilidade, e para alcançar um compromisso que permita avançar, é importante observar para além do necessário somente para confirmar nossas expectativas e preconceitos.

É isso que nos permite o olhar científico, mesmo (e principalmente) de fatos sociais e políticos.

Leia para além de encontrar o que confirma seus preconceitos. E da próxima vez, vote com base nas evidências que podem ser medidas, testadas, comprovadas ou refutadas. Senão, de pouco adianta todo o barulho nas ruas. De um lado ou de outro.

Aprendendo a se importar

Mais um ano letivo vai terminando. E mais do que em outros anos, me assusturam as salas vazias. Na pauta, 67 alunos; na sala, 14 alunos. Como é que pode?

Não sou daqueles politicamente corretos que não usam certas palavras por prevenção. Então me pergunto: de quem é a culpa? A responsabilidade eu sei: é dos alunos. São eles que não aparecem e eles que levantam no meio da aula e vão embora, para atender o telefone, comer, ir no banheiro, porque não estão entendendo nada, porque acham que podem copiar do colega ou buscar no google, porque já não assistiram as outras aulas mesmo. Ou, simplesmente, por que não estão nem ai.

Mas e a culpa? Será que é do professor? Não são bons? Não sabem a matéria? Não sabem dar aula? São chatos?

Uma coisa é certa. Na verdade duas coisas são certas. A primeira é que o professor não sabe mais tudo (já soube algum dia?). E o trabalho dele não é mais saber tudo para passar isso para o aluno. O trabalho dele não é nem mesmo ‘fazer um resumo’ para o aluno do que é mais importante, porque a quantidade de informação no mundo é tanta, que qualquer resumo é superficial e individual. A segunda é que o Google, os slides da aula e as anotações do caderno do colega não substituem o professor.

Então entrar na UFRJ e passar pelo curso de graduação, no caso dos meus alunos em Biologia ou Biofísica, achando que você não tem nada a aprender, ou que porque os métodos são meio antiquados o que você pode aprender ali não vai fazer diferença na sua vida, é um grande, um enorme, um gigantesco erro.

Duas outras verdades: A primeira é que muitos dos alunos só vão descobrir isso quando for tarde demais. Quando a competição (sim, porque em algum lugar tem alguém estudando mais, prestando atenção em um professor que não é tão ‘cool’ quanto o facebook da sua namorada, ou lendo aquele ‘livro careta’) tiver atropelado ele na corrida pela bolsa de mestrado ou pelo posto de trabalho. Ou talvez nem isso, já que muitos fazem parte da geração ‘eu mereço’ da qual fala a Eliane Brum. Vão ficar se perguntando “Como puderam dar a vaga (ou a bolsa) para el@? Eu merecia!”

“Meu filho, você não merece nada!” Adorei a reportagem da Eliane. Me lembrei agora de um quadrinho que postaram no facebook e que eu, sem saber a quem referir o original, em nome da boa mensagem que ele traz, posto aqui também.

 

Não acho que a culpa seja do professor e não acho que vamos resolver esse problema citando ‘Sociedade dos Poetas Mortos‘. No semestre que vem, vai ser como Mercy Tainot, a professora universitária em um ‘community college‘ americano interpretada por Julia Roberts em ‘Larry Crowne‘. No primeiro dia de aula ela fala a seus 9 alunos:

“Isto é o que vão aprender a fazer na minha aula.
IMPORTAR-SE
Se não ligarem para minha aula, eu também não vou ligar.
Se não chegarem aqui tendo dormindo o mínimo de horas necessário para participarem e demonstrarem interesse durante os 55 minutos que preciso estar aqui três madrugadas por semana,
então vocês não se importam com a Oratória 217: a Arte de comunicação informal.
Portanto, saiam. Saiam, agora! Imediatamente! Fora!”

Eu tive vários professores chatos ao longo da minha vida. Mas em um determinado momento descobri que você pode ‘tirar’ do professor aquilo que é interessante pra você. Perguntando, sugerindo, discutindo. Se o professor topar esse esquema, ele é bom (independente de ele ser um bom comunicador).

A aula não é só o professor quem faz.

Diário de um biólogo – Sábado, 23/10/2010 – Primeiro dia do ISMEE

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Acordei cedo, mas já estava atrasado.
Consegui, inacreditavelmente, parar no centro do Rio por falta de gasolina. Apesar de tudo chegamos em Arraial do Cabo antes do ônibus que trazia alunos e professores, mas qual não foi a minha surpresa ao ver, estacionado em frente ao Centro Cultural da Marinha, um trio elétrico evangélico. Fiquei desesperado, mas felizmente eles saíram em desfile pela cidade e nos deixaram na paz do senhor. Conseguimos ajeitar tudo mais ou menos em tempo para começar o curso, com um pequeno atraso, as 20h.
Preparei uma abertura informal e provocativa, como gostaria fosse toda a escola: A Ciência em um mundo saturado de informação. Os cientistas descobrem coisas que mudam o mundo, mas ainda não se deram conta que a Internet mudou a forma de mudar o mundo. Ela não serve apenas para enviar e receber e-mails ou como repositório de artigos científicos. A internet é uma linguagem e com ela não se pode pensar em fazer negócios, política, ensino ou ciência da mesma forma. Não podemos mais, por exemplo, nos dar ao luxo de sermos chatos, só porque o que temos a dizer é tão importante. Se você for chato, ninguém vai prestar atenção em você e ver o quão importante é o que você está dizendo.
No final da noite abri um ‘Prosseco‘. Tava só começando, mas depois de meses de preparação, tinha que comemorar um bom começo.

Veja o vídeo dessa (e algumas outras palestras do curso) no canal do ISMEE no Youtube

Densidade 0,12 ou como montar uma lista de convidados para uma festa

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Eu estou cada vez mais convencido: ciência se faz na biblioteca e na mesa de bar. Claro, no laboratório e no campo também. Mas nesses lugares a gente coleta dados, é na solidão da biblioteca ou na enfervescência da mesa de bar que eles viram informação e conhecimento.
Estou em Viçosa (MG) para participar de uma banca de concurso público para professor em Biofísica Ambiental. Confesso que vivi um conflito. Entre as aulas de duas disciplinas de pós-graduação e duas de graduação, encarar 11h de viagem em um intervalo de 50h não era o meu ideal de vida. Mas foi o primeiro convite que recebi para uma banca de concurso, o que nessa profissão é uma coisa importante, e eu não pude recusar.
Fui surpreendido por uma cidade menor, e uma universidade maior, do que eu imaginava; por um pão de queijo e um doce de leite maravilhosos, e por professores muito simpáticos.
Ontem a noite me levaram pra jantar no num barzinho bacana, o ‘Pau Brasil’, e depois da 3a cerveja, estávamos 4 professores contando histórias de faculdade, congressos e artigos. Não vou mentir pra vocês: era papo de NERD! As piadas eram feitas com uma mistura de carnaval em Piuma (ES) e aquaporina (uma proteína de membrana que permite a entrada organizada de água nas células); entre congestionamento de carros e metabolismo celular; ‘Pubs’ inlgeses e a teoria das supercordas; cidades turisticas e diversidade de gastrópodes em floresta tropical de altitude. Mas eu garanto, éramos a mesa mais divertidada do bar. Acho até que nossas gargalhadas estavam atrapalhando as outras pessoas. Aquelas normais.
E foi nesse clima que o prof. Og de Souza (sim, o nome dele é ó gê mesmo) falou da regra do 0,12. Segundo ele, para qualquer coisa, na verdade para qualquer agrupamento de organismos, a densidade ideal era 0,12. Fossem esses organismos bactérias, cupins, coelhos, cavalos ou pessoas. O 0,12 seria um número mágico! Mas cientistas não gostam de números mágicos e ele teve que explicar pra gente.
O Og trabalha com cupins e os vários artigos publicados em revistas internacionais de alto nível garantem que ele sabe do que está falando com relação a esses bichinhos. Os artigos dele mostram que a sobrevivência de cupins é até 5 vezes maior quando eles estão na densidade de 0,12 (densidade é uma grandeza adimensional e por isso não tem unidade), mesmo expostos a inseticidas, do que quando estão em densidades maiores ou menores que esse valor.
Mas porque?
Já na 6a garrafa de Original (ou era de Bohemia?), ele se indireitou na cadeira, como fazem as autoridades antes de falar, e, usando saches de Ketchup, começou a sua explicação:
“Cada organismo é capaz de interagir (trocar informação) de maneira ideal com 8 organismos ao seu redor” em um esquema que vocês podem observar na foto acima, tirada in loco.
“Se você colocar mais um indivíduo (representado pelos saches de ketchup) além desses 8, a informação terá de passar por um intermediário o que reduz a sua qualidade e a eficiência do processo”.
E continua “Se você tem menos de 8 organismos (e ele retira 3 saches vermelhos), perde vias de chegada de informação, e pode estar recebendo menos informação do que o necessário pra sua sobrevivência”.
A explicação já tinha sido clara o suficiente, mas ele estava empolgado: “Imagina que você está em um ônibus lotado. É mais fácil ou mais difícil falar com o motorista pra pedir pra descer?”
E foi com a aplicação desse tipo de raciocínio, que ele se propuseram a testar a teoria da densidade ótima de organismos humanos: em uma festa!
“Cada pessoa ocupa, em média, uma área de 0,25m2. Medimos o tamanho do salão e calculamos quantas pessoas seriam necessárias para que a área do sãlão dividida pela área ocupada pelos convidados fosse 0,12.”
Isso permitiria que cada pessoa pudesse interagir diretamente com outras 8, criando o ambiente mais favorável possível a trocas de informação. Fizeram a lista e chamaram os convidados. Como quase toda festa, ela começou meio mixuruca e depois foi melhorando. Um dos anfitriões ficava em pé em uma cadeira monitorando os convidados com dois aparelhos: um festodensitômetro* e um animofestômetro*
E batata! Na hora em que o festodensitômetro marcava 0,12 foi registrado o pico de animação no festoanimômetro!
Apesar desse ‘experimento’ ter sido conduzido na Inglaterra, os organizadores eram latinos e os convidados também. Isso quer dizer que cada convidado acreditava que o convite para a festa era extensivo a vários outros amigos, e rapidamente a densidade populacional começou a aumentar. O curioso foi que o efeito do aumento da densidade na festa foi similar aquele encontrado em agrupamentos de insetos: a segregação de grupos.
Quando a densidade aumenta, naturalmente grupos menores começam a se formar para que a interação e a troca de informação entre eles seja mais eficiênte.
Não tem nada de sociologia gente: é pura física (entropia) e biologia (efeitos dependentes da densidade).
Rapidamente peguei o telefone e liguei pra Cristine, que está organizando a melhor festa do ano, sua tradicional festa de aniversário, nessa 6a feira: “Alô?”; “Alô, oi, sou eu, qual é a metragem do seu apartamento?”
Chegamos a conclusão que com a lista dela a densidade está em 0,18. Na 6a feira levarei o festodensitômetro e o animofestômetro. Depois eu conto pra vocês como é que foi.
Miramontes, O., & DeSouza, O. (2008). Individual Basis for Collective Behaviour in the Termite,
Journal of Insect Science, 8 (22), 1-11 DOI: 10.1673/031.008.2201

* Festodensitômetro e animofestômetro são aparelhos fictícios para indicar a avaliação subjetiva da quantidade de pessoas e da animação delas na festa.

Como saber quando alguma coisa se quebrou?

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Algumas coisas são fáceis de determinar. Um copo, um vaso, uma cadeira, um relógio… quando essas coisas quebram ninguém fica na dúvida. Não precisamos nem ‘definir’ o que seria quebra para entender que elas tiveram sua estrutura alterada de modo a perder a sua função.
Já com relações é mais difícil. Como podemos determinar que um vinculo, uma relação se quebrou? Qual o ponto onde sua estrutura é modificada a ponto de perder a sua função?
Acho que a dificuldade para definir o ponto de quebra é que relações não são estáticas. Parecem mais com organismos vivos do que com copos. Um copo, depois de formado e até que se quebre, é, e continuará sendo sempre, um copo. Relações são mais complexas.
Complexas, essa é uma ótima palavra e provavelmente a mais adequada.
Do ponto de vista biológico, complexidade significa 3 coisas: Mecanismos de retroalimentação, redundância e diversidade. Mecanismos de retroalimentação permitem que nos adaptemos a situações. Principalmente as novas situações. Redundância gera alternativas e diversidade gera informação. Mais, gera conhecimento. Fico numa grande dúvida pra dizer qual dos 3 é o mais importante, mas vou arriscar que para as relações, são os mecanismos de retroalimentação.
Imagino que quanto mais diversas nossas relações, melhor é cada relação individualmente. Também imagino que se temos redundância nas nossas relações, como dois melhores amigos, temos menos risco de ficar na mão. Mas sem retroalimentação, vivemos isolados. A gente faz o que quer, achando que está fazendo o que o outro quer. Sem retroalimentação, a relação é de mão única.
A complexidade permite a evolução. A própria relação entre complexidade e evolução tem um aspecto curioso: a estabilidade. Ela é ao mesmo tempo causa e conseqüência da evolução. Sem estabilidade, um sistema não pode evoluir. E ainda que não seja uma determinação, evolução tende a gerar estabilidade.
Por que isso tudo é importante? Vejam, estávamos falando de quebra. Uma relação jovem, como todo sistema jovem, possui muita energia e pouca diversidade. Sem estabilidade, um evento aleatório (pra não dizer ‘qualquer coisa’ ou ‘sei lá’, vamos supor ‘o dia amanhecer chuvoso no dia que você combina de ir a praia’ ou ‘chegada da sogra para o final de semana’) pode desencadear mudanças bruscas no fluxo de energia do sistema. Como os papéis dos personagens não estão totalmente definidos em uma relação jovem, é difícil essa energia se dissipar por diferentes canais e fácil, muito fácil, gerar agressão. E ruptura.
Claro, nem sempre agressão leva a ruptura. Mas e quando leva? É ai que se quebra? É.
Mas felizmente uma relação não é um copo e tem uma outra característica dos sistemas complexos que eu quase ia esquecendo de mencionar: resiliência.
A capacidade de se recuperar rapidamente depois que o sistema é desequilibrado por uma perturbação é fundamental para que os sistemas possam evoluir, simplesmente porque o sistema SERÁ perturbado e PERDERÁ seu equilíbrio. As coisas mudam no mundo e isso é imutável. E por isso a perturbação e o desequilíbrio são inevitáveis.
A resiliência é possível por duas razões, que ao mesmo tempo são duas condições sin ne qua non: O princípio da incerteza diz que nada volta exatamente para o mesmo lugar. Então depois que um sistema é abalado, ele não pode voltar também para o mesmo lugar. A resiliência é possível porque todo sistema possui, na verdade, mais de um equilíbrio possível. Talvez você não saiba, mas que tem, tem. A outra causa e condição é a conservação de informação. Um sistema pode ser reduzido a sua menor parte que possua todo o conhecimento para recuperar o sistema por completo. No fim das contas, se é inevitável que seu copo se quebre, não esqueça como se faz um novo.
Todos buscamos a estabilidade. O objetivo da mais simples das células, desde o início dos tempos, é manter estabilidade do seu meio interno independente das variações do meio externo, na tentativa de manter intactas as valiosas informações que possui. Mas também queremos mais informações. Queremos NOVAS informações. O dilema entre o novo e o estável é apenas um dos muitos com os quais temos de conviver, encontrando um ponto de equilíbrio.
O que melhora com o tempo, com a evolução, é que acabamos por descobrir nossos múltiplos pontos de equilíbrio e a resiliência. E ai perdemos o medo.

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