Diário de um Biólogo – Quarta 25/02/2009
Sim, é verdade, alguns deles viviam. Muita gente não sabe, mas Newton nunca se casou (os rumores são de que morreu virgem) e mais do que sobre matemática e física, ele escreveu sobre alquimia e teologia. Deve ter sido um chato.
Então, mesmo contra a vontade dos jornais do Rio, que não conseguiram publicar corretamente NENHUM horário de bloco, consegui chegar em um ou outro, e felizmente no Quizomba, que saiu lá pelas 18h no ‘circuito’ Lapa-Glória. O máximo!
E quando a 4a feira prometia ser de cinzas e descanso, ligo o rádio depois da praia, porque no restaurante da dona Marta não tinha televisão, e ouço o Salgueiro na frente da Beija-Flor por 8 décimos.
A diferença chegou a diminuir, mas como meu primo de São Paulo e a namorada vieram da terra da garoa para desfilar pela Beija-flor, eu tinha certeza que eles não ganhariam!
Saiu o resultado final: Salgueiro campeão do carnaval 2009!
Como disse o Aldir Blanc (ou foi o Nelson Rodrigues?!): “Você pode sair da Tijuca, mas a Tijuca nunca sai de você.” Me mandei pro Andaraí, porque nessa noite não existe outro lugar para ir no Rio de Janeiro.
Cientista maluco é aquele que perder uma festa dessas!
O tudo e o nada
Gente… hoje eu fiz ciência!
Muito do que eu aprendi de como ser cientista foi durante o mestrado, no departamento de ciências fisiológicas da Universidade do Rio Grande. Aprendi estatística e a deixar crescer o cavanhaque para poder enrolar os dedos nos fios parcos enquanto resolvia um problema como o José Monserrat. Aprendi a ler um artigo deixado em cima da mesa de outra pessoa (e depois saber o artigo melhor do que a pessoa) enquanto tomava um café na caneca trazida de um congresso como o meu orientador Euclydes. Com o Elton entrevistando um aluno de iniciação científica, aprendi que ser cientista é estudar, ler, aprender a perguntar e a responder.
Assim, quando hoje transformamos dois anos de mudanças de protocolos, contagens de células, espectros de emissão de energia e muitas, muitas imagens de microscópio em um esboço de artigo, fiquei muito satisfeito.
O que torna a ciência mais difícil é que nem tudo pode ser relativizado. Seus dados estão ali, olhando para você e mostrando o que quer que seja que mostrem. Seu trabalho é saber interpretar isso sem ver nem mais, nem menos do que eles estão mostrando. Mas o resultado é o senhor soberano da conclusão, não a interpretação.
Não é assim em todo o canto. Políticos (e também advogados) adoram relativizar. Enio Candotti falou maravilhosamente sobre isso na sua palestra “Ciência, política e verdade” no Instituto de Biofísica da UFRJ alguns anos atrás. Para ele, o diálogo entre cientistas e políticos era impossível, porque a noção de verdade de um é muito diferente daquela do outro. Para os cientistas a verdade é baseada em evidências. Se uma mesa pode ser pesada, medida, ocupa lugar no espaço, então a mesa existe, e essa é a verdade. Para os políticos a verdade é consensual. Se for, como diria D. Pedro I, ‘para o bem de todos e vontade geral da nação’ que a mesa não exista, então não interessa se todos estão reunidos à mesa tomando essa decisão: a mesa não existe, e essa é a verdade.
Pouco pode se construir com verdades consensuais, porque sem a base da evidência, a verdade muda o tempo inteiro, de acordo com a tendência do momento. Resta um nada. Um nada jurídico. E tudo desmorona.
A verdade baseada na evidência tem ainda mais uma vantagem: não se perde tempo tentando alcançar o consenso. A mesa existe: aprendam a lidar com isso! Seja mudando a mesa de posição, destruindo a mesa com um machado, sentando nela para comer um delicioso risoto de Parmiggiano Reggiano com Aspargos, ou para escrever um artigo como fizemos hoje. É tudo de bom.