As metáforas científicas no discurso jornalístico

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Hoje dei uma palestra sobre Escrita Criativa em Ciência na III Escola Temática de Química da UFRJ cujo tema era Divulgação Científica. Na palestra anterior a minha, um aluno perguntou que ferramentas poderiam ser utilizadas para sensibilizar o público da presença da ciência no nosso dia-a-dia.
Uma possível resposta para essa pergunta foi dada pelo nosso colega blogueiro e físico da USP-Ribeirão Osame Kinouche, com a psicóloga Angélica Mandrá, no ótimo artigo “Metáforas científicas no discurso jornalístico”. Meus amigos jornalistas deveriam adorar. Quando conversei com eles pela primeira vez sobre esse assunto, no I EWCLiPo, fiquei pasmo: era óbvio e eu nunca tinha pensado a respeito.
O que só torna a percepção deles mais genial: existem dezenas de termos utilizados na linguagem formal e informal cuja etimologia é científica.
As mais fáceis de reconhecer são termos da geometria Euclidiana como Ponto de vista; Linha de raciocínio; Traçar um paralelo; Analisar por outro ângulo; Volume de conhecimentos; Plano pessoal; Círculo de amizades e Triângulo amoroso.
É verdade que o oposto também é verdadeiro, e os cientistas se aproveitam de termos coloquiais com forte apelo imagético/sensorial para criar expressões científicas que possuem forte carga metafórica: barreira entrópica, relevo de energia, poço de potencial, ruído branco, paisagem rugosa, rede cristalina, buraco negro, supercordas. Termos mais simples como “carga”, “corrente”, “fio”, “pressão”, “resistência”, “campo” etc. também são etimologicamente anteriores ao seu uso científico.
Algumas vezes a comunicação tem ruído e as metáforas não funcionam bem. E com conseqüências relativamente sérias para o aprendizado de alguns conceitos em física: as palavras “aceleração”, “força”, “peso”, “trabalho”, “energia”, “calor”, tem sentidos coloquiais diferentes do técnico. Ou você não sabia que o que chamamos de ‘peso’ na verdade é a ‘massa’ de um corpo, e que o peso mesmo é a resultante da ação da gravidade nessa massa?! E dai?! Você pode dizer. Bom, você pode achar que isso não tem importância, mas dá um nó na cabeça dos alunos tanto no ensino médio quanto depois na faculdade de física. E nós já temos problemas suficientes para formar todos os físicos que o Brasil precisa.
A saída acha pelos cientistas para minimizar essa confusão não ajuda em nada a aproximar a ciência do cidadão leigo. Eles criam neologismos radicais, com um mínimo de sentido metafórico: quark, próton, entropia, entalpia, fractal, quasar etc. Mas mesmo assim, esses termos acabam chegando metaforicamente a linguagem comum, como já acontece com entropia (como metáfora para desordem) e fractal (como metáfora para organização em vários níveis). Não é um barato?!
Para vocês terem uma idéia, numa análise do número de vezes que os termos ‘pêndulo’ (física clássica) e ‘buraco negro’ (física moderna) são utilizados metaforicamente em aproximadamente 50% dos textos jornalísticos dos portais da Folha de São Paulo, do Estado de São Paulo e do G1 (confira o artigo para ver os números exatos).
O uso desses termos também demonstra que o uso metafórico de termos técnicos científicos serve para aumentar o potencial de expressão criativa do cidadão comum, ou mesmo um reconhecimento mais correto do mundo que o cerca, porque amplia ou expande a sua compreensão: termos como “forças políticas”, “equilíbrio de poder”, “fonte de atrito”, “tensão social”, sugerem a visão mecanicista da sociedade como uma máquina, que remete a física clássica determinística de Newton. No entanto, muitos desses fenômenos não tem nada de determinísticos. E a medida que aumenta a compreensão dos cientistas de fenômenos não lineares, como aqueles governados pela teoria do Caos, novos termos que expressam mais corretamente a incerteza relacionada aos fenômenos, como “efeito borboleta”, se incorporam a linguagem e permitem a representação mais correta dessas idéias.
Isso é muito importante porque, como dizem os autores, “Nosso repertório metafórico não apenas limita nossa capacidade de falar sobre tais sistemas, mas afeta nossa maneira de concebê-los e interagir com eles.”
Osame e Angélica terminam concluindo que o pensamento, o ato da cognição, é metafórico e usamos metáforas para compreender um conteúdo-alvo abstratos a partir de um conteúdo-origem concreto. Ao enriquecer o repertório conceitual da população, a educação e a divulgação científicas produzem novas metáforas no discurso comum, que permitem a melhor descrição de sistemas complexos como os sistemas sociais e econômicos.
Se você se interessa por ciência e por divulgação científica não pode deixar de ler.
PS: E olhem só, apesar de eu ter conversado apenas um pouco com um e outro tempos atrás pelo grande interesse que o assunto me despertou, ainda ganhei uma menção nos agradecimentos. Obrigado!

Terminei de ler… O Manuscrito de Mediavilla

manuscrito_mediavilla.jpgNa verade terminei de ler esse livro no ano passado, mas foi nesse final de semana que o meu grande amigo Milton me presenteou com a cópia que ele próprio tinha me emprestado para ler.
Eu tenho que confessar que tenho um pouco de preconceito contra cientistas sociais. Fui quase fulminado quando disse isso em uma palestra na Fiocruz semanas atrás. Não tenho nada contra eles como pessoas, mas sim contra suas hipóteses serem científicas.
O “Manuscrito de mediavilla” é o segundo romance escrito pelo professor da USP Isaias Pessotti, que é psiquiatra e estuda a história da loucura. E é um dos livros que eu gostaria de escrever. Mais ainda do que o seu primeiro romance, “Aqueles malditos cães do arquelau“, que eu dei de presente para o Edu depois de ler. Atualmente é tão, tão difícil encontrá-los a venda. Ambos são passados na itália, contam aventuras dignas de Dan Brown em ‘O código da Vinci‘, mas com a diferença que os investigadores são todos amigos que, entre uma visita a um sebo de livros do ‘medievole’ no Piemonte e um antigo claustro no Lombardia, eles param para almoçar nos lugares mais interessantes, com o autor descrevendo os menus, pedidos, receitas e vinhos que todos provam. Vejam um exemplo:
“- Posso levar as folhas para casa? Perguntei.
– Basta que você não as aproveite para embrulhar peixes ou mariscos. Tenho que passá-las a outros e Patrízia, por exemplo, não gosta de peixes.
O olhar verde-musgo de Clara se iluminou.
– Por falar em mariscos, porque não vamos almoçar? Penso num lindo
risotto al frutti di mare, na periferia. Em Affori, por exemplo.
Alberto deu-lhe um olhar severo.
– Como você ousa propor tal coisa? Só voltaremos depois de três da tarde! Aliás, um excelente horário, para quem costuma sair daqui depois das sete da noite. Mas não
e parece correto que uma pesquisadora descumpra seu horário de trabalho, por um
risotto. Seria diferente se o fizesse por um belo filé peixe-espada, com molho muito suave de atum, nata batida e alcaparras, ao lado de um Tocay geladinho. Sugiro o jardim do Sette Lune em frente ao parque Litta.”
Ela ainda adiciona, ao final da página 139, que tomaram um delicioso Grumello durante o almoço. Uma delícia!
Mas não foi o mistério, a aventura ou o festival gastronômico que me fizeram escrever esse artigo. Isaias descreve, no personagem de Vittório, o que para mim são as grandes virtudes de um chefe de departamento de uma instituição acadêmica.
Ainda que possa parecer longo, vale a pena ler o texto que transcrevo:
“Outra razão era uma qualidade rara em gente da nossa laia: com toda a sua alta reputação e o sucesso de suas publicações, ela não se envaidecia: era uma discípula de Pietro Vittori, que a tinha orientado desde os anos da graduação até o pós-doutorado. Cada discípulo de Vittori tinha algumas marcas, inconfundíveis: a consciência
de que sempre é preciso saber mais, de que a virtude não está no que se sabe, mas na busca devotada do saber, além de um inflexível senso de justiça.
(…)
Mas éramos muito respeitados pela “qualidade acadêmica” do que fazíamos. Parte
desse respeito era devida a outro motivo. Toda a Universidade sabia que o nosso Departamento jamais apoiaria qualquer iniciativa que não fosse a melhor para “os fins, impessoais, da instituição”, como dizia Vittori. Isso nos alijava das posições de decisão. Por isso, nosso Departamento era o mais respeitado, mas era também o mais pobre.
Isso não doía: tínhamos até uma certa compaixão pelos que lutavam por posições de chefia ou de direção. Quando a busca do poder importa mais que a busca do saber, as universidades morrem. Assim ensinava Vittori.
(…)
Talvez, de todos nós, o mais visado fosse Pietro Vittori, o diretor. Ele proclamava aos quatro ventos que a transmissão do saber, a formação dos estudantes, era a razão maior da Universidade. Dizia que isso era algo extremamente sério e, por isso mesmo, não era assunto para novatos que, após a formatura, não responderiam pelas conseqüências das “revoluções” que propunham. Achava que os alunos precisam distinguir entre o poder que contestam e a autoridade intelectual de seus mestres. Que o direito de contestar a universidade, se adquire cumprindo seu papel nela, o dever social de estudar com seriedade, no caso dos alunos. Mais ainda, dizia que a Universidade não tem poderes a serem disputados: ela tem, isso sim, compromissos e o maior deles, supremo, é com a razão, a racionalidade. Que os cargos universitários são deveres sociais ou institucionais, e não posições de poder. Para ele, a ambição por tais cargos como posições de mando era marca dos que estariam mais felizes fora da universidade. Tanto mais hábeis no jogo do poder, quanto medíocres no saber. Por esse caminho, pode-se concluir que os medíocres não são raros.
(…)
Uma vez, ele explicou a Alberto como entendia a função de diretor do Departamento.
– Um diretor deve ser um chefe. Alguém que assume decisões e que responde pessoalmente por elas. Ele quase soletrou o pessoalmente.
– E os docentes?
– Cada um deles pode tomar as decisões que quiser, desde que responda, pessoalmente, por cada uma delas. Somos todos adultos, responsáveis, não?
– Mas o Conselho é um órgão deliberativo…
– …que pode destituir-me da direção em qualquer momento. Mas sou eu que assino pessoalmente as decisões, assumo pessoalmente o ônus de responder por elas em primeira pessoa. Portanto, é justo que eu tenha o poder de decidir. É cômodo decidir anonimamente em grupo e depois delegar a responsabilidade da execução, agora pessoal, ao diretor.
A conversa era serena e polida. Vittori e Alberto eram amigos, acima de tudo. Por isso Alberto podia ser franco:
– Mas uma decisão democrática deve ser majoritária…
– Nisso você se engana, meu caro: a maioria pode representar a intolerância, até a prepotência. Ou você acha que a má-fé, quando é de muitos, se torna pureza?
– Penso numa decisão discutida…
– Eu jamais impedi que vocês discutam meus projetos. Não decido nada sem discutir com vocês todos. Convençam-me de que eles são errados ou inconvenientes e eu os modifico ou abandono. A discussão deve buscar racionalmente a verdade, como diria Abelardus, e não servir apenas de álibi para a prepotência das maiorias. Ser democrático não é curvar-se ao número de votos. É submeter honestamente as próprias idéias à apreciação dos outros e saber render-se a uma argumentação convincente… Que pode ser a da minoria, ou a de um só, por que não?
Alberto coçou o queixo:
– O que acontece quando a opinião da maioria é a mais acertada? A mais… convincente?
– Então, nem precisa ser majoritária, Alberto. Entre uma minoria que pensa certo e uma maioria que erra, prefiro seguir a minoria.
– Mas como saber o que é pensar certo?
– Seguramente o certo não é, necessariamente, o que uma dada maioria pensa. Poder se decide pelo voto; acerto, não.
– E então?
– O que é certo, no caso do nosso Departamento, ou do Instituto, por exemplo, é o que, num dado momento, é moralmente lícito, traz benefício ao grupo, contribui para os fins, impessoais, da instituição. A quem responde, cabe a decisão. A discussão serve para corrigir as distorções dos critérios pessoais de quem deve decidir. No caso, eu.
– Isso não é meio autoritário?
– Seria, se o poder de decidir não fosse delegado. O Conselho pode retirar essa delegação quando quiser. O poder, sim, pertence ao Conselho, que o delega ou retira, conforme a vontade da maioria.
– Agora vale a maioria? Por quê?
– É óbvio, Alberto. Agora, a questão não é a do acerto ou erro de uma decisão. Agora se trata de atribuir o poder. É uma questão de força. É o exercício da força. A decisão pode até ser errada: acerto não se decide por voto. Maioria é uma expressão de força, Alberto. E a força, raramente acompanha a racionalidade.
– Numa democracia o direito de opinar deve ser irrestrito, disse Alberto, cruzando os braços. Era o jeito dele quando decidia levar uma discussão até o fim.
– Então deixemos que os pacientes do Policlínico ou os presos de San Vittore decidam como deve ser conduzido o hospital ou o presídio. Ou, que os alunos, beneficiários transitórios da Universidade, resolvam como deve ser o ensino, a pesquisa, o estatuto. Eles não responderão pelos efeitos de tais decisões, após a formatura. Alunos,
pacientes e presos são sempre maioria, nessas diferentes instituições, como você sabe, meu caro.
– Eu disse: direito de opinar, professor.
– Pelo gosto de opinar? Ou para decidir?
Não sei como a conversa terminou. Conto isso para mostrar como funcionava o Departamento. E é bom que se diga: Pietro Vittori tinha sido eleito pela quarta vez consecutiva para a Diretoria. Por unanimidade!
Estilos à parte, confiávamos nele. Na sua dedicação “aos fins, impessoais, da instituição”. E no seu rigoroso senso de justiça.”

Lindo, de novo, não é?

Um vampiro, um lobisomem, um saci-pererê

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Aaaaawwwwwmmmmnnnn… Minha amiga Leila, 36 anos, pós-doutorado em Genética, geme no cinema ao ver Taylor Lautner, o ator que faz o lobisomen Jacob Black, tirar a camisa no filme Eclipse. Ela e mais outras 332 meninas, várias com suas mães, pareciam estar apenas por esse motivo. Mas quando no dia seguinte, sábado a noite, eu estava guiando na estrada pra São Pedro da Aldeia e ouvi quase 1h de debate na BandNewsFM, com psicólogas, pedagogas e jornalistas sobre os ‘efeitos’ da saga nos adolescentes, eu achei que tinha de fazer alguma coisa.
Eu não vou criticar o filme. Particularmente, como fantasia e amor impossível, o ‘Feitíço de Áquila‘ é imbatível. E cá pra nós, a Michele Pfeiffer virando lobo é bem mais legal.
Mas o que eu poderia fazer de útil com todo esse afã em torno da saga ‘Crepúsculo‘? Explicar a bioquímica por trás do mito do Vampiro e do Lobisomem, é claro. Sou ou não sou NERD?!
Vocês já devem ter ouvido falar da Hipertricose Lanuginosa Congênita, aquela doença que deixa a pessoa com o corpo TODO coberto de pelos. Sim, ela poderia ter sido a origem do mito do lobisomem, mas o problema é que ela é muito rara e existem apenas 50 casos documentados no mundo. Se hoje com a internet ainda é difícil encontrar alguém com essa doença, imagina na idade média.
Um candidato mais forte para a origem do mito são as ‘Porfirias’, um conjunto de doenças que afetam uma via metabólica importantíssima para o organismo, porque produz um dos principais componentes do sangue: o Heme.
Digo um conjunto de doenças porque é mesmo: se for ao site da ‘Associação brasileira de porfiria’ poderá aprender mais sobre cada uma delas. Na verdade isso acontece porque a via metabólica que sintetiza o heme tem 8 etapas e dependendo de qual etapa apresentar problema, a porfiria será uma diferente.
Uma via metabólica tem reações em cadeia, em sequência, onde o produto da primeira reação serve de matéria prima para a segunda. Se dá um problema na primeira reação, o produto não é consumido pela segunda e se acumula. Apesar de simples, o problema é grande.
Vou usar os nomes das enzimas, porque assim meus alunos vão poder usar esse texto pra estudar, mas você, que não tem aula de biofísica comigo, vai entender de mesmo jeito, e nem vai achar chato.
Você se lembra do Ciclo de Krebs, não é?! Vai, desse todo mundo se lembra nas aulas de biologia do ensino médio. A Glicose dos alimentos é quebrada em pequenos pedaços chamados de Piruvato, que depois viram um composto super versátil chamado Acetil-CoA, que pode entrar em um ciclo que permite tirar dessa molécula vários elétrons para depois gerarem ATP (a moeda energética da célula) na famosa ‘cadeia transportadora de elétrons’.
Bom, isso tudo foi pra dizer que o primeiro composto da via metabólica da síntese do Heme, é a Succinil-CoA, que é um dos compostos intermediários do ciclo de Krebs. Juntamos esse composto com o aminoácido Glicina e temos o primeiro produto intermediário: o ácido delta-aminolevulínico (ou ALAd).
Depois o ALAd é desidratado, perde duas moléculas de água e vira um composto de nome bem estranho: porfobilinogênio. Esse composto possui um anél pirrólico, que nada mais é do que um pentágono de carbonos com um nitrogênio na ponta (olha a figura).
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Bom, na próxima etapa (que é dividida em duas) formamos um círculo de anéis pirrólicos. Juntamos 4 porfobilinogênio para formar o uroporfirinogênio III (primeiro o I e depois o III). Eu arriscaria dizer que esse é o composto chave, porque ele já tem cara de Heme, só falta colocar o átomo de ferro lá dentro.
E isso é feito na seguinte ordem: uroporfirinogênio III vira coproporfirinogênio III, que vira protoporfirinogênio III, que vira protoporfirina III, que ganha o Fe2+ e vira Heme. Foram oito reações mesmo, confere?
Bom, o 5o estágio, que é quando o uroporfirinogênio III vira coproporfirinogénio III. Essa reação é feita por uma enzima chamadade Uroporfirinogênio descarboxilase, mas vamos chamala de UROD que é como todo mundo chama. Essa etapa é crucial porfíria (a doença, caso você já tenha se embaralhado com tantos nomes) e para os nossos vampiros e lobisomens da idade média.
O trabalho das enzimas é meio chato. Elas são aqueles funcionários que aparecem em linhas de produção apertando parafusos, como num filme do Orson Welles, mas como elas sabem só fazer isso, elas em geral fazem muito bem. Bom, isso sem ninguém atrapalhar. Bom, as vezes a UROD vem com um defeito de fábrica, uma mutação genética que pode ser passada de pai para filho, e ai não há o que fazer: ela não consegue ‘apertar os parafusos’ direito e ai teremos Porfiria. As enzimas geralmente são mais chatas com exclusividade do que as mulheres e só o coproporfirinogénio III, e apenas ele, pode seguir na via metabólica para virar Heme.
Mas como eu disse antes, essas doenças genéticas são sempre raras (porque as mutações são raras) e dificilmente podem dar origem a qualquer mito que seja. O que mais, que não seja genético, pode atrapalhar a UROD?
A resposta é Dioxina. Ah, você não sabe o que é dioxina? É um composto orgânico muito tóxico que ficou famoso por causa do ‘Agente Laranja’ usado na guerra do Vietnã para desfolhar as florestas e mais recentemente por ter sido usado como arma no atentado ao candidato a presidente da Ucrânia em 2004 Victor Yushchenko.
Além da dioxina ser tóxica, ela está muito mais difundida no ambiente do que as mutações genéticas. A mais famosa é o TCDD. Esse composto quando entra na célula é ativa uma via metabólica especial, chamada de AhR (lembre-se de Arght!) cuja função é mandar para o xixi todas essas porcarias orgânicas que entram no nosso corpo. O AhR faz isso, nesse caso, em parte, através de um composto chamado CYP1a2, e é ai que mora o perigo.
O CYP1A2 é capaz de interferir na via metabólica do Heme, naquele 5o passo fundamental, convertendo o uroporfirinogênio III em uroporfirina III ao invés de coproporfirinogênio III. Se pelo menos as enzimas não fossem tão específicas… poderíamos fazer alguma coisa com esse composto, mas a verdade é que não podemos e a uroporfirina III começa a se acumular no fígado e na pele, causando todos os sintomas da porfíria:

  • Anemia profunda – que levava as pessoas a uma dieta de carne, muitas vezes crua, e até mesmo sangue
  • Fotosensibilidade – uroporfirina absorve a luz do sol, mas depois não sabe o que fazer com a energia, por isso ela produz radicais livres que atacam o tecido da pele, causando manchas e feridas. Causava ainda despigmentação da pele e sangramentos nos olhos e gengivas
  • Hirsutismo – pra minimizar o efeito da luz, o corpo responde produzindo pelos nos locais mais expostos e normalmente desprotegidos, como as costas das mãos, as bochechas e testa

Desses sintomas para o mito, realmente não precisa muito, não é?
Resta ainda uma pergunta. Mas se a Dioxina foi criada pelo homem na era industrial, como ela poderia afetar as pessoas na idade média? Acontece que a TCDD não é a única substância a ativar os mecanismos de biotransformação do AhR (lembra, o arght!) e a iniciar a produção do CYP1A2. Outros compostos como o benzopireno, o BaP, que se formam simplesmente com a queima de carvão e madeira (tá cheio de BaP na carne de churrasco que a gente come, no cigarro que alguns fumam e na fumaça de carro que todos respiramos) também ativam. E muito.
Na idade média as pessoas cozinhavam com fornos a lenha dentro de casa, e a concentração de Hidrocarbonetos poliaromáticos, a classe de compostos que ativam o AhR e da qual o BaP faz parte, devia ser alta o suficiente para induzir muitos casos de uroporfiria. Então parece que por causa dos fornos a lenha da idade média, hoje em dia temos que conviver com os gemidos das adolescentes por monstros criados pela poluição. Menos o Saci Pererê.
PS: Se você se interessou a ponto de querer saber mais, pode acompanhar esse “Lancet Student Seminar: Porphyria” ou esse artigo da Scientific American “Born to be purple”. Ambos em inglês.

Smith AG, Clothier B, Carthew P, Childs NL, Sinclair PR, Nebert DW, & Dalton TP (2001). Protection of the Cyp1a2(-/-) null mouse against uroporphyria and hepatic injury following exposure to 2,3,7,8-tetrachlorodibenzo-p-dioxin. Toxicology and applied pharmacology, 173 (2), 89-98 PMID: 11384210

A lógica da raiva

É assim que você fica quando está brava
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“A raiva é parte da biologia básica da espécie humana. Ela aparece espontaneamente na infância, está distribuída universalmente entre culturas, em todos os indivíduos e tem uma base neural espécie-específica.”
Assim começa o artigo que eu vou comentar hoje. Quando você é cientista, nada do que serve de acalento para a maior parte das pessoas funciona. Florais de Bach, mantras, massagem holística… nada disso ameniza a mente racional. Bom, é verdade que Rivotril funciona mesmo nos cientistas. Mas antes de partir pras drogas pesadas, a gente procura consolo na sabedoria de bilhões de anos da seleção natural.
Na tentativa de explicar biologicamente a raiva, os cientistas procuraram primeiro compreender qual seria o propósito da raiva: para que ela teria sido selecionada pela seleção natural? A resposta, vejam só, é que ela teria evoluido como ferramenta de barganha, para resolver conflitos de forma favorável para a pessoa com raiva.
Como assim?
Todo ser humano dá um determinado valor ao próprio bem estar e também ao bem estar alheio. E é claro, está disposto a investir uma certa quantidade de tempo e de recursos (de energia) nesses bem estares (o próprio e o alheio). A raiva seria um ‘incentivo’ (ou como veremos melhor, uma ameaça) para que o ‘próximo’ desse mais valor ao bem estar da pessoa com raiva, as vezes até mesmo em detrimento do dele próprio.
O quanto nós deveríamos nos preocupar com o bem estar do próximo (ou o bem estar alheio) com relação ao nosso próprio?
Eu já tratei aqui sobre questões de agressividade, e como podemos calcular o valor do altruísmo e da ajuda. Certamente essa resposta depende do que está (ou se há) em jogo, mas alguns fatores variam de forma esperada, sempre. Um deles é o grau de parentesco (que você pode ler mais aqui).
“Os seres humanos possuem sistemas cognitivos que buscam pistas de grau de parentesco, e ‘recalibram’ suas ações altruísticas de acordo com essas evidências.”
Se um amigo pede para eu ir até a Barra da Tijuca buscar os ingressos para ele ir a um show numa 6a feira as 5 da tarde pela linha Amarela, eu não vou. Mas já se for a minha irmã…
A raiva faz parte de um outro sistema cognitivo, que é o sistema de barganhas. Como podemos convencer alguém a ser altruísta conosco se ele não é nosso parente?
Depende do nosso poder de barganha, que se resume, basicamente, em duas coisas com nomes estranhos, mas significados muito familiares: formidabilidade e conferibilidade. No inglês, de onde vem a nomeação, os dois termos não são utilizados com os significados mais usuais do português, mas sim no sentido de ‘impor dificuldades’ e ‘conceder benefícios’, respectivamente. Assim, quanto mais ‘formidável’ uma pessoa é, mais dificuldades ela é capaz de impor a você (e não é que as vezes é assim mesmo?!).
Entre outras coisas que podem ser levadas em conta pelo mesmo ‘sistema de barganhas’ estão a agressão, a reciprocidade e as externalidades. Essas suposições todas precisam se apoiar em um suposto sistema computacional do cérebro humano que seja capaz de:

  • Avaliar as consequências de um ato para si mesmo
  • Avaliar as consequências de um ato nos outros
  • Relacionar e avaliar as consequências dos atos em ambos

E essas avaliações tem de levar em conta todos os fatores que relacionamos até agora (raiva, agressividade, parentesco, formidabilidade e conferibilidade, além de externalidades não previstas) juntos. Isso quer dizer que é fácil atribuir um valor ao medo que temos de uma agressão isoladamente, mas e se o risco de agressão se apresentasse quando uma pessoa querida está envolvida, ou em uma situação de ‘tudo ou nada’, ou ainda com um aparente parceiro, mas que cometeu uma grande traição? Os valores, os pesos que damos a cada variável, bem podem mudar. E mudam!
“Existem muitas evidências de que esse ‘sistema de avaliação da barganha’ existe nos humanos como parte de uma intrincada arquitetura neural e toma parte ativa nos nossos processo de tomada de decisão.”
Mas como poderíamos influenciar no valor que a outra pessoa dá ao nosso ‘bem estar’ em uma situação de conflito, quando ela está computando a barganha? é ai que a raiva entra! A raiva é a nossa ferramenta para ‘ entrar’ no sistema nervoso do outro e modificar as prioridades dele para que atendam mais as nossas próprias.
Acontece que a raiva por si só provavelmente não tem poder suficiente para modificar a perspectiva alheia. Ou você nunca ouviu aquela frase, principalmente dos seus pais, no auge da sua raiva: “Vai ter dois trabalhos, ficar puto e desficar” (Bom, meu pai não falava palavrão, mas ele dizia, “Claro filho, você pode ir na festa, mas eu não vou te emprestar o carro”).
Para não arriscar o desperdício de energia da raiva, a pessoa irritada faz uso de duas outras ferramentas, essas sim, muito mais poderosas: o potencial para infligir custos no oponente, ou o seu potencial para retirar benefícios que são esperados.
“Claro meu amor, você não precisa concordar comigo, mas hoje não vai ter sacanagem pra você” diz a minha irmã para o marido dela (mas tudo bem, ele é Francês).
A maior parte dessas transações é mais efetiva se ficam no campo da ameaça. Ou seja, só com a reação de raiva sendo suficiente para mudar o comportamento alheio para atender as demandas do indivíduo, sem ter que partir para a agressão ou para a privação.
Isso porque todo esse ‘teatro’ é baseado, principalmente, na visão que a pessoa tem do seu próprio potencial de barganha. Se essa percepção estiver muito equivocada, ninguém vai dar atenção a ela, ou ninguém vai recusar nada a ela. Mas se essa percepção estiver apenas um pouco descalibrada, então o conflito pode ser perigoso.
Abre Parênteses:Aliás, esse parece ser o único porém desse excelente artigo, o grupo de indivíduos estudado é quem avaliou a sua própria propensão a raiva, em um questionário com perguntas do tipo: Você tem o pavio curto? Ainda que você não aja, você tem vontade de dar um murro na cara das pessoas? Você nunca arreda o pé de uma discussão? Fecha parênteses.
Mas é isso mesmo que os modelos comportamentais modernos mostram: que são as pessoas com maior poder de barganha que efetivamente se enraivecem com mais facilidade. Ou seja, não há ‘blefe’ no ‘sistema’ de raiva.
Abre Parênteses: uma conhecida teoria de blefe no sistema de raiva é o ‘efeito napoleão’, onde os indivíduos tentariam compensar a perda de poder de barganha da sua baixa estatura colocando força nos seus acessos de raiva. Fecha parênteses.
Então, pessoas que possuem um grande capacidade de machucar ou de causar privações nos outros, acabam esperando melhor tratamento dos outros, e ficam com raiva facilmente quando não recebem. Aposto que você conhece alguém assim, não conhece?
Mas assim como em outros programas neurocognitivos, não existem evidências de que os seres humanos conheçam as bases para o funcionamento desse processo ou ajam de forma consciente. Eles simplesmente conhecem seus efeitos na motivação e no comportamento. E usam e abusam deles.

Sell A, Tooby J, & Cosmides L (2009). Formidability and the logic of human anger. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 106 (35), 15073-8 PMID: 19666613

A raiva tem lógica

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(Essa é uma postagem colada e talvez você queira ler primeiro o artigo anterior)

“Os seres humanos diferem da maioria das espécies no número, intensidade e duração de relações de colaboração próximas”

Biologicamente, a raiva de baseia na habilidade das pessoas de mudarem o peso que dão ao bem estar alheio em função de uma reação raivosa. Mas claro, essa habilidade não responde apenas a isso, principalmente em uma espécie tão social como a nossa. Reciprocidade e troca são outros fatores que se somam a formidabilidade e conferibilidade e aos que comentamos anteriormente, capazes de influenciar no processo de decisão.
Sim, mas apesar desse papo todo bonitinho de colaboração, o que conta, no fim das contas, é mesmo o tamanho do braço.
Sim, os pesquisadores correlacionaram as respostas do questionário (que, não canso de repetir, incluía perguntas como: Você encara os outros? Desde os 14 anos você esteve em quantas brigas? A violência resolve problemas pra você?) com o a circunferência do biceps e a carga de peso levantada no supino. O resultado não poderia ser outro: uma correlação significativa com a propensão a raiva e com o histórico de brigas.
Não poderia ser outro porque na verdade estamos falando de uma herança ancestral. A força da parte superior do corpo sempre conferiu habilidade a um homem de infligir dor aos seus oponentes. Esse é, também, um dos principais critérios cognitivos para despertar atração das mulheres. Logicamente, então, a força muscular aumenta o ‘índice de formidabilidade’ de um indivíduo.
Abre parênteses. Curiosamente, não havia correlação com a capacidade de ruminar. Não, não estou chamando os fortões da academia de ruminantes. Ruminar é o termo, também nomeado no Inglês, para o tempo que uma pessoa permanece com raiva. Na verdade, nenhum dos parâmetros avaliados pelo estudo apresentou relação com a ruminância. Fecha parênteses.
Mas se a força na parte superior do corpo de um homem pode servir de argumento para que ele espere que as outras pessoas atendam as seus caprichos (ou sofram as consequências), será que esse argumento também funcionaria para as mulheres? É verdade que quando a minha fisioterapeuta me pegava pelo trapézio com apenas o polegar e o indicador, a dor era tanta que eu seria capaz de qualquer coisa. Ela nem precisaria dar um pitty.
Mas para as mulheres o critério é outro: a beleza! Quanto mais atraente uma mulher, maior também o seu índice de formidabilidade e, principalmente, de conferibilidade.
Você acha estranho? Não, não acredito. Depois de tudo que eu já falei aqui e aqui?! Mas se precisar ainda de um argumento, o artigo traz vários: A beleza é um importante critério de juventude e pessoas mais bonitas são mais valorizadas como parceiros sexuais, companheiros, aliados, tem salários maiores, maiores probabilidades de assumirem posições de liderança, para serem eleitas para cargos públicos e, até mesmo, recebem penas menores do sistema judiciário.
E ainda que as mulheres reclamem da quantidade de outras mulheres e de homens gays no mercado, o acesso sexual as fêmeas é um fator muito, mas muito mais limitante para os homens do que o acesso sexual aos homens é para as mulheres. E assim, mesmo uma pequena habilidade de oferecer acesso a sexualidade, garante um grande poder de barganha para uma mulher. Não me massacrem, por favor. A culpa é da seleção natural.
De fato, os autores encontraram que as mulheres mais bonitas (ou melhor, as que se percebem – e são percebidas – como mais bonitas – por fotos ou então por perguntas de questionário como: eu mereço mais do que uma pessoa comum? Eu sou melhor do que a maioria das pessoas?) são mais eficientes em resolver conflitos, tem maiores expectativas com relação ao que os outros devem oferecer a elas, e tem uma propensão significativamente maior a acessos de raiva.
Novamente, a beleza não se correlacionou com a ruminação. Mas porque o tempo que ficamos com raiva não se correlaciona com a propensão a raiva? A explicação é lógica. Se o papel da raiva é atrair atenção (e energia, e esforço) para os nossos problemas (ainda que caprichos), então ela deveria se dissipar logo depois do objetivo ter sido atingido. A ‘ruminação’ acontece quando alguma coisa nos impede de tomar uma ação direta enquanto estamos com raiva, e temos que avaliar se essa ação considerando as consequências. Que podem ser políticas, sociais ou até criminais. E como as leis se aplicam a fortes e fracos, feios e bonitos, a ruminação não se correlaciona com nenhum dos fatores medidos nesse estudo.
O artigo termina mostrando que a força muscular é fator mais relevante para avaliar a propensão a raiva do que a própria testosterona, que a propensão a raiva está ligada também a uma atitude mais conivente com a agressão (já que homens fortes e mulheres bonitas tendem a aceitar melhor que o seu país entre em guerra com um oponente) e que a propensão a raiva tem um componente filogenético (ancestral e evolutivo) mais forte do que o ontogenético (histórico e desenvolvido).
Ao que tudo indica, “o crime não compensa”, mas a raiva sim.

Sell A, Tooby J, & Cosmides L (2009). Formidability and the logic of human anger. Proceedings of the National Academy of Sciences of the United States of America, 106 (35), 15073-8 PMID: 19666613

A verdade da ciência

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Outro dia dei uma palestra na Fiocruz sobre divulgação científica na internet. Casa cheia, muitas perguntas, horas falando sobre o blog, internet e ciência, que são coisas que eu adoro. Mas apesar de tudo ter saído melhor do que o esperado, me surpreendeu ver divulgadores de ciência defendendo que a ciência deve ser vista com moderação. Ou melhor (ou pior), divulgada com moderação. Isso porque, segundo eles, a verdade científica não pode ser vista como verdade absoluta. E segundo eles também, os cientistas, alguns pelo menos, ou pelo menos os mais famosos, quando fazem divulgação científica, fazem isso.
Mas será?
Quando é legítimo uma descoberta científica ser divulgada publicamente? Fizeram um encontro inteiro sobre esse tema no ano passado.
Eu também já escrevi sobre isso aqui, aqui e aqui.
Eu percebo que sempre que temas ligados ao comportamento humano aparecem na mídia são apresentados carregados de determinismo. Mas será que é por causa dos cientistas? Ou do jornalistas? Acho que é por causa do público. Não somos treinados para aceitar e muito menos para avaliar a incerteza. Na minha opinião, o determinismo é para quem lê.
A ciência fica cada dia mais difícil e por isso se afasta da sociedade. E o cientista precisa abrir mão do rigor científico para poder comunicar ciência a sociedade. Mas até que ponto? Eu não sei responder. Mas sei a ciência é um grande instrumento para ensinarmos as pessoas a lidar com incerteza. E assim, ao invés de procurar uma resposta para a pergunta, simplesmente acabamos com a pergunta.
Ainda assim, teremos sempre que conviver com o fato que pessoas que não são treinadas para a ciência não se irritem com argumentos científicos que levam a conclusões desagradáveis e sejam complacentes com argumentos não científicos que levam a conclusões aprazíveis.
E para isso, eu tenho muito pouca tolerância. Mas é uma coisa que preciso mudar.
Lembrei de uma outra palestra que dei, anos atrás, para alunos da universidade Federal de Rondônia, em uma chalana que subia o rio Madeira a caminho do Lago do Puruzinho. Nela eu mostrava uma citação do filósofo da ciência Paul Feyerabend:
“A compulsão humana para encontrar verdades absolutas, por mais nobre que seja, acaba, por muitas vezes, em tirania. (…) (a ciência) tem o potencial poder de eliminar a diversidade de pensamento e cultura humanos… De transformar jovens brilhantes em cópias apagadas e convencidas de seus professores”
Amém!

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