Coisas que aprendi ao longo do último ano

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Retirado de leituras de altíssima qualidade como ‘Por que pessoas inteligentes acreditam em coisas estranhas’ de Michael Shermen e ‘Why students don’t like school’ de Dan Willingham e os vídeos do curso de ‘irrational behavior’ de Dan Ariely.
Sobre o PENSAMENTO
  1. O pensamento é um processo altamente desgastante e impreciso. O fato de podermos pensar não significa que sejamos bons nele.
  2. Não somos bons em pensar e por isso queremos usar a ‘intuição’. A intuição não traz resultados reprodutíveis.
    1. ‘Confirmation bias’ e outros fenômenos nos iludem do poder da intuição.
    2. O pensamento é a inteligência são atividades que podem melhorar com método e prática.
    3. Existe diferença entre experiência e pratica. Experiência é fruto de repetição. Pratica tem o objetivo de melhoria qualitativa e quantitativa.
    4. Escolher tarefas que sejam levemente além do seu grau de conhecimento e trabalhar duro para resolver o problema (o que caracteriza pratica) é a única forma de avançar.
  3. O interesse não é suficiente para manter a atenção. A atenção tem que ser conquistada capítulo a capítulo.
  4. A distração é um problema maior do que todos queremos que seja e do que estamos dispostos a enfrentar.
  5. Melhorar o conteúdo para o leitor é uma tarefa do autor.
Sobre ESCOLHAS
  1. A expectativa é a mãe de toda frustração. (Expectation is the mother of all fuck-ups)
  2. Nossas escolhas NÃO são, na maioria das vezes, frutos de processos inteligentes. São fruto das opções em dadas circunstâncias, do medo e da vontade de agradar aos nossos pares.
  3. A inteligência entra quando criamos narrativas e selecionamos argumentos que possam sustentar, intelectualmente, nossas escolhas.
  4. A  preguiça e a resistência são uma saída para quem tem medo e dificuldade de se organizar, ou resistir às distrações ou simplesmente não se sente qualificado o suficiente.
  5. Não ter medo de errar e aceitar o fracasso como parte do processo de aprendizagem é a única forma de avançar. (Isso não significa aceitar ser um fracassado).
Sobre MOTIVAÇÃO
  1. As pessoas querem significado e/ou felicidade.
    1. Em geral um não vem acompanhado do outro
  2. Motivação depende de muito mais do que dinheiro: Depende de propósito, realização, compartilhamento e reconhecimento.
    1. As pessoas querem ser ouvidas sem necessariamente ter algo a dizer. Estão todos parados em conhecimento superficial e com ideias não verificadas que imitam o que outras pessoas já disseram.
  3. As pessoas adoram as suas próprias ideias e tendem a acreditar que elas são melhores. Sempre.
Eu resolvi compartilhar essas idéias porque me ajudam a enfrentar os desafios de ser um melhor professor, empreendedor, cientista e cidadão.

A Intuição e o Método

Venus de Milo com Gavetas, de Salvador Dalí

Venus de Milo com Gavetas, de Salvador Dalí

Tenho pensado tanto sobre isso. Como cientista, o ‘método’ é o meu principal instrumento de trabalho. Isso não significa que eu seja metódico no que faço. Significa que eu recorro a evidência, a hipótese, a experimentação e a análise para tecer conclusões e tomar (ou questionar) decisões. Não há como ter dúvida do poder do método para alterar a nossa realidade. Mas ainda assim, grande parte dos desafios profissionais que eu encontro são sobre como convencer as pessoas, mesmo (principalmente) cientistas, a abraçar o método em áreas que não sejam o seu objeto de estudo.
Ainda que possamos nos apoiar na obra de Galileu, Bacon e Descartes para uma explicação do que é o ‘método’; explicar a intuição é muito mais complicado. E o fato de todos nós experimentarmos a intuição independente de compreende-la, torna ainda mais difícil explicá-la cientificamente, porque a explicação esbarra na nossa compreensão ‘intuitiva’ da intuição.
Mas e se quisermos entender o que é a intuição de forma não intuitiva?
Vamos ter que começar entendendo o que é a consciência. Uma tarefa nada fácil já que não existe um consenso científico sobre o que é a consciência. Mas tendo incluído ‘consciência’ no programa da minha disciplina de Biofísica para o curso de biologia da UFRJ, eu estudei bastante o assunto ao longo desse ano e vou arriscar uma explicação para vocês (para quem quiser mais informações eu sugiro fortemente o  documentário da BBC ‘O Eu secreto’).
De maneira bem resumida, quando o seu cérebro é requisitado a dar uma resposta, inicia-se  um processo mental onde são ativadas diferentes regiões do seu cérebro, dependendo de cada processo. A ativação dessas áreas gera sinais elétricos que se propagam por nervos, indo e vindo através dos troncos do tálamo, e disparando, ou ‘acendendo’, diferentes áreas do cortéx no caminho. Dessa atividade elétrica em diferentes áreas do seu cérebro, emerge uma ’sensação’ subjetiva: a auto-consciência. Quando bloqueamos o tráfego dos sinais impedindo a comunicação entre as diferentes regiões, seja pela administração de anestésicos ou naturalmente durante o sono, a nossa auto-consciência desaparece.
A idéia não poderia ser mais assustadora: em nenhum lugar do seu cérebro existe um repositório de quem é você. Não existe nenhuma ‘gaveta’ com a etiqueta ‘quem sou eu’. Ao contrário, a cada vez que o seu cérebro inconsciente decide que um evento é digno da sua atenção, o disparo coordenado de milhões de neurônios, bilhões na verdade, recreia, do zero, a noção de quem é você. 
Se tivesse descoberto que a cada momento eu era um novo ‘eu’, como descobriu Virginia Woolf no século XIV, assim como descrito no maravilhoso livro de Jonah Lehrer ‘Proust foi um neurocientista’, sem ter os instrumentos para compreender como isso era possível, talvez também tivesse me suicidado.
Curiosamente, ou contra-intuitivamente, é o nosso corpo físico, e não uma termodinamicamente improvável alma, que guarda a chave para o segredo da integridade da nossa auto-consciência. Com as nossas experiências anteriores armazenadas na nossa memória de longo prazo e com os limites físicos do nosso corpo identificados por neurônios na mesma posição, os disparos consecutivos que geram a auto-consciência são capazes de replicar com grande fidelidade o nosso ‘eu’.
Mas não com fidelidade total.
As áreas que acendem não são E-X-A-T-A-M-E-N-T-E as mesmas. Nunca!
Inquietante… para dizer o mínimo. Mesmo quando pensamos sobre a mesma coisa, mesmo se essa coisa for a nossa própria identidade, nunca pensamos sobre ela da mesma maneira.
E de fato é com essa assustadora, porém muito esclarecedora constatação que se inicia o livro de Daniel Willingham ‘Porque os alunos não gostam da escola’: Porque pensar é difícil e nós, ainda que sejamos capazes de pensar, não somos bons nisso.
Uma grande parte do nosso cérebro é dedicada ao processamento inconsciente de imagens visuais e, se tem alguma coisa na qual somos bons, é em ‘ver’. Já em pensar… como vocês podem bem imaginar pensando em grande parte das pessoas que conhecem… não é algo todos fazem da mesma maneira, com a mesma eficiência e na qual possamos todos dizer que somos… bons.
O mundo tem uma realidade complexa que procuramos recriar dentro do nosso cérebro para que possamos decidir como reagir a esse mundo real. Como nosso pensamento não é linear, não temos muito controle sobre quais memórias acessamos ou sobre quais áreas do cérebro serão ativadas pelos sinais iniciados com a atenção a um pensamento, não temos como repetir uma mesma análise da realidade duas vezes.
Para piorar a situação, como eu já descrevi aqui, as nossas decisões começam como uma resposta instintiva baseada em processamento ‘inconsciente’ do cérebro, só depois sendo reconsiderada em um processo consciente que, como vimos, é falho.
Por exemplo, no excelente livro ‘Por que as pessoas acreditam em coisas estranhas’ de Michael Shermer, fica claro que as nossas escolhas, mesmo aquelas conscientes, não são fruto da nossa capacidade intelectual e sim dirigidas por 3 fatores principais: as alternativas oferecidas pelas circunstâncias, o medo e a expectativa da opinião dos nossos pares. Nossa… isso também explica tanta coisa!
A conclusão no poderia ser mais difícil de aceitar: por mais que você se considere um grande pensador, há um limite para o quanto você pode confiar nas suas idéias. Suas intuições… falham!
E é por isso que nós precisamos do método. Ele é a única maneira de escapar das armadilhas que nossos processos mentais nos impõe.
Mas se o método é o que pode nos salvar das nossas falhas mentais, porque será que, na minha experiência e em muitas outras ilustradas na história da psicologia, as pessoas resistem tanto ao uso do método?
Ainda não tenho uma resposta. Mas é possível que a insegurança gerada pela dificuldade de pensar conscientemente e a falsa segurança gerada pela natureza inconsciente da intuição estejam envolvidas nessa resistência.
Além da preguiça, é claro.

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