Forças da natureza
Já falei aqui e aqui sobre o aquecimento global e as mudanças climáticas. Apesar de adorar citações, eu procuro reduzir ao mínimo textos originais de outras pessoas. Mas não resisti à colocar esse samba, que é uma ilustração do que eu venho dizendo nos textos. Somos muito pequenos!
Usei ele há algum tempo atrás como questão de prova de ecologia e hoje, revirando alguns papéis, me deparei com ele de novo.
Pra vocês verem que não precisa ser cientista pra saber que as forças da natureza são mais fortes que nós. Mas precisa ser artista pra transformar isso em música!
As forças da Natureza (Paulo César Pinheiro e João Nogueira)
“Quando o sol
Se derramar em toda a sua essência
Desafiando o poder da ciência
Pra combater o mal
E o mar
Com suas águas bravias
Levar consigo o pó dos nossos dias
Vai ser um bom sinal
Os palácios vão desabar
Sob a força de um temporal
E os ventos vão sufocar
O barulho infernal
Os homens vão se rebelar
Dessa farsa descomunal
Vai voltar tudo ao seu lugar
Afinal
Vai resplandecer
Uma chuva de prata do céu vai descer, lá, lá, iá
O esplendor da mata vai renascer
E o ar de novo vai ser natural
Vai florir
Cada grande cidade o mato vai cobrir, ô, ô
Das ruínas um novo povo vai surgir
E vai cantar afinal
As pragas e as ervas daninhas
As armas e os homens de mal
Vão desaparecer nas cinzas de um carnaval.”
Qual a diferença entre 1 e 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e meio)?
O que você faria com R$ 1,00? E com R$ 4.500.000.000,00 (quatro bilhões e meio de reais)?
Eu diria que com um não dá pra fazer quase nada e com outro, quase qualquer coisa que você queira. Pois bem, a Terra tem 4,5 bilhôes de anos. O que a gente acha impossível da natureza ter feito em um ano, ou em 100, é o mesmo que a gente acha impossível conseguir fazer com apenas R$1,00. Já se a gente tivesse os bilhões…
Só que a Terra teve. E é por isso que as coisas estão todas ai.
Deus, é o tempo.
Alarmismo não, pessimismo
Vocês sabem que sou um ferrenho combatente contra o alarmismo como argumento para divulgação científica. Defendo que a gente conheça os graus de incerteza relacionados com cada evento, para tomar a melhor decisão possível. É assim que venho tratando o tema do aquecimento global.Alguns meses atrás assisti, relutante, confesso, o badalado documentário do Al Gore “Uma verdade inconveniente”. Relutava porque achava que estaria repleto de campanha política para presidente dos EUA (e está, com aval do Oscar). Mas foi interessante e aprendi muitas coisas.
Na 4a feira passada, o Dr. Sergio Besserman, economista brasileiro que participa do IPCC (o painel global da ONU para mudanças climáticas) veio falar à Biofísica sobre Aquecimento Global. Gostei muito! E aprendi muito também, de novo. Primeiro porque ele começou apertando a tecla que eu venho batendo insistentemente: “Nós somos irrelevantes para o planeta. Ainda que consigamos destruir tudo, tudo voltará novamente. Os únicos prejudicados pelo aquecimento global somos nós mesmos”.
Nós e essa nossa mania de sermos o centro do mundo, e que por sermos inteligentes conseguiríamos resolver todos os problemas.
“Daqui alguns milhões de anos vai tudo estar muito mais interessante do que hoje, e para terra, vai ter passado apenas mais um minuto na sua história”, Besserman continuou. E ainda foi mais fundo: “Na verdade, são só os pobres do mundo vão sofrer!” De novo. Mais ainda.
Ele está certíssimo.
Quando a maré subir, não vai ser Nova Iorque que vai se afogar, como no filme. Nem Copacabana (mas não seria mal lavar a Narcisa Tamborindeguy da nossa orla, não é Dudu?). Amsterdã vive abaixo do nível do mar. Parece, inclusive, que os holandeses já estão fazendo propaganda em todo o mundo de que possuem a tecnologia necessária para as casas não afogarem. E tem mesmo. Só vai custar caro. E não sei se Bangladesh vai conseguir pagar.
Os pobres é que vão penar!
Quando eu chamei o aqui o aquecimento global de farsa, eu estava criticando o alarmismo científico. Mas tenho de reconhecer que me faltavam informações. E que as evidências de que os níveis de CO2 na atmosfera hoje são os maiores de todos os tempos, baseados nos registros históricos observados através das pequeníssimas bolhas de ar que ficam presas nas geleiras da Antártica e Ártico, são muito científicas.
Ainda assim, fico pensando… será que o aquecimento global pode ser tão poderoso para mudar a forma do planeta quanto um movimento de placas tectônicas? Quando me lembro que em 1991, durante a erupção do Pinatubo na Indonésia, uma das maiores dos últimos séculos, o vulcão liberou mais CO2 na atmosfera em 3h que a cidade de Nova Iorque liberaria em 30 anos, é difícil acreditar que o planeta nunca passou por outros eventos naturais mais importantes que a atividade humana. E imaginar que uma especiezinha como nós, recém-nascidos em termos evolutivos, só porque alcançou os 6 bilhões de indivíduos, possa causar esse estrago todo.
Mas pelo visto pode. É a tal história mostrada no filme (e também na palestra do Besserman) sobre novas tecnologias e velhas atitudes.
Mais pensei em outra coisa. Um pouco mais sombria que só alarmismo.
Nas aulas de ecologia, ensino sobre estratégias de utilização de recursos (energia). Algumas espécies usam uma estratégia chamada de r e são classificadas de oportunistas. Quando essas espécies encontram recursos disponíveis em abundância, utilizam esses recursos até a sua exaustão e depois, inevitavelmente, perecem. A população então sobrevive com um número mínimo de indivíduos até os recursos se renovarem (o que pode levar algum tempo), e elas poderem executar um novo Bloom demográfico. Essas espécies apresentam curvas de crescimento exponenciais e desaparecimentos bruscos. Sabe com o que parece a curva? Com os batimentos do coração no eletrocardiograma, com aqueles picos de subida e descida. Ao longo do tempo, essas espécies repetem esse comportamento sempre que os recursos se renovam, ou quando invadem um novo ambiente. Repetem isso não porque não são inteligentes. É só a estratégia delas. E não conseguem fazer diferente.
Não preciso reler meu texto, nem minhas aulas, para ver que nós agimos como estrategistas r.
Mas o pior não é isso. Eu também escrevi aqui, sobre os mecanismos de tolerância e resistência. Quando ultrapassamos o limite dos mecanismos que permitem nossa vida fora das condições ótimas, ativam-se outros mecanismos, mas que não tem a capacidade de trazer a gente para um novo equilíbrio. E morremos.
Quando Besserman mostrou que o problema do efeito estufa não são apenas os gases que estão sendo produzidos agora, mas o acúmulo de todos os gases já produzidos até hoje (na verdade, os gases permanecem na atmosfera por uns 100 anos), que levam um tempo até se integrarem na atmosfera e começarem a agir… aquilo ficou na minha cabeça… até que a ficha caiu.
Com 6 bilhões de pessoas que devem virar 9-12 bilhões nos próximos 5 anos, com a China crescendo 11% ao ano e com a radical mudança de comportamento que seria necessária para, não diria reverter, mas amenizar as emissões… ferrou! Superamos a capacidade de tolerância do ambiente e entramos nos mecanismos de resistência. Nossa extinção é inevitável!
Vamos levar algumas outras espéceis conosco, mas nada que vá afetar demais o planeta.
Pode parecer radical. Deve ser por isso que o outro chamou de “Uma verdade inconveniente”.
Mas a verdade mesmo é essa: Ferrou!
Concluir é atrofiar?
O valor que a gente dá as coisas depende da régua que a gente usa.
Assisti uma prévia de tese de um amigo médico. Há algum tempo, descobri que tenho muitas diferenças com ele e hoje descobri o por quê. Ele abandonou a razão!
A melhor disciplina que fiz no doutorado foi “História e Filosofia da Ciência”. Já devo ter falado dele antes, mas foram tantas palestras bacanas que eu sempre devo ter um motivo diferente para falar de novo. Em uma delas, o prof. Leopoldo de Meis fala de uma pesquisa feita com diversos cientistas sobre a maneira como eles fazem ciência. A maioria deles respondia sem titubear: “O método científico”.
“Formulo uma hipótese e determino os objetivos. Vejo a metodologia mais adequada, executo e analiso os resultados. Concluo” é a resposta básica.
Não há como negar que o método científico trouxe uma sistematização que alavancou a ciência e tornou ela a mais produtiva ferramenta do intelecto humano. Os críticos do método gostam de aplicar um tipo de “princípio da incerteza” de Heisenberg, dizendo que a observação de um evento por si só afetaria a percepção desse evento e, portanto, o método não seria válido. Mas nenhuma alternativa contribuiu tanto para o avanço da ciência, o desenvolvimento da tecnologia e a compreensão do mundo e do universo. O método científico é uma ferramenta tão poderosa que é quase impensável utilizar qualquer outra.
Mas o método tem alternativas. Lembrei disso hoje.
Na aula do prof. de Meis, alguns dos cientistas entrevistados, após começarem a responder “o método…” paravam, refletiam e diziam: “Na verdade, não é nada disso. Temos uma idéia, partimos dela e não paramos até que tenha sido realizada”.
Lembro de ter ficado marcado por essa resposta. Não podia contestar o método, mas não podia negar a importância dessa abordagem. Então hoje, enquanto tentava acompanhar a apresentação, que estava muito confusa apesar de eu já conhecer o tema, o trabalho feito e o apresentador (e até mesmo a apresentação), tentei não me irritar.
O médico dizia: “Fiquei muito feliz ao ver que os grupos se separavam daquela forma”; “Isso nos deu tranquilidade para continuar perseguindo nossa idéia”; “as condições ‘lamentáveis’ de vida…”.
Uma vez vi o Fritz Utzeri dizer em uma palestra que o jornalista nunca deve se indignar. Ele tem de dar a notícia. “Quem tem de se indignar é o leitor!” Meu amigo médico é um pesquisador determinado, emocionado e indignado. Isso possivelmente é o que faz dele o médico mais atencioso com os pacientes que conheço. Mas é uma combinação perigosa para um cientista. Como manter a racionalidade se o seu instrumento de pesquisa perturba a sua razão? É muito complicado e ele falhou.
Lutou pelas suas premissas com paixão. Conseguiu seus dados com determinação. Desafiou as conclusões com indiganção. Apresentou seus resultados com amor (também um pouco de ironia e sarcasmo). Mas ele abandonou a razão. E custou caro (em todos os sentidos). Foi vencido por um desenho amostral despreocupado, por objetivos confusos, resultados pouco relevantes e conclusões limitadas.
O que leva uma pessoa a ter tanto trabalho para responder tão pouco? Será que valeu a pena?
A resposta da razão científica e dos critérios das agências de fomento (Capes e CNPq) é óbvia: não!
Mas fico pensando se a resposta pode ser outra. Esse trabalho levou o médico a pessoas e lugares nunca antes visitados por um pesquisador. Ele apresentou a ciência (além da medicina) até pessoas passariam a vida sem saber o que era isso. Ele trouxe pessoas até a ciência e isso determinou o caminho que elas seguem agora.
Será que valeu a pena?
Ainda não consigo responder. Por teimosia, arrogância, porque podia, ou simplesmente, porque deixaram, ele escolheu permanecer a pedra bruta e não quis se lapidar. Mas será que é tão estranho assim alguém querer permanecer em estado bruto? É provável que não, mas é provável que as arestas incomodem mais. Um professor uma vez me disse: “A academia aceita a inovação, mas você tem de ser brilhante!”
Será que valeu a pena?
Tento pensar que sim, mas o desperdício ainda deixa a minha mente embaçada. Talvez seja melhor assim. Um pouco de neblina pra variar. Um poeta de rua uma vez me disse: “concluir é atrofiar”!
Você cortou o cabelo?
O cabelo é feito de uma proteína chamada Queratina. Essas proteínas se ligam umas nas outras através dos seus aminoácidos cisteína. Eu não queria entrar nos detalhes pra não ficar bioquímico demais, mas é tão legal… Os aminoácidos são os ‘tijolos’ com os quais se constroem as proteínas, e a cisteína é o único deles que possui enxofre (simbolizado pelo S). Quando dois S estão próximos, eles interagem e formam uma ligação, do mesmo tipo das pontes de hidrogênio da água, que todos aprendemos no colégio. Aliás, é justamente através dessas ligações que a água interage com a queratina.
Então, a fibra da queratina também pode interagir com outras fibras, formando um tipo de trança, que é a matriz do cabelo. Como uma espiral e uma trança de verdade, o cabelo acaba ganhando elasticidade e flexibilidade. Quem controla isso são o número dessas ligações que ele possui. Quanto mais pontes dissulfeto, mais apertada é a trança e menos água consegue entrar. Quanto menos pontes dissulfeto, mais pontes de hidrogênio e, portanto, mais hidratado o cabelo. Com isso o cabelo ganha mais peso e volume.
O fio de cabelo tem essa matriz, mas é recoberto de escamas. A cor está no matriz, mas as escamas são importantes em vários processos. Quando alguém pinta o cabelo, a tintura fica presa sob as escamas. Quando o cabelo resseca, as escamas se abrem, como se passássemos a mão contra as escamas de um peixe. E o seu, ou o meu cabelo, ficam que nem no quadrinho. A umidade é a principal razão porque há “dias de cabelo bom e dias de cabelo ruim.”
Fico pensando porque será que me mandaram essa tirinha muitos anos atrás? De ve ser pelo mesmo motivo que mandariam hoje!
A umidade é tão importante para o cabelo quanto o cabelo para a umidade. Até hoje, os sensores dos Termohigrometros, os aparelhos que medem a umidade do ar, são feitos de cabelo humano. Com faixa de medição de 0 à 100% de umidade relativa do ar e precisão de -+ 3%. Não é incrível? O cabelo é uma verdadeira obra prima da engenharia bioquímica!
Mas o cabelo pode dizer muito mais. O cabelo cresce aproximadamente 1cm por mês. Mas isso todo mundo já sabia. O que nem todo mundo sabe é que o cabelo é também uma forma do organismo descartar as coisas indesejáveis que circulam pelo sangue, como drogas e poluentes. O cabelo produzido em um determinado momento, reflete muito da composição do sangue naquele momento. Através da análise do cabelo de mães jovens de comunidades ribeirinhas da Amazônia, podemos estudar a quantidade de mercúrio (simbolizado pelo Hg) que elas ingeriram a gestação e a lactação e o quanto os bebes acabaram sendo expostos.
Quando você faz ‘permanente’, para deixar os cabelos cacheados, usa calor para quebrar as ‘pontes de dissulfeto’, enrola o cabelo como quer, e depois usa um produto para refazer as ligações entre a queratina naquela nova ‘conformação’. O mesmo para alisar o cabelo.
O cabelo é “morto”. Pelo menos tão morto quanto as unhas, garras e escamas de animais. Que alias, são feitos todos da mesma coisa, da mesma proteína: queratina Mas isso não quer dizer que você pode colocar qualquer coisa nele, qualquer dessas escovas cheias de formol. Seu couro cabeludo esse é bem vivo, não trate ele como defunto.
Amuletos
Tem gente que carrega pedra por proteção. Seja de um amuleto que dá sorte, seja da arma que ameaça. “Estou armado, vai encarar?” Tem ainda outros que carregam por falta de opção (é a pena deles, trabalho forçado ou pedra amarrada no pé mesmo). De qualquer forma não me parece um bom negócio. Vejam esse exemplo. A radioatividade não foi descoberta de uma vez só. Podemos dizer que começou com os raios-X de Röntgen em 1895. Mas essa era uma radioatividade artificial. Os raios-X eram produzidos pela passagem de eletricidade por um tubo catodo contendo um gás rarefeito. Os Tubos catódicos eram muito utilizados por pesquisadores daquela época para estudar os fenômenos de brilho que eles apresentavam. Henri Becquerel foi o primeiro a observar a radiatividade natural em sais de urânio em 1896. Mas foi o casal Marie e Pierre Curie que desenvolveram em muito o estudo da radioatividade, descobriram que o Urânio se transmuta em Rádio e Polônio por perda de energia e desenvolveram métodos para purificar o Rádio. Foi Marie inclusive que cunhou o termo radioatividade.
Rapidamente os pesquisadores descobriram que aquelas elementos tinham a capacidade de causar alterações biológicas. Curie e Becquerel bolaram então um experimento para investigar as lesões causadas pelas emissões do rádio na pele. Bequerel carregou no bolso de seu colete durante 6 h um vidrinho contendo uma pedrinha (do tamanho de uma cabeça de alfinete) de Cloreto de Bário radioativo (800.000 vezes mais radioativo que o Urânio). 10 dias depois ele observou a formação de uma mancha vermelha no peito, que nos dias seguintes ficou preta. 20 dias depois da exposição havia sido formada uma ulceração que só foi curada com um mês de tratamento com bandagens, deixando uma cicatriz na forma do tubo. Durante esse tempo, uma nova mancha apareceu na posição oposta, referente ao outro lado do bolso, onde o tubo havia ficado menos de 1 h.
A foto mostra a lesão feita propositalmente por Pierre Curie em seu braço com um sal de Rádio e publicada em um jornal francês.
Carregar a pedra no bolso não servia nem para dar boa sorte. Marie e Pierre Currie ganharam o prêmio Nobel de Física em 1903, mas ele morreu atropelado por uma carruagem em Paris em 1906 e ela em 1934 de Leucemia (causada pelos anos de manuseio dos elementos radioativos).
Uma pedra no bolso também foi a razão do acidente radioativo de Goiânia em 1987 se transformar em uma catástrofe. Um velho aparelho de radioterapia foi roubado do prédio de um hospital abandonado pra ser vendido como sucata em um ferro velho. A blindagem da fonte de radiação, com algo em torno de 20g de Césio 137 (primeira foto), tinha mais de 120 kg de chumbo e devia valer alguma coisa. Quem comprou foi Devair Alves Ferreira, que depois de abrir a proteção da fonte a marretadas, ficou encantado com o pó azul brilhante e resolveu levar pedaços da pastilha de Césio para casa. Devair carregou a pedrinha no bolso por vários dias, mostrava para os amigos e vizinhos, em casa e no bar:
“Todos os dias eu pegava aquela pedra. Minha mulher tinha pavor e vivia tapando a pedra. Ela detestava e eu amava a pedra. Eu convivi oito dias com aquela pedra. Tomava cerveja e colocava o copo em cima dela”.
Nossa… parece coisa do Senhor dos Anéis. “My precious…” Deu no que deu: 16 mortes e a maior contaminação acidental depois de Chernobyl.
A verdade é que pedras no bolso pesam, tiram a leveza e a velocidade. Prendem. Machucam quem carrega e podem dar câncer.
Homens que choram
Eu sempre chorei a tôa, então sempre tive de conviver com aquela história de que homem não chora. E também que homem não isso e que homem não aquilo.
Por outro lado, nas últimas semanas, tenho ouvido repetidamente as mulheres reclamando dos homens. Que os homens não fazem isso, que os homens não fazem aquilo. Quase tudo que elas reclamam que os homens não fazem, são coisas de mulher. Ou coisa de homem que chora?
Lembrei do texto ‘Testosterona’ do João Ximenes Braga, onde ele fala dos homens heterosexuais que gostam mais de homens (companhia, papo, interesses) do que de mulheres. São os Men’s man. O texto dá ótimas definições, como a dos caras que preferem ficar em rodinhas de outros caras no baixo Gávea e enquanto outros preferem ficar sorrindo para mulheres (ainda que feias) na mesa do bar. Acho que os que choram, devem se encaixar nesse segundo grupo.
Existe um ramo da biologia chamado sociobiologia, que acredita que todos os comportamentos sociais tem fundo genético. Qual a importância de ter fundo genético? É que se está nos genes, de alguma forma isso pode ser passado dos pais para os filhos. E também as escolhas que podemos fazer são muito, muito mais restritas, porque muito já foi decidido no nosso DNA.
A sociobiologia tem seus adeptos, mas é amplamente questionada. Mesmo assim, Edward O Wilson, seu criador e principal teórico e, escreveu em seu livro de 1975 a primeira tentativa de explicar geneticamente o homosexualismo.
Vejam que a parada era duríssima. Explicar as bases genéticas de um comportamento social, que basicamente impede a reprodução e a transmissão genética desse mesmo comportamento. Só que na verdade, já existia uma explicação, que pode ser verdadeira para outros genes que também conferem baixa reprodutibilidade. Nesses casos, a única forma do gene se manter na população, é através de uma maior adaptabilidade dos heterozigotos. Ah… você não lembra o que são os heterozigotos? Vamos supor que a característica ‘opção sexual’ seja determinada pelos genes H e h. Vamos supor ainda que H seja o gene para o gene para heterosexualidade enquanto h o gene para homosexualidade. E continuar supondo ainda que H seja dominante sobre h. Um homem pode ser homozigoto para a característica ‘opção sexual’ se tiver ambos alelos (o par de genes que determina uma característica) iguais. O par HH então caracteriza o homozigoto dominante para heterosexual e o par hh caracteriza o homozigoto recessivo para homosexual.
Como os homosexuais, em princípio, não deixam descendentes, então rapidamente o alelo h desapareceria da população. A não ser que… o heterozigoto, aquele individuo que possue um alelo de cada (ou seja um H e outro h), fosse mais adaptado (o que nesse caso quer dizer sucesso reprodutivo), do que o homozigoto dominante para heterosexualidade.
Voltando ao texto do Ximenes, os heterozigotos Hh seriam um tipo de Woman’s men. Homens totalmente heterosexuais, mas com maior sensibilidade, mais tato (coisas importantes para as mulheres) e por isso fariam mais sucesso, conseguiriam mais oportunidades de reproduzir, e deixariam mais descendentes.
Os heterozigotos então inflacionam um mercado escasso e criam a ilusão de que podem haver homens que efetivamente sejam capazes de fazer o que as mulheres esperam. Só porque um cara prefere ir ao shopping ou assistir a um drama no cinema na companhia de uma mulher, ao invés de jogar futebol com os amigos; elas inferem que eles vão entender também o que se passa no complexo e caótico universo feminino.
É preciso manter em mente duas coisas: A primeira é que a sociobiologia é uma tautologia, um sistema lógico que encontra explicação em si mesmo e por isso nunca pode ser realmente comprovado. É como explicar que a galinha veio primeiro que o ovo, que veio da galinha. Por isso, essas teorias serão sempre hipotéticas. Bom papo pra buteco. A segunda é que, por mais que tenham um alelo h, os heterozigotos são homens. E como homens, querem exatamente a mesma coisa que todos os outros.
O heterozigoto Hh é só aquele cara mais sensível que come todas as amigas, enquanto os caras machões HH acham que ele é viado.
Diário de um Biólogo – 6a feira 03/08/07
Depois de almoçar 600g no quilo, fiquei terminando de corrigir as provas até a hora do evento do dia. A palestra do ministro da saúde José Gomes Temporão. A UFRJ ainda é um lugar onde coisas (um ministro vir falar) acontecem. Fico feliz de ser de lá. Sala cheia, presença do reitor (que não ficou pra palestra) e manifestação do sindicato.
O tema era Saúde, Cultura e Desenvolvimento. Ele mostrou um panorama da saúde, ou de como ele chama “complexo produtivo da saúde” muito claro, identificou os gargalos desse sistema, incluindo a dificuldade de produção de ciência e a transformação dessa ciência em tecnologia no país (o que todo mundo na universidade queria ouvir) e atacou os pontos que todos concordam com propostas também claras. Vindo do cara que, em menos de 5 meses de ministério (em um governo onde a média de permanência é de 9 meses), licenciou o Efavirenz, a gente tem definitivamente que dar um crédito pra ele. Terminou dizendo: “Não me importo de desagradar os outros porque não sou candidato a nada. Por mim estava dando aulas na Fiocruz, que é o que eu gosto de fazer. Mas se é pra ser ministro, é pra mudar alguma coisa”. Outro dia o Blog recebeu a indicação do Blog com tomates, sendo tomates, no português de portugal, sinônimo de culhões, que é sinônimo de coragem. Esse é um ministro com tomates!
De noite teve festa na Cris pelo aniversário da Ana. As conversas giraram em torno do habitual: diferenças entre homens e mulheres. Mas isso é pra ser discutido em outro texto.