Quem é o tricolor?

Me disseram que o blog tava virando consultório sentimental por causa dos textos contando as facetas biológicas de machos e fêmas. Então vou mandar um pouco de cultura útil pra vocês.

Tava no jornal hoje: “O novo técnico da seleção, Dunga, foi até o Beira Rio assistir o Grenal pelo campeonato brasileiro, mas viu pouco futebol e um show de pancadaria pela torcida tricolor gaúcha…”. Mais abaixo: “o tricolor paulista perdeu de goleada do Santos, mas continua em primeiro lugar com 29 pontos.” Outro dia me contaram que o Nelson Rodrigues dizia que “Tricolor é o Fluminense, os outros são times de três cores!”

Lamento desapontar a todos, mas nenhum deles é tricolor!

Tanto Grêmio, quanto São Paulo e Fluminense, têm o branco entre suas 3 cores. Sendo que Grêmio e São Paulo ainda tem o preto. Só que tanto o Branco quanto o Preto não são cores!

Nós enxergamos devido a sensibilidade das células da nossa retina (chamadas Cones e Bastonetes) a luz refletida nos objetos. A luz é uma onda eletromagnética. E a luz visível são aquelas ondas que as células da nossa retina podem captar, e estão na faixa de comprimento entre 400 e 700 nanometros. Na base do espectro, com comprimentos de onda pequenos, está o violeta e no final, com comprimento alto, está o vermelho. E entre elas… todas as cores do arco-íris.


Abaixo dos 400 nm temos o o ultra-violeta, que não só nossas células não percebem, como danifica elas (mesmo assim alguns insetos como as abelhas podem “ver” no ultravioleta). Acima dos 700nm temos o infra-vermelho, que nós percebemos como “calor”.

Quando vemos um objeto, como a camisa de um time, de uma determinada “cor”, é porque aquele objeto (o corante no tecido da camisa) “reflete” as ondas eletromagnéticas daquele comprimento de onda específico, absorvendo todas as outras ondas. Se ele reflete duas ondas, temos uma cor mista, como o amarelo, que é a mistura do verde e vermelho. E que deveria ser a cor da camisa do Vasco na final da copa do Brasil!

E quando o tecido absorve TODAS as ondas eletromagnéticas visíveis? Nada chega a nossa retina. Fica um vazio… escuro… é o preto! Mas e se o tecido refletisse TODAS as ondas? E TODAS chegassem a sua retina AO MESMO TEMPO? O resultado seria… o Branco! Isso acontece porque a luz que vemos não é polarizada (isso é uma outra história) e todos os os raios de uma fonte luminosa chegam a nossa vista ao mesmo tempo, com a sobreposição das ondas de todas as cores. A chamada luz branca.

Dessa forma o Flamengo é vermelho, o Fluminense vermelho e verde, o Vasco é uma cruz vermelha e o Botafogo é uma estrela, sem nenhuma cor.

Fico com essa impressão de que era melhor continuar falando de sexo!

O que é Semelparidade?

Confesso a vocês que no texto sobre por que acabamos atraindo apenas loucos, no comentário de uma amiga bióloga inteligentíssima, apareceu uma palavra que eu nunca tinha ouvido falar: semilparidade. Como a palavra veio em um contexto meio ameaçador, eu fui obrigado a investigar e agora conto pra vocês.
Na verdade o termo correto é Semelparidade. Semel vem do latim e quer dizer “apenas uma vez”, e parare (que também vem do latim), “dar a luz”. Pros que não gostam de pensar que somos como os animais, esse é um bom motivo. Os semélparas são animais que concentram seu esforço reprodutivo em apenas uma tentativa. Acasalam e depois da deposição dos ovos, as fêmeas morrem. Resumindo, eles trepam apenas uma vez na vida. Que tristeza!

Durante a pesquisa, fiquei feliz de descobrir que somos iteróparas! A Iteroparidade (itero do latim “várias vezes”) é o termo que descreve aquelas espécies que acasalam várias vezes ao longo da vida. Essa é uma realidade para muitas espécies, principalmente de mamíferos, que são muito mais felizes. Uma coisa leva a outra e me lembrei que somos uma das únicas espécies em todo o reino animal (e vegetal também) que fazem sexo por diversão. Parece que os golfinhos são a única outra espécie. Mas qual o objetivo evolutivo do sexo por diversão?

Na maioria das espécies, o sexo é tão bom que mesmo o instinto de sobrevivência sucumbe ao desejo sexual e o acasalamento pode ocorrer mesmo em situações de risco de vida (ex: com um predador por perto). Mas o desejo sexual não é contínuo e as fêmeas não estão sempre preparadas para o sexo. A excitação feminina, dependente do hormônio testosterona, vem junto com a ovulação. É o cio (ou calore em italiano) e é um processo lento, mas que não pode ser desperdiçado. Como o macho nunca sabe quando vai encontrar uma fêmea no cio, ele tem de estar SEMPRE pronto para o sexo. Ou pelo menos em um estado basal que permita a ele se aprontar para o sexo em pouco tempo (os homens podem passar de um estado de não excitação a prontos para copula em 30s). Isso é garantido pelas altas concentrações de testosterona no corpo do homem.

Na maior parte das espécies, a excitação feminina é demonstrada de várias formas. A genitália muda de cor e de forma. Em macacos babuínos, os grandes lábios incham aumentando de tamanho e passam de uma tonalidade roxa para um vermelho vivo. Alem disso, a fêmea exala um odor particular, com substâncias químicas (os feromônios), que indicam ao macho que ela está pronta para a cópula. Se a vagina vermelha, inchada, quente e cheirosa não for suficiente para chamar atenção do cara, ela ainda faz danças e movimentos que indicam, com as mãos e gritos, que o momento é aquele e ainda indicam o “caminho” para ele.

Que felicidade seria sair à noite e saber exatamente quais fêmeas estão prontas para copular, não é mesmo rapazes? Bom, mas isso causaria um problema evolutivo para as fêmeas humanas. O fato é que o filhote humano é muito grande em relação ao corpo da fêmea (da mulher), e por isso que o parto é difícil e necessita de assistência, sem falar no número de mulheres que fenecem no parto. O auxilio precisa ser durante o parto, mas também no período de recuperação. E não só ela, mas também o filhote (que é grande, mas bobo e dependente) necessita de auxílio (em ambos os casos, por auxílio entenda-se alimento e proteção contra predadores). Quem é o escolhido para auxiliar nesse momento? O homem!

Mas por que o homem, que como nós já falamos anteriormente tem uma estratégia reprodutiva diferente da mulher, ficaria para ajudar depois de ter copulado? Não me venham com respostas culturais do tipo… por amor. O macho necessita de um argumento muuuuuuito bom para ficar ao lado da fêmea nesse momento e continuar provendo suas necessidades. E que argumento poderia ser melhor do que sexo? Nenhum, apenas MAIS sexo! Por isso, as fêmeas humanas desenvolveram evolutivamente a capacidade de ter sexo fora do período reprodutivo, apenas para manter o macho presente e feliz, a ponto de continuar suprindo suas necessidades. Claro, ela também tem prazer com isso, mas essa não era a idéia original. Vocês meninas é que acabaram aperfeiçoando o processo!

Mas para isso ser verdade, precisaríamos observar algo que parece controverso: que os machos humanos casados e com filhos fariam mais sexo que os machos humanos solteiros e sem prole. Obviamente já foram pesquisar o assunto, e os homens casados fazem sexo em média 3 vezes por semana, enquanto os solteiros fazem menos de 1 vez por semana! É um fato.

Então, da próxima vez que você invejar aquele seu amigo solteiro que ta saindo para uma tremenda noitada enquanto você vai pra casa colocar os filhos pra dormir, lembre-se que você vai trepar com certeza, já ele…

Até onde você bebe a sua cerveja?

Ontem um amigo querido perguntou, não diretamente a mim, por que algumas pessoas não jogam suas cervejas quentes fora e pedem outra mais gelada. Essa é uma pergunta complexa que de ontem pra hoje me rendeu muitos pensamentos. Lembrei na hora de um livro cosi cosi que eu li chamado “31 canções”, onde o autor se lembra com orgulho da primeira vez que ele se libertou e saiu de um show (que estava sendo ruim) pela metade, para ir no pub jogar sinuca e tomar cerveja (uma diversão no mínimo secundária já que o show era do Led Zeppelin). Lembrei de outro livro, este sim espetacular, chamado “O Zen e a arte da manutenção de motocicletas”, onde o autor separa as pessoas em dois tipos, aquelas que fazem questão de conhecer o funcionamento de suas motocicletas e realizarem elas mesmas a manutenção, e um outro tipo, que faz questão de não entender nada e que toda manutenção seja feita por um especialista (o mecânico).

Fiquei pensando se o mundo seria dividido entre as pessoas que tomam sua cerveja até o último gole (não importando se ela esquentou, por que nada pode ser desperdiçado) e outras que se recusam a tomar cerveja quente (não importando o desperdício ou o motivo do aquecimento, já que o prazer da cerveja gelada é insubstituível)?

Provavelmente sim. (Agora eu fiquei até curioso: E você, troca sua cerveja quente ou toma ela até o final?)

Assim como poderíamos fazer muitas outras classificações. O curioso, e inquietante, é que nunca conseguiríamos criar categorias sem que houvesse interseções. Somos iguais, mas somos todos diferentes. Isso me lembrou um pequeno fragmento de um filme (Kinsey – vamos falar sobre sexo) cujo personagem biólogo e estudioso de vespas (antes de mudar pra um assunto muito mais interessante, o sexo entre humanos) fala: “Depois de estudar milhares delas (vespas) sob o microscópio, ainda não consegui encontrar uma que seja idêntica à outra. Na verdade, são tão distintas, que as crias de uma geração se parecem com os pais tanto quanto uma ovelha se pareceria com uma cabra. Alguns de nós podem ficar felizes com esse fato. Considerem as implicações, se cada ser vivo é diferente de todos os outros seres vivos, então a diversidade se torna o fato irredutível da vida. Só as variações são reais, e para vê-las, simplesmente temos de abrir os olhos.

Vejam como a biologia é psicanalítica… primeiro, podemos ser incorentes por que todo mundo é! E agora, podemos ser diferentes, por que TODOS os seres vivos são! A classificação e a separação, duas etapas praticamente inerentes a todo processo de estudo e aprendizagem, servem apenas para… propósitos de estudo e aprendizagem. Para mais nada! Por que, somos todos diferentes! É um fato. Nem mesmo os clones são iguais (você não sabia?! Em breve republicarei um texto explicando isso)!

A compreensão de que TODOS os organismos da natureza são diferentes deveria ser acalentadora: Você pode ser igual a todo mundo fazendo o máximo para não ser absolutamente igual a ninguém! E podemos ir mais alem: não deixe ninguém te dizer o que você deve fazer. E já que eu hoje (hoje?) estou cheio de citações, me lembro de uma do Woody Allen: “Se alguém quiser te dizer como você deve fazer alguma coisa, ouça com atenção, concorde na hora, agradeça e depois, ignore completamente e faça do jeito que você quiser”.

Então, se você toma sua cerveja até o final, ou se você pede logo outra, o importante é que vocês possam beber juntos na mesma mesa de bar!

O que você já aprendeu com um best-seller?

Vejam que legal. Uma amiga escritora viu o VQEB e me convidou pra escrever em uma oficina literária onde ela orienta alunos de literatura e física a terem uma linguagem comum de aprendizado, a literatura. Eu então, pra não fazer feio, pensei muito no assunto e vi que ele renderia não só um texto, mas, me arrisco a dizer, uma revolução no ensino. Eis o texto que mandei para o site dela:


Enquanto os cientistas se aprofundam cada vez mais em descobertas inacessíveis ao público leigo e se sentem incapazes (acham desnecessário ou são incompetentes) para transmitir o conhecimento das suas descobertas para o público leigo, os autores de ficção estão contando histórias que transmitem essas informações de uma forma suave e divertida.

Atualmente se segue uma ordem compartimentalizada para comunicar a informação. Primeiro se publica em formato e linguagem científica, os artigos científicos; depois se divulga em linguagem para leigos, os artigos de jornais e revistas, alem de alguns programas de televisão; em terceiro na forma de manual, o material didático; e por fim, a totalmente inexplorada propaganda das descobertas científicas: o marketing científico.

Existem profissionais para cada uma dessas atividades, mas nenhum que passeie por todas elas. Os cientistas escrevem seus artigos chatíssimos e totalmente inacessíveis em revistas especializadas. Os jornalistas tentam divulgar a informação para os leigos, mas a velocidade dos meios de comunicação como jornal e televisão, impedem que a informação científica seja verificada e transmitida com cuidado requerido pelo pesquisador que gerou essa informação. A divulgação de informações científicas equivocadas por parte da imprensa tem sido motivo de atrito entre pesquisadores e jornalistas por muito tempo, e afastado a ciência dos noticiários. É verdade que muitos jornalistas, atrás do furo, acabam tratando descobertas científicas como se fossem ficção científica (ou seja, com sensacionalismo). O material didático por outro lado é sempre antiquado e de renovação lenta. E nem de longe acompanha a velocidade das novas descobertas (e viva as iniciativas como a século 21, que tentam suprir essa falha do material didático) e o marketing… acho que os publicitários nunca ouviram falar de ciência na faculdade. Nem se interessam por isso. Enquanto para os cientistas isso parece ser a forma de transmissão do conhecimento menos importante, comparada as outras. Um erro que pode estar sendo fatal.

Por que um de nós não pode preencher todos os quesitos e comunicar, de uma só vez, a informação acessível a todos os grupos? Não seria a narrativa a ferramenta que viabilizaria esse desafio? Se a narrativa e uma ferramenta importante para o ensino, então o best-seller “O Código da Vinci” deveria ser um livro didático. E é!

Em seus 4 livros, Dan Brown comunicou mais ciência e história (e para mais pessoas) do que todos os artigos científicos e livros didáticos que li no último ano. O mesmo vale para outros livros como “O enigma do 4” e “Aqueles malditos cães do Arquelau”. “O mundo de Sofia” conseguiu me ensinar mais (alguma) filosofia enquanto do que todos os livros citados pelo autor que eu tentei ler. Quem nunca aprendeu sobre lei e justiça lendo livros como “O peso da verdade”?

Tem uma lenda urbana que diz que a primeira vez que Einstein foi comunicar sua teoria da relatividade especial, ninguém entendeu. Então ele tentou simplificar um pouco e contou a estória de novo. Ninguém entendeu ainda. E ele simplificou mais e mais e mais vezes, até que, quando a platéia conseguiu entender o que era, não era mais a teoria da relatividade especial.

Como estabelecer o vínculo entre a fantasia e a realidade, para que as informações científicas não sejam incorporadas erroneamente ou super simplificadas durante a narrativa? O professor(!) vira peça fundamental nesse processo. E na ausência do professor, o computador e a Internet podem preencher a lacuna com aulas virtuais, acesso aos as fontes da informação e criando um ambiente virtual de discussão dos alunos.

Não é uma questão do aluno ser autodidata e aprender com livros de narrativa, mas do professor ensinar com esses livros. E do pesquisador “comunicar” com eles. Enquanto a TV, o cinema, o computador e a Internet bombardeiam os jovens com linguagens cada vez mais dinâmicas e interessantes, estamos apegados a um modelo de ensino fadado a… monotonia.

E nós podemos perdoar um monte de coisas, mas a chatice não é uma delas!

Posso tirar uma flor da árvore?

'Fiori di Zucchini', especiaria da cozinha PiemonteseÉ uma pergunta que comporta um simples sim ou não como resposta, mas seria um desperdício, por que há tanto para se falar sobre esse assunto.

Mas eu quero começar introduzindo uma nova pergunta: Pra que tirar a flor da árvore? É pra comer? Não deve ser, já que não são muitas as receitas com flores (mas se vocês passarem pela região do Piemonte na Itália, não deixem de provar “Fiori di zucchine”). Então deve ser pra enfeitar. E é certo arrancar a flor da árvore pra enfeitar, por exemplo, a mesa onde vamos comer as flores de abóbora?

Vou fazer outra pergunta (daqui a pouco eu chego lá no ponto que interessa). Os elefantes podem tirar flores de árvores? Ou melhor, os elefantes podem derrubar árvores inteiras quando em manada correm pela savana (ah… você achava que eles desviavam)? Sendo mais delicado, é certo que abelhas retirem o néctar das flores? É errado que cupins alterem a paisagem dos pastos construindo cupinzeiros?

Uma das questões que se esconde por trás de retirar uma flor da árvore é a existência de certo ou errado na natureza, que como eu já falei antes, não existe. O que existem são estratégias que se mostram viáveis (eficientes) ou não em longo prazo.

O homem não deveria ser nem melhor, nem pior que o elefante, ou a abelha, que não estão nem ai pra natureza. Pra eles não existe certo ou errado. Mas eles puderam, por tentativa e erro, ao longo do tempo, descobrir se uma estratégia era viável ou não. Se pensarmos em TODAS as espécies que já habitaram o planeta terra, 99,9999% já se extinguiram. É um número bastante impressionante e mostra que o homem, por mais que esteja acelerando esse processo, não muda o fato que, assim como a morte é a única certeza da vida para um organismo, a extinção é a única certeza de uma espécie. Independentemente (e inclusive) do homem.

Os eventos que consideramos danosos a natureza (radiação, contaminação, incêndios, competição) sempre foram importantes mecanismos para controlar o tamanho das populações e criar a variabilidade que, eventualmente, gerou a grande biodiversidade que encontramos hoje no planeta.

A inteligência humana ainda não foi capaz de compreender como funciona a sua consciência, mas permitiu o homem desenvolver um ego grande o suficiente para se considerar à parte da natureza. Algo do tipo “bicho é bicho, gente é gente”. O que vem do homem não é natural. Que besteira!

Essa idéia tem levado a noção de que o homem é que está destruindo a natureza. De que somos os “vilões” e que estamos “errados”. Só que julgamos esse “errado” de acordo com a moral judaico-cristã predominante no mundo ocidental. Para reparar esses “erros” criamos parques nacionais, reservas biológicas e áreas intocadas, para compensar a destruição que fazemos em todos os outros locais. No entanto, a moral judaico-cristã não se aplica a natureza! Não é muito diferente do que fazer sacrifícios aos Deuses para que um vulcão não entre em erupção. E o vulcão… insensível ao sacrifício… explode do mesmo jeito!

Ainda que o homem esteja fazendo algum estrago, se considerarmos as mudanças pelas quais o planeta passou nos últimos 3 bilhões de anos, vemos que o potencial do homem para destruir a Terra é bem menor, muito menor, extremamente menor, do que o potencial da Terra para destruir o homem. Toda a humanidade! Se você não acredita em mim, pense nos últimos tornados, ciclones, secas, enchentes, terremotos e tsunamis. Na verdade, as áreas do planeta que apresentam maior diversidade de animais e plantas não são os parques e reservas. São justamente aquelas áreas onde comunidades humanas tradicionais (índios, ribeirinhos…) coexistem com a natureza.

Retirar uma flor da árvore, para qualquer fim que seja, não é errado. E não vai causar um desequilíbrio ecológico. Então enfeite sua mesa, enfeite sua vida!

Por que a Serra é dos Órgãos?

Há muitos anos atrás, uma desavisada fez essa pergunta em meio a uma turma de futuros biólogos, um pouco chapados, deitados no gramado da sub-sede do cito parque. A mentira que escolheram para implicar com a menina (catarinense) era que os picos da montanha eram teclas de um órgão que o ‘Dedo de Deus’ (a mais famosa das formações rochosas da serra) tocava. Ontem, enquanto o Flamengo tomava uma escovada do Santa Cruz, a pergunta veio a tona e procurei no Oráculo a resposta.

De acordo com os sites consultados, a reposta pode ser resumida nesse parágrafo extraído da revista Terra: “Um pouco mais à frente, através de uma trilha secundária, chega-se ao ponto conhecido como Portais de Hércules, onde se descortinam, subitamente, os picos que revelam a origem do nome da cadeia de montanhas. Pontiagudos, e dispostos paralelamente, o Dedo de Deus, o Dedo de Nossa Senhora, o Cabeça de Peixe, o Santo Antônio, o São João, o Verruga do Frade, o Agulha do Diabo e o Garrafão parecem mesmo os majestosos tubos de um órgão de igreja.”

Com a licença de Lavoisier, “Nada se cria, tudo se copia!”

A invasão dos percevejos!

Uma das coisas que aprendemos mais duramente quando somos treinados em ciência, é que nem tudo tem explicação. Ou mesmo que tenha, algumas vezes, ela foge a nossa compreensão. Não fosse assim, não teríamos tantos mitos, deuses e folclores (que ora divertem, ora aprisionam).


Uma amiga querida me perguntou, já que eu era o biólogo, por que sua casa foi invadida por percevejos. Apesar de ser um biólogo apaixonado, que de vez em quando se espanta com o quanto às pessoas desconhecem do que é ser biólogo, o mais engraçado nesse momento seria criar uma teoria mirabolante para responder a mirabolante pergunta. De acordo com um outro amigo querido, filosofo (na verdade dono de buteco, o que é quase a mesma coisa): A versão verdadeira deve ser sempre aquela que for a mais engraçada!

No entanto, é uma situação complicada. Do ponto de vista de quem pergunta, é uma dúvida pertinente. Essa amiga viu sua casa (supostamente) invadida pelo cheiro, ovos e a presença do pestilento inseto. Do ponto de vista de quem responde, é uma questão que pode não ter fundamento por que algumas coisas simplesmente acontecem por acaso!

Essa amiga se interessou pelo assunto e foi a Internet (o Oráculo) a procura de informações. Descobriu que os percevejos são insetos do filo Arthropoda; classe Insecta e da ordem Hemíptera (a mesma dos besouros). Como insetos, possuem 3 pares de patas (ao contrário dos aracnídeos, do mesmo filo, mas de outra classe, que possuem 4 pares de patas). Os sites a assustaram, falando sobre percevejos sugadores de sangue que adoram fazer ninhos nas camas. Na verdade esses insetos são caseiros, mas de diferentes tipos. Alguns voam, outros não, e nem todos fazem ninhos nos colchões (menos ainda nos chuveirinhos higiênicos dos banheiros) e nem todos sugam sangue. A sua principal característica, o cheiro desagradável, é justamente a sua ferramenta pra espantar os outros. Por outros, leia-se, seus inimigos, competidores e predadores.

Mas o que faz com que uma casa seja invadida por percevejos? Um desequilíbrio ecológico? É a pergunta e também a resposta mais natural, mas não necessariamente a correta.

Vemos o dano que os desequilíbrios ecológicos vem causando por todo planeta: Aquecimento global, falta d’água potável, furacões e tsunamis, derretimento da calota polar, mosquitos mutantes… Mas geralmente os vemos em noticiários leigos e sensacionalistas.

A primeira coisa que temos de descobrir é se realmente ouve uma invasão de percevejos. Os ovos de muitos insetos se parecem, e podem ser confundidos. O odor característico dos percevejos pode permanecer em um ou mais cômodos da casa mesmo quando os animais, que estavam de passagem, já foram para outro local. A segunda coisa é saber se é um evento isolado. Seus vizinhos foram invadidos por percevejos? A rua? Saiu na televisão?

O mais provável é que não tenha havido desequilíbrio ecológico. A maior parte dos insetos é oportunista. Quando encontra um ambiente favorável, um nicho ecológico desocupado, sem predadores e com oferta de alimento, se instala e explora o ambiente, tentando se reproduzir rapidamente (alguns machos humanos adoram fazer o mesmo em bares!). Mas o que leva a esse nicho estar desocupado? Provavelmente nunca poderemos responder.

Apesar disso, certamente deve existir uma razão: um filho que foi passear no parque trouxe ovos ou mesmo uma fêmea grávida na roupa e, tirando a camisa na sala depois do jantar, deixou os bichinhos perto de alimento e abrigo: tudo que eles precisam pra desencadear um processo de “o ambiente está propício para novas gerações, vamos reproduzir”. Mas também pode ter sido o cachorro do irmão que veio passar o final de semana, ou um pássaro que pousou no terraço. Quem pode saber?

O acaso é uma ferramenta poderosa, mas vamos deixar pra falar dele um outro dia.

Por que mudar é tão difícil?

Foi em um programa de radio que eu ouvi um jornalista dizer, que “se nosso cérebro fosse simples o suficiente a ponto de podermos compreendê-lo, não seriamos capazes de fazê-lo!”

O reconhecimento de nossas limitações pela ciência deveria ser suficiente para preencher o vazio deixado pela angustia de termos limitações (sem precisarmos apelar pro sobrenatural). Nossa visão, por exemplo, é sensível apenas a uma faixa do espectro de radiação. Nossa audição também tem limites. Uma criança só desenvolve maturidade visual (ou seja, consegue associar formas, cores, contrastes com as informações sobre seus significados) lá pela idade de 9-10 anos. Por isso, dá próxima vez que ouvir “não acredite no que seus olhos estão vendo”, é… talvez você não deva acreditar mesmo!

Quer ver?! Então observe a figura abaixo e anote o número e o naipe das cartas do baralho na ordem em que elas aparecem.
Example

Figura 1 – São 8 cartas de baralho, que aparecem por 0,2s com intervalos de 2s entre uma e outra, alem de uma mensagem inicial.

Anotou?! Então confira: se você marcou 4 de espadas, 5 de copas, 7 de espadas, 6 de copas, 3 de espadas, 2 de copas, 5 de espadas, Ás de copas… tem alguma coisa de errado com você. Vamos ver, se você marcou 4 de copas, 5 de copas, 7 de espadas, 6 de espadas, 3 de copas, 2 de espadas, 5 de espadas e Ás de copas… têm alguma coisa de errado com você também.

Na verdade, existe, propositalmente, um erro nas cartas. O 3 e 4 de copas foram pintados de preto, e o 2 e 6 de espadas de vermelho. A maior parte das pessoas comete algum tipo de erro nesse ‘experimento’. Se você classificou as cartas no primeiro grupo, é por que sua percepção é mais influenciada pelas cores, enquanto no segundo grupo, pelas formas. Podem existir níveis intermediários de percepção entre cores e formas.

Tabela 1 – A ordem das cartas na figura 1. Na primeira coluna está a seqüência de cartas que pessoas com maior sensibilidade a cores percebem. Na coluna 2, a seqüência de cartas que pessoas com maior sensibilidade a formas percebem. Entre parênteses, a modificação que foi feita na carta para induzir o cérebro a reconhecer a incongruência.

Cor Forma
4 de espadas 4 de copas (preto)
5 de copas 5 de copas
7 de espadas 7 de espadas
6 de copas 6 de espadas (vermelho)
3 de espadas 3 de copas (preto)
2 de copas 2 de espadas (vermelho)
5 de espadas 5 de espadas
Ás de copas Ás de copas
Esse jogo faz parte de um experimento complexo, que mostra que nossa percepção dos fatos não depende apenas do fato em si, e que o reconhecimento da incongruência pelo cérebro é difícil.
De acordo com o dicionário do Aurélio, o adjetivo Incongruente significa: não acomodado; que não condiz; que não se adapta; incompatível. Nosso cérebro não consegue olhar um novo evento sem tentar relacionar ele com um evento passado. É por isso que temos tanta dificuldade para perceber esses erros. Por isso nossa dificuldade de reconhecer a incongruência. A percepção não é um ato isolado!

O seu cérebro conhece as cartas do baralho e por isso sabe que um 4 preto não pode ser de copas, então automaticamente, corrige essa informação e você vê um 4 de espadas. Ou vice versa, se a correção for feita pela forma. Pode levar muito tempo pro cérebro perceber que existe algo errado, e uma informação nova para ser avaliada.

Tá, mas e ai?! Essa característica do nosso cérebro tem profundas implicações na nossa tomada de decisões. Ainda que o processamento de informações pelo cérebro não seja tão simples, a cada momento estamos tendo que tomar decisões. Mesmo levantar de uma cadeira, dar um passo, esticar o braço… para realizar qualquer uma dessas ações, nosso cérebro tem que acionar mecanismos decisórios. Se o cérebro não se adaptasse ao ambiente, estabelecendo um conhecimento prévio desse ambiente, a quantidade de processamento de informações seria tão grande, quer ir a cozinha buscar um copo d’água terminaria por gerar uma grande dor de cabeça! Isso por que o custo do processamento e armazenamento de informações novas é alto.

Então, todos os organismos desenvolvem algum tipo de expectativa quanto ao ambiente em que eles se encontram. Para isso, ele procura maximizar as percepções relacionadas com suas necessidades, minimizar aquelas não relacionadas. Essas expectativas geram uma certa segurança, e até mesmo um certo conforto, para as nossas ações no dia-a-dia. Grande parte das pessoas necessita de uma certa constância no seu ambiente. Um tipo de “descanso de tela”, um mecanismo de ‘economia de processamento’ para o cérebro. E esse mecanismo deve ser tão importante, que quando essas expectativas são frustradas, o cérebro oferece uma dura resistência ao reconhecimento do “novo”. É por isso que vemos as cartas “diferentes” como uma das cartas que já conhecemos.

Apesar dessa resistência ao ‘novo’, o cérebro não é bobo. Se as evidências do novo são fortes, repetidas e incontestáveis, o mecanismo de processamento dessa nova informação é acionado e ela é incorporada. Durante o experimento, conforme o tempo de exposição às cartas erradas aumentava, e as pessoas tinham mais tempo para olhar (e ver) a informação ‘nova’, mais pessoas identificavam a incongruência.

No entanto, algumas pessoas precisavam olhar (ver) a carta por mais de 5 seg para poder reconhecer a incongruência, o erro. E outras, mesmo depois de olhar fixamente para a carta por vários segundos, não reconheciam o erro, apesar de terem consciência de que havia algo de errado. A incapacidade de decidir, em função do conflito entre a ‘informação estabelecida’ e a ‘informação nova’ levava algumas pessoas ao desespero!

A conclusão desse experimento é que apenas um organismo muito doente, muito motivado (para a negação), ou sem oportunidade de exercer mecanismos de verificação (que nesse caso é o de olhar tempo suficiente para a carta), resiste a uma informação nova, suportada por evidências fortes, para se apegar a uma expectativa pré-estabelecida pelo cérebro, e que acaba de ser frustrada.

Porém, e isso é importante, enquanto for possível, um organismo vai relutar na percepção do inesperado, aquelas coisas que não se encaixam no seu conjunto de eventos conhecidos, com a utilização de todos os meios disponíveis.

Thomas Kuhn disse que “As descobertas são raras porque as nossas expectativas cobrem nossa visão e obscurecem nossa percepção do mundo”. Nossa relutância ao ‘novo’ nos ajuda a ter uma vida mais confortável, mas o mundo a nossa volta muda. Quanto melhor forem nossos mecanismos de ‘verificação’ das informações novas, melhor será nossa percepção e mais rápido (e melhor) poderemos nos adaptar a ele. Mas se a relutância ao novo for mantida em detrimento das informações coletadas pelos nossos 5 sentidos (e quem quiser acreditar, no 6º, 7º…), conflito que pode levar a loucura!

Com a licença do poeta ”
Mudar é preciso”, ainda que doa.

PS: Quem quiser conhecer o experimento das cartas na integra e ler mais sobre a dificuldade de perceber a incongruência, pode ler o artigo Bruner JS & Postman L. 1949 . On the Perception of Incongruity: A Paradigm. Journal of Personality 18: 206-23. Quem não conseguir encontrar o artigo, escreve pra mim que eu mando o PDF por e-mail.

Incoerente?! Eu?!

Quantas vezes já te chamaram (ou acusaram 😉 de incoerente? Mas o que é coerência? Existe todo um ramo da estatística que lida com a tomada de decisões. Todas essas técnicas pretendem avaliar as probabilidades de você alcançar o sucesso escolhendo entre diferentes possibilidades (quem assistiu “Quero ficar com Polly”?). É assim que as companhias de seguros (e também os cassinos) ganham rios de dinheiro. No entanto, para que elas funcionem, é preciso que haja… coerência! Estatisticamente, coerência é descrita da seguinte forma: Se A é melhor do que B, e B é melhor do que C, então, obrigatoriamente, C é melhor do que A. Concordam? Aposto que sim. A maior parte de vocês deve concordar. O problema é quando saímos das ‘letrinhas’. Você pode preferir jogar bola (evento A) do que ir a praia (evento B), e preferir ir ao cinema (evento C) do que ir a praia (evento B). Então, por coerência, você deveria preferir ir ao cinema (evento C) do que jogar bola (evento A). Só que, estatisticamente, nem todos concordariam quanto a essa conclusão. Algumas pessoas, prefeririam jogar bola do que ir ao cinema (seria interessante fazer essa pesquisa pra saber exatamente o resultado entre nossos leitores). E isso seria, do ponto de vista científico, incoerente. Isso é uma exceção? Não. O fato é que o ser humano é, basicamente, incoerente!

É verdade que os problemas que enfrentamos são mais complexos do que isso simplesmente jogar bola ou ir a praia. Mas vamos manter o exemplo e complicar um pouco a situação: você prefere ir a praia se estiver sol, mas e se chover? Chovendo, deve ser melhor ir ao cinema. Mas e se você não sabe se vai chover? Melhor ir pra praia e arriscar? Ou ir ao cinema e correr o risco de perder o dia de sol, mas se divertindo sem o risco de passar frio?

Bom, agora entra em cena outra questão, a ‘propensão ao risco’. Esse fator é ainda mais variável. Principalmente por que a propensão ao risco da chance de ganhar e do premio. Em geral, quanto maior o ganho (ou melhor o premio), maior o risco que a pessoa está disposta a correr. Mas isso pode mudar se as chances de ganhar forem pequenas. A propensão ao risco varia de cultura para cultura e de pessoa para pessoa, mas se ela depende das chances, podem variar até para a mesma pessoa. Nesse caso, dependendo do risco, o premio pode deixar de ser interessante. Parece lógico? Pode (até) parecer, mas a conseqüência é a falta de coerência. E falta mesmo!

Dependendo do premio e do risco, a coerência… flutua!

Bom, e agora?! Como viver nesse mundo cheio de pessoas INCOERENTES? Não é fácil. Desde pequenos vivemos em um mundo dicotômico (dia e noite, muito e pouco, etc) e somos ensinados a escolher entre ‘certo’ ou ‘errado’. Nunca pudemos dizer: tenho 70% de certeza de que tenho a resposta certa.

A forma que o ser humano elegeu para lidar com a incerteza dos eventos foi eliminá-la, ao invés de aprender a lidar com ela. Como eliminar a incerteza é impossível (vocês já ouviram falar do principio de incerteza de Heisenberg?), agora temos de nos re-educar para lidar com ela. Mas não dá pra, depois de macaco velho, sair por ai calculando probabilidades e montando árvores decisórias pra decidir se vamos passar as férias na montanha ou na praia. O que podemos é, sabendo que os eventos são incertos e que as pessoas são incoerentes, propormos escolhas mais flexíveis (até para nós mesmos). Quanto menos você colocar uma situação entre certo ou errado, menos pressão vai colocar sob a pessoa que deve decidir. E mais fácil vai ser (deveria ser) a decisão. Não é coerência, é ciência!

PS: De acordo com diversos estudos, só um elemento consegue generalizar a coerência nos seres humanos. Dinheiro! (apostos que vocês pensaram que eu ia falar sexo!) Repita o teste do ‘se A é melhor que B e B é melhor que C, então A é melhor que C’; substituindo os eventos por quantias monetárias crescentes. Todos os participantes do teste concordarão e serão coerentes: uma quantia maior é sempre preferível a uma quantia menor.

Por que algumas mulheres (homens) só atraem homens (mulheres) malucos(as)?

Vai dizer que essa não é uma pergunta interessante? Aposto que o novo contador instalado no Blog vai disparar! Mais uma vez, não é uma pergunta pra Biólogo, mas como eu disse anteriormente, isso não importa, desde que tenha ciência por trás e que eu possa tentar falar a respeito. Não espere a solução dos seus problemas por que esse não é um site de auto-ajuda.
Cientificamente, os homens fazem parte do grupo que chamamos de estrategistas ‘r’. O ‘r’ é minúsculo mesmo e representa o valor do coeficiente de crescimento exponencial de uma população que nunca chega ao equilíbrio. Mulheres são estrategistas K, maiúsculo, e representa o valor da constante de equilíbrio de uma população quando alcança a estabilidade, em uma outra equação. Essas duas estratégias estão relacionadas com utilização de energia. Não existe estratégia certa ou errada. Existem duas formas de alcançar o sucesso reprodutivo (e evolutivo) em longo prazo. Ambas são perfeitamente viáveis (o que é mais importante que serem ‘certas’ ou ‘erradas’). Isso se não tivessem de conviver juntas!
Evolutivamente, as fêmeas acharam por bem manterem seus ovos próximos a elas, já que o custo” energético de um ovo é extremamente alto para um predador qualquer se valer dele. Acabaram por manterem seus ovos ‘dentro delas. Isso trouxe uma vantagem seríssima para as fêmeas: seus filhotes são sempre seus! Ela nunca corre o risco de cuidar de um ovo que não seja seu! O que é importantíssimo, já que o custo de manter o ovo dentro do próprio corpo e depois ainda amamentar, no caso dos mamíferos, é muito elevado.
Todo esse ‘investimento energético na gestação, fez com que as fêmeas desenvolvessem mecanismos muito seletivos para a escolha do macho. Pra gerar um filho, não poderia ser qualquer um. Tinha de ser o mais forte e com sistema imune mais eficiente. Um macho que pudesse providenciar comida e abrigo para ela e o filhote. Bom, achar um macho assim, nem era difícil, o problema era convencer ele a topar essa proposta. Basicamente a proposta é: “Me dê casa, comida e roupa lavada, por que eu juro que o filho é teu!”. Mas muitas vezes… o filho não era.

Durante um mesmo período fértil, quando o macho dava uma escapada pra buscar comida, se aparecesse outro macho, mais viril, mais forte, mais bonito ou mais resistente a doenças, a fêmea não pensava duas vezes, e dava pra ele também (de acordo com alguns cientistas, a partir desse momento começa uma ‘guerra’ entre os espermatozóides dos dois machos, dentro das trompas da fêmea. Se você quiser saber mais pode ler o livro Sperm Wars: The Science of Sex de Robin Baker).
A questão é tão séria que define promiscuidade. Apesar de muitas fêmeas humanas terem diversos parceiros ao longo da vida, elas não são promiscuas, sendo o termo reservado apenas para aquelas que tem diferentes parceiros durante o mesmo ciclo ovulatório. Ou seja: aquelas que não podem garantir quem é o pai!
Os machos para não precisarem correr o risco de acreditar em suas fêmeas, desenvolveram uma outra estratégia. Como eles efetivamente nunca teriam certeza que seus filhotes eram seus, eles resolveram investir pouca energia neles, ou melhor, em cada um deles. Produziram muitos espermatozóides, mas muitos mesmos, células pequenas, simples e que não gastassem muita energia. E jogaram com a sorte: poderia ser que uma fêmea, duas, vai lá, três se ele fosse muito ferrado, poderiam encontrar um macho mais interessante depois de terem sido fecundadas por ele. Mas mais que isso… seria difícil. Como as mulheres sabem, não tem tanto homem interessante dando sopa por ai. Bom, os machos também sabiam disso (alias, melhor que as mulheres, por isso fazem um doce de vez em quando) e por isso, resolveram espalhar seus espermatozóides pelo maior número de fêmeas possível. Só assim, estatisticamente, seus genes seriam passados adiante. De uma forma, ou de outra. E como ainda por cima eles não tem interesse em investir energia na prole que não tem certeza de ser sua, precisam fecundar um número ainda maior de fêmeas, para aumentarem suas chances de terem uma descendência.
Parece machista? Terrível? Olhe a sua volta: peixes, aves, cães e gatos… todos fazem assim, só nós queremos ser diferentes.
Agora entra o argumento óbvio: Ahh… mas nós não somos cães e gatos! Nós somos inteligentes! Mesmo os seres humanos, viveram como animais no último 1 milhão de anos. Apenas nós últimos 4-5 mil anos, começamos a nos civilizar(?). Acreditem em mim, isso não é tempo suficiente pra seleção natural agir e mudar nossa biologia.
A natureza criou as mulheres exigentes e os homens descompromissados. As fêmeas exigem qualidade e prometem fidelidade, mas… traem! Os homens… bem, os homens só traem mesmo!
Não somos malucos, mas temos regras sociais que ditam uma coisa e hormônios que exigem outra. Uma equação difícil de resolver. Somos a primeira espécie que tenta apaziguar uma guerra evolutiva entre os sexos que dura milhões de anos. E estamos pagando o preço.
Mas isso não serve de desculpa para ninguém. Temos mesmo a inteligência e a cultura, e devemos fazer uso delas. Mas se resolvermos fechar os olhos para as questões biológicas (e abrirmos muito eles para os contos de fadas), corremos o risco, simplesmente de morrer tentando. Ou pior ainda, de não trepar!

PS: Pra quem estiver mais curioso sobre os aspectos científicos do sexo e dos relacionamentos, não deixe de ler o impagável “Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor” de Allan e Bárbara Pease. E pra quem estiver muito interessado mesmo nas questões biológicas mais intrigantes (Por que as mulheres mestruam? Por que os homens não amamentam?) podem tentar ler (por que é meio chato, apesar de super interessante) “Why sex is fun?” de Jared Diamond.

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