Diário de um Biólogo – 5a feira 03/05/07


A Rê pediu pra eu levar ela até Far(away)manguinhos. O carro dela ainda não está pronto e lá fomos nós. Paramos pra tomar café na loja do posto, o que já está virando mania. Veja que não é qualquer posto e está é a mania. Acho que vou ficar cheio de manias quando ficar velho. Depois seguimos pela linha amarela enquanto apreciávamos o congestionamento que eu ia pegar pra voltar. O amor é lindo!

Chegando no fundão eu gastei uma grana em um drive externo para o computador do lab. Cansei de apurrinhação com os backups. Pelo menos em disco eu não vou mais ter problema de espaço. Depois passei o resto do dia preparando e corrigindo poster. Lembrei do tempo em que, depois de terminar o mestrado e antes de entrar no doutorado (e até mesmo um pouco depois) fazia um extra diagramando posters que meu pai imprimia na TecImagem. Eu era bom! Queria ter mais coisas para contar nesse último dia de diário, mas o dia passou e quando eu ví, já era hora de ir embora e nem tinha começado a fazer a aula de ecologia.

Fui tomar um chopp no Belmonte com alguns amigos da Rê mas não fiquei até tarde porque 100 páginas de “Dinâmica de Populações” me esperavam antes da aula as 8 da manhã do dia seguinte.

Preciso me organizar melhor. Preciso realmente voltar a fazer exercícios.

Diário de um Biólogo – 4a feira 02/05/07

Odeio acordar cedo!

Chego no Fundão pra dar aula de Fisiologia Cárdio-Vascular pro curso de Odontologia. Meia duzia de gatos pingados na sala. Poderia dizer que ainda não tinham voltado do feriado, mas na semana anterior tinha sido a mesma coisa. Pior pra eles! Todo mundo se salva em fisiologia porque tiram nota boa em Cárdio. Não tem mistério. Eu e Célio não somos médicos mas sabemos fisiologia, por isso a gente ensina fisiologia e não clínica. Sabemos o que ensinamos e sabemos o que queremos avaliar se eles aprenderam. A prova não tem pegadinha. Sabe-sabe, não sabe-não tem muito como enrolar, a gente percebe na 2a linha. Depois do intervalo tem ainda menos gente na turma. Uma, duas piadinhas… ninguém nem ri. Falo da vazão do coração… ninguém se impressiona. Depois do intervalo tem menos gente ainda. Uma tristeza.

Volto pra minha sala e a quantidade de papel na minha mesa me assusta. Acendo a tela do computador e pipocam vários Post-it eletrônicos com milhares de coisas pra fazer. Fico mais assustado ainda. As coisas estão se acumulando: textos pra ler, artigos pra escrever, coisas pra fazer. Não consigo fazer tudo que eu quero. Eu sei que todo mundo tem esse problema, mas eu gosto de planejar o que eu consigo fazer e FAZER! então pra mim esse é um problema maior que para os outros.

A Silvia veio apresentar uma palestra sobre o trabalho dela na UENF. O títluo parecia chato mas a palestra foi interessante. Vários dinoflagelados (algas que causam a mará vermelha) tóxicos estão presentes ao longo de toda costa do Rio de Janeiro (e do Brasil). Fico pensando se os bichos (eu sei, algas não são bichos) vieram por água de lastro, como espécies invasoras, mas a Silvia acha que eles sempre estiveram aqui, só que ninguém procurou antes. Ainda penso na questão da biotransformação das toxinas pelos peixes, diminuindo a toxicidade (tenho que escrever sobre os P450 um dia). Isso é relativamente inédito e eu gostaria de saber como funciona nos moluscos bivalves.

Volto pra minha sala pra passar o resto da tarde perdido entre os papeis. Consigo discutir um pouco do poster do Rodrigo e, sem saber por onde começar, paro e vou almoçar. Encontro a Silvia e a Gisela almoçando. Fico pensando se faço picuinha por causa da Sala de aquários na Biomar mas deixo pra lá. Algumas fofocas sobre o povo de Rio Grande depois vamos pagar e voltar para o sub-solo. Os representantes da Labiocenter aparecem pra tentar resolver a questão da centrifuga. O fabricante colocou o chip errado e ela funciona no mássimo por 300 s. Fala sério, ninguém merece ter que ficar resolvendo essas porras. Preciso de uma secretária!!!

Decido mexer no artigo para o congresso. Procuro no diretório onde ele deveria estar mas não está. Quando procurei em casa jurava que estava no computador aqui do lab. Agora que estou no lab vejo que realmente está no computador de casa. Um dia ainda vão inventar uma rede como diretórios virtuais acessíveis fácil e rapidamente de qualquer lugar. Olho no relógio doido para ir embora, mas ainda tem análise hoje.

Fui pra Sara e depois peguei a Rê na Estácio em copa. Comemos em um Japa em Botafogo mas sem nenhum atrativo especial. nem mesmo o preço. Precisamos comer mais em casa.

Chego em casa e não consigo produzir direito também. Pelo menos a casa está limpa. A Denise (minha nova faxineira) foi um achado! Preciso liberar espaço no computador mas o gravador de DVD não funciona. Passo horas procurando na Internet o motivo e descubro, totalmente por sorte, que depois de intalar o iTunes o Windows XP para de reconhecer o gravador de DVD como tal, reconhecendo apenas como gravado de CD.

Ah, não!!!! Entro no site do curso a distância da UAB e tem um motim estabelecido. Corto cabeças pra lá e pra cá. Estou esgotado. Duplamente, porque produzi muito pouco. Melhor ir dormir. Amanhã tem que acordar cedo. E eu ODEIO acordar cedo!

Diário de um Biólogo – 3a feira 01/05/07


Acordei com dor nas costas e preguiça de ir a praia. A Rê foi e eu fiquei em casa escrevendo um monte de textos pro blog. Terminei de ler a tese do Rodrigo e comecei a ler aulas novas do curso da UAB. São tantas coisas que tenho de preparar até o dia do congresso (Domingo) que não sei como vou fazer. Mas sei que eu sempre faço!

É dia do trabalho e vai ter show de graça na praia. Nada mais carioca do que show de graça em Copacabana. Quando voltei pro Brasil ia em todos eles, qualquer que fosse, só pra injetar carioquice na veia.

Almoçamos um monte de salada com a truta defumada que compramos ontem e cerveja Original que eu encontrei no supermercado e fomos pro show da Daniela Mercury. Eu sempre a achei melhor que a Ivete, ainda que eu ADORE a Ivete. Mas o show, como os últimos dela que eu vi, foi chatinho. Valeu pela Margareth Menezes.

Voltamos de metrô. Lar-Doce-L… Apagamos antes de terminar a frase.

Diário de um Biólogo – 2a feira 30/04/07


Adoro a tecnologia! Quando já estava me desesperando por ter de ir até Friburgo pra sacar dinheiro e voltar a Lumiar para pagar a pousada que não aceitava cartão, descobri que podia fazer uma transferência entre contas pelo celular no site WAP do BB. Adoro a tecnologia!

No caminho de volta (dessa vez o caminho certo) fomos obrigados a parar em um lugar que anunciava: Orgasmos degustativos! Degustação de orgasmos seria melhor, mas a parada valeu a pena e compramos truta e um monte de outras coisas defumadas.

Chegando no Rio, fizemos compras na Cobal de Botafogo e almoçamos no Zé. A preguiça de Lumiar não largou a gente e deve ter sido duro pra Rê ter de ir dar aula a noite. Eu mal dei conta de desarrumar a mala, mas preparei Pesto Genovês que comemos com uma garrafa de Porca de Murça. Ainda dei uma olhada no curso de capacitação da UAB antes de dormir, mas parece que o povo todo estava de preguiça no feriado: “Nenhuma atividade desde o seu último login“.

Fomos dormir sem lareira, mas com o coração aquecido.

Diário de um Biólogo – Domingo 29/04/07

Quando acordamos a lenha da lareira tinha queimado toda. Enquanto tomava café terminei de dar uma lida na tese do Rodrigo. Está bem escrita, mas tem algumas informações demais e outras de menos. Não cita nenhum trabalho do Viarengo ou do Dondero, fala de um monte de metalotioneínas de outros bichos que interessam menos e pouco das ostras, nosso objeto de estudo. Alem disso se ateve aos efeitos toxicológicos e esqueceu completamente a geoquímica, que é o curso dele. Vai ter que reescrever muita coisa. Eu sou muito crítico com a escrita dos outros, mas sou muito crítico com a minha também.

Fomos caminha pelo Rio Macaé até o Poço do Giannini. O lugar é muito legal, uma piscina natural enorme, mais bonito que o Rio Preto em Mauá. Duas cenas aconteceram: primeiro um casal apaixonado discutiam a relação abraçados, em cima de uma pedra, no meio do rio, onde certamente cabia apenas um deles. Na outra, bizarra, outro casal a margem do rio se assustou com o barulho que fizemos na picada e sairam correndo pelados para se esconderem atrás das árvores. Pareciam dois ETs, daqueles com braços e pernas desproporcionalmente maiores que o tronco, correndo por cima das pedras; brancos e totalmente desengonçados.

Almoçamos porcarias enquanto o Botafogo da Rê concedia o empate ao Flamengo e depois subimos pra ver a festa em Bocaína. No caminho paramos pra tomar um café em São Pedro da Serra, que é certamente mais bonitinha que Lumiar. Como o mundo é do tamanho de um Ovo Kinder, na mesa ao lado encontrei meu chefe (Olaf Malm) com a família. Algumas lojinhas e ateliês depois seguimos estrada e chegamos na festa. Não tinham mais que 3 barraquinhas de cachorro quente e um disco de forró tocando enquanto as pessoas esperavam pelo Bingo (cujo prêmio principal era um liquidificador). Mas o forró era pé-de-serra e paramos a pista dançando juntinho. Quanto tempo que a gente não dançava. Na volta paramos de novo em São Pedro da Serra pra tomar caldo de Truta.

Assistimos “As idades de Lulu” do Bigas Lunas enquanto a lareira esquentava o quarto. A lenha ia queimar de novo antes do dia seguinte chegar.

Diário de um Biólogo – Sábado 28/04/07


Acordei fui com a Rê até Farmanguinhos levar o carro dela ao mecânico, com um pit-stop pra conhecer a sala dela. Vendo um lugar com infra-estrutura adequada ao trabalho, segurança, limpeza e organização, fiquei deprimido com a situação da universidade. Cada vez mais tenho certeza que não são os míseros recursos do CNPq, da CAPES, do MCT e do MEC que vão tirar os pesquisadores brasileiros do sufoco. No mundo inteiro as universidades e institutos de pesquisa estão buscando fontes alternativas de financiamento, porque aqui os dirigentes de instituições de pesquisa são tão resistentes?

Enquanto pegávamos a estrada pra Lumiar, ela foi lendo o texto da revista Piauí onde estva publicado o diário de uma Ghost Writer que inspirou o diário que os alunos do curso de poesia para físicos estão escrevendo (este aqui!). Enquanto eu me perdia na estrada ficamos conversando sobre a questão legal envolvendo a definição de vida que foi levantada no Tribunal Superior Federal na semana anterior. Eu estava apavorado com qual interpretação os ministros poderiam dar a um tema sobre o qual não existe consenso científico. A vida começa com a fecundação, mas ela é significativa antes do aparecimento de um sistema nervoso? E a vida das células (óvulo e espermatozóide) antes da fecundação? É relevante? Falamos sobre os diferentes direitos da personalidade (que diferencia os direitos de um feto no útero dos de uma pessoa depois que sai da barriga da mãe) até resolvermos parar na sub-sede do parque nacional da serra dos Órgãos. Eu já estava completamente fora da estrada pra Friburgo mesmo e o Poço Verde valia a parada.

À noite, enquanto tomávamos uma garrafa de um assemblage Sul Africano na pracinha de Lumiar e comíamos escondidinho de truta defumada, ficamos falando sobre nossos ambientes de trabalho e a delicada relação com as decisões políticas que, muitas vezes, inibem o progresso da ciência ou da justiça. Cheguei a conclusão que com falta de verba, de um chefe que seja chefe e de uma justiça que seja justa não dá pra fazer nenhum bom trabalho.

Diário de um Biólogo – 6a feira 27/04/07

Acordei e fui pro curso de “poesia para físicos” na UFF. É impressionante como por mais que eu acorde com tempo suficiente para fazer tudo acabo saindo atrasado de casa. Quando a Sonia perguntou pra um dos alunos qual o cantor preferido dele, o cara respondeu Renato Russo; e quando ela perguntou o que ele menos gostava, foi a Ivete Sangalo. Tão previsível! Mas pelo visto mais e mais pessoas são fãs de “O Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças” (a outra pergunta que ela fez foi “qual o seu filme preferido?”).
Conforme ela foi explicando a origem do modelo narrativo, chegou a 25 Séc. atrás com Aristóteles (mimese, verossimilhança, etc). Outro dia enquanto discutíamos a importância do modelo narrativo eu coloquei que o “modelo biológico” era ainda mais atigo, tinha milhões de anos! Na verdade era uma brincadeira pra mostrar que a seleção natural é muito mais eficiente em selecionar mecanismos viáveis a longo prazo do que a seleção artificial praticada pelos humanos. Na aula ela me perguntou novamente quanto o modelo biológico seria antigo e eu comecei a divagar sobre as coisas que tinha aprendido na faculdade: basicamente que o homem pode desenvolver seu aparelho vocal (e começar a falar) depois que assumiu a postura bípede, manipulando coisas com as mãos e liberando a boca para outras coisas. Isso pode ter acontecido há 2 milhões de anos atrás. Vou escrever um texto daqui a pouco sobre isso.

Depois de uma reunião complexa na UFF pra preparar a atividade final do curso da UAB o mundo resolveu desabar e tive que adiar a viagem pra Lumiar. Em compensação fui jantar com a Rê no Aprazível. A garrafa de Cabernet Sauvignon do vale do São Francisco foi uma péssima escolha (mas com os preços incalculáveis da carta de vinho, justificável), mas o medalhão com batata aprazível e o peixe grelhado com arroz de côco… A comida estava expetacular (com sotaque carioca).

Meu diário

O Blog vai ter uma semana ativa. No curso de leitura a professora pediu para escrevermos um diário. Então, até a próxima sexta-feira; 04/05, vou escrever um texto por dia com o acontecimento científico/educacional mais relevante da jornada. Não percam nenhum capítulo!

Falei pra vocês que estou aprendendo a ler?

Estou participando de um projeto de qualificação de leitura e estudo do modelo narrativo para escrever, pensar e pesquisar melhor. Parece que aprendemos a nos comunicar contando histórias (narrativas) e depois que entramos pra escola, a pasteurização faz com que a gente perca esse modelo de organizar as idéias. É impressionante como muitas vezes, quando lemos, nossa inteligência nos deixa mais burros. Olhar o que está por trás do texto, quando o texto mesmo já nos diz tanta coisa. E que está lá, não precisa ser deduzida. Essa é uma qualidade importantíssima para um cientista. Eu quero olhar para os meus dados, para a natureza, e ver o que está lá. Nem mais, nem menos. Isso quando eu olhar. Claro que quando estiver pensando a respeito, formulando hipóteses, discutindo cenários, quero ser criatívo, esperto e corajoso. Mas para que minha interpretação seja correta, tenho que ter uma premissa boa. Correta. E isso, é o que o texto me diz. Nem mais nem menos. Como eu ouvi hoje, antes é cedo e depois… depois é tarde! Se ouvir uma história pode ser divertido, contar história também pode virar um brinquedo, um jogo. Que ensina a escrever e que eu quero aprender a jogar.

PS: Essa é minha professora.

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