Sobre como calculei a CL50 usando o 'Statistica'

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O calvário da biologia é a estatística.
Pra ser um bom biólogo, pra ser um bom cientista, você tem que saber estatística. E quanto mais, melhor. Só que… estatística é difícil! Bom, pelo menos pra mim.
Mesmo os conceitos mais básico, como ‘erro do tipo I e erro do tipo II’, ou de ‘normalidade’ sobre os quais eu até já escrevi, eu acho difíceis, e cada vez que necessito, tenho que pensar longamente sobre eles antes de ajustá-los as minhas observações.
E tem a matemática… sem ela, sua estatística vai ser muito limitada. Já vai ajudar, mas será insuficiente.
Mas, vocês sabem, eu sou um cara teimoso, e não me dou por vencido facilmente. Isso explica porquê eu passei a última semana, uma semana cheia de trabalho, gastando, todos os dias, várias horas, pra resolver um problema de estatística. Fiquei tão orgulhoso do resultado final que vou descrevê-lo aqui. Vai que alguém precisa?!
Bom, tudo começou quando eu estava revisando um artigo e descobri umas inconsistências nos resultados de uns testes de toxicidade. Os testes de toxicidade são bastante simples: a gente aplica a substância no indivíduo (em vários indivíduos, que não são pessoas mas mexilhões) e observa o efeito. Que, eventualmente, é a morte. Como aplicamos várias doses da substância, que nesse caso eram diferentes compostos de cloro, a gente pode calcular uma curva de dose-resposta, que, como o próprio nome diz, mostra o quanto o aumento do efeito em resposta ao aumento da dose. Certo?! Mais ou menos, porque a relação não é linear. Acontece que em doses pequenas da substância, o organismo não apresenta efeito algum, e em doses superiores àquela que matou todos os indivíduos expostos, o efeito se mantém (claro, não dá pra ter efeito maior do que todo mundo morto). Por isso é uma curva sigmoidal, aquela que se parece com um ‘S’. Resta a parte do meio dessa curva, que é o que nos interessa, porque nela a relação entre a dose e a resposta é linear. E por que isso é importante? Basicamente, porque o que é linear é mais fácil de calcular e de fazer previsões com base nesses cálculos.
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Mas o que a gente faz com a perninha inicial e a final do ‘S’, (ou, no jargão, a fase LAG e a fase LOG da curva sigmoidal)? Ignora? Deixa pra lá? Isso não é muito científico, então os cientistas resolveram apelar pra estatística e usaram uma ferramenta criada por um cidadão chamado Bliss, em 1934: a transformação em Probitos.
E o que vem a ser isso? Vamos lá, do começo. Os resultados de testes de toxicidade que medem mortalidade tem um agravante: medem mortalidade. Quer dizer, medem uma variável que é categórica e não contínua: vivo/morto.
Abre parênteses: esses são os dois únicos conceitos estatísticos que eu considero simples. Variáveis contínuas são aquelas que podem ser medidas em uma escala (como de 0 a 10, por exemplo, altura e peso) e categóricas são aquelas que dividem em classes (uma ou mais, como por exemplo sexo, cor dos olhos e também mortalidade. Fecha parênteses.
E com uma variável categórica da pra fazer bem menos coisas do que com uma contínua. Por exemplo, se a morte fosse uma variável contínua, como a pressão sanguínea, então eu poderia avaliar a efeitos intermediários. Quase vivo e quase morto, que são informações importantes. Será que aquele indivíduo que recebeu uma dose muito alta mas sobreviveu estava mais próximo de morrer ou estava vivinho da silva? Com uma variável discreta e binomial como a morte não dá pra eu responder isso. Pelo menos não sem estatística. E é ai que entra a transformação em probitos. Vamos imaginar que existe uma outra variável associada a morte, mas anterior, subjascente, a ela: a ‘quase morte’. A ‘quase morte’ é uma variável contínua e pode ser medida em uma escala que vai de ‘vivinho da silva’ até ‘mortinho da breca’, passando por todos os possíveis estágios intermediários. Qual é posição nessa escala de probabilidade, dadas as condições e os resultados do meu teste, um indivíduo que morreu na concentração 1? e na 2? e na 10?
É isso que a transformação de probitos me dá. A posição da minha variável discreta (qualitativa) na variável imaginária, subjascente, contínua (quantitativa). Ou pelo menos foi isso que eu conclui depois de uma semana debruçado sobre ela. A melhor explicação veio, como sempre, do livro eletrônico de estatística da Statsoft, que eu uso há muito tempo, e que continua sendo o único que me permite entender os conceitos. Talvez porque não venha com todos aqueles p, z, f etc.
O problema está resolvido e com a minha ‘variável contínua’ eu posso calcular a concentração de substância que afetaria 50% da população de animais expostos: A CE50 (que vira CL50 se o efeito em questão for letal). Vou deixar a discussão da validade da CL50 para outro momento, porque ela é longa, mas como é exigida para a publicação, não importa muito nesse momento.
Bom, o problema conceitual está resolvido, mas fazer o cálculo de probitos e estimar a CL50 não é nem um pouco trivial. A agência de proteção ambiental americana criou, muitos e muitos anos atrás, um software que calculava a CL50, mas que não evoluiu e continua em DOS. Gente… o DOS foi muito bom quando apareceu, mas atualmente… que descanse em paz! Qualquer erro de digitação tinha que repetir tudo. E usando MAC que nem eu… o transtorno é maior ainda. Além disso, o TKS não me deixava entrar todas as réplicas, técnicas ou biológicas, pedindo que eu agrupasse os dados para cada concentração. E abrir mão das minhas réplicas? Que deram tanto, mas tanto trabalho? De jeito nenhum!
Abre parênteses: O problema, posso dizer agora, não era só a falta de jeito de um software em DOS. Era que me faltava a compreensão real do que era a tal da transformação. Fecha parênteses.
Tinha de haver uma maneira de fazer isso em um pacote estatístico mais moderno, e eu transformei a tarefa de encontrar essa maneira na minha cruzada dessa semana. Não era possível que a única forma de calcular CL50 fosse com o famigerado TKS ou com o lamentável ‘probit’ (ambos em DOS). Escrevi para meus amigos que trabalham com ecotoxicologia e fazem testes de toxicidade para um monte de empresas, mas todos eles ainda usam o TKS. Não são pessoas doentes que nem eu, e estão plenamente satisfeitas com o DOS delas. Pra que mexer em time que está ganhando?
Sentei na cadeira, abri o meu emulador de Windows, abri o meu pacote preferido, o Statistica e me preparei pra batalha. Primeiro eu queria um botão ou uma expressão que me desse: ‘transformar a coluna 1 em probitos’. Mas não era tão simples assim. A probabilidade com base nessa ‘variável subjascente’ (a ‘quase morte’) só pode ser estimada com base na comparação entre número de vivos e número de mortos em cada concentração. Quando eu consegui achar a janela para a regressão por probitos, não conseguia entender que tantas variáveis eram aquelas que ele pedia. Enfim… como eu disse, foi uma semana de quebra-cabeça.
Mas enfim eu consegui. Calculei a CL50 dos experimentos no Statistica. Fiquei com tanto medo de não conseguir repetir o procedimento depois de dar certo a primeira vez, que tirei fotos da tela e montei um tutorial para mim mesmo (eu sei que daqui a meses ou anos quando tiver que fazer isso de novo, vou precisar rever toooooodos esses conceitos), que eu achei que poderia ser útil, pelo menos para meus amigos que ainda usam o TKS, e disponibilizo aqui: VQEB_tutorial_LC50_prob_stat_2011-Comments.
Update. Esse post deu origem a um trabalho com o epidemiologista Antônio Pacheco da FioCruz e foi publicado em 2013 na Marine Environmental Research

Diário de um biólogo – Quarta, 23/03/2011 – Igreja

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Me pegou de surpresa. Eu não esperava. Não tamanha cara de pau. Não ali, na sala de aula, na MINHA sala de aula.
Primeiro dia, turma nova do curso de Biofísica para Biologia, pelo qual eu tenho enorme afeição e que fiz questão de remodelar e renovar assim que assumi a coordenação. Passo duas horas tentando entreter, com cuspe e giz, uma moçada que está acostumada com iPhone e Facebook, cinema 3D e videogame. Passo duas horas intercalando histórias engraçadas do James Watson, que foi para a Inglaterra porque era tão feio e chato que não consegui arrumar namorada nos EUA (e tinham dito pra ele que lá era mais fácil, mas nem assim ele se deu bem) e acabou descobrindo a dupla-hélice do DNA; contando o esforço de caras como Schrödinger, para mostrar, como já discuti aqui, que ainda que não possamos explicar a vida com o conhecimento que possuímos hoje, não há nenhuma razão para não acreditar que ela não possa ser explicada pela física e pela química. Falo de astrobiologia, cito os filósofos gregos e as últimas teorias sobre a auto-consciência da neurobiologia. Discuto a dificuldade, como já falei aqui e aqui, para definir vida, já que o melhor que podemos fazer é enunciar seus atributos.
Termino a aula com a garganta arranhada, mas com a sala cheia e o sentimento do dever cumprido. E quando um aluno pede aos colegas que não saiam e me pede para falar, eu não poderia imaginar o que vinha pela frente. Achei que ele ia anunciar uma festa, ou o grupo de estudo para a prova de bioquímica. Que nada, ele deve ter ficado ali, fora do meu campo visual, sentado na 1a carteira da primeira fila da esquerda, para que eu não conseguisse ver suas expressões ao longo da aula. Subiu no tablado, o MEU tablado, e mandou:
“Eu tenho uma definição para a vida”
e sacou o celular para ler
“João, capítulo 14, versículo 1: Eu sou o caminho, a verdade e a vida”.
E ainda me agradeceu pela oportunidade. Mas que cara de pau!
E, como professor, o máximo que pude fazer, foi voltar e falar novamente sobre o método científico e tentar minimizar o dano. Mas que já estava feito, porque o cara foi preciso, cirúrgico. Entrou no momento certo, no final, quando podia falar o que quisesse e se mandar. Fiquei pensando se na escola de pastores eles ensinam essas coisas.
Não dá pra baixar a guarda com eles, nunca. Mas na minha igreja, não!

Em busca dos 7 lugares de pensamento

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Na semana que vem começam meus cursos na pós-graduação, além do curso de formação de professores a distância da UAB que estou ajudando a ministrar, e como uso cada vez mais a escrita na avaliação dos alunos, quis pesquisar sobre a principal ferramenta que uso para e escrever e ensinar meus alunos a escrever: os 7 lugares do pensamento, representados pelas perguntas ‘O que’, ‘Quem’, ‘Quando’, ‘Como’, ‘Onde’, ‘Por que’ e ‘Para que’. Eu aprendi sobre eles com a Sonia Rodrigues quando estava reaprendendo a ler e a escrever.
Só que separar o Joio do trigo em busca da informação acurada no Google pode ser uma saga, como eu já descrevi aqui. Dessa vez foi outra epopéia, que eu contarei aqui, junto com o que eu descobri. Vou contar ela do início. O meu início. A minha ‘trilha’ do texto (que eu agora, depois do texto terminado, admito que ficou longa, quase um artigo. Certamente mais do que um post deve ser. Por isso, resolvi avisar aqui, pra se o tempo encurtar, você não ir embora sem ler os dois últimos parágrafos).
A primeira vez que vi as 7 perguntas fora das aulas da Sonia, foi no livro ‘O Anjo Pornográfico’ do Ruy Castro, uma biografia do jornalista Nelson Rodrigues. A história começa no Recife com seu pai, o jornalista Mário Rodrigues, do ‘Jornal da República’. A história de Nelson, nesse ponto, se confunde com a história da evolução do jornalismo no Brasil. Foi lá que aprendi que as perguntas eram o ‘Lead’, uma técnica de redação, do qual eu já vou falar.
“No Brasil, durante muito tempo, jornalismo e literatura se confundiam e até a segunda metade do século XX, era considerado um subproduto das belas artes. (…) Não tinham uma técnica própria de contar história, (…) um paradigma, um modelo a seguir e os jornalistas se espelhavam na literatura, seguindo uma gama variada de estilos. (…) Além de literatos, havia no jornalismo uma certa tradição associada aos bacharéis de Direito, o que fazia do jornalismo também herdeiro de uma certa retórica ’empolada’. Logo, “os periódico brasileiros seguiam então o modelo francês de jornalismo, cuja técnica da escrita era bastante próxima da literária. Os gêneros mais valorizados eram aqueles mais livres, como a crônica e o artigo polêmico”
Essa introdução do artigo de Lígia Guimarães[1] sobre o processo de produção jornalística no Maranhão da uma boa idéia do jornalismo naquela época, do qual um dos ícones era o ‘Nariz de Cera‘:
“O ‘nariz de cera’ era o texto introdutório, longo e rebuscado, normalmente opinativo, que antecedia a narrativa dos acontecimentos e que visava ambientar ao leitor sobre os fatos que seriam narrados a seguir. Usava uma linguagem prolixa, cheia de preciosismos e pouco objetiva. Outra marca visível do padrão francês no jornalismo brasileiro era o excesso de títulos e uma ausência de lógica na hierarquia do material.”
Isso dava muita liberdade aos redatores para ‘criar’ a notícia, como relata o Ruy Castro:
“Quando chegavam antes da polícia, repórter e fotógrafo julgavam-se no direito de vasculhar as gavetas da família, surrupiar fotos cartas íntimas e róis de roupas do falecido. Os vizinhos eram ouvidos. Fofocas abundavam no quarteirão, o que permitia ao repórter abanar-se com um vasto leque de suposições. (…) De volta à redação, o repórter despejava o material na mesa do redator e este esfregava as mãos antes de exercer sobre ele os seus pendores de ficcionista.(…) Nas suas mãos [de Nelson Rodrigues], o atropelamento de uma velhinha na rua São Francisco Xávier, no bairro do Maracanã, toprnava-se uma saga digna do merlho sub-Anatole France
Era ótimo para ficção e nos deu, anos depois, “A Vida como ela é” de Nelson Rodrigues . Mas para a verdade do fato… não era tão bom assim.
Tudo isso mudou na metade do século com a introdução do ‘Lead‘. O ‘Lead‘ palavra inglesa que significa ‘guiar, conduzir‘, é o primeiro parágrafo da notícia, a abertura que deve apresentar aos leitores os principais fatos, seguindo a lógica da ‘pirâmide invertida’ (o mais importante vem primeiro).
Aqui a dificuldade da busca por informações precisas se mistura com o próprio objeto da busca: será que se as pessoas se ativessem ao fato na hora de escrever seria mais fácil encontrar a informação? Acho que sim.
Pra começar tentaram, ainda que sem muito sucesso, abrasileirar o termo para ‘lide‘, o que já te manda para algumas páginas completamente fora do escopo. Mas o grande problema mesmo é a disputa pela paternidade do ‘Lead‘ (ou lide se você preferir), como vocês podem ver nesse trecho do artigo ‘Jornalismo Narrativo’ de Felipe Gomes[2]:
“No Brasil, o ‘Lead’ foi implantado pela primeira vez na redação do jornal ‘Diário Carioca’ em 1951, e muito se acredita que pelas mãos do chefe de redação, Pompeu de Souza, considerado o ‘pai do moderno jornalismo brasileiro’. Mas, segundo Nelson Werneck Sodré, a reforma foi devida a Luís Paulistano, chefe da reportagem.”
Outros autores ainda tentam atribuir a mudança ao Jornal do Brasil, mas o texto do Ruy Castro confirma a introdução do Lead no Brasil pelo ‘Diário Carioca’:
“O Diário Carioca (…) em sua casa nova, iria promover uma revolução na imprensa brasileira, adotando a técnica americana de uniformizar os textos e implantando a novidade do ‘copy-desk’ – o redator encarregado de escoimar as matérias de verbos como, por exemplo, escoimar. Ninguém mais podia ser literato na redação, a não ser em textos assinados, e olhe lá. As reportagens do ‘Diário Carioca’ tinham de ser objetivas e, logo nas primeiras linhas, dizer quem, quando, onde, porque e como o homem mordera o cachorro. Se fosse o contrário (mesmo que atendendo as exigências das 6 perguntas) não interessava. Isso se chamava ‘Lead’ – no fundo, um simples qui, quae, quod com Ph.D em Chicago”.
O Lead não foi bem aceito por todo mundo. Ainda hoje, se peço aos meus alunos, principalmente àqueles que são professores para serem mais sucintos… os animos se inflamam e sou acusado de tudo que vocês possam imaginar.
“Na década de 50, a modernização do jornalismo brasileiro causava fortes discussões, acalentadas pela percepção de que a própria sociedade rompia com antigos padrões de cultura, política e comportamento. (…) A idéia da objetividade, que vinha agregada aos conceitos do Lead, chegava em detrimento do jornalismo em profundidade (que então crescia no Brasil). (…) A modernização do jornalismo se adequava aos processos industriais e atribuía ao passado a escrita tida como literária e desregrada, enquanto o jornalismo que se instalava procurava apresentar-se mais técnico, isento e regrado. Fortalecia a distinção entre informação e opinião.”
[2]
Mas a minha pesquisa não era sobre o ‘Lead‘ no Brasil. Não era nem mesmo sobre o Lead, mas sim sobre as 6 perguntas (que eu acredito que sejam melhor como 7, como aprendi com a Sônia, e como já discuti aqui). Ninguém sabe direito também quem inventou o ‘Lead‘ e as páginas na internet apontam em muitas direções. Um wikipedia da vida atribui ao jornalista americano Walter Lippmann na decadá de 1920-30, mas se ele foi alguma coisa, foi apenas o principal divulgador da ferramenta, já que era um árduo combatente do ‘tendenciosismo’ no jornalismo.
“O início do mito da imparcialidade, intrinsecamente arraigada ao modelo do ‘Lead’, teria raízes ainda mais distantes (…) a divisão entre informação e opinião teve início no dia 11 de maio de 1702, com o jornal inglês ‘The Daily Courant’. A primeira notícia redigida com a técnica da ‘Pirâmide Invertida’ teria aparecido no ‘The New York Times’, em abril de 1861″ diz um artigo do professor Luiz Costa Pereira Junior[3], que segue:
“o surgimento do atual modelo que impera no jornalismo impresso ocorreu durante a Guerra Civil dos Estados (1861-1865), como uma tentativa dos militares de superarem a falta de tecnologia da época. Com as dificuldades nas transmissões de dados via telégrafos, tanto entre meios de comunicação quanto nos próprios serviços militares, consolidou-se o artifício de inserir as principais informações da forma mais objetiva possível logo no topo da notícia. Naquela época, o telégrafo era a tecnologia mais utilizada para enviar informações para regiões mais distantes, mas, ainda assim, com falhas: comumente as informações chegavam incompletas ao destinatário. Nesse contexto, surgiu o paradigma da ‘Pirâmide Invertida’ e do ‘Lead’, cuja paternidade é reivindicada por norte-americanos e ingleses.”
Eu estava quase perdendo as esperanças quando encontrei a minha resposta. E não podia ser melhor. Resolvi replicar o artigo do professor Francisco Karam no Bioletim por que não achei os sites por onde encontrei o artigo dele muito confiáveis (até porque ele publicou em mais de um veículo), mas a maior parte das vezes a referência apontava para a revista mexicana Prensa. Ele diz que a origem do ‘Lead’ remonta a Roma antiga, quando Cícero, no seu livro ‘de Inventione‘ retoma idéias de retórica e oratória dos antigos gregos. Eu vou reproduzir alguns trechos aqui para encerrar a minha trilha, mas vale a pena ler o artigo completo.
“A origem do ‘Lead’ (…) não é responsabilidade exclusiva do jornalismo norte-americano ou inglês. Não surge do acaso ou por um simples arbítrio na articulação do discurso. (…) Em Roma, filósofos retomam a tradição grega da Retórica, entre eles o exímio orador Marco Túlio Cícero. Os retores, entre os quais Platão, Aristóteles e Protágoras (cerca de 400 anos antes da era cristã), na Grécia Antiga, já haviam consolidado a idéia de que o discurso deveria ser bem articulado e acessível às massas. Para que a exposição fosse completa exigia-se, no entanto, alguns elementos essenciais. Para o famoso orador romano, era preciso responder as perguntas quem? (quis/persona) o quê? (quid/factum) onde? ubi/locus) como? (quemadmodum/modus) quando?(quando/tempus) com que meios ou instrumentos (quibus adminiculis/facultas) e por quê (cur/causa). As proposições de Cícero, originadas na Retórica da Antigüidade Grega, foram paradigma da exposição de acontecimentos nos dois milênios seguintes. Em diversos momentos, ao longo de tal período, as circunstâncias do fato tiveram grande relevância na constituição de uma ética da palavra, sendo exemplarmente utilizada no discurso jurídico e na argumentação filosófica. (…) lembra que a retórica envolve o docere (transmissão de noções intelectuais), o movere (atingir os sentimentos) e o delectare (manter viva a atenção do auditório, sem se deixar dominar pelo aborrecimento, pela indiferença e pela distração). Por isso, a linguagem deve ter um caráter claramente acessível, já que se dirige não a mentes superiores, a espíritos puros, mas a homens de carne e osso, sujeitos portanto ao cansaço e ao tédio, vulneráveis a raciocínios demasiado difíceis“.
É isso, a ética da palavra. Que termo lindo! Ser ético na palavra é falar para ser compreendido, é assumir que parte importante da responsabilidade da compreensão da informação está em quem transmite a informação! É saber para quem está falando, ou então, falar para todo mundo! E para falar pra todo mundo, você tem que falar simples, falar conciso, falar objetivo. Por que? Porque assim todo mundo te entende! E ninguém desmaia de chatice.
P.S. Na minha busca, nenhum dos endereços WEB fornecidos nos documentos que encontrei funcionaram. Tive que usar o nome dos autores e trechos dos artigos para prosseguir com a busca e chegar aos originais. Por isso não coloquei os links, mas aqui vão os títulos e autores. Antes que alguém reclame, não são artigos científicos, por isso não sigo o padrão acadêmico de citação. Boa sorte na busca!
[1] Processo de Produção jornalística: do nariz de cera ao lead nos jornais de São
Luis. Lígia Guimarães, Pâmela Pinto, Reuben da Cunha Rocha Junior, Sarita Bastos Costa e Yane Botelho.
[2]Jornalismo Narrativo. Eficiência e viabilidade na mídia impressa. Felipe Sáles Gomes, Klenio Veiga da Costa e Renata Lourenço Batista.
[3] A crise e a historia da pirâmide invertida. Luiz Costa Pereira Junior.

O carnaval do século XVIII – parte 2

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(Os amantes do século XVIII brincavam de encher as camisinhas com ar para verificar o seu tamanho, resistência ou só para se divertirem)
Se o século XVIII foi o século dos libertinos como conta o livro ‘Casanova, muito além de um grande sedutor’,, com grande flexibilidade dos valores morais que regiam o sexo, assim como é o carnaval do Brasil, então a única coisa que poderia estragar a folia eram as doenças venéreas; ou DST, doenças sexualmente transmissíveis, como são conhecidas hoje.
E o remédio naquela época era o mesmo de hoje: a camisinha!
“As doenças venéreas eram o grande flagelo de um viajante como Casanova, que conhecia os detalhes da fabricação e a etiqueta do uso dos preservativos, que eram o único recurso para a proteção dos promíscuos.”
Parece que os chineses, assim como os japoneses e egípcios utilizavam envoltórios de papel de seda untados com óleo, que seriam os percussores da camisinha, inventada oficialmente pelo cirurgião Gabrielle Fallopio em 1564: uma “bainha de tecido leve (linho), embebido em ervas, feita sob medida, para proteção das doenças venéreas” denominada De Morbo Gallico”, descreve ele em seu artigo.
Foi Shakespeare quem deu o nome de ‘Luva de Vênus’, que depois passou a ser chamado de ‘casaco de montaria inglês’, que era como Casanova se referia a elas (além de ‘profilático contra ansiedade’ e ‘casaco que proporciona paz ao coração’)
Nas aventuras de Casanova, “M.M., a freira de Murano, tinha seu próprio suprimento de preservativos (…) tripa de carneiro e amarrados na ponta com fitinhas, em geral rosa, (…) [que] se tornavam maleáveis quando umedecidos com água que podiam ser usados várias vezes”.
Os de Casanova eram tão elaborados que não precisavam de lubrificação e tinham entre 15, 16 e 20 cm de comprimento por 4 até 15 cm de largura (não, não digitei errado, mas não me perguntem o que ele fazia com uma camisinha de 15 cm de largura).
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No início do século XVIII o preservativo ainda era algo chocante e degradante: “ainda que seja a única defesa que nossos libertinos têm…muitos homens reconhecem o risco de fracassar ‘com a espada na bainha’. Mas na metade do século ela era considerada “comoda, apesar de tudo”, e particularmente adaptada a ‘Terra da Felicidade’ (a vagina). Mas mesmo assim, não deveriam ser mostrados a uma dama.Se ele insinua certa reserva sobre “proporcionar felicidade… enrolado em uma pele morta”, reconhece a utilidade deles na prevenção da gravidez e também das doenças venéreas: “esses preservativos que os ingleses inventaram para colocar o belo sexo longe do medo”, “tão preciosos para uma freira que deseja sacrificar-se pelo amor”,
Aqui aparece uma outra curiosidade. Casanova também acreditava na camisinha como “de importância vital para evitar aquela ‘barriga fatal’. Uma vez chegara a propor a ele o uso de um outro contraceptivo, uma esfera de outro de 18mm que as mulheres usavam como um tipo de diafragma, mas que ele não gostou por dois motivos: eram caríssimas e impediam uma série de posições. Mas por outro lado, quando estava apaixonado, Casanova não tinha pudores em dar o ‘golpe da barriga’.
“[Ele tinha] considerado a possibilidade de se casar com Caterina. Tramou o plano de engravidá-Ia, forçando assim os pais dela a lhe concederem sua mão, junto com um dote generoso. A intenção de ambos, diz Casanova, era chegarem juntos ao orgasmo, o que se acreditava assegurar a gravidez, e tentavam isso com grande assiduidade.”
Talvez intuitivamente, mas Casanova estava correto: “o orgasmo influencia diretamente no sucesso reprodutivo da mulher, dependendo da altura em que ele ocorre” diz o prof. Robin Baker, autor do estudo “Competição de Espermatozóides Humanos: Cópula, Masturbação e Infidelidade”, publicado na Inglaterra em 1995.
“uma microcamera inserida na vagina da mulher mostram que, durante a masturbação, quando ela atinge o clímax, o seu cérvix se abre, mergulhando dentro da vagina. Esses chamados ‘movimentos em tenda’ podem acontecer várias vezes durante um simples clímax. (…) A mulher não precisa atingir o clímax durante a relação sexual para que os espermatozóides penetrem no cérvix. Mesmo sem atingir o clímax, o sêmem é coletado no topo da vagina, formando uma poça na qual mergulha o cérvix e passando espermatozóides através dele para o muco cervical. O orgasmo vai determinar quantos espermatozóides penetram no cérvix. (…) A grosso modo, a retenção de espermatozóides situa-se entre 50-90% com orgasmo e 0-50% sem orgasmo. (…) o momento que a mulher identifica subjetivamente como orgasmo, é apenas o início de uma série de acontecimentos no útero e no cérvix, os quais ela não consegue perceber, mas que se prolongam por vários minutos. O pico dessa atividade acontece 1 a 2 minutos após o clímax subjetivo. (…) Enquanto a poça seminal permanecer, um novo clímax que tenha lugar, passada uma hora, pode ainda afetar a passagem de espermatozóides através do cérvix.(…) não há qualquer diferença quanto a origem do estímulo que desencadeia o orgasmo pós-coito: pelo homem ou auto-estimulação”.

Para o autor Ian Kelly, a auto-biografia de Casanova “A minha história” fornece “um dos relatos mais plenos, sem disfarces ou desculpas de uma vida sexual, seja de sua época ou de qualquer outra. (…) Seja lá o que tenha feito Casanova dedicar tanta energia na busca de um estilo de amor segundo o gosto do século XVIII, isso não é necessariamente tão interessante quanto o seu testemunho da importância central do sexo e da sensualidade na construção da personalidade e na apreciação da vida.”

O carnaval do século XVIII – parte 1

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“Foi a grande época do carnaval veneziano, que era o mais longo e teatral de toda a europa. O uso das mascaras era obrigatório em toda a cidade, de dia e de noite.. a partir de outubro até a 4a feira de cinzas, com um breve intervalo para o Natal. Mo início do século XVIII foram acrescentados mais 15 dias ao carnaval, próximos ao dia da ascensão. (…) As máscaras emprestavam uma pretensão aceitável de anonimato, em uma cidade que unia um drama intenso a uma grande falta de privacidade pessoal. As máscaras alteram os códigos de qualquer interação humana, amarrando os significantes habituais do entendimento , da aceitação, do desdém ou da desconfiança. Nada é certo, e assim tudo parece ser permitido.”

Depois de ler ‘Casanova, muito além de um grande sedutor’, tive que repensar minha opinião sobre a mais particular das cidades do mundo. Veneza para mim sempre foi sinônimo de pombos e sujeira, diferente da imagem romântica das gôndolas que a maior parte das pessoas tem. Mas uma cidade que faz quase 6 meses de carnaval por ano? Merece todo o meu respeito.
Quem nunca ouviu falar de Casanova? Acontece que o livro foge ao clichê, não se limita as façanhas amorosas do conquistador e dá uma aula de história e psicologia. Pra começar, ele nem teve tantas mulheres assim:

“Casanova recorda ter tido experiências sexuais com muito mais do que 100 mulheres – algo entre 122 e 136, a depender de como se conta determinado grupo, e também das experiências consumadas pela metade – além de um punhado de homens. A história da sua vida sexual vai desde o dia em que perdeu a virgindade, aos 17 anos, e continua pelos outros 35 anos que abrangem suas memórias”
.
Se você acha esse número impressionante, poderá se surpreender com os números disponíveis em trabalhos científicos dessa área. Casanova era antes de tudo, e principalmente, um apaixonado:

“De todos os aspectos sensoriais de seus escritos, foi o romance o que mais o divertiu, confundiu e enervou. Para meros números, para a pornografia ou o avesso do bom gosto, deve-se procurar em outras bandas, em Sade ou nos infatigáveis lordes Lincoln e Byron”


“Uma vez mais, Casanova insiste que se tratava de amor verdadeiro, e não só de desejo: ‘Pobre de quem pensa que os prazeres de Vênus muito valem, a menos que venha de dois orações que se amam e estejam em perfeita harmonia'”

Casanova_ritratto_blog.jpgAlém das mulheres, Casanova se interessava por viagens, política, dinheiro e… comida.
“O sentido do olfato, desempenha um papel nada pequeno nos prazeres de Vênus. Para os homens [humanidade], fazer sexo é como comer, e comer é como fazer sexo: é nutrição… e da mesma forma como sempre existe um prazer diferente quando se experimenta diversos molhos [ragoûts], o mesmo acontece com o jogo do amor/orgasmo [la jouissance amoureuse]. Embora o efeito possa parecer o mesmo no início, aprende-se que toda mulher é uma experiência única”
Para a neurocientista Marília Zaluar, essa aproximação com a comida faz sentido: “Comparar as mulheres a molhos, mesmo que franceses, me parece meio grotesco. Mas pensando no ponto de vista biológico ele está coberto de razão. Ambas atividades utilizam os mesmos circuitos neuronais ligados à recompensa e ao prazer”.
Toda a sedução começava com um jantar. “M.M. serviu-lhe uma refeição, acompanhada de champanhe rosé oeil de perdrix, em pratos mantidos quentes sobre água fervente”
O detalhe é que M.M. era uma freira: “Uma religiosa (…) gostaria que o senhor a conhecesse… ela não deseja obrigá-lo a falar com ela antes de vê-la, por isso vai dar-lhe o nome de uma dama que poderá acompanhá-lo até a sala de visitas [para ser apresentado a ela]. Então, se [o senhor quiser], esta mesma religiosa lhe dará o endereço de um cassino aqui em Murano; onde poderá encontrá-la sozinha, na primeira hora da noite, na data que o senhor indicar. O senhor poderá ficar e cear com ela ou então sair um quarto de hora depois, caso tenha compromissos.”
Parece que freiras libertinas era algo comum naquela época. Os conventos de Veneza que incluíam escolas, academias de música e hospitais de internação (assim como ordens contemplativas confinadas), eram muito diferentes do conceito moderno de convento. “Essas mulheres eram primeiro lugar venezinas; em segundo, cristãs.” M.M. era uma mulher politicamente forte e seu padrinho era o embaixador da França. Que, criam, era um cardeal.
O século XVIII me pareceu, apesar das máscaras 6 meses por ano, mais honesto. O hipocrisia visava atender aos nossos instintos animais, não ao contrário (fingir não ter instintos para acatar uma vida moral e altruísta).
“O Cicisbeo, ou ‘cavaliere servente‘, na tradição dos cavaleiros medievais, cortejava uma dama de mais idade, normalmente de alta posição social. Alguns consideravam isso coma a proteção de sua honra, e dizia-se que as mulheres tratavam aqueles homens como a seus cabeleireiros: eles tinham acesso privilegiado aos seus boudoirs, aos mexericos e também a um pouco mais. Outros eram aceitos pelos maridos e pela sociedade veneziana como parceiros sexuais e românticos das mulheres envolvidas. Casanova foi criado em uma cidade onde muitas mulheres desfrutavam certa liberdade sexual, e por isso bem à frente de seu tempo. (…) uma época que deu maior ênfase à ideia da sexualidade feminina do que aquela que a sucedeu. E as mulheres de toda a Europa ficavam alertas (…) diante de um viajante veneziano como Casanova, com todo o seu saber e experiência em questões de sexo: ele seria considerado mais cortês, galante e sexualmente eficiênte do que seus pares”.

E não apenas os modernos P.A. eram permitidos, como o conceito de prostituição era, digamos, flexível.

“(A mãe de Casanova) Zanetta Farussi, uma comediante pequena, orgulhosa e de uma beleza nada convencional, segundos os críticos da época, trabalhava profissionalmente com teatro numa época em que isso significava, para uma mulher, ter uma carreira dupla. Embora nem todas as atrizes fossem prostitutas ou cortesãs, não se tinha dúvida de que as mulheres dispostas a se submeter aos olhares voyeurísticos no palco também haveriam de favorecer seu público em recintos mais íntimos, em troca de bons contratos e do nome em destaque no programa.”

Para Robin Baker, “a prostituição feminina é quase uma marca universal das sociedades humanas. Antropologicamente, só 4% das sociedas diz não a prostituiçãos. As restantes reconhecem que ela existe. É difícil, porém, mesmo nestas sociedades, estimar o número de mulheres que em alguma época da sua vida se prostituiram. As estimativas existentes (há 10 anos) apontam para menos de 1% na Grã-Bretanha no fim dos anos 80, e para 25% em Adis-Abeba, na Etiópia, em 1974. Tais estimativas, porém, não são fiáveis e pecam por defeito. Mais mulheres que essas praticaram algumas vezes a prostituição. (…) Na realidade, há vários graus de prostituição. Em princípio, é difícil traçar a linha divisória entre a tradicional prostituta que se vende por dinheiro e uma mulher comum vivendo uma relação permanente que se deixa inseminar a troco de ajudas, proteção e presentes”.
A prostituição também está disseminada por todo o mundo animal: “Para que a Borboleta macho tenha oportunidade de acasalar, tem de encontrar primeiro um exame de mosquitos, de apanhar um, de o envolver na seda das suas glândulas salivares, e depois de encontrar uma fêmea e oferecer-lhe o presente. Se encontrar, enquanto ela desenrola o presente e come o mosquito, permite que ele acasale. Quanto maior for a prenda, o mosquito, mais tempo ela leva a comer, mais tempo tem o macho para inseminar, maior é o número de espermatozóides que ele introduz, e, consequentemente, mais óvulos fertiliza. Acabada a sessão, a fêmea espera que um novo macho a venha alimentar e inseminar. Em algumas espécies as fêmeas são tão bem sucedidas como prostitutas, que nunca precisam ir a procura de alimento”.
Além de ser um modo de vida, a prostituição também é uma estratégia reprodutiva muito bem sucedida. Nenhuma outra atividade expõe a mulher a uma quantidade tão grande de espermas competidores, o que garante que o vencedor do premio da fecundação, era possuía um esperma altamente especializado para a ‘guerra’, característica que seria transmitida a todos os seus descendentes machos.
Mas quer ver o mais curioso? Faça as contas e se considerarmos os valores conservadores de que 1% da população mundial nasce de prostitutas, então precisaríamos recuar na nossa árvore genealógica em torno de 7 gerações para encontrarmos um parente que tenha sido gerado por uma delas. E isso poderia muito bem ter sido no século XVIII de Casanova.
Se a fofoca é uma estratégia de ensino, como eu publiquei no texto anterior, então o livro de Ian Kelly sobre Casanova é uma ótima oportunidade para aprender psicologia e história.

Ti-ti-ti! A fofoca como instrumento de ensino

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Quando fomos para a África capacitar professores para a produção de material didático para o ensino a distância em Moçambique, vimos que o desafio seria grande. Tirando as questões relacionadas com infraestrutura, finanças e tempo, que estavam além do nosso controle, esbarrávamos na dificuldade relacionada a(s) língua(s), que eu já relatei aqui, e com a extrema formalidade dos docentes no trato conosco, com eles próprios e com os alunos. Com aquela formalidade toda, não se faz educação a distância. Mas e como convencer eles disso?
As boas aulas que demos com a nossa informalidade, não foram suficientes e vi que precisaria de mais argumentos, científicos, para convencê-los. Então montei uma apresentação, curta, mas embasada no ótimo livro “The Red Queen“, sobre o qual eu já falei aqui. O livro fala de evolução e quando eu o li, já tinha pensado que deveria organizar algumas idéias ali em um artigo, pra que pudessem ser aplicadas na educação.
Funcionou! Eu consegui que os professores rissem contando algumas fofocas sobre o meu companheiro de quarto, que não estava presente na aula, e depois de muita discussão conseguimos que eles escrevessem com um pouco mais de informalidade.
E agora, seis meses depois, o artigo está pronto e publicado no Bioletim. Não deixem de ler, tenho certeza que vão gostar e usar o que aprenderem em sala de aula. Ou em qualquer outra situação que queiram chamar a atenção de alguém.

Soldados de Rabicho

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Será que vale a pena criticar uma coisa que aconteceu há mais de 10 anos?
Estou me preparando para escrever dois textos para alegrar os momentos de folga de vocês durante a folia e, como meu amigo Fernando Goldenberg não devolve a minha cópia de ‘Sperm Wars‘ de Robin Baker, eu fui procurar na internet as referências para a passagem do livro que eu queria usar.
Foi quando me deparei com ‘Soldados de Rabicho’ resenha do livro ‘Guerra de Esperma‘ a tradução para o português do livro de Robin Baker, publicado na Revista Veja em 1997.
A resenha é um desastre. O jornalista, Okky de Souza, mostra não só uma grande ignorância biológica, o que eu compreenderia, mas um péssimo trabalho jornalístico: tendencioso, infundado, leviano.
Além da ignorância (vários trechos da resenha estão errados, tanto na biologia quanto nos citações de trechos), eu também entendo o tendenciosismo. Esse papo de ‘não julgar’ é para quem tem o espírito elevado. Eu não acredito em espírito, mas acredito que para nós, mortais, os julgamentos são inevitáveis (já as nossas ações… essas devemos controlar). O problema é que Okky não usa nenhum fato, nada, como argumento. E não estou pedindo nem um argumento científico, só um fato cotidiano já me tranquilizaria. Suas críticas são baseadas no ‘senso comum’. Ué?! Mas se é justamente o senso comum que um livro como esse questiona?! Ao ser superficial na sua crítica, numa revista de circulação nacional, Okky provavelmente assinou a sentença de morte do livro, que hoje só pode ser encontrado em sebos (ainda existem alguns exemplares a venda no Estante Virtual), e impediu que as pessoas tivessem um ‘outro’ ponto de vista, sobre questões que estão diretamente ligadas as nossas vidas.
Valeu pra saber que o livro já tinha sido editado no Brasil.

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