Sangue bom!

Uma vez comprei no Pelourinho uma camiseta que dizia: 50% negro, 30% branco, 20% índio e 100% brasileiro. Ontem o pesquisador Sérgio Pena da UFMG colocou o carimbo de verdade(!) nela. Os jornais deram destaque a pesquisa com 120 negros (sendo 9 famosos), mostrando que metade deles têm, pelo menos, um ancestral europeu. A ginasta Daiane dos Santos, por exemplo, tem uma contribuição européia ligeiramente maior do que africana. Ano passado Ivete Sangalo e Marcos Palmeira também tiveram seu DNA analisado, mostrando que apesar dos seus 99% de descendência européia, os 0,5% de negro e 0,5% de índio fazem toda a diferença.

Em 2000, esse mesmo grupo já havia publicado um estudo parecido, mostrando que os brancos (ou caucasianos), que segundo o IBGE representam um pouco mais de 50% da população brasileira, têm sangue materno de origem indígena ou africana. Mas praticamente não existem genes negros e índios de origem paterna. Os nossos pais ancestrais são quase todos europeus.

Para fazer esses estudos, são examinados segmentos do DNA que são altamente conservados de geração para geração, ao mesmo tempo que são específicos em diferentes grupos, chamados “Marcadores genéticos”. O DNA está dentro do núcleo da célula, geralmente na sua forma desorganizada, chamada eucromatina. Quando a célula vai se dividir, então o DNA se organiza em cromossomos. Todos os seres humanos possuem 23 pares de cromossomos: 22 cromossomos autossômicos e 2 cromossomos sexuais. As mulheres possuem dois cromossomos sexuais X (portanto XX) enquanto os homens possuem um X e um Y.

Daqui poderíamos partir para vários pontos. Da mesma forma que se tirarmos uma perninha do X ele pode virar um Y, a teoria mais aceita é de que o cromossomo Y realmente se originou da perda de material do X (mais uma evidência de que ambos os sexos se originaram do sexo feminino). “Imprint Parental” que determina se é o material genético herdado da mãe ou do pai que vai determinar uma característica, é uma das muitas nuances que temos entre o nosso material genético e nossas características físicas e psicológicas. Nas mulheres, existe a teoria de que os dois cromossomos X “lutem” para determinar quem vai controlar quais características. E seria por isso que as mulheres NUNCA conseguem se decidir!

Mas para voltarmos a questão da descendência é importante lembrar que se apenas os homens possuem o cromossomo Y, então, ele passa sempre de Pai para filho (e nunca de pai para filha). Com isso, o meu cromossomo Y é praticamente identico ao do primeiro macho ancestral da minha árvore genealógica. Assim como o seu, caso você seja um “ele”, é do macho ancestral da sua árvore. O cromossomo X passa de mãe para filha, de mãe para filho e de pai para filha. Com isso, tudo vira uma bagunça e é impossível fazer um rastreamento da mãe ancestral através do X.

Mas as mulheres tem seu trunfo. Durante a fecundação, apenas a cabeça do espermatozóide que contem o DNA do macho, é utilizada para fecundar o óvulo (a cauda do sptz fica do lado de fora). Assim, o macho contribui apenas com o material genético. Todo o “aparato celular” do zigoto é feminino. Por aparato celular, podemos entender toda a maquinária bioquímica da célula: ribossomos, aparelho de golgi, retículo endoplasmático e as mitocôndrias. As mitocôndrias, todo mundo já ouviu no 2o grau, são a “usina elétrica” da célula, queimando carbono para produzir energia.

A teoria mais aceita ainda hoje é de que essas organelas eram bactérias simbiontes em um passado muito, muito remoto. E uma das evidências mais fortes para essa explicação, é o fato delas possuírem um material genético próprio: O DNA mitocondrial. Então, da mesma forma que o cromossomo Y é sempre passado de pai para filho, o DNAmt é sempre passado ao filho ou a filha pela mãe. Com isso, o meu DNA mitocondrial remonta ao da “fêmea fundadora” da minha linhagem.

É claro que com o passar do tempo, esse material genético pode sofrer mutações aleatórias, além de simplesmente perder material. Mas com sorte, os pedaços que servem para fazer as análises estão intactos.

Então se pegarmos o cromossomo Y e o DNA mitocondrial (que podem nos levar ao macho e a fêmea fundadores de nossas linhagens) e juntarmos pedaços de cromossomo Y e de mtDNA que são específicos para caucasianos, negros e ameríndios… conseguimos ótimos marcadores genéticos.

O que o estudo não fala é que nada disso interessa. Esses marcadores genéticos servem para comprovar linhagem, mas não se encontram em nenhum gene que determine características fenotípicas, características ativas. Eles se encontram no chamado DNA lixo, que compões 95% do nosso genoma e até semana passada não servia para nada (digo até semana passada porque o estudo de um brasileiro mostrou o papel de algumas dessas seqüencias na regulação da função de genes). Não comprovam inteligência, habilidade específica, capacidade imune… nada! 99,99% do DNA de um caucasiano é igual ao de um negro ou um ameríndio. O DNA de um caucasiano pode ser inclusive apresentar mais diferenças com relação ao de outro caucasiano do que de um ameríndio (ou negro). Genéticamente, o conceito de raça não existe na espécie humana!

Minha tatuagem pode fritar na ressonância magnética?


Eu tenho uma irmã loira e linda. Na verdade tenho duas irmãs e as duas são lindas, mas atualmente, só uma é loira. Minha sobrinha, essa sim, loira de verdade, é a mais linda. Mas a minha irmã, que, não deixem ninguém saber, nem é loira de verdade (mas é realmente linda), pediu para eu escrever um texto respondendo a sua pergunta, apesar de eu já tê-lo feito ao telefone. “Não, mas você tem que escrever um texto pra mim, só pra mim, sem mencionar mais ninguém. Quero uma resposta exclusiva!” Esse senso de exclusividade das mulheres ainda vai levar a humanidade à extinção!

Um belo dia desses, depois de falar horas pelo Skype com o maridão que está nas Arábias, ela estava, lá pelas 19h, assistindo House, o médico pedante, azedo e brilhante (não necessariamente nessa ordem) do Universal Channel; quando solta um grito e desmaia.

No episódio (que eu também já assisti porque fiquei viciado em House) um presidiário tem de fazer uma Ressonância Magnética. Um exame que quase todo mundo já fez. Não dói, não arde, não queima. O máximo que pode acontecer é uma claustrofobia de ficar dentro da máquina (mas atualmente já existem umas abertas). A enfermeira que acompanha o exame apenas te informa que você não pode usar nada metálico. Brincos, anéis, pulseiras, botões de calça jeans. Apesar do presidiário da TV estar só com o avental do hospital, a médica informa ele que sentira suas tatuagens queimando, e que não havia nada a fazer.

Minha irmã, linda porem louca e escandalosa, com suas 3 enormes tatuagens no corpo (uma ave do paraíso na cintura, um cavalo na nuca e uma serpente no pé) desmaiou na hora. Ela teria de fazer uma ressonância magnética dali alguns dias e… nenhum diagnóstico preciso valia a perda das tatuagens. Alguns dias depois do susto, foi que ela se tocou de perguntar: “Mas porque a ressonância fritaria as tatuagens?” A pergunta é de loira, mas o biólogo explica e responde.

Primeiro a gente tem que explicar o que é a ressonância magnética. O magnetismo é um fenômeno simples, porém pouco intuitívo. Ele tem a mesma origem da eletricidade. Cargas elétricas estáticas produzem um campo elétrico, cargas elétricas em movimento produzem um campo magnético. O As cargas elétricas dos átomos são produzidas pelos seus elétrons (a eletricidade que chega a nossas casas é quase toda transferida pelos elétrons de cobre nos fios). Uma das formas de avaliar a carga das partículas é ver como elas são influenciadas (que significa desviadas no percurso de um tubo com paredes de imãs) por campos magnéticos. E controlando o campo eletromagnético da parede do tubo, podemos controlar o comportamento dos átomos carregados. De forma oposta, quando átomos neutralizados (sem carga elétrica) são submetidos à um campo irregular deveríamos observar um comportamento aleatório. Uma nuvem de particular que migraram aleatoriamente no tubo. Mas o que se vê é que ainda existe um desvio em duas direções, sugerindo ainda a presença de cargas positivas e negativas nos átomos neutralizados. Como as cargas não poderiam vir dos elétrons, a explicação é que os núcleos se comportavam como minúsculos ímãs. Isso porque eles giram, assim como os elétrons, em torno de si mesmos. Para um lado ou para outro.

Com o tempo foram descobrindo que os núcleos dos átomos eram capazes de absorver energia de ondas de rádio por ressonância. O que é ressonância? Imagine que duas coisas estão vibrando próximas uma da outra, como cordas de um violão. Quando essas duas coisas vibram na mesma freqüência, então elas podem trocar energia através de suas vibrações. Isso é ressonância. Como os núcleos de cada elementos são diferentes, eles absorvem a energia de ondas de rádio específicas que ressonam na mesma freqüência que eles. Todos esses fenômenos, que são a base da maquina de ressonância magnética nuclear que você já freqüentou, foram observados no início do século XX.

Para gerar uma imagem por ressonância magnética, um campo magnético muito forte é utilizado para emparelhar os átomos de hidrogênio da água presente no corpo. Depois, ondas de rádio com freqüências específicas são aplicadas de diferentes direções e os muitos espectros obtidos são reunidos por um computador para formar a imagem tridimensional.

É por causa desse campo magnético super forte que não podemos utilizar nada de metal durante o exame. Influenciaria na imagem e poderia até mesmo ser atraído pelo aparelho.

Tudo bem, mas onde entra a história da tatuagem do presidiário? A resposta foi dada 5s depois do desmaio pela própria médica do seriado. Muitas tintas possuem metais pesados em sua composição. Quanto mais barata a tinta, mais chumbo, cádmio, zinco e outras porcarias ela possui. Ao que parece, as tintas de tatuagens de prisão são baratas e cheias de metais. Quando o corpo do paciente é submetido ao inofensível campo eletromagnético, o metal dentro das células começa a se agitar, querendo migrar para o aparelho. A sensação não deve ser boa.

Minha irmã loira fez suas tatuagens no Chico Tatoo, em Búzios. Não acredito que elas tenham metais pesados e acho que ela pode fazer o exame sem problemas. E ela nem teria de perguntar se tivesse assistido o episódio até o final. Mas sem Pitty… não seria ela.

Tôme ciência

Engana-se quem acha que só se faz ciência no laboratório.

Ciência se faz no butequim, em casa, na praia. Podemos fazer ciência no shopping, descansando ou praticando esporte. Se faz ciência no cinema, no restaurante e no metrô. Também fazemos ciência no desfile das escolas de samba, no alto da pedra Bonita antes do pulo de asa delta e no PAN.

Muito mais do que os laboratórios farmacêuticos, que compram ciência, nos fazemos ciência no vermelho do cheque, no roxo do sem ar e no branco de susto. Fazemos ciência em pé na bancada, sentado na sala de aula e deita dormindo em casa. As vezes meio deitado dormindo na rede no barco na expedição a Amazônia.

Os adultos fazem ciência, os idosos fazem ciência, as crianças fazem muuuuuita ciência. Os adolescentes estão muito ocupados com os hormônios para fazer ciência, mas experimentam muito dela o tempo todo. Motoristas, carpinteiros, pedreiros e, sem preconcêito, até porteiros, fazem ciência.

Tias em geral tem dificuldade para entender ciência, mas mal sabem elas que já fizeram muita ciência na vida. Os amigos preferem, em geral, tomar ciência. Principalmente se estiver bem gelada. Astrólogos cartomantes e pedagogos fazem menos ciência, mas só porque a filosofia lhes consome quase integralmente. Ainda assim, tentam legitimar suas atividades com o selo das ciências sociais, ciências ocultas e outras logias mais.

Só não faz ciência quem já morreu!

PS: Esse post pode, e será, sempre atualizado.

A pílula da imortalidade


Estou preparando a aula de amanhã e me deparo com algo que nunca tinha pensado a respeito. Ao que parece, a senescência, mais conhecida como velhice (definida ecologicamente como um aumento na mortalidade e redução da fertilidade em decorrente da deterioração das funções fisiológicas), é uma característica que evoluiu ao longo do tempo. Então a velhice é uma coisa boa, importante? Não, simplesmente porque a “seleção natural” tem pouco poder para influenciar os idosos.

Explico melhor.

Se você é jovem e pouco hábil, ou pouco adaptado, então não deve conseguir se reproduzir. Não vai deixar descendentes e aquelas características hereditárias que só você tinha vão desaparecer da população com o tempo. Se você é um sujeito bem apessoado e bem adaptado ao seu ambiente, tem mais chances de conseguir uma fêmea para deixar seus genes na ativa por mais uma geração.

Agora imagine que a longevidade (basicamente o oposto da senescência), é uma das características que uma pessoa pode apresentar. Alguns podem ter genes que favoreçam viver até 120 anos, enquanto outros apenas até 60 anos. A questão é que, apesar de muitos de nós considerarmos a possibilidade de viver até 120 anos uma coisa boa, a seleção natural, com toda a sua falta de tato e gentileza, não tem como saber disso.

Explico melhor.

De acordo com alguns autores, a partir dos 30 anos, o ser humano começa um processo de redução das suas capacidades fisiológicas, de forma linear até a idade de 80 anos. Essa perda é da ordem de 80% para a transmissão do impulso nervoso nos neurônios, 45% para a atividade dos rins e 35% para a capacidade respiratória. Um sujeito com um grande potencial longevo, ou perderia menos do que esses valores, ou perderia os mesmos valores mais devagar.

A questão é que se até os 30 anos todos eles tem as mesmas capacidades fisiológicas, então essa vantagem nunca vai se refletir em uma maior fecundidade (prole viável deixada por um indivíduo). Seja ou não um longevo, todo mundo vai ter a mesma chance de deixar prole antes de começar a perder suas funções fisiológicas após os 30 anos (meu deus… eu já vou fazer 36!).

Foi ai que me veio em mente: O Viagra é a a fonte da juventude! Com as pessoas reproduzindo mesmo depois de velhas, a seleção natural terá como agir na idade avançada. E é possível que a longevidade passe a ser selecionada. A pílula da eternidade!

Com os avanços da medicina, com a redução da natalidade em função da crise econômica mundial e se a previdência social não quebrar, é inclusive possível que os idosos tenham realmente vantagens reprodutivas sobre os jovens. Pelo menos em número 😉

É claro que existem vários problemas também. As fêmeas não tem viagra. Certo que elas não precisam, mas existe uma sugestão de que a menopausa se desenvolveu ao longo da evolução justamente para proteger as mulheres do grande risco da gravidez e do parto em idades avançadas. Acabaria existindo uma população longeva apenas de machos.

Mas se o gene da longevidade fosse transmitido de pai para filha… ai as fêmeas estariam no páreo evolutivo novamente. E sem precisar de bolinha azul!

Por que que a gente é assim?


Fico pensando da onde os humanos tiraram essa fixação pela Gentileza.

Estava agora fazendo uma avaliação do módulo II do curso de capacitação de professores da UAB e me lembrando da aula de ecologia que dei hoje para uma turma mezzo addormentata sobre os elementos que controlam o crescimento das populações. Os fatores relacionados a densidade são os principais controladores de uma população, porque quanto mais indivíduos, maior a competição entre eles. Na natureza nem sempre dá pra ser gentil. E muitas vezes ser gentíl é muito pouco útil.

O próximo módulo do curso começa com um guia de “como criticar o próximo” e dá todas as dicas para uma crítica gentil. Quanto cuidado será que é necessário para que eu aprenda mais ? Aquele de quem quer conquistar? As vezes a gente tem tempo para (e interesse em) ser conquistado, outras vezes só quer (eu só quero) é aprender. Logo!

Uma pisada de elefante não é gentil para a formiga, mas isso não quer dizer que o elefante não tenha gentileza. Ele é apenas um elefante (estou sempre tentando encontrar exemplos na fauna brasileira para escrever, mas existe algo menos gentil do que uma patada de elefante?)! Uma cobra também não pode ser gentil ao comer o rato: corre o risco de morrer de fome. Assim como um macaco que queira arrancar um fruto de uma árvore corre o risco de quebrar um galho. Falta de gentileza?! Acho que é só fome!

José Datrino, o Profeta Gentileza, deve estar se remexendo agora. Não gente, não sou contra a gentileza. Não sou a favor da grosseria. Não luto Jiu-jitsu! Só quero lembrar que se tentarmos colocar gentileza em tudo, podemos acabar passando fome! Outro dia lí um texto que dizia que “é mais importante ser gentil do que estar certo”. Imprimi e coloquei na minha parede porque acho que eu preciso aprender a ser mais gentil. Mas também lí aquele texto da filosofia canina, que diz: “Evite morder quando só um rosnado funciona”. Essa é a grande gentileza da natureza!

A gentileza faz parte do pacote de sentimentos humanos. Amor, tristeza, alegria, compaixão. Nós somos assim! Então a questão, que eu vou estudar pra responder em um outro post, é se nós somos assim porqe os sentimentos humanos é que determinam nossa humanidade, se somos assim porque temos esses sub-produtos de nossa consciência ou se ‘ser assim’ fazem parte de uma estratégia super eficiênte que nos tornou a espécie dominante no planeta?

Ainda não sei, mas também não consegui seguir as 15 regras de como fazer uma crítica com gentileza. No entanto, escrevi um texto lindo fazendo uma analogia entre avaliação de um curso e a avaliação de um vinho.

“Me dizer que o vinho contém 12% de álcool ou que foi um vinho que ‘você gostou’ não contribui para a minha seleção do próximo vinho que quero tomar. Já se você me disser que é um Chianti, praticamente todo de uva Sangiovese, envelhecido alguns anos no carvalho; eu sei que esse é um vinho que eu quero experimentar. E mais, sei que certamente vou gostar.”

Minhas críticas podem ter taninos marcantes mas se você deixar elas envelhecerem um pouco na madeira podem ter ajudar no futuro a escolher “seu próximo vinho”. Não sei se os alunos vão entender e isso me deixa em dúvida se vale a pena o esforço para bolar essa abordagem gentil. Mas se “Gentileza gera Gentileza” então eu não devo ter nada a perder. Quem quiser passar fome, que passe!

O Físico visita o Xamã

“O circulo é o universo. O ponto no centro do círculo representa o ser humano, a convergência de toda a energia do universo…”


É certo que existem muitas verdades, mas qual delas é a mais verdadeira? Eu continuo gostando das verdades baseadas em evidências, mais do que aquelas baseadas na fé. Não existe nenhuma evidência científica da lógica por detrás de um mapa astral. Absolutamente tudo é questionável.

“Mas qual premissa você questiona?”, perguntou o Xamã.
“De que o homem é o centro do universo, por exemplo!”, respondeu o Físico.
O Xamã faz uma cara de espanto e pergunta: “Mas… que outro ser existe?
O Físico pensa se espanta um pouco com a obviedade da resposta que está para dar, mas hesita por um brevíssimo momento: “Uhum… as bactérias?!?”

A longa gargalhada que se seguiu estabeleceu um consenso amigável entre duas realidades tão distintas. Estabelecemos ali os limites do nosso universo possível. O universo onde o físico e o xamã podem se encontrar.

Parênteses: Tenho pensado muito, muito nisso: como os limites, que dão idéia de restrição, podem funcionar para efetivamente te libertar. Uma vez que estabelecemos os limites que não podemos ultrapassar, tudo dentro daquele limite se torna possível. É assim em tantas, tantas coisas na vida. Um não abre uma gama imensa de possibilidades de sims. Fecha Parênteses.

Por que o cientista iria visitar o esotérico? Por que o físico iria visitar o metafísico? Por que o doutor iria visitar o Xamã? Porque abrir a mente é importante. E manter a mente aberta é fundamental. Um físico que vêm de uma família de bruxos precisa se exercitar constantemente para se manter físico. Mas, como em todo exercício, a gente corre risco de atrofiar o músculo. E eu não quero um cérebro atrofiado.

Pode ser que exista verdade por trás da astrologia. Mas se há, não é com a lógica que ela se apresenta que vamos conseguir aproveitá-la. Houve uma época em que pensava que se a lua podia mexer com os oceanos, outros astros também podiam influenciar na nossa vida. Não é só o fato de ser uma astronomia anterior a Copérnico. Toda essa coisa das 12 casas, etapas da vida… gente… tudo isso foi inventado pelo homem! A astrologia é uma grande epidemologia do ser humano. E é por isso que a astronomia se separou dela ao longo dos séculos. A primeira não sobrevivia ao exame da segunda. É o problema da epidemiologia: nem sempre (aliás, dificilmente) se consegue estabelecer a causa olhando a conseqüência.

Uma vez li sobre um experimento onde pediram a um astrólogo para fazer o mapa astral de 3 pessoas. Depois esses 3 mapas foram mostrados, juntamente com as 3 pessoas, a 100 (ou muitos) outros astrólogos, pedindo que eles identificassem a quem pertencia qual mapa. O índice de acerto foi de 30%. Ou seja… chute! Claro, o primeiro astrólogo pode ter sido o charlatão, o que prejudicaria o trabalho dos outros. Por isso seria importante fazer um segundo exame, que é: quantas vezes um mesmo astrólogo acerta? Não sei , mas algo me diz que é em torno de 50%. Chute novamente.

Não digo esse número por acaso. Uma amiga médica homeopata me pediu uma vez ajuda para fazer uma estatística da eficiência de seus tratamentos com crianças. Não cheguei nem mesmo a examinar os dados, porque só uma conversa inicial mostrava que a amostragem era tendenciosa. Se o paciente voltasse, queria dizer que o tratamento havia funcionado. Se ele não voltasse, não tínhamos como saber. Bom, isso criou um índice era de 50%, que como eu disse pra ela, a gente não tinha como avaliar. A homeopatia é outra pseudo ciência que também não consegue se apoiar em evidências científicas.

Então todos os astrólogos são picaretas? A ciência tem sido muito eficiente em rechaçar todas as tentativas de logro em massa inventadas ao longo da história. Mais ultimamente, as abduções e outros tipos de contatos com extraterrestres. É claro que a ciência erra (é feita por humanos), mas a ciência, como instituição, é muito honesta ao admitir o erro, e principalmente, a não se aventurar muito pelo desconhecido sem evidências.

Mas então como lidar com o inexplicável? Não aquilo que todo mundo acha que é inexplicável. Estou falando do que é REALMENTE inexplicável? Em um livro que li mais ou menos recentemente (Um adivinho me disse; Tiziano Terzani), um jornalista italiano viaja todo o sudeste da Asia e em cada cidade por onde passa com o seu trabalho de correspondente, visita o mais brilhante adivinho da região. Homens que lêem o futuro em cinzas de ossos, borra de café, na palma da mão. Chineses que prevêem que você ficará rico, muçulmanos que dizem que você terá muitas esposas. Um monte de charlatões, ainda que fossem charlatões que aceitassem visa, com fila de espera e consultados pelo altos escalões dos governos asiáticos. Mas ao se consultar com o astrólogo de um traficante de heroína na Birmania, ele se depara com um verdadeiro xamã. Ele dá seu nome, mas a data e hora do nascimento do traficante. O astrólogo faz uma perfeita leitura… do traficante, sem conseguir encaixar o que vê no mapa astral com a pessoa a sua frente. Parece que algumas pessoas realmente, lendo mapas ou cinzas, mãos ou datas de nascimento, conseguem algum tipo de conexão com outras pessoas.

No seu livro “O mundo assombrado pelos demônios” Carl Sagan dizia que a telepatia, em algum nível, era algo que a ciência eventualmente iria explicar. Aparentemente, existe um corpo de evidências grandes o suficiente para indicar algo nesse sentido. Nessa mesma direção, no livro “As ilusões da vida. A estranha ciência do extremamente comum”, Jay Ingran relata a série de experimentos que mostram que algumas pessoas, realmente possuem a capacidade de dizerem, a distância, se estão sendo observadas por outrem.

“Os olhos não vêem, quem vê é o cérebro”. Já ouvi essa afirmação muitas vezes e ela é completamente verdadeira (mas também já ouvi de neurocientistas a explicação de como nossa visão do mundo se organiza dentro de nossas mentes e garanto pra vocês que pode ser mais fantástico do que um jogo de Tarot). Está tudo na nossa capacidade de perceber o mundo. E essa capacidade é limitada por nossos cinco sentidos. Cinco?

É verdade que eu não conheço nenhum outro, mas durante muito tempo eu também tive dificuldade para entender como os físicos conseguiam pensar em 10, 11 dimensões (depois de muito tempo e muito esforço, comecei a conseguir entender a 4ª dimensão: o tempo). Hoje em dia consigo pelo menos assistir a um documentário da BBC sobre a Teoria das Membranas, a mais nova sensação entre os físicos para explicar o universo, e entender quase tudo. De qualquer forma não acho sadio acreditar que nossos sentidos são suficientes para percebermos o mundo como ele deve realmente ser. Alguns animais conseguem, por exemplo, enxergar comprimentos de luz no ultravioleta. Com ajuda de equipamentos especiais nós também podemos ver fenômenos de fluorescência de UV. Imagina como seria uma imagem do mundo se pudéssemos ver o UV emitido e refletido pelos objetos? Qual seri
a a ima
gem que teríamos do mundo se tivéssemos outros sentidos para captar outros tipos de energia que estão pairando pelo universo?

Um cientista não pode ser permitir fechar os olhos, ou os outros poucos sentidos que têm, para perceber a coisas que não pode explicar no. Corre o risco de perder o NOVO. Aceitar o novo pode ser difícil, mas é inevitável. E talvez por isso, é brilhante! Mas o que é esse novo que estou me dispondo aceitar?

“Há mais entre o céu e a terra do que supõe a nossa vã sabedoria” disse Shakespeare. É pouco provável que você encontre um bom xamã. No seu livro “A imortalidade” Kundera discorre sobre a limitação física do corpo humano e usa um aceno de mão como partida para mostrar que nossos gestos se repetirão inevitavelmente em outras pessoas, por uma simples limitação biológica. O lugar comum entre os humanos é mais comum do que imaginamos. Chico Buarque deveria ser o maior Xamã de todos, afinal, quem não se identificou, tantas vezes, com o que ele diz em suas canções? Chico Buarque também é um grande epidemiologista da humanidade!

Assim como encontramos médicos que são melhores ou piores epidemiologistas, você pode encontrar xamãs que sejam melhores ou piores epidemiologistas. Deixe ele desenhar o circulo dele, mas desenhe você o seu. Mas dependendo de quão bom epidemiologista você é para com você mesmo, esses caras podem realmente ser de muito pouca ajuda.

Mas, digamos que você cruze com um xamã de verdade no seu caminho. Alguém que, como o inseto que eu falei, vê com outros sensores o que nós não conseguimos ver. Nesse momento, se o coração e a mente estiverem abertos, pode ser que a gente aprenda a ver um pouco mais também, dentro do círculo de possibilidades infinitas.

Vamos afogar a Amazônia


Bom, parece que o governo tem medo do EIA-RIMA. Tanto que no dia 25/04/2007 anunciou o desmembramento do IBAMA, criando um novo instituto para cuidar apenas do licenciamento ambiental.

O órgão que fiscaliza e cuida do meio ambiente, criado por Sarney em sua gestão 85-90 cresceu em importância nos últimos 20 anos, assim como o ambiente para o país. É verdade que é atravancado como qualquer outro gigante estatal, e limitado por uma legislação que é ao mesmo nova e obsoleta (já nasceu cheia de problemas). Apesar disso, e da crescente preocupação com o ambiente em todo o mundo, Lula transforma o IBAMA no bode expiatório da sua frustrada empreitada pelo crescimento: o PAC (plano de aceleração do crescimento).

Eu dei aula muitos anos, e continuo dando, de Desenvolvimento sustentável. a primeira coisa que eu ensino é que não existe “Crescimento” Sustentável. Vivemos em um universo finito, o que se constitui em ecologia, para vários aspectos, um sistema fechado (no que tange entrada e saída de energia). Isso quer dizer que o crescimento contínuo levará, inevitavelmente, ao esgotamento dos recursos.

O primeiro recurso que irá se esgotar é a energia. Para que esse esgotamento não apareça enquanto ele for evitável, ou não for conveniente, parte importante do PAC é a construção de duas hidroelétricas no Rio Madeira: Jirau e Santo Antônio. Eu já estive em Santo Antônio (foto), acima de Porto Velho (RO) e já andei pelo Rio Madeira (vejam as fotos dessa expedição aqui). Li muuuuitos artigos de jornal antes de preparar esse texto.

É verdade que o Madeira é um dos maiores corredores de biodiversidade da amazônia, e por isso que a estória dos “bagres” serem a razão da negação da licença só mostra ingenuidade de quem faz essa acusação. Também é provavelmente verdade que o EIA está subestimando as áreas impactadas pelos lagos e pelo represamento dos rios, tanto no Brasil quanto na Bolívia e no Peru. Também é verdade que o Madeira não tem esse nome a toa: a água é cor de madeira (veja foto comigo ironizando o de caprio) por causa da grande quantidade de material em suspensão que inevitavelmente vai assorear o lago. É verdade ainda, que as audiência públicas foram insuficientes (eu tenho amigos que participaram delas) dadas a extensão da área e a importância do assunto.


Mas eu queria dizer um pouco mais do que esses muitos artigos. A idéia de um PAC é totalmente contrária a idéia de um Brasil moderno. Como podemos ter um plano de crescimento que prevê um aumento da capacidade energética da ordem de 3 MW por ano? Não há crescimento que dê conta disso! Com um plano desses estaremos sempre correndo atrás do Brasil do futuro, porque ele nunca vai chegar! Nós começamos essa corrida tarde, importamos tecnologias obsoletas, e investimos na idéia de um desenvolvimento industrial que desde os anos 50 não tem dado certo. Não vai ser agora que vai funcionar. Só pra vocês terem uma idéia, um professor da USP mostrou que 60% da energia que as duas usinas iriam produzir, e que o governo julga fundamental para que não haja risco de apagão em 2010, poderia ser obtida atualizando a capacidade (basicamente trocando as turbinas) de usinas existentes. Os outros 40% poderiam vir do melhoramento das redes de transmissão, que desperdiçam em torno de 15% da energia que transmitem.

O Brasil do futuro vai ser afogado em imensos lagos de hidroelétricas!

O Brasil moderno, mas também tradicional, deveria investir em industrias limpas, mas que também são a sua vocação: turismo e Biodiversidade. As companhias farmacêuticas sabem muito bem disso. Estima-se que apenas 30% das espécies da Amazônia são conhecidas. Por outro lado mais de 90% dos princípios ativos de medicamentos em todo o mundo vieram de vegetais. Outra grande parte de organismos marinhos (Apenas um menor percentual foi efetivamente inventado pelo homem). Ao invés do governo investir pesado em “conhecer para controlar” sua biodiversidade, fica querendo construir hidroelétrica no norte, para mandar energia para o sudeste (e centro-oeste, onde pretende construir uma siderúrgica no Pantanal).

Enquanto isso o ex-presidente da Celera Genomics, a companhia privada que sequenciou o genôma humano, corre o mundo em um iate filtrando água do mar para sequenciar o genôma de TODAS as bactérias do oceano. Mais do que desenvolvimento sustentável, é riqueza certa.

O Brasil faz tudo ao contrário e afoga a maior biodiversidade do planeta. Mas de novo, se só eu vejo isso, devo estar errado. Mas acho que não!

Quem tem medo do EIA-RIMA?

Em 2000, ainda aluno de doutorado, fui contratado por uma firma de consultoria para fazer um relatório de impacto ambiental da abertura de uma nova válvula em um duto. A área a ser desmatada era de 60 m2: Um pouco maior do que o apartamento na Tijuca onde eu morava então. Uma dessas áreas já se encontrava dentro de um terreno construido da empresa dona do duto. Mesmo assim, tivemos de fazer várias visitas ao local, reconhecer árvores exóticas do jardim da empresa, conversar com moradores em um raio de 200m etc. Quando o relatório ficou pronto, incluia muito mais do que as informações que coletamos. Era uma enorme equipe trabalhando por um fim: o licenciamento da obra!

Nesse dia recebi meu cheque pelos serviços prestados e resolvi que, salvo necessidades ulteriores, não mais trabalharia para licenciamento qualquer. A razão era simples: todo o esquema de licenciamento é furado. E certamente milhões de reais são gastos, como os milhares que foram gastos para avaliar o impacto socio-econômico-ambiental de abrir uma torneira em um cano dentro do banheiro de uma industria, a tôa.
Naquele dia andei pelo centro da cidade pensando em como deveria ser o licenciamento ambiental para que não fosse apenas rápdio, mas mais barato e eficiente. E que cumprisse seu papel: proteger o meio ambiente. Mais uma vez me debati com a minha prepotência: Como todas as pessoas, de todas as firmas de consultoria ambiental, de todos os departamentos de meio ambiente de empresas, de todos os órgãos de meio ambiente dos governos, de todos os assessores de deputados… como todas essas pessoas não percebem o que eu percebi trabalhando apenas 1 semana no assunto? Ainda que, como na questão das mudanças climáticas, isso sugira que eu estou errado, o tempo deve mostrar que eu estou certo.
Das muitas coisas que eu pensei na época para o artigo que acabei nunca escrevendo, estavam:
1o – Nem todas as obras precisam de EIA-RIMA (Estudo de Impacto Ambiental – Relatório de Impactos no Meio Ambiente).
Eu estou lendo esse livro chamado “A morte do bom senso” onde um advogado americano conta causos onde a lei atrapalha muito mais do que ajuda. Será que eu realmente preciso de um EIA pra mudar de posição as traves no campo de futebol que já está construído? Fala sério!
2o – Uma empresa que quer realizar uma obra não pode ser responsável por apresentar o estudo de impacto ambiental para aquela obra, ainda que fosse terceirizando a produção de tal estudo.
Gente, não é obvio?! Se eu quero que a obra se realize, vou contratar alguém que conte a história que eu quiser que queira ser contada. Ainda que os técnicos do IBAMA que avaliem a proposta sejam idôneos, não têm como essa pessoas saberem o que não foi dito. O IBAMA não deveria avaliar o EIA-RIMA: Ele deveria PREPARA-LO! Claro, apenas um órgão técnico, isento, idôneo, poderia preparar esse relatório. E ai então, as empresas, se quisessem, poderia contestar com seu corpo técnico ambiental, o que o órgão isento proparou.
3o – A lei ambiental precisa ser mais flexível e precisa acompanhar a evolução das técnicas de avaliação de impacto que o meio científico está desenvolvendo.
Como uma lei que pede para uma firma de consultoria fazer o que eu sei que custa caro e é desatualizado, sendo ainda, muitas vezes, simplesmente errado? Como é que vamos conseguir ter boa vontade de empresários para com, ou efetivamente proteger, o ambiente?
Estava tudo errado e eu tinha percebido em uma semana. Ou será que eu estou errado? Não sei não…

O Poderoso Chefão


Durante os dois anos que estive na Itália, trabalhei com Dr. Francesco Dondero (esq) e Dr. Aldo Viarengo (dir), que na semana passada visitaram o meu laboratório (eu estou no meio): a Unidade de Biologia Molecular Ambiental do laboratório de Radioisótopos (Instituto de Biofísica/UFRJ).

Se vocês assistiram “O Poderoso Chefão” o Francesco é o Al Pacino (um dia vai ser o Capo – o chefe), mas o Aldo é o Marlon Brando (Il Padrino). Sua influência está se se infiltrando em diferentes campos da pesquisa na itália e sua máfia de pesquisadores está levando o monitoramento ambiental na Europa a um nível mais elevado. Ele têm um monte de Ferraris e sabe pilotar elas.

Ferraris e bicicletas

Chegamos no Costão do Santinho em cima da hora. O PRIMO (Pollutant Responses in Marine Organisms) é o congresso mais importante da minha área. O SETAC (Society of Environmental Contamination and Toxicology) também pode ser muito bom, mas é grande demais e a gente fica com a sensação de que mais perdeu, do que ganhou informações. O PRIMO 14 está acontecendo pela primeira vez fora do eixo Europa/EUA e o Afonso Bainy da UFSC foi muito competente em conseguir trazê-lo pro Brasil.
Todo mundo estava lá: John Stegeman, Aldo Viarengo, Miren Cajaraville, Odd-Ketil Andersen e mais uma penca de cabeças coroadas. Editores da Aquatic Toxicology, Comparative Biochemistry and Physiology e da Marine Environmental Research. A primeira palestra foi boa. O tema era interessante, mas o Mark Hahn, coitadinho, é muito sem graça. O coquetel que se seguiu foi bom e eu fiquei cumprimentado o pessoal que eu só encontro a cada dois anos e colocando o papo em dia com meus amigos italianos.

Thiago, Rodrigo e Lia, meus alunos que foram pro evento, estavam deslumbrados, mas o JP tinha que acordar cedo no dia seguinte pra ir colocar coletores nas serras catarinenses (em São Joaquim ou perto de lá, naqueles pontos onde neva no Brasil), e quando terminou a comida (pobre é foda) a gente foi pra pousada.

Durante todo o congresso vimos poucos trabalhos realmente novos. Uma aluna do Adalto Bianchini do sul mostrou um método autoradiográfico pra identificar acúmulo de metais pesados (radioativos) nas diferentes partes do corpo de copépodos. Thiaguinho mostrou que perspicácia e persistência são mais importantes do que um monte de dinheiro para fazer um bom trabalho e finalmente, um americano criativo calculou o “custo” (em ATP) do funcionamento das proteínas PgP, que bombeiam para fora da célula um monte de porcarias. Um tempo atrás escrevi um artigo sobre como essas proteínas poderiam ser a razão pela qual os moluscos bivalves não desenvolveram um sistema ativo de biotransformação. Fiz de novo essa pergunta para o John Stegeman quando ele apresentou um novo CYP “supérfluo” em peixes. A resposta foi tortuosa, como é o assunto. Evolução de CYPs é muito interessante.

Durante as sessões de painéis, regadas a vinho e a uma caipirinha forte demais, o Rodrigo parecia uma esponja, recolhendo todas as informações que podia de todo mundo. Lia, de uma simpatia que chamou a atenção e conquistou a todos (inclusive um francesinho), também aproveitou para tirar muitas dúvidas e agora tem um monte de trabalho pela frente.

No último dia, a sessão mais cheia foi a dos Noruegueses. Foi inevitável não ficar impressionadíssimo com todos aqueles geis de proteômica (e todas aquelas loiras apresentando os géis de proteômica), que identificavam padrões de expressão de Hidrocarbonetos Poliaromáticos em Salmões e outros bichos com CENTENAS de proteínas variando. Antes da sessão terminar perguntei pro Rodrigo, que trabalha apenas com uma proteína e com geis unidimensionais, o que ele estava achando. Com uma cara assombrada ele me responde: “Eles estão dirigindo uma Ferrari e a gente uma bicicleta”. Foi a definição do congresso.


Mas um exame um pouco menos impressionado sugere outra coisa também. As loiras não sabiam exatamente dirigir a “Ferrari”. Ou seja, não sabiam exatamente o que aquelas 148 proteínas, induzidas ou repressas, realmente querem dizer. Os géis são comprados e não feitos na hora como os nossos. O Rodrigo pode ter uma bicicleta, mas sabe dirigir ela muito bem. Modificou todo o protocolo proposto pelo papa da metalotioneína e apresentou o gel mais bonito do congresso.

Fica aquela idéia de que os requisitos para pilotar uma Ferrari são:
1) Ter o dinheiro pra comprar uma;
2) saber apertar os botões;
3) sóóóóóóóóó depois… vem o saber dirigir.

O congresso continuou no Rio já que muitos deles vieram pra cá. Levei o Francesco e o Viarengo para conhecer a universidade e a Fiocruz. Não esperava que eles ficassem tão impressionado com o meu modesto laboratório e nem que eles ficassem tão mais impressionados com a Fiocruz. Mas tenho que dizer que não esperava o show que o Richard deu com a proteômica e o Milton com a genômica. Quem tem amigos como esses…


Nosso laboratório está montado e pronto pra começar a produzir bem. Esse congresso serviu pra direcionar um pouco nossas idéias. Daqui a pouco poderemos comprar um Gol 1000. E enquanto as loiras aprendem a apertar todos os botões, a gente passa a frente dos gringos.

PS: Onde será que estava o pessoal do CENPES da Petrobras o congresso todo?

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