Qual a idade da vida? (Da série: Minha mãe, a Chita, ou o que é a Seleção Natural?)

“O homem se desenvolveu de um óvulo com um diâmetro de aproximadamente 1/125 polegadas, que em nenhum aspecto difere dos óvulos de outros animais […] O próprio embrião, em um período muito inicial, não pode ser distinguido do de outros membros do reino dos vertebrados […] As fendas na lateral do pescoço permanecem […] e os ossos do cóccix projeta-se como uma verdadeira cauda, que estende-se consideravelmente alem das pernas rudimentares […] Descobrimos que o homem descende de um quadrúpede peludo, dotado de cauda e orelhas pontudas …” (Charles Darwin em A ancestralidade humana)

Até Darwin, o homem era algo especial. Basicamente diferente dos outros animais. O mundo e o universo tinham sido criados por Deus para o Homem e por nenhuma outra razão. Em a origem das espécies, Darwin falava pouco sobre o ser humano. Foi apenas 12 anos depois, com sua teoria bastante reconhecida, que ele tomou coragem para publicar “A ancestralidade humana”, um calhamaço de mais de 1000 paginas tentando explicar com todas as suas forças de onde viemos. Como na época de Darwin não existiam fósseis, foram às observações do desenvolvimento de embriões que forneceram as principais provas da descendência humana.

Mas Darwin não conseguiu explicar como os caracteres hereditários eram transmitidos de pais para filhos e, conseqüentemente, como as pequenas mudanças que acarretavam na transformação de uma espécie em outra eram adquiridas. Foi na cidade de Brno, na atual República Checa, que os (hoje clássicos) experimentos com ervilhas que explicam a transmissão dos caracteres genéticos foram realizados pelo monge Gregor Mendel.

Mendel não se interessava por genética. Na verdade a genética não existia. Filho de camponeses pobres, ele se interessou por agricultura desde pequeno. Depois de se ordenar padre e estudar história natural, matemática e estatística. Ele cruzou milhares de pés de ervilhas para estudar as proporções numéricas resultantes entre cruzamentos de uma classe e outra. Seu interesse era, por exemplo, se cruzando plantas altas e baixas o resultado seriam plantas altas, baixas ou médias. Depois de analisar milhares de ervilhas ele descobriu que algum tipo de partícula, que existiam aos pares nos seres vivos, era responsável pelos caracteres observados nos organismos. A altura, a cor da pele dos olhos e dos cabelos, o sexo etc. Hoje sabemos que essas “partículas” são os genes.

Apesar das 5 regras que Mendel descreveu, e que valem até hoje, para todos os seres vivos, seu trabalho foi tido primeiramente como estatístico e apenas no começo do séc XX foi redescoberto por Hugo De Vries (que descobriu as mutações) e teve sua imensa importância reconhecida.
A partir daí, foram necessários apenas mais 50 anos para a descoberta de estrutura em dupla hélice do DNA e outros 50 para a clonagem da ovelha Dolly.

A 4 bilhões de anos atrás, na era pré cambriana, da famosa sopa primordial, emerge a vida, na forma de uma célula bacteriana. Durante os 3 bilhões de anos seguintes as bactérias colonizam a terra e apenas há 600 milhões de anos atrás a 1a forma de vida multicelular apareceu.

Durante a era Paleozóica a vida explode. Há 545 milhões de anos atrás a vida aquática se diversifica; a 425 milhões de anos aparecem os moluscos com conchas e a 395 milhões de anos os animais terrestres. Há 280 milhões de anos atrás aparecem os répteis. Depois de um devastador evento de extinção a 250 milhões de anos atrás, os répteis evoluem e dominam a terra, até 65 milhões de anos quando se extinguem (muito provavelmente devido ao tal meteoro que todo mundo já ouviu falar).

O clima da terra muda e se resfria um pouco e as florestas pluviais dão lugar a prados e bosques. Os mamíferos se diversificam e 4 milhões de anos atrás aparecem os primeiros membros da família humana dos primatas. A cerca de apenas 50 mil anos apareceu o primeiro Homo sapiens.

É pouquíssimo intuitivo pensar em termos de bilhões e milhões, ou mesmo milhares de anos. São certamente escalas de tempo que escapam a nossa percepção e dificultam a nossa compreensão. Mesmo assim, o ser humano é uma espécie muito nova, com uma grande capacidade de modificar o ambiente para promover sua adaptação, mas que ainda trás consigo marcas fortes de sua origem menos evoluída e que provavelmente ainda sofrera grandes transformações em sua estrutura.

A seleção Natural – 2a parte

Quase todos os organismos possuem uma maquinaria, seja fisiológica, bioquímica ou genética para se adaptar as mudanças do ambiente. Enzimas que não são utilizadas até que sejam necessárias, genes que não são transcritos até que sejam induzidos, vias metabólicas que não são ativadas até que outras sejam inibidas. Algumas pessoas podem apresentar uma capacidade de adaptação maior para alguns eventos (resistência ao frio, sensibilidade a luz, audição mais aguçada) do que outras. Isso por que a genética de cada um é diferente. Essa variabilidade vem principalmente de dois mecanismos, as mutações e o intercruzamento de genes (crossing-over) no momento da divisão celular que reduz o numero de cromossomas a metade (meiose) para preparação das células sexuais reprodutoras, vulgos gametas. Essas “capacidades especificas” de cada pessoa, registradas nos genes do DNA, podem ser transmitidas de uma geração para outra. E nesse princípio que se baseia a Seleção Artificial quando os homens escolhem animais com características especificas para serem cruzados dando origem a prole com as características de ambos os pais.

Tudo bem, mesmo Darwin com sua impressionante capacidade de observação não conseguiu explicar a transmissão das características hereditárias. O melhor que ele conseguiu fazer foi sugerir a idéia absurda de que pequenas partículas de nosso corpo eram enviadas aos órgãos sexauis onde se fundiam em pequenas sementes de nós.

As mutações acontecem naturalmente com uma determinada freqüência (que é baixa) seja por resultado de erros no momento da replicação do DNA, seja por estímulos ambientais externos como exposição a radiação quando vamos tirar um Raio-X, ou simplesmente por pegar uma boa dose de UV na praia no final de semana. Alguns elementos como o Urânio e o Tório são naturalmente radioativos, mas quase todos os elementos apresentam isótopos radioativos (por isso podemos dosar a idade de minerais pelo isótopo 14Carbono). Até mesmo uma árvore possui certa quantidade de isótopos radioativos de elementos comuns como sódio, carbono e potássio.
Em grande parte das vezes as mutações são negativas, ou sejam não conferem nenhuma capacidade melhor do organismo se adaptar ao ambiente. Para essas mutações cotidianas a que estamos expostos possuímos excelentes mecanismos de reparo.

Mas de tanto em tanto, alguma mutação que confere uma grande capacidade adaptativa aparece. Essa capacidade pode não ser percebida até que uma mudança drástica no ambiente ocorra. Por exemplo, um pombo que nasça com o bico levemente curvado para o lado pode passar despercebido na população. Mas se um dia os velhinhos parassem de jogar milho nas praças e os pombos precisassem buscar alimentos embaixo das cascas de árvores, e nesse caso, talvez os pombos com bicos tortos levassem uma vantagem. Eles conseguiriam mais alimento e teriam maior chance de chegar a idade da maturidade sexual, se reproduzindo e deixando descendentes, todos com bicos tortos e, conseqüentemente, com mais facilidade para se alimentas, crescer e reproduzir. Em algumas gerações todos os pombos teriam bicos tortos.

O principio da exclusão competitiva e da seleção natural, que é melhor traduzida pela expressão “a lei do mais adaptado” ao invés de a lei do mais forte, pode ser aplicado não só a biologia mas a diversos campos do conhecimento, como as ciências exatas e humanas. Por isso acho importante, termos claro em mente que o ambiente é capaz de causar mutações, mas essas sempre serão aleatórias e nunca “encomendadas”. O clima frio nunca fará com que o filhote de cobra nasça com um casaco de pele. Mas certamente um filhote de cobra que nasça com esse casaco de pele terá mais chance de sobreviver e reproduzir caso a temperatura em seu habitat caia bruscamente e por um longo período. A seleção natural sempre vai atuar em um leque existente de possibilidades de adaptação no ambiente, e nunca “encomendar” uma característica aos genes.

Por isso, vamos esquecer aquela história intuitiva de que a girafa tem o pescoço comprido de tanto estica-lo para comer as folhas de árvores mais altas.

O responsável por desvendar o mistério da hereditariedade foi o monge Gregor Mendel. Mas isso é uma história para semana que vem.

Tudo acaba em Pizza

A ciência tem sempre de ser séria. Ou melhor, confiável. O que não quer dizer que não seja engraçada de vez em quando. Talvez quando estejamos tratando de temas menos “científicos”, digamos. Como por exemplo a pesquisa do Dr. Hisch, do instituto de aromas de Chicago (só poderia ser nos EUA). Essa particular instituição tem como objetivo estudar o efeito dos aromas nos seres humanos. Um objetivo bastante nobre, eu diria, dados os efeitos de feromônios (aquelas substâncias que funcionam como mensageiros e, por exemplo, podem ativar o desejo sexual) e outras substâncias no nosso organismo.
Enfim, este senhor descobriu, após testar mais de 40 combinações de odores, que a mistura de tomate, mozzarela e orégano, ativa de forma significativa em até 40% a circulação de sangue do órgão sexual masculino. Ou seja, a pizza Marguerita é um tremendo Viagra. Gatinhas, dá próxima vez que forem convidadas pra comer uma pizza e tomar um chopp… já sabem do que se trata (é…. como se não soubessem!).

A seleção Natural

“A crença de que as espécies eram produtos imutáveis era quase inevitável enquanto se considerou ser de curta duração a história do mundo […] A principal causa de nossa relutância a admitir que uma espécie originou espécies claras e distintas é que sempre somos lentos para admitir grandes mudanças as quais não vemos as etapas”. (Charles Darwin, A origem das espécies)

O primeiro Darwin a estudar a evolução não foi Charles, mas sim Erasmus, seu avô. Ele achava que as espécies se adaptavam ao meio, por uma espécie de esforço consciente. A teoria dos caracteres adquiridos. Mas foi seu contemporâneo Jean-Baptiste Lamarck que ficou mais famoso defendendo uma teoria semelhante, a do “Uso e Desuso”. Segundo ele os órgãos se aperfeiçoavam com o uso e se enfraqueciam com a falta de uso. Mudanças que são preservadas e transmitidas a prole. O exemplo mais típico seria do pescoço da girafa, que cresceria a medida que ela o estica para alcançar as folhas mais altas das árvores.

A teoria de Lamarck era uma espécie de Darwinismo ao contrário, com os organismos controlando seu próprio desenvolvimento. Suas idéias eram bastante intuitivas e mais cativantes por se adaptarem mais facilmente ao senso comum. Suas teorias sofriam de um problema de seleção das observações e sua abordagem de carência de comprovação científica. Comprovação essa que ele se recusou a apresentar (e nem conseguiria). Claro, se amarrarmos o braço de um bebe junto ao seu corpo, e o mantivermos assim por 30 anos, os músculos não iram se desenvolver, e com o tempo vão atrofiar perdendo a capacidade de se desenvolver. Esse adulto terá os braços com tamanhos desiguais. Mas ao contrário do que Lamarck previa, os filhos desse homem não nascerão com braços pequenos. Assim como as cicatrizes que adquirimos durante nossa vida não são transmitidas a nossos filhos.

O homem e seu antropocentrismo. Mesmo quando as evidências de um planeta que era mais velho do que a bíblia descreverá se acumulavam, ainda era difícil aceitar que a o homem já teria sido “menos que um homem”.

Em 16 de Setembro de 1835, Charles Darwin desembarcará nas ilhas Galápagos, no Equador. Já se passavam 4 anos que eles partiram do porto de Plymouth para uma viagem de dois anos. Darwin, depois de uma série de felizes coincidências, tinha sido recomendado como naturalista oficial do navio de pesquisa da Marinha Britânica HMS Beagle. Nas mãos, o exemplar do então recém publicado “Princípios de geologia”, de Charles Lyell, que definitivamente sepultara o catastrofismo e introduzira as forças capazes de modificar a paisagem da terra, como a erosão do vento e das águas.

Talvez não tenham sido as particularidades de algumas espécies que vivem no isolado arquipélago das Galápagos que levaram Darwin a bolar a teoria da “Seleção Natural”, mas certamente elas foram importantes. Ali, as diferenças nos bicos dos Tentilhões, nos cascos pernas e pescoços das tartarugas de diferentes ilhas, chamaram sua atenção. Como cada ilha desenvolvera sua própria espécie? Certamente ele se perguntou. Essas pequenas diferenças contrastavam com semelhanças maiores. Ele observou que o avestruz africano era muito semelhante a Ema sul-americana. Como poderiam ocorrer essas semelhanças mesmo com um oceano entre os dois continentes?

O que talvez pouca gente saiba é que foi já de volta na Inglaterra, lendo “Um ensaio sobre o principio da população” de Thomas Malthus, aquele que todos nos aprendemos na escola, que diz que a população cresce de forma geométrica e os alimentos de forma aritmética, que Darwin finalmente teve a luz que faltava para seu trabalho.

Ele havia coletado e catalogado um número incrível de observações e sabia que as espécies apresentavam variações (mesmo que não soubesse ainda explicar como elas apareciam). Se as populações sempre crescem mais do que seus meios de subsistência, então existirá sempre uma grande competição pela sobrevivência. Nessa competição, aquelas variações que são mais favoráveis tenderiam a ser preservadas e as não favoráveis destruídas. Sendo esse “favorável” relacionado ao seu meio específico, ou seja, o ambiente onde ela vive. E o “preservadas” relacionado a transmissão aos descendentes.

Sabendo da comoção geral que sua teoria da “lei do mais apto” (ao contrário da “lei do mais forte”) causaria, ele evitou durante muito tempo em publicar seu trabalho. E talvez sua idéia de deixar seus escritos com o amigo Lyell para que fossem publicados após sua morte talvez se concretizasse não fosse uma outra surpresa. Uma carta de um jovem naturalista também Inglês chamado Alfred Russel Wallace, com um manuscrito em anexo, que pedia o parecer de Darwin sobre suas idéias. Aqui entra um pouco de fofoca. Dizem que Darwin apesar de todas as suas observações não tinha ainda percebido a seleção natural, e só o fizera depois de ver as conclusões de Wallace. Mas o mais provável é que Darwin tenha apenas ficado impressionado com o brilhantismo desse jovem naturalista e por isso apressou a publicação de “A origem das Espécies”. Mais que um clássico, o livro é TU-DO, como diria Vanuza Lobão!

Mas as idéias de Darwin tinham uma conseqüência maior… mais assustadora e mais perturbadora… Se as espécies se modificavam… evoluíam então… Sim, o homem também evoluira. Como falei na semana retrasada, não era mais Deus que tocava o dedo de adão dando-lhe o sopro de vida no teto da capela Sistina… Era um macaco!

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