Diário de um Biólogo – 6a feira 03/08/07

Aula de Sax de manhã. Enquanto ia pro Fundão no meu carro novo toca o telefone: Sandrinha, a secretária da PG pergunta sobre as notas da prova de mestrado. Fico sem graça de dizer que a maior parte dos alunos que se candidataram não sabem nem formular uma hipótese científica, muito menos desenhar o experimento com controles positivo e negativo da questão 1.

Depois de almoçar 600g no quilo, fiquei terminando de corrigir as provas até a hora do evento do dia. A palestra do ministro da saúde José Gomes Temporão. A UFRJ ainda é um lugar onde coisas (um ministro vir falar) acontecem. Fico feliz de ser de lá. Sala cheia, presença do reitor (que não ficou pra palestra) e manifestação do sindicato.

O tema era Saúde, Cultura e Desenvolvimento. Ele mostrou um panorama da saúde, ou de como ele chama “complexo produtivo da saúde” muito claro, identificou os gargalos desse sistema, incluindo a dificuldade de produção de ciência e a transformação dessa ciência em tecnologia no país (o que todo mundo na universidade queria ouvir) e atacou os pontos que todos concordam com propostas também claras. Vindo do cara que, em menos de 5 meses de ministério (em um governo onde a média de permanência é de 9 meses), licenciou o Efavirenz, a gente tem definitivamente que dar um crédito pra ele. Terminou dizendo: “Não me importo de desagradar os outros porque não sou candidato a nada. Por mim estava dando aulas na Fiocruz, que é o que eu gosto de fazer. Mas se é pra ser ministro, é pra mudar alguma coisa”. Outro dia o Blog recebeu a indicação do Blog com tomates, sendo tomates, no português de portugal, sinônimo de culhões, que é sinônimo de coragem. Esse é um ministro com tomates!

De noite teve festa na Cris pelo aniversário da Ana. As conversas giraram em torno do habitual: diferenças entre homens e mulheres. Mas isso é pra ser discutido em outro texto.

Quem (se) importa?

Fazer ciência no Brasil não é fácil. Mas as vezes se torna impossível!

Vocês conseguem ver alguma coisa ai em cima? Pois é, nem nós! Então achei que se fazia necessária a compra de um microscópio decente pro laboratório. Passamos as últimas duas semanas procurando um modelo que atendesse as nossas necessidade e ao nosso bolso e, depois de verificar os preços astronômicos dos fabricantes americanos e europeus, conseguimos chegar a um fabricantes chinês, bastante elogiado (MOTIC) que tinha o microscópio que queríamos (modelo AE31; invertido, preparado para epi-fluorescência e como camera de vídeo).

Pedimos um orçamento e o valor girava em torno dos USD 5.000,00. Um site nos EUA anunciava o mesmo produto por USD 7.890,00. Ligamos para o representante nacional e qual não foi a nossa surpresa ao descobrir que o mesmo produto custava no Rio de Janeiro R$ 50.000,00!!! Com essa quantidade de encargos e impostos, não há parco orçamento de pesquisa que resista.

Saiu hoje uma nota na coluna da Márcia Peltier no Jornal do Comércio citando o drama. Clique na foto para ver a imagem ampliada.


Transcrevo pra vocês a nota:
“CÂMBIO: Pesquisador da UFRJ, Mauro Rebelo levou um susto quando fazia cotação para comprar um microscópio da chinesa Motic, para pesquisa de contaminação ambiental. Na China o equipamento é comercializado por US$ 5 mil. Nos EUA, por cerca de US$ 7 mil. No Rio, sairia por R$ 50 mil. Por essas e outras, a comunidade científica se mobiliza para entregar um relatório para o ministro Sérgio Rezende sobre as dificuldades de importação.”

Desde o ano passado faço parte de uma comissão, juntamente com a ONG Movitae e a Associação Brasileira de Ciências da Vida (dos fabricantes e representantes de material para pesquisa) para facilitar os procedimentos de importação do país.

Cavando pouco, muito pouco, descobrimos que o buraco é embaixo. Muito mais embaixo. Coisa pra dar CPI.

Enquanto isso, minha aluna de iniciação científica tem de usar a visão além do alcance pra ver as células de ostra do trabalho dela.

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