A seleção Natural – 2a parte

Quase todos os organismos possuem uma maquinaria, seja fisiológica, bioquímica ou genética para se adaptar as mudanças do ambiente. Enzimas que não são utilizadas até que sejam necessárias, genes que não são transcritos até que sejam induzidos, vias metabólicas que não são ativadas até que outras sejam inibidas. Algumas pessoas podem apresentar uma capacidade de adaptação maior para alguns eventos (resistência ao frio, sensibilidade a luz, audição mais aguçada) do que outras. Isso por que a genética de cada um é diferente. Essa variabilidade vem principalmente de dois mecanismos, as mutações e o intercruzamento de genes (crossing-over) no momento da divisão celular que reduz o numero de cromossomas a metade (meiose) para preparação das células sexuais reprodutoras, vulgos gametas. Essas “capacidades especificas” de cada pessoa, registradas nos genes do DNA, podem ser transmitidas de uma geração para outra. E nesse princípio que se baseia a Seleção Artificial quando os homens escolhem animais com características especificas para serem cruzados dando origem a prole com as características de ambos os pais.

Tudo bem, mesmo Darwin com sua impressionante capacidade de observação não conseguiu explicar a transmissão das características hereditárias. O melhor que ele conseguiu fazer foi sugerir a idéia absurda de que pequenas partículas de nosso corpo eram enviadas aos órgãos sexauis onde se fundiam em pequenas sementes de nós.

As mutações acontecem naturalmente com uma determinada freqüência (que é baixa) seja por resultado de erros no momento da replicação do DNA, seja por estímulos ambientais externos como exposição a radiação quando vamos tirar um Raio-X, ou simplesmente por pegar uma boa dose de UV na praia no final de semana. Alguns elementos como o Urânio e o Tório são naturalmente radioativos, mas quase todos os elementos apresentam isótopos radioativos (por isso podemos dosar a idade de minerais pelo isótopo 14Carbono). Até mesmo uma árvore possui certa quantidade de isótopos radioativos de elementos comuns como sódio, carbono e potássio.
Em grande parte das vezes as mutações são negativas, ou sejam não conferem nenhuma capacidade melhor do organismo se adaptar ao ambiente. Para essas mutações cotidianas a que estamos expostos possuímos excelentes mecanismos de reparo.

Mas de tanto em tanto, alguma mutação que confere uma grande capacidade adaptativa aparece. Essa capacidade pode não ser percebida até que uma mudança drástica no ambiente ocorra. Por exemplo, um pombo que nasça com o bico levemente curvado para o lado pode passar despercebido na população. Mas se um dia os velhinhos parassem de jogar milho nas praças e os pombos precisassem buscar alimentos embaixo das cascas de árvores, e nesse caso, talvez os pombos com bicos tortos levassem uma vantagem. Eles conseguiriam mais alimento e teriam maior chance de chegar a idade da maturidade sexual, se reproduzindo e deixando descendentes, todos com bicos tortos e, conseqüentemente, com mais facilidade para se alimentas, crescer e reproduzir. Em algumas gerações todos os pombos teriam bicos tortos.

O principio da exclusão competitiva e da seleção natural, que é melhor traduzida pela expressão “a lei do mais adaptado” ao invés de a lei do mais forte, pode ser aplicado não só a biologia mas a diversos campos do conhecimento, como as ciências exatas e humanas. Por isso acho importante, termos claro em mente que o ambiente é capaz de causar mutações, mas essas sempre serão aleatórias e nunca “encomendadas”. O clima frio nunca fará com que o filhote de cobra nasça com um casaco de pele. Mas certamente um filhote de cobra que nasça com esse casaco de pele terá mais chance de sobreviver e reproduzir caso a temperatura em seu habitat caia bruscamente e por um longo período. A seleção natural sempre vai atuar em um leque existente de possibilidades de adaptação no ambiente, e nunca “encomendar” uma característica aos genes.

Por isso, vamos esquecer aquela história intuitiva de que a girafa tem o pescoço comprido de tanto estica-lo para comer as folhas de árvores mais altas.

O responsável por desvendar o mistério da hereditariedade foi o monge Gregor Mendel. Mas isso é uma história para semana que vem.

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