A seleção Natural

“A crença de que as espécies eram produtos imutáveis era quase inevitável enquanto se considerou ser de curta duração a história do mundo […] A principal causa de nossa relutância a admitir que uma espécie originou espécies claras e distintas é que sempre somos lentos para admitir grandes mudanças as quais não vemos as etapas”. (Charles Darwin, A origem das espécies)

O primeiro Darwin a estudar a evolução não foi Charles, mas sim Erasmus, seu avô. Ele achava que as espécies se adaptavam ao meio, por uma espécie de esforço consciente. A teoria dos caracteres adquiridos. Mas foi seu contemporâneo Jean-Baptiste Lamarck que ficou mais famoso defendendo uma teoria semelhante, a do “Uso e Desuso”. Segundo ele os órgãos se aperfeiçoavam com o uso e se enfraqueciam com a falta de uso. Mudanças que são preservadas e transmitidas a prole. O exemplo mais típico seria do pescoço da girafa, que cresceria a medida que ela o estica para alcançar as folhas mais altas das árvores.

A teoria de Lamarck era uma espécie de Darwinismo ao contrário, com os organismos controlando seu próprio desenvolvimento. Suas idéias eram bastante intuitivas e mais cativantes por se adaptarem mais facilmente ao senso comum. Suas teorias sofriam de um problema de seleção das observações e sua abordagem de carência de comprovação científica. Comprovação essa que ele se recusou a apresentar (e nem conseguiria). Claro, se amarrarmos o braço de um bebe junto ao seu corpo, e o mantivermos assim por 30 anos, os músculos não iram se desenvolver, e com o tempo vão atrofiar perdendo a capacidade de se desenvolver. Esse adulto terá os braços com tamanhos desiguais. Mas ao contrário do que Lamarck previa, os filhos desse homem não nascerão com braços pequenos. Assim como as cicatrizes que adquirimos durante nossa vida não são transmitidas a nossos filhos.

O homem e seu antropocentrismo. Mesmo quando as evidências de um planeta que era mais velho do que a bíblia descreverá se acumulavam, ainda era difícil aceitar que a o homem já teria sido “menos que um homem”.

Em 16 de Setembro de 1835, Charles Darwin desembarcará nas ilhas Galápagos, no Equador. Já se passavam 4 anos que eles partiram do porto de Plymouth para uma viagem de dois anos. Darwin, depois de uma série de felizes coincidências, tinha sido recomendado como naturalista oficial do navio de pesquisa da Marinha Britânica HMS Beagle. Nas mãos, o exemplar do então recém publicado “Princípios de geologia”, de Charles Lyell, que definitivamente sepultara o catastrofismo e introduzira as forças capazes de modificar a paisagem da terra, como a erosão do vento e das águas.

Talvez não tenham sido as particularidades de algumas espécies que vivem no isolado arquipélago das Galápagos que levaram Darwin a bolar a teoria da “Seleção Natural”, mas certamente elas foram importantes. Ali, as diferenças nos bicos dos Tentilhões, nos cascos pernas e pescoços das tartarugas de diferentes ilhas, chamaram sua atenção. Como cada ilha desenvolvera sua própria espécie? Certamente ele se perguntou. Essas pequenas diferenças contrastavam com semelhanças maiores. Ele observou que o avestruz africano era muito semelhante a Ema sul-americana. Como poderiam ocorrer essas semelhanças mesmo com um oceano entre os dois continentes?

O que talvez pouca gente saiba é que foi já de volta na Inglaterra, lendo “Um ensaio sobre o principio da população” de Thomas Malthus, aquele que todos nos aprendemos na escola, que diz que a população cresce de forma geométrica e os alimentos de forma aritmética, que Darwin finalmente teve a luz que faltava para seu trabalho.

Ele havia coletado e catalogado um número incrível de observações e sabia que as espécies apresentavam variações (mesmo que não soubesse ainda explicar como elas apareciam). Se as populações sempre crescem mais do que seus meios de subsistência, então existirá sempre uma grande competição pela sobrevivência. Nessa competição, aquelas variações que são mais favoráveis tenderiam a ser preservadas e as não favoráveis destruídas. Sendo esse “favorável” relacionado ao seu meio específico, ou seja, o ambiente onde ela vive. E o “preservadas” relacionado a transmissão aos descendentes.

Sabendo da comoção geral que sua teoria da “lei do mais apto” (ao contrário da “lei do mais forte”) causaria, ele evitou durante muito tempo em publicar seu trabalho. E talvez sua idéia de deixar seus escritos com o amigo Lyell para que fossem publicados após sua morte talvez se concretizasse não fosse uma outra surpresa. Uma carta de um jovem naturalista também Inglês chamado Alfred Russel Wallace, com um manuscrito em anexo, que pedia o parecer de Darwin sobre suas idéias. Aqui entra um pouco de fofoca. Dizem que Darwin apesar de todas as suas observações não tinha ainda percebido a seleção natural, e só o fizera depois de ver as conclusões de Wallace. Mas o mais provável é que Darwin tenha apenas ficado impressionado com o brilhantismo desse jovem naturalista e por isso apressou a publicação de “A origem das Espécies”. Mais que um clássico, o livro é TU-DO, como diria Vanuza Lobão!

Mas as idéias de Darwin tinham uma conseqüência maior… mais assustadora e mais perturbadora… Se as espécies se modificavam… evoluíam então… Sim, o homem também evoluira. Como falei na semana retrasada, não era mais Deus que tocava o dedo de adão dando-lhe o sopro de vida no teto da capela Sistina… Era um macaco!

Discussão - 5 comentários

  1. Anonymous disse:

    Mano sou estudante De L.P em biólogo e lhe parabenizo pelo seu breve resumo sobre a seleção natural. Muito bom, conta os reais fatos que houveram, e o que mais gostei foi da forma como vc escreveu. Um abraço se vc tiver mais a falar sobre os N assuntos de biologia podemos bióloga. Um abraço e meu mail é hinacioquimico@gmail.com

  2. Patricia disse:

    Não acredito quem pode deixar comentários dessa natureza!!! Consultei varios resumos e este gostei demais, linguagem comprensivel e dados extras que favorecem a associação dos fatos.Parabéns

  3. Anonymous disse:

    Cara, excelente comentário, liguagem clara e bem simples, parabéns!

  4. Anonymous disse:

    Muito bom,sério mesmo 😉 é ótimo o texto... parabéns (:

  5. Mauro Rebelo disse:

    Olá pessoal, excluí o comentário de 'baixo calão' e agradeço os elogios de vocês. Se tiverem alguma dúvida coloquem aqui. Um abraço,

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