A Ciência Jovem do Rio de Janeiro

(carta publicada no Jornal da Ciência e no JC e-mail 2975, de 15 de Março de 2006).
Da relatividade de Einstein à estrutura do DNA de Watson e Crick, as mais brilhantes descobertas científicas do século XX foram realizadas por pesquisadores com menos de 40 anos de idade.
No Brasil, Carlos Chagas tinha apenas 31 anos quando descreveu a doença que recebeu seu nome. César Lattes tinhas apenas 23 anos quando participou da descoberta do méson pi, uma subpartícula do átomo. Ainda antes dos 40, Rocha e Silva e Pacheco Leão fizeram avanços enormes, respectivamente, na farmacologia e neurobiologia.
Os fatos não são mera coincidência, trata-se de uma das fases mais produtivas da carreira de um cientista. Apesar disso, agências de fomento possuem poucos programas que efetivamente apóiam o pesquisador em início de carreira.
Atualmente, a Fundação Carlos Chagas Filho de Apoio à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj) possui três programas voltados para jovens pesquisadores: o Auxílio Instalação, Primeiros Projetos e o Jovem Cientista do Nosso Estado.
Embora iniciativas importantes e algumas inéditas até então no Brasil, esses programas apresentam financiamentos insuficientes, onde os repasses são excessivamente fracionados ou carecem de continuidade.
O “Auxílio Instalação” é destinado a jovens doutores já inseridos no mercado de trabalho e aptos a iniciar suas atividades em uma instituição científica sediada no estado.
A proposta é interessante, mas nos moldes atuais apresenta-se ineficiente, já que poucos cientistas estão instalados até dois anos após o término do doutoramento, como exige o edital.
Nos últimos cinco anos, somente 90 pesquisadores receberam tal auxílio. Além disso, o valor oferecido (R$ 5.900,00) é irrisório frente às necessidades de um pesquisador iniciando suas atividades profissionais.
Uma forma alternativa de aplicar recursos de tal ordem seria a criação de um “auxílio publicação”, através do qual o jovem pesquisador precisaria apresentar resultados antes de solicitar os recursos, que seriam aplicados em experimentos pontuais, necessários à finalização de uma determinada publicação.
O programa “Primeiros Projetos” foi a proposta da nova Diretoria da Faperj para remediar a falta de apoio aos jovens pesquisadores. Entretanto, o edital apresentava critérios de elegibilidade muito amplos e não trazia definição clara do que viriam a ser “primeiros projetos”. Com isso, cientistas já estabelecidos, detentores de linhas de pesquisa próprias e em andamento, foram também contemplados.
Dos 1.135 candidatos, mais de 50% tinham idade superior a 40 anos. Apenas 1/4 desses projetos (277) foram aprovados. Os valores médios de R$ 25.000,00, apesar de ainda baixos, estavam de acordo com a faixa de recursos oferecidos pelo CNPq em editais como o Universal. Entretanto, até o momento somente 3/4 dos recursos foram repassados aos contemplados.
O programa “Cientista Jovem do Nosso Estado”, criado a partir da sugestão de jovens pesquisadores da UFRJ, fornecia auxílio mensal destinado à manutenção de laboratórios de pesquisa.
Esse programa, muito bem recebido pela comunidade científica, beneficiou em torno de 300 pesquisadores, todos com até 40 anos de idade. Mas, infelizmente, não houve continuidade e somente dois editais foram lançados desde sua criação em 2000.
A consolidação do estado como centro de inovação tecnológica e desenvolvimento industrial é apenas viável na presença de uma sólida malha de recursos humanos capacitados a gerenciar o conhecimento produzido.
Para isso, é crítico o investimento em pesquisa em áreas básicas e aplicadas na tentativa de dar suporte às diversas linhas, intimamente associadas à C&T, que vem encontrando ressonância no estado como metalurgia, siderurgia, biotecnologia, fármacos, software, dentre outras.
Jovens cientistas são fundamentais para atender a demanda crescente dessas áreas e para fortalecer a Ciência e Tecnologia do estado frutificando em novos serviços, produtos e empregos e, em última instância, melhorar a qualidade de vida da população do Rio de Janeiro.
A ciência fluminense é capaz de sobreviver a vários percalços devido à construção, nos últimos 30 anos, de uma massa crítica consistente. Entretanto, a falta constante de apoio ao jovem pesquisador pode impedir o crescimento e comprometer o investimento feito ao longo desses anos.
É urgente uma reestruturação dos programas de apoio a cientistas recém-estabelecidos, evitando-se a pulverização de recursos.
O novo Conselho Superior da Faperj acaba de tomar posse, formado por quatro representantes do governo estadual e apenas um representante das entidades de pesquisa.
A participação de jovens pesquisadores no Conselho poderia incrementar a representação da comunidade científica na Faperj e contribuir para a criação de formas mais eficientes de apoio a pesquisadores em início de carreira, permitindo sua inserção definitiva na ciência fluminense.
Assinam:
Mauro Rebelo, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ
Stevens Rehen, Instituto de Ciências Biomédicas, UFRJ
Milton Moraes, IOC-Fundação Oswaldo Cruz
Marcelo Einicker Lamas, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ
Jennifer Lowe, Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, UFRJ

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