Observações

Tava escrito até no artigo da Nature: blogueiros nunca poderão substituir jornalistas, porque eles querem escrever apenas sobre o que eles quiserem.
Talvez seja porque estou me emocionando lendo a biografia de Nelson Rodrigues escrita por Ruy Castro que hoje não vou falar diretamente de ciência. Nelson era incrivelmente, unanimamente mal compreendido, mas fazia poucas, muito poucas concessões. Admiro pessoas que fazem poucas concessões (talvez da mesma forma que não admiro aquelas que não fazem nenhuma).
Hoje uma querida amiga, psicóloga, me enviou um link para um artigo que falava sobre como homens ‘perdem a cabeça’, um eufemismo para ficam mais burros, quando falam com um mulher bonita.Lembrei de você‘ ela escreveu.
Tentei ler o artigo original, o que eu sempre faço quando leio um release que chame atenção, que seja minimamente interessante, ou de alguma forma polêmico; mas o site do sciencedirect, que guarda os artigos da “Journal of Experimental Social Psychology“, mas hoje o site está fora do ar para manutenção durante todo o dia. O primeiro release foi publicado no Telegraph, de Londres, um jornal que pode não ser o mais sério, mas também não é pequeno.
Não precisei ler o artigo original para ver que concluir que se tratava de mais um estudo mal planejado, com conclusões precipitadas, mas que, por se tratar de um tema popular, saiu publicado em jornais de todo mundo.
E aqui novamente me lembro de Nelson Rodrigues.
Ontem dei uma aula sobre Criatividade no mestrado em Educação em Saúde da Fiocruz. Há vários anos meu amigo Milton me convida para dar essa aula. Eu sempre convido ele pra falar sobre marcadores moleculares de doenças negligenciadas no meu curso de Relações Gene-Ambiente, o que é muito menos legal. Mas esse ano estou compensando, porque ele fará a abertura do 2o EWCLiPo, falando sobre ciência e gastronomia: pode ter alguma coisa mais legal?
Ontem, antes da aula, enquanto discutíamos sobre o caipirinhas de DNA (que ele preparará ao vivo no encontro) conversamos, como tantas vezes fazemos, sobre ciência e sociedade. A citação do artigo ‘cospe ou engole’ em um texto sensacional sobre orgasmos, no blog Rainha Vermelha, gerou mais de 500 acessos no VQEB. Chegamos a conclusão que se quisermos aumentar o nosso público leitor, teremos de colocar sexo entre as palavras-chave.
O artigo ‘mostra’ que homens que conversam, até mesmo poucos minutos, como uma mulher que eles acham atraente, tem uma performance pior em testes para medir habilidades cognitivas. Isso estaria relacionado ao esforço de sedução que os homens empregam e as oportunidades de acasalamento que procuram. As conseqüências estariam nos efeitos dessa ‘baixa performance’ em ambientes de trabalho e escolas mistas.
Me lembro novamente de Nelson Rodrigues, porque talvez, eu disse talvez, o artigo fosse interessante como exercício teórico. Mas isso na Holanda. No Brasil, Nelson já falava disso mais de 50 anos atrás (‘Vestido de Noiva’ estreou em 1953).
Como pesquisa científica? Fala sério. O cara usou um grupo de 100 adolescentes, estudantes de alguma faculdade da Holanda, conversando com modelos. Pra quem quiser saber alguma coisa séria sobre sexo e a natureza humana, leia a ‘Sperm Wars’ ou ‘Red Queen‘. Sinto muito, mas os títulos estão em inglês justamente porque os livros ainda não foram publicados em português (outra opção é ler o VQEB).
Houve uma época que todos os livros de ciência traziam ‘Deus’ no título. Era uma estratégia de marketing. Será que basta agora colocar sexo no título? Eu aprendi com que nunca, nunca devemos enganar o nosso leitor. Por isso, sexo no título (ou nas palavras chaves) só quando tiver sexo no texto.
Mas não só. Escreveremos sobre sexo apenas quando houver o que ser dito sobre sexo. Pelo amor de Deus(?)! O artigo sobre ‘Como a interação como mulheres atraentes podem diminuir as funções cognitivas do homem’ sugeria como leitura outras pérolas:

Infelizmente, existem revistas demais que são científicas de menos. E um jornal sensacionalista quase sempre conseguirá ‘legitimar’ de um de seus artigos em um artigo científico furreca. E sem critério, não dá pro leitor saber.

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