Corrida por bom-bom

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Como dar uma aula diferente? Divertida? Não tem receita. Pode ser um sucesso ou pode ser um fracasso, mas você tem que tentar.
Pra mim, o maior problema das aulas de hoje é a destilação de definições. Todo mundo que dá aula adora dar definições para as coisas, ainda que elas raramente tragam uma significação imediata para o aluno.
Olha essa definição aqui:Matéria e Energia são dois estados diferentes de uma mesma qualidade fundamental: A Matéria se caracteriza pela massa de inércia, a Energia é capaz de produzir trabalho. Esse conceito de Matéria (corpos) e Energia (campos), está contido na teoria dos campos.”
Você entendeu? Nem eu! Como posso então explicar pros alunos?! Não é fácil. Algumas coisas são simplesmente difíceis e a gente tem que ir aprendendo aos poucos, com muitos, muitos exemplos.
Felizmente, hoje tenho um coisa mais fácil pra explicar: competição: “A essência da competição interespecífica é que indivíduos de uma espécie sofrem redução na fecundidade, sobrevivência ou crescimento como resultado da exploração de recursos ou interferência de indivíduos de outras espécies.”
Ainda assim a definição não te diz muita coisa, não é? Vamos tentar de novo: “No contexto da competição por exploração, o competidor de maior sucesso é aquele que explora mais efetivamente os recursos compartilhados. Duas espécies que explorem dois recursos podem competir e ainda coexistir quando cada espécies mantiver um dos recursos num nível que seja muito baixo para a exploração efetiva pela outra espécie.”

Ajudou? Não pra mim. Eu preciso ler esse trecho pelo menos umas 5 vezes antes dele começar a significar realmente alguma coisa. Mas pode ser pior: “Um nicho fundamental é a combinações de condições e recursos que permitem a uma espécie existir quando considerada em isolamento de qualquer outra espécie. Já o seu nicho realizado é a combinação condições e recursos que permitem a ela existir na presença de outra espécie que pode ser prejudicial a sua existência.”
Aff… já estou cansado só de me escutar dizendo isso. Só pra terminar: “O princípio da exclusão competitiva supõe que, se duas espécies de competidores coexistirem em um ambiente estável, elas o fazem como um resultado da diferenciação de seus nichos realizados. Entretanto, se não existir tal diferenciação ou se esta for impedida pelo habitat, uma das espécies competidoras eliminará ou excluirá a outra. Contudo, sempre quando vemos espécies em coexistência apresentando nichos diferentes, não é racional aceitar prontamente a conclusão de que tal princípio encontra-se em operação.”
Pronto, cansei das definições, vou ensinar competição de outro jeito: com uma competição.
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Vou dar cinco perguntas para os meus alunos e publicar essas perguntas aqui no blog, agora, na mesma hora que a aula começa. Quem, na turma, responder uma das perguntas primeiro, ganha um chocolate. Um Chokito pra ser mais específico. Mas pra competição não ser apenas intraespecífica, eu vou publicar esse post exatamente no mesmo momento em que a aula começar, e qualquer pessoa, em qualquer lugar do mundo, pode tentar responder as 5 perguntas. Coloque o seu nome e endereço e se você acertar, eu mando o Chokito. Além disso, se alguém na internet responder antes dos meus alunos em sala de aula, eles, meus alunos, perdem um ponto na nota final.
As 5 perguntas são:

  • 1 – A competição interespecíca pode ser um resultado da exploração dos recursos ou da interferência direta. Dê um exemplo de cada e compare suas consequências para as espécies envolvidas.
  • 2 – Explique como os conceitos de nicho especializado e nicho fundamental nos ajudam a entender os efeitos de competidores.
  • 3 – Porque é impossível provar a existência de um efeito evolutivo da competição interespecífica?
  • 4 – Quando vemos espécies com nichos diferentes coexistirem é razoável concluir que este é o princípio da exclusão competitiva em ação?
  • 5 – Explique como a heterogeneidade do ambiente pode permitir que um competidor aparentemente fraco coexista com uma espécie que pode excluí-lo.

Agora eu quero ver se eles vão ou não vão entender o que é exclusão competitiva!
PS: Ahhh… não aguento…. tenho que colocar mais uma definição: “A competição intraespecífica é um dos fenômenos mais fundamentais em ecologia, afetando não apenas a distribuição atual e o sucesso de espécies, mas também sua evolução. Contudo, muitas vezes é extremamente difícil estabelecer a existência e os efeitos da competição interespecífica, sendo necessário, para tanto, um arsenal de técnicas de observação, experimentação e modelagem.” Que saco!

Discussão - 5 comentários

  1. Mauro,
    Muito legal sua abordagem. Professores sofremos para motivar os alunos, especialmente quando as coisas ficam mais sofisticadas.
    Só quero comentar que a definição de matéria e energia citada (não sei de onde saiu) é muito ruim.
    A primeira frase não quer dizer absolutamente nada, exceto para new agers. O resto é bastante bitolante, e o pior, invocar a Teoria de Campos como recipiente para os conceitos de Matéria (corpos) e Energia (campos) é quase uma afirmação religiosa. Troque isso por "Esse conceito de Matéria (corpos) e Energia (campos), está contido na criação divina." e o estrago está feito.
    Acho que sempre que possível devemos em ciência evitar definições meio definitivas...
    Abraço!

  2. Mauro Rebelo disse:

    Fala Leandro, eu estava mesmo precisando que um dos meus amigos físicos me ajudasse com essa definição. Tem como melhorar essa 'qualidade fundamental'?

  3. Guilherme Orlandi Goulart disse:

    Caramba, esse post não me ajudou em nada.
    Fazer aluno competir por choquito ou notas não os ajuda a entender o que é competição em si. Competição, assim como outros vários conceitos em ecologia envolvem a maior parte do nosso cotidiano. O que vale mesmo é trazer esse cotidiano para dentro das definições e não o contrário.
    Abraços

  4. Vinicius disse:

    Ainda tá valendo? Vou tentar. Se eu ganhar, pego no seu laboratório, hehehe.
    5- A heterogeneidade ambiental pode ser espacial, temporal, entre outros. Tomemos estes dois exemplos. Recursos diferentes em um habitat podem possibilitar uma pequena divergência nos nichos de duas espécies, favorecendo o competidor mais fraco. Por mais que determinado recurso seja predominantemente utilizado pelo competidor mais forte, o mais fraco poderá sobreviver e se reproduzir utilizando recursos similares que não sejam consumidos pela outra espécie. Caso a heterogeneidade seja temporal, haverá períodos em que as condições ambientais serão mais propícias ao consumidor mais fraco, evitando que ele seja extinto. A heterogenidade ambiental explica, por exemplo, o paradoxo do plâncton proposto por Hutchinson, que não entendia como havia tantas espécies de plâncton em uma mesma massa d'água aparentemente homogênea. Mas a coluna d'água é dinâmica, havendo alterações em temperatura, luminosidade, quantidade e tipo de nutrientes, etc, ao longo do tempo.
    Se o ambiente fosse homogêneo e estático, seria uma questão de tempo até a espécie mais adaptada às suas condições proliferar a ponto de extinguir outras espécies que apresentassem grande sobreposição de nicho com ela.

  5. Mauro Rebelo disse:

    Valeu Vinícius, está certo, mas atrasado! Sem choquito dessa vez, mas valeu pela participação. Um abraço, Mauro

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