Os mortos-vivos


Winston Churchill disse que a “A democracia é o pior sistema de governo existente, excluídos todos os demais”
O problema da democracia, além do favorecimento da corrupção, é que as pessoas criam a ilusão de que todos têm oportunidade e força. De que todos têm direito a opinião e a ser ouvido. Não é assim nem quando todos tem direito a voto. Imagina então quando não tem.
Pela enésima vez, porque venho ouvindo isso desde que sou estudante de pós-graduação, ouço um professor estabelecido me dizer que a falta de representatividade da massa de professores (e profissionais e alunos) em uma instituição (na nossa instituição) não é culpa do sistema de governo (um híbrido de conselho tribal com reunião de condomínio) e sim da apatia das pessoas.
“Existe um monte de vagas para representantes em diferentes instâncias da universidade. Quantas pessoas se candidatam ou preenchem essas vagas?”
A apatia é uma justificativa para a falta de participação, é verdade. No entanto, quando essa justificativa parte daqueles que se beneficiam, ainda que inconscientemente, da falta de participação das pessoas nos processos decisórios, ela perde a validade como argumento.
Tá na lei: “ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece”. O ônus da informação está em quem a demanda. Mas a informação tem de ser transparente para que aja democracia. Se já é difícil se informar quando a informação está publicada, imagine quando ela não existe, a não ser na cabeça dos chefes tribais?
Em situações particulares, com nas relações de consumo onde há uma reconhecida vulnerabilidade do consumidor, o princípio legal do ‘ônus da prova’ (aquele que diz que a prova deve ser fornecida por quem faz a acusação) é invertido.
Mas será que dá pra colocar o ‘ônus da apatia’ em quem é apático? Enquanto eu voltava pra casa num tremendo congestionamento, uma palestra do TED me deu a resposta: NÃO! Quando eu vi o título ‘Como combater a Apatia’ eu achei que pudesse ser alguma coisa de auto-ajuda. Mas não. Na palestra, Dave Meslin diz que “a apatia, como nos a concebemos, não existe realmente. Ao contrário, as pessoas se importam, mas nós vivemos em um mundo que ativamente desencoraja a participação das pessoas, por colocar obstáculos e barreiras constantemente no nosso caminho”.
Se você é um lider e quer uma participação efetiva dos membros da sua equipe, cabe a você fazer com que os mecanismos de informação sejam transparentes e velozes.

A apatia atrapalha a participação. Mas é a falta de transparência que gera a apatia
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Discussão - 4 comentários

  1. Mário disse:

    Concordo que a democracia seja o melhor dos regimes. Como destacou o espirituoso Churchill, ela não está imune a determinadas mazelas. Não se trata de um regime perfeito. Povos podem passar por momentos difíceis devido a decisões tomadas democraticamente. Hitler chegou ao poder pelo voto. E de lá só saiu morto, visto que estava longe de ser um democrata. O fato é que a democracia apresenta certos desvios que lhe são inerentes, embora esses desvios sejam mais tendências do que algo necessário e inevitável.
    O grande pensador político francês, Alexis de Tocqueville, em sua obra A Democracia na América, considerou essa tendência a "apatia" (entendida como indiferença em relação à política). Para ele, no entanto, a "apatia" poderia resultar, "num povo de poucas luzes", do apreço pelo bem-estar e pelas fruições materiais. Preocupados e dedicados unicamente aos seus negócios particulares, a maioria dos cidadãos descuidaria da política, tida como questão de menor importância do que a busca pela prosperidade individual. Uma vez que descuidamos das questões políticas, lá estarão os usurpadores colocando obstáculos e cuidando para que percamos nossa autonomia. Seguem algumas considerações do Tocqueville. Bom post. Obrigado.
    “Assim, os homens dos tempos democráticos necessitam ser livres, a fim de alcançar mais facilmente as fruições materiais pelas quais suspiram sem cessar.
    Às vezes, porém, o gosto excessivo que manifestam por essas mesmas fruições entrega-os ao primeiro amo que se apresenta. A paixão pelo bem-estar se volta então contra si mesma e afasta sem perceber o objeto de sua cobiça.
    De fato, HÁ UMA PASSAGEM PERIGOSÍSSIMA NA VIDA DOS POVOS DEMOCRÁTICOS.
    Quando o gosto pelas fruições materiais se desenvolve num desses povos mais rapidamente do que as luzes e os hábitos de liberdade, chega um momento em que os homens ficam arrebatados e como que fora de si, ao verem esses novos bens de que estão prestes a se apoderar. Preocupados unicamente em fazer fortuna, não percebem mais o vínculo estreito que une a fortuna particular de cada um deles à prosperidade de todos. NÃO É NECESSÁRIO ARRANCAR DE TAIS CIDADÃOS OS DIREITOS QUE POSSUEM; ELES PRÓPRIOS OS DEIXAM ESCAPAR NATURALMENTE. O exercício de seus deveres políticos lhes parece um contratempo incômodo que os distrai de sua indústria. Se se trata de escolher seus representantes, de dar mão forte à autoridade, de cuidar em comum da coisa comum, falta-lhes tempo: não seriam capazes de dissipar tempo tão precioso em trabalhos inúteis; são brincadeiras de gente ociosa que não convêm a homens graves e ocupados nos interesses sérios da vida. Essa gente crê seguir a doutrina do interesse, mas só tem dela uma idéia grosseira e, para zelar melhor pelo que chamam de seus negócios, NEGLIGENCIAM O PRINCIPAL, QUE É PERMANECER DONOS DE SI MESMOS.
    Como os cidadãos que trabalham não querem pensar na coisa pública e como a classe que poderia se encarregar dessa tarefa para preencher seus vagares não mais existe, O LUGAR DO GOVERNO FICA COMO QUE VAZIO.
    Se, nesse momento crítico,UM AMBICIOSO HÁBIL TOMA O PODER, descobre que está aberto O CAMINHO PARA TODAS AS USURPAÇÕES.
    Basta que cuide por algum tempo de que todos os interesses materiais prosperem, que o considerarão facilmente em regra com todo o resto.”
    Alexis de Tocqueville, A democracia na América (1835).

  2. Silvana Allodi disse:

    A Universidade é o reflexo do país e se o país não vai bem, a Universidade também não vai bem. Se o país está apático, a Universidade também estará apática. Na verdade, não é a Universidade que desenvolve o país (deveria), é o país que deixa a Universidade se desenvolver... Como Universidade leia-se tudo o que lhe diz respeito, incluindo as agências de fomento!

  3. Otimo post Mauro e otimo comentário Mario! Bom para nossos tempos tenebrosos, como está vaticinando Jabor (aqui:http://semciencia.haaan.com/?p=939

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