Mais sobre genomas e 'mainframe' da vida
Enquanto sequenciamos o genoma do mexilhão dourado (PARTICIPEM!!!) outros grupos sequenciam outros genomas. Hoje descobrimos que um pessoal da Paraíba montou a primeira plataforma de crowdfunding dedicado ao sequenciamento de genomas (parabéns pessoal!) e hoje também saiu na Nature o sequenciamento do genoma de um peixe ancestral, o ‘fóssil vivo’ Coelacantus.
Abre parênteses: Fóssil vivo é uma péssima ótima expressão. Da mesma forma que uma coisa não pode ser ótima e péssima ao mesmo tempo, um fóssil não pode estar vivo. Mas ela significa que acreditava-se que esse peixe estava extinto há milhões de anos, até que em 1938 um pescador puxou um na sua rede nas águas da África do Sul. Fecha Parênteses.
As duas espécies desse peixe que se acreditava extinto, vivem uma na África e a outra na Indonésia. Apesar dessa cara de bicho pré-histórico, essas duas espécies que se separaram aproximadamente 6 milhões de anos atrás (mais ou menos na mesma época que os primatas se separaram no grupo que formaria os humanos de um lado e os chimpanzés do outro) tem tantas semelhanças em nível genético (no gene HOX ligado ao desenvolvimento embrionário), que os especialistas chegaram a conclusão que sua evolução é lenta… muito lenta. Juntando isso com as baixas pressões seletivas do fundo do mar, onde esses bichos vivem… temos um ‘fóssil vivo’.
Da mesma forma que estamos sequenciando o genoma do mexilhão dourado para saber mais sobre ele e poder combatê-lo, os pesquisadores estão estudando o Coelacantus para poder entender a transição entre o ambiente marinho e terrestre, ou como os peixes evoluiram para os tetrapodes (animais com 4 patas). Esse peixe tem ossos nas barbatanas, uma das demandas para ‘invadir’ o ambiente terrestre. E essa é já uma das informações que o genoma trouxe: mostraram que esses peixes já possuem uma sequencia regulatória (não o gene em si, mas aquelas sequencias que fazem com que um gene seja ‘ligado/desligado) que ativa os genes para o desenvolvimento de ‘membros’ similar a dos tetrapodes.
Outras particularidades aparecem justamente nas regiões do DNA que não codificam genes (regiões não-codificantes): o Coelacantus tem um monte de ‘transpossomos’ que são sequencias de DNA móveis, provavelmente resquícios de infecções virais, que ficam pulando de um lado para o outro do DNA (e podem ter grande importância evolutiva). E uma curiosidade… bom, pelo menos pra quem é NERD sexy que nem eu, é que eles não possuem imunoglobulina M, uma proteína do sistema imune que tooooooodo mundo tem. E sistema imune de outros bichos, vocês já sabem que a gente adora.
Será que esse bicho fica bom na Muqueca?
Amemiya, C., Alföldi, J., Lee, A., Fan, S., Philippe, H., MacCallum, I., Braasch, I., Manousaki, T., Schneider, I., Rohner, N., Organ, C., Chalopin, D., Smith, J., Robinson, M., Dorrington, R., Gerdol, M., Aken, B., Biscotti, M., Barucca, M., Baurain, D., Berlin, A., Blatch, G., Buonocore, F., Burmester, T., Campbell, M., Canapa, A., Cannon, J., Christoffels, A., De Moro, G., Edkins, A., Fan, L., Fausto, A., Feiner, N., Forconi, M., Gamieldien, J., Gnerre, S., Gnirke, A., Goldstone, J., Haerty, W., Hahn, M., Hesse, U., Hoffmann, S., Johnson, J., Karchner, S., Kuraku, S., Lara, M., Levin, J., Litman, G., Mauceli, E., Miyake, T., Mueller, M., Nelson, D., Nitsche, A., Olmo, E., Ota, T., Pallavicini, A., Panji, S., Picone, B., Ponting, C., Prohaska, S., Przybylski, D., Saha, N., Ravi, V., Ribeiro, F., Sauka-Spengler, T., Scapigliati, G., Searle, S., Sharpe, T., Simakov, O., Stadler, P., Stegeman, J., Sumiyama, K., Tabbaa, D., Tafer, H., Turner-Maier, J., van Heusden, P., White, S., Williams, L., Yandell, M., Brinkmann, H., Volff, J., Tabin, C., Shubin, N., Schartl, M., Jaffe, D., Postlethwait, J., Venkatesh, B., Di Palma, F., Lander, E., Meyer, A., & Lindblad-Toh, K. (2013). The African coelacanth genome provides insights into tetrapod evolution Nature, 496 (7445), 311-316 DOI: 10.1038/nature12027
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