Universidades ricas?

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Outra da revista Época.
No dia 14/04/2011 eles publicaram o diagrama: “Universidades ricas e escolas pobres“, onde ilustravam um estudo da FGV que mostra a distorção nos gastos brasileiros com a educação: a maior parte dos recursos vai para a universidade e uma parcela pequena sobra para o ensino fundamental.
Mas será que é verdade? Pela reportagem eu não consegui saber.
O principal indicador utilizado pelo estudo da FGV é o ‘investimento anual por aluno como percentual do PIB per capita’. Por si só essa variável já é difícil de entender e mais difícil ainda é saber o que ela significa. Os números, que em teoria nunca mentem, mostram que um aluno universitário no Brasil custava R$11.820,00 por ano, enquanto um aluno escolar custava R$1.773,00. Essa discrepância não seria vista em nenhum outro país. Os dados são mostrados na reportagem. E mais: a reportagem usa essa discrepância como justificativa para o mal desempenho dos alunos brasileiros no PISA.
O problema é que, como professor universitário, não consigo encontrar evidências para concordar com esse número. Verdade seja dita, uma preguiça mortal se abateu sobre mim para ir atrás desse relatório da FGV e ver o trabalho que eles fizeram, e ver se eles fizeram bem. A FGV tem nome, mas pra certas coisas só o nome não serve.
Quer dizer que cada aluno da UFRJ custa, provavelmente em média (e esse pode ser o primeiro questionamento do relatório: será que a média em um caso como esses é o melhor indicador de tendência central dos dados?), mais de 10.000 reais? Se é isso, onde está esse dinheiro que eu não vi? Outra pergunta importante é: os dados são referentes a universidade pública? As particulares estão incluídas? Esse percentual do PIB inclui investimentos privados?
No final da reportagem, um gráfico do MEC mostra como o percentual do PIB gasto em educação (4,3%) é aplicado e… 3,7% é aplicado no ensino médio! Ué, como é que pode?!
Levei um tempo lendo e relendo a reportagem e acho que descobri. É que mais vergonhoso do que o desempenho dos alunos do ensino fundamental no PISA, é o percentual de jovens brasileiros na universidade, atualmente em torno de 13%, como eu já disse aqui, menor do que na Bolívia. Assim, dá pra explicar entender um pouco melhor os dados e tirar uma conclusão menos obtusa e tendenciosa que a reportagem da Época. O estudante universitário é caro porque são poucos estudantes e porque são poucas universidades! Porque está tudo concentrado em um centro ou outro, porque a politicagem deixou as universidades anos sem concurso, sem técnicos acadêmicos e administrativos, sem recuperação de infra-estrutura.
A reportagem quer levar o leitor a conclusão de que a universidade no Brasil é um luxo, que o universitário é um privilegiado, e que o investimento não é recuperado. Não é verdade! E essa reportagem é uma bosta!

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