Amuletos

Césio 137
Tem gente que carrega pedra por proteção. Seja de um amuleto que dá sorte, seja da arma que ameaça. “Estou armado, vai encarar?” Tem ainda outros que carregam por falta de opção (é a pena deles, trabalho forçado ou pedra amarrada no pé mesmo). De qualquer forma não me parece um bom negócio.

Vejam esse exemplo. A radioatividade não foi descoberta de uma vez só. Podemos dizer que começou com os raios-X de Röntgen em 1895. Mas essa era uma radioatividade artificial. Os raios-X eram produzidos pela passagem de eletricidade por um tubo catodo contendo um gás rarefeito. Os Tubos catódicos eram muito utilizados por pesquisadores daquela época para estudar os fenômenos de brilho que eles apresentavam. Henri Becquerel foi o primeiro a observar a radiatividade natural em sais de urânio em 1896. Mas foi o casal Marie e Pierre Curie que desenvolveram em muito o estudo da radioatividade, descobriram que o Urânio se transmuta em Rádio e Polônio por perda de energia e desenvolveram métodos para purificar o Rádio. Foi Marie inclusive que cunhou o termo radioatividade.

Rapidamente os pesquisadores descobriram que aquelas elementos tinham a capacidade de causar alterações biológicas. Curie e Becquerel bolaram então um experimento para investigar as lesões causadas pelas emissões do rádio na pele. Bequerel carregou no bolso de seu colete durante 6 h um vidrinho contendo uma pedrinha (do tamanho de uma cabeça de alfinete) de Cloreto de Bário radioativo (800.000 vezes mais radioativo que o Urânio). 10 dias depois ele observou a formação de uma mancha vermelha no peito, que nos dias seguintes ficou preta. 20 dias depois da exposição havia sido formada uma ulceração que só foi curada com um mês de tratamento com bandagens, deixando uma cicatriz na forma do tubo. Durante esse tempo, uma nova mancha apareceu na posição oposta, referente ao outro lado do bolso, onde o tubo havia ficado menos de 1 h.


A foto mostra a lesão feita propositalmente por Pierre Curie em seu braço com um sal de Rádio e publicada em um jornal francês.

Carregar a pedra no bolso não servia nem para dar boa sorte. Marie e Pierre Currie ganharam o prêmio Nobel de Física em 1903, mas ele morreu atropelado por uma carruagem em Paris em 1906 e ela em 1934 de Leucemia (causada pelos anos de manuseio dos elementos radioativos).

Uma pedra no bolso também foi a razão do acidente radioativo de Goiânia em 1987 se transformar em uma catástrofe. Um velho aparelho de radioterapia foi roubado do prédio de um hospital abandonado pra ser vendido como sucata em um ferro velho. A blindagem da fonte de radiação, com algo em torno de 20g de Césio 137 (primeira foto), tinha mais de 120 kg de chumbo e devia valer alguma coisa. Quem comprou foi Devair Alves Ferreira, que depois de abrir a proteção da fonte a marretadas, ficou encantado com o pó azul brilhante e resolveu levar pedaços da pastilha de Césio para casa. Devair carregou a pedrinha no bolso por vários dias, mostrava para os amigos e vizinhos, em casa e no bar:

“Todos os dias eu pegava aquela pedra. Minha mulher tinha pavor e vivia tapando a pedra. Ela detestava e eu amava a pedra. Eu convivi oito dias com aquela pedra. Tomava cerveja e colocava o copo em cima dela”.

Nossa… parece coisa do Senhor dos Anéis. “My precious…” Deu no que deu: 16 mortes e a maior contaminação acidental depois de Chernobyl.

A verdade é que pedras no bolso pesam, tiram a leveza e a velocidade. Prendem. Machucam quem carrega e podem dar câncer.

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