Desmaiando de chatice

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Enquanto preparo o programa de aulas para o semestre que se inicia, me pego perdido em pensamentos: será que foram boas aulas? Será que os alunos gostaram?
Bom… essas duas perguntas não são complementares, porque dado que uma, nada garante a outra. E nada pode garantir que todos os alunos gostarão de uma aula, como já falei brevemente aqui.
Então me pergunto a única pergunta que posso responder: será que eu gostei?
Revejo o programa, revejo algumas aulas, revejo algumas atividades.
Sim, gostei de muita coisa. Mas não, não gostei de muitas coisa também. Tivemos tantas aulas… chatas!
Eu coordeno 3 disciplinas. O que quer dizer que monto o programa (com a contribuição de outros professores) e supervisiono as aulas. Dou várias aulas também, mas atualmente as disciplinas quase sempre envolvem mais de um professor. Na maior parte das vezes, por ser o entendido, especialista no assunto. Mas algumas outras vezes, porque justamente na falta de um especialista, sobrou pr’aquele pobre coitado falar do que ninguém mais queria falar.
Outra característica das disciplinas é a presença de alunos de pós-graduação dando aulas. Muitas vezes porque são muito bons e são, eles próprios, os especialistas nas diferentes áreas, e não o docente responsável. Mas várias vezes apenas para cumprir os pré-requisitos da bolsa da CAPES.
Os próprios alunos também dão aulas. Bem, na verdade não são aulas, são seminários, que não são exatamente aulas, mas que eles acabam apresentando como se fossem. Confuso? É exatamente isso que os seminários dos alunos são.
Então temos um pouco de tudo nas aulas. E apesar dessa ser uma possibilidade enriquecedora, o que temos é confusão. Quase caos!
Não há como requerer o mesmo conhecimento, o mesmo esforço ou a mesma habilidade natural para todos os professores. E muito menos para os alunos.
Alguns professores são claramente melhor que outros. Não só no conteúdo específico, mas principalmente no jeito de dar aula. Pode ser fruto de uma estratégia pensada, com resolução de problemas, planejando cuidadosamente a construção do conhecimento ou o que vai chamar atenção ou motivar os alunos. Outras vezes são ‘naturais’. Não precisam fazer nenhum esforço para manter atenção dos alunos. São encantadores de serpentes, sedutores de massas. É lindo ver um ‘natural’ dar aula. Mas são tão raros quanto os dedicados do início do parágrafo.
A maior parte dos professores acha que o que eles tem para ensinar é tão importante que o aluno não faz mais que a obrigação de prestar atenção e aprender. Talvez um dia tenha sido assim, mas não é mais. Hoje o professor tem que concorrer com MTV, cinema 3D, videogame, Vampiros, facebook e Google. O principal erro deles é não selecionar informação. Dão um monte de artigos para os alunos lerem, esperando que eles depreendam as coisas corretas, sem ter preparado eles pra isso. E esse, os 10 artigos, é só um exemplo. Mas eles podem fazer isso com qualquer coisa, até mesmo com uma pergunta em sala de aula, daquelas que com a escassez ou excesso de informação que foi dado, apenas ele, professor que fez a pergunta, e ninguém mais, tem como saber a resposta.São de uma chatíce infinita. E as aulas, de desmaiar.
Os alunos reclamam e com razão. Ou… não reclamam, e fazem o mais fácil: vão embora e não assistem a aula.
Sim, também vão embora das aulas boas, mas por outras razões, que certamente incluem vagabundagem, mas que não vêm ao caso aqui.
Abre parênteses: as salas de aulas estão cada vez mais vazias. Quando o professor faz chamada e é exigente com assiduidade e pontualidade, a sala pode até estar cheia, mas as mentes estão vazias. E quando ele é muito exigente na prova, os olhos até ficam grudados no quadro negro, aquele artefato antigo, ou no projetor multimídia, os cadernos podem até estar cheios, de anotações, mas as mentes continuam vazias. De um jeito ou de outro, as salas de aulas estão vazias e isso é um perigo. Fecha parênteses.
Os professores podem ser novos, mas os métodos de ensino são tão, tão velhos. Na palestra do Luli Radfaher ele menciona a parabola de Simon Paper, que fala do professor que adormeceu há 200 anos e quando acordou encontrou a escola… exatamente igual. Chata.
Por que será? Porque será que nada mudou na escola nos últimos 200 anos? Sim, porque quem acha que datashow é um grande avanço tecnológico se engana. O último grande avanço tecnológico na escola, nas palavras do Cristovam Buarque, foi o quadro negro (inventando em 1781), que permitiu que as aulas fossem ministradas para 40 e não mais 4 pessoas.
A resposta, na minha experiência, é que, apesar daqueles exemplos românticos do ‘professor que mudou a sua vida’, os alunos que ficam na escola e se tornam professores não são os melhores alunos e nem são os que tem mais iniciativa; são os que tiram boas notas porque são bons de imitação, já que imitando os professores ganham boas notas, e achando isso legal, se tornam eles também professores.
Deve ser isso. Qual é a outra explicação para tantos professores chatos? E tantos alunos com aulas chatas? Sim, porque os alunos podem ser muito críticos na hora de questionar a estratégia didático-pedagócia do professor, mas na hora que ele tem que dar uma aula… faz igualzinho. O que com falta de experiência, quer dizer PIOR!
Na sua grande maioria, as aulas dos alunos de pós-graduação são as piores. Desculpem, vou refrasear, são as aulas mais chatas.
Mas pode ser que eu esteja errado e haja outra explicação. A aula talvez tenha que ser chata mesmo. O nosso cérebro tem um esquema impresso no seu hardware e é o mesmo pra todo mundo. E é feito para aprender coisas muito diferentes de matemática. Talvez por isso, os professores preparam aulas há séculos da mesma forma. E os alunos, quando convidados a prepararem uma aula, fazem a mesma coisa. O que torna a aula chata então não é o formato da aula ou o conteúdo, é o fato que hoje, na universidade, o aluno está ali mas gostaria de estar em outro lugar.

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