A pílula da imortalidade


Estou preparando a aula de amanhã e me deparo com algo que nunca tinha pensado a respeito. Ao que parece, a senescência, mais conhecida como velhice (definida ecologicamente como um aumento na mortalidade e redução da fertilidade em decorrente da deterioração das funções fisiológicas), é uma característica que evoluiu ao longo do tempo. Então a velhice é uma coisa boa, importante? Não, simplesmente porque a “seleção natural” tem pouco poder para influenciar os idosos.

Explico melhor.

Se você é jovem e pouco hábil, ou pouco adaptado, então não deve conseguir se reproduzir. Não vai deixar descendentes e aquelas características hereditárias que só você tinha vão desaparecer da população com o tempo. Se você é um sujeito bem apessoado e bem adaptado ao seu ambiente, tem mais chances de conseguir uma fêmea para deixar seus genes na ativa por mais uma geração.

Agora imagine que a longevidade (basicamente o oposto da senescência), é uma das características que uma pessoa pode apresentar. Alguns podem ter genes que favoreçam viver até 120 anos, enquanto outros apenas até 60 anos. A questão é que, apesar de muitos de nós considerarmos a possibilidade de viver até 120 anos uma coisa boa, a seleção natural, com toda a sua falta de tato e gentileza, não tem como saber disso.

Explico melhor.

De acordo com alguns autores, a partir dos 30 anos, o ser humano começa um processo de redução das suas capacidades fisiológicas, de forma linear até a idade de 80 anos. Essa perda é da ordem de 80% para a transmissão do impulso nervoso nos neurônios, 45% para a atividade dos rins e 35% para a capacidade respiratória. Um sujeito com um grande potencial longevo, ou perderia menos do que esses valores, ou perderia os mesmos valores mais devagar.

A questão é que se até os 30 anos todos eles tem as mesmas capacidades fisiológicas, então essa vantagem nunca vai se refletir em uma maior fecundidade (prole viável deixada por um indivíduo). Seja ou não um longevo, todo mundo vai ter a mesma chance de deixar prole antes de começar a perder suas funções fisiológicas após os 30 anos (meu deus… eu já vou fazer 36!).

Foi ai que me veio em mente: O Viagra é a a fonte da juventude! Com as pessoas reproduzindo mesmo depois de velhas, a seleção natural terá como agir na idade avançada. E é possível que a longevidade passe a ser selecionada. A pílula da eternidade!

Com os avanços da medicina, com a redução da natalidade em função da crise econômica mundial e se a previdência social não quebrar, é inclusive possível que os idosos tenham realmente vantagens reprodutivas sobre os jovens. Pelo menos em número 😉

É claro que existem vários problemas também. As fêmeas não tem viagra. Certo que elas não precisam, mas existe uma sugestão de que a menopausa se desenvolveu ao longo da evolução justamente para proteger as mulheres do grande risco da gravidez e do parto em idades avançadas. Acabaria existindo uma população longeva apenas de machos.

Mas se o gene da longevidade fosse transmitido de pai para filha… ai as fêmeas estariam no páreo evolutivo novamente. E sem precisar de bolinha azul!

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