Porque o carro pára sem explicação no meio da duna?

Li uma vez que existem três tipos de conhecimento: o religioso, o filosófico e o científico. O religioso depende da fé para existir, o filosófico da lógica e o científico de evidências experimentais. Claro que houve vários cientistas filósofos, religiosos que foram cientistas e filósofos que eram religiosos. Há quem diga, como eu, que todo conhecimento é válido como argumentação, mas o conhecimento que é importante mesmo, é o científico.

Vamos examinar a pergunta do título.

O religioso diria: Porque é a vontade de Deus. Ou porque eu pequei.

O filósofo diria: Porque você está de férias. Se estivesse trabalhando, pararia sem explicação na Linha Vermelha.

O cientista diria: Porque acabou a gasolina. Não, peraí?! Eu enchi o tanque, não pode ter acabado a gasolina. Ligo o carro novamente, pega. Acelero, morre. Ligo de novo, pega de novo. Não acelero, ele continua ligado. Não é gasolina, nem sistema elétrico. Acelero, morre. Reparo que enquanto estiver abaixo de 1000 rpm tudo bem. Quando sobe, dá um clique e morre. Vela eu penso. O que será? Areia? Tinha areia nos últimos 50 km. O que aconteceu 5 min antes? O riacho. O guia mandou atravessar ali na direita, onde era mais raso. Só que não era raso e se eu não tivesse embalado, tinha ficado no riacho. Molhou todo mundo dentro do carro. Deve ter encharcado o motor. Distribuidor. Não, carro moderno não tem mais distribuidor. Isso era quando eu dirigia a Caravan 1979 do meu pai. Vela. Tem que ser vela. Devem ter molhado e só uma está funcionando. Por isso a marcha lenta funciona. Abro o capo. Sol a pino. Acho as velas. Tiro a última primeiro. Sempre é a última. Não era. Seca. Tiro a segunda, porque quando não é a última, a primeira também não é. Lembro que isso é superstição e não ciência. A segunda também está seca. Tiro a primeira e depois a terceira. Todas secas. Não é vela. Tem que ser alguma coisa que molhou. Se molhou vai secar. Vou dar um mergulho. Volto. Ligo, pega, acelero, morre. Abre o capo, sei que não é vela, tem que ser alguma coisa eletrônica, porque o carro não engasga. Tem o clique bem no 1000 rpm. Tem pequenas poças d’água por todos os lados. Porque não fiz mecânica ao invés de biologia? Procuro tomadas e plugs. Acho um, grande, vários fios coloridos. Deve ser importante. Desplugo. A água não parece ter entrado, mas está molhado nas bordas. Sopro daqui, sopro dali, seco com a camisa. Encaixo. Ligo, pega; acelero, soluça. Vrumm, clic, vruummm, clac. Acelero bem devagar. Chego a 1500 rpm. Saímos do lugar. Na primeira duna tento chegar a 2000 rpm. Morre. Digo todos os palavrões que conheço. São muitos. Ligo, pega; acelero, 1500, 2000, 2500, 3000. Saímos do lugar, subimos a duna de Tatajuba, descemos e não passamos mais por nenhum riacho. Chegamos em Icaraizínho de Amontada. Era o plug colorido.

O que diria o religioso: ‘Graças a Deus’
O que diria o filósofo: ‘Logo, a culpa foi do guia’
O que diria o cientista: Quem tem treinamento em ciência resolve qualquer problema!

Amém

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