Todo mundo no mesmo barco
Na última 6a feira meu 3o aluno de mestrado defendeu sua dissertação. Foi um parto.
A experiência de orientador é provavelmente a mais enriquecedora da vida acadêmica. Uma orientação nunca é igual a outra, provavelmente porque um aluno nunca é igual a outro. A minha ilusão inicial é que o trabalho nós colocasse a todos, alunos e professores, no mesmo barco, um barco onde eu levava o leme. Ledo engano.
Tem aqueles que enquanto você está no leme, levantam e baixam a vela no momento certo, tiram água quando esta entra e verificam se as amarras estão seguras quando a gente chega no porto. Mas tem também de tudo: aqueles que querem seu próprio barco, aqueles que tem medo do barco andando rápido demais e pulam na água, aqueles que não tem idéia do que fazer no barco e você tem de dizer tudo o que ele tem que fazer (Camba! Caça a vela! Não deixa emborcar). Ah, e tem os motineiros. Aqueles que querem tomar o barco de você.
Oxalá um dia incluam uma disciplina de RH no curriculo dos biólogos, mas eu tive mesmo que aprender escovando assoalho e tomando com a vela na cabeça. Não fosse o cinto de segurança (e a ginga de capoeira) tinha caído pra fora nos primeiros escorregões e o barco estaria a deriva.
O que eu tenho muita dificuldade de convencer novos alunos é de uma particularidade importante da ciência. A ciência é muito, muitíssimo, extremamente, democrática. A ciência, como já disse aqui é para todos. Está aberta para todos. Mas a ciência não é uma democracia. Aqui não vale o que fala a maioria, mas sim o que está certo (e que cada vez menos são a mesma coisa).
A ciência não faz, e nem deve fazer, concessões. Nenhuma!
Aqueles resistem, questionando a validade dessa essa exigência, ou evocando um ‘lado humano’ na ciência (que permitiria a ela abrir exceções ou fazer concessões), eu digo que são ingênuos.
Mas nosso barco é grande e pode fazer muitas coisas. E apesar de seguir uma trajetória bem definida, passa por muitos lugares. Quem quiser se juntar a nós pode ter muitas experiências diferentes nele, pode nos acompanhar na nossa longa caminhada, ou apenas percorrer o trajeto até o próximo porto. Minha exigência para um aluno é que ele aceite que a ciência não faz concessões, e no que tange esse aspecto, tampouco eu. Mas conselho é que ele invista em escolher que tipo de passeio quer e está disposto a fazer.
Ou, mudando a metáfora mas mantendo o sentido, como perguntam diriam os motoristas de Buggy das dunas do nordeste:
“Vai ser com o sem emoção?”