Diário de um Biólogo – Sexta 19/12/2008

Cheguei em São Paulo na hora do almoço. O compromisso que me tráz aqui não é científico. Venho ver uma antiga paixão: A Madonna! Porque eu não fui assistir no Rio vocês podem perguntar, mas essa é uma outra história, que tem a ver com o meu único primo que é paulista e tinha um ingresso sobrando. Fui almoçar com ele, que veio me buscar com um terno que não combina com a imagem que eu ainda tenho dele com 9 anos (5 a menos que eu) sendo massacrado na guerra de travesseiros, na casa de praia em São Pedro da Aldeia.

Depois do almoço (bife a cavalo) em um típico buteco carioca em SP, o Pirajá, ele voltou para o trabalho e eu me encaminhei para o programa que venho querendo fazer das últimas 5 vezes que estive em SP: O museu da língua portuguesa. Fui de ônibus pela Rebouças até a estação do metrô da consolação e de lá até a estação da luz, onde fica o museu. Sim, na estação mesmo. Pra começar o ingresso, inteiro, adulto, custa R$ 4,00. O museu é um expetáculo (com x do sotaque carioca). Mas vou falar apenas da exposição sobre Machado de Assis.

Mais que seus famosos textos, me chamaram atenção suas observações sobre o ato de escrever. Talvez porque eu esteja escrevendo tanto nesses últimos tempos (seja no blog, nos artigos, teses de alunos, mas principalmente nos cursos a distância) mas possivelmente porque tenho tido de avaliar o que os outros escrevem: meus alunos em geral. Impressionante como suas observações são modernas. Algumas impressas nas paredes, no chão ou em páginas de livros gigantes, como na foto acima.

Outras, lidas por vozes famosas em auto-falantes grudados nas paredes:
“Talvez eu suprima o capítulo anterior. Há ai, nas últimas linhas, uma frase muito parecida com um despropósito. E eu não quero dar pasto a critica do futuro”.

Essa é de ‘Memórias póstumas de Brás Cubas’:
“Mas não, não alonguemos esse capítulo. As vezes, me esqueço a escrever e a pena vai comendo papel, com grave prejuízo meu, que sou autor! Capítulos compridos quadram melhor a leitores pesadões e nós não somos um público infólio,. Mas in- doze pouco texto, larga margem, tipo elegante, corte dourado e vinhetas… principalmente vinhetas. Não, não alonguemos o capítulo.”
As frases de Machado se aplicam muito bem ao mundo saturado de informação onde vivemos, em que a diferença entre um bom texto e um texto ruim, ou um texto fácil ou difícil, esta diretamente relacionada a quantidade de texto produzido por um autor. A quantidade é um parâmetro de qualidade. Depois que aprendi isso, é difícil imaginar como alguém pode não percebê-lo. Nada mais me chamou tanta atenção na exposição.

Faz toda a diferença para escrever um texto científico ou acadêmico.

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