Como saber quando alguma coisa se quebrou?

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Algumas coisas são fáceis de determinar. Um copo, um vaso, uma cadeira, um relógio… quando essas coisas quebram ninguém fica na dúvida. Não precisamos nem ‘definir’ o que seria quebra para entender que elas tiveram sua estrutura alterada de modo a perder a sua função.
Já com relações é mais difícil. Como podemos determinar que um vinculo, uma relação se quebrou? Qual o ponto onde sua estrutura é modificada a ponto de perder a sua função?
Acho que a dificuldade para definir o ponto de quebra é que relações não são estáticas. Parecem mais com organismos vivos do que com copos. Um copo, depois de formado e até que se quebre, é, e continuará sendo sempre, um copo. Relações são mais complexas.
Complexas, essa é uma ótima palavra e provavelmente a mais adequada.
Do ponto de vista biológico, complexidade significa 3 coisas: Mecanismos de retroalimentação, redundância e diversidade. Mecanismos de retroalimentação permitem que nos adaptemos a situações. Principalmente as novas situações. Redundância gera alternativas e diversidade gera informação. Mais, gera conhecimento. Fico numa grande dúvida pra dizer qual dos 3 é o mais importante, mas vou arriscar que para as relações, são os mecanismos de retroalimentação.
Imagino que quanto mais diversas nossas relações, melhor é cada relação individualmente. Também imagino que se temos redundância nas nossas relações, como dois melhores amigos, temos menos risco de ficar na mão. Mas sem retroalimentação, vivemos isolados. A gente faz o que quer, achando que está fazendo o que o outro quer. Sem retroalimentação, a relação é de mão única.
A complexidade permite a evolução. A própria relação entre complexidade e evolução tem um aspecto curioso: a estabilidade. Ela é ao mesmo tempo causa e conseqüência da evolução. Sem estabilidade, um sistema não pode evoluir. E ainda que não seja uma determinação, evolução tende a gerar estabilidade.
Por que isso tudo é importante? Vejam, estávamos falando de quebra. Uma relação jovem, como todo sistema jovem, possui muita energia e pouca diversidade. Sem estabilidade, um evento aleatório (pra não dizer ‘qualquer coisa’ ou ‘sei lá’, vamos supor ‘o dia amanhecer chuvoso no dia que você combina de ir a praia’ ou ‘chegada da sogra para o final de semana’) pode desencadear mudanças bruscas no fluxo de energia do sistema. Como os papéis dos personagens não estão totalmente definidos em uma relação jovem, é difícil essa energia se dissipar por diferentes canais e fácil, muito fácil, gerar agressão. E ruptura.
Claro, nem sempre agressão leva a ruptura. Mas e quando leva? É ai que se quebra? É.
Mas felizmente uma relação não é um copo e tem uma outra característica dos sistemas complexos que eu quase ia esquecendo de mencionar: resiliência.
A capacidade de se recuperar rapidamente depois que o sistema é desequilibrado por uma perturbação é fundamental para que os sistemas possam evoluir, simplesmente porque o sistema SERÁ perturbado e PERDERÁ seu equilíbrio. As coisas mudam no mundo e isso é imutável. E por isso a perturbação e o desequilíbrio são inevitáveis.
A resiliência é possível por duas razões, que ao mesmo tempo são duas condições sin ne qua non: O princípio da incerteza diz que nada volta exatamente para o mesmo lugar. Então depois que um sistema é abalado, ele não pode voltar também para o mesmo lugar. A resiliência é possível porque todo sistema possui, na verdade, mais de um equilíbrio possível. Talvez você não saiba, mas que tem, tem. A outra causa e condição é a conservação de informação. Um sistema pode ser reduzido a sua menor parte que possua todo o conhecimento para recuperar o sistema por completo. No fim das contas, se é inevitável que seu copo se quebre, não esqueça como se faz um novo.
Todos buscamos a estabilidade. O objetivo da mais simples das células, desde o início dos tempos, é manter estabilidade do seu meio interno independente das variações do meio externo, na tentativa de manter intactas as valiosas informações que possui. Mas também queremos mais informações. Queremos NOVAS informações. O dilema entre o novo e o estável é apenas um dos muitos com os quais temos de conviver, encontrando um ponto de equilíbrio.
O que melhora com o tempo, com a evolução, é que acabamos por descobrir nossos múltiplos pontos de equilíbrio e a resiliência. E ai perdemos o medo.

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