N.E.R.D.S.

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Um sistema é tão rápido quanto a sua parte parte mais lenta.
Ainda me lembro quando o Batata me explicou pela primeira vez o papel da memória e do processador na limitação de velocidade do computador. Não adianta ter um em excesso, se faltar do outro. O sistema será sempre limitado pela sua parte mais lenta, ou menos abundante.
O Batata era um NERD gente boa, mas apesar de termos feito a maior parte da faculdade contemporaneamente, só fomos descobrir afinidades depois, na fria e chuvosa Rio Grande (RS), onde morávamos durante o mestrado.
Eu admirava ele por ler coisas como ‘A mente nova do Imperador’ de Roger Penrose. Foi ele quem me explicou que os halos de luz em volta da lua em noites muito, muito frias, eram formados pela difração da luz em no gelo acumulado em camadas elevadas da atmosfera. O mais engraçado é que estávamos Eu, Dani e Lilica na rua da vila em que morávamos, quando vimos encantados o halo em torno da lua e, depois de uns 15 min de elocubrações, sentenciamos: “vamos perguntar pro Batata porque definitivamente ele sabe”. E sem pensar por apenas um minuto, o Batata respondeu, como se a resposta fosse a coisa mais trivial do mundo.
Eu e Batata conseguíamos discutir por várias coisas sem nunca brigar, o que até hoje me surpreende, já que não é uma coisa que eu experimente com frequência. Mas acho que era possível apenas pelas convicções fortíssimas de cada um. Ele adorava gatos e eu detestava gatos. Nada seria capaz de demover um ou outro. Mas como morávamos na casa dele, eu aturava os gatos. E o Batata também é autor daquela célebre frase: “Sexo é bom mas dá muito trabalho!” Éramos realmente diferentes.
Mas porque essa história toda do meu amigo NERD se eu quero falar sobre sistemas? É pra dizer que eu também sou NERD. Talvez um pouco menos na aparência, mas não muito menos no espírito. Eu fui ler Nietzsche, Popper e outros caras pra poder ter mais assunto com cérebro privilegiado do meu amigo, enquanto ele fazia batata frita com casca e eu frango assado pro pessoal da nossa vila. Infelizmente não consegui que o Batata aprendesse um passo de dança, mas felizmente, não me deixei contaminar pelo RPG.
O que me torna NERD, e me deixa orgulhoso disso, é o tesão que tenho no conhecimento. Além de continuar gostando de ler livros densos até hoje, eu vejo um sistema, qualquer um, e procuro a parte mais lenta dele, para descobrir o quão rápido ele pode ir. E quando consigo, me fascina! É também um exercício de resolução de problemas: se você precisa de mais velocidade no seu computador, não adianta investir todo o seu dinheiro em memória, e deixar o processador pra lá: o computador não ficará mais rápido por isso. Mas principalmente se não dá pra investir em memória e processador, tem de descobrir qual deles é o limitante (senão são tempo e energia desperdiçados).
Isso vale para qualquer área. Em ecologia também temos os fatores limitantes. Dos 3 principais nutrientes para as plantas, nitrogênio, fósforo e carbono; não adianta nada ter excesso de um ou dois, se faltar o terceiro. Com um fator limitante, a planta não cresce.
Por isso, muitas vezes sei, de antemão, se a proposta para resolver um problema não vai funcionar: a solução não leva em conta o fator limitante.
Identificar os fatores limitantes dá trabalho. É preciso conhecer o sistema e isso requer um considerável investimento de tempo e recursos.
Você pode achar que não vale a pena gastar nem um minuto com esse divertimento NERD, mas eu acho meu entretenimento esporádico um treinamento que aumenta em muito as minhas chances para resolver qualquer problema que possa aparecer, por me ajudar a reconhecer pontos chaves, fatores limitantes e calcular probabilidades de sucesso. Ai é uma questão de decidir (que, definitivamente, nem sempre é fácil).
Mas eu também decido, porque convenhamos, depois que a gente cresce, resolver problemas pode ser divertido também. Mas como resolver problemas não é a minha única forma de divertimento (eu tenho muitas, muitas outras), depois de resolvido o problema, posso ir mais cedo pra praia, ou pra festa, me divertir de verdade.
O que eu não acho a menor graça, é em quem não gosta de investir nenhum tempinho em resolver seus problemas, e fica pra lá e pra cá com os problemas debaixo do braço, sem nunca abandoná-los. Quase se vangloriando, orgulhosos, que seus problemas não tem solução. Vai pra praia e leva os problemas. Vai pra festa e leva os problemas. Isso é que não é diversão. Pra mim, esses são os verdadeiros NERDS.

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