O que que eu faço com essa porra?
Nos últimos 50 anos, a seleção natural tem sofrido algumas mutações. Alguns autores acreditam que mais do que a ‘sobrevivência’ do mais apto, ela trata da ‘reprodução’ do mais apto. Se o organismo sobrevive, mas não se reproduz…. não adianta. A seleção natural é uma seleção sexual!
Com isso, grande parte do nosso comportamento evoluiu não apenas para sobreviver, mas também para favorecer a reprodução. Alguns desses comportamentos parecem mais obviamente conectados a reprodução, mas outros são menos diretamente relacionados, ainda que sejam altamente sexuais.
O sexo oral por exemplo, apesar de ser parte do que entendemos como ato sexual, não parece trazer nenhuma vantagem reprodutiva direta. Para a natureza, esperma lançado fora do corpo da fêmea é, nada menos que, um tremendo desperdício. E a natureza tende a ser extremamente econômica, como já comentamos aqui.
Mas então porque os humanos fazem sexo oral? Porque é muito bom, você vai dizer. Bem, infelizmente essa resposta não é suficiente para a seleção natural (e também encerraria o meu artigo aqui). Além disso, não são apenas os humanos que fazem sexo oral. Você nunca viu os cães cheirando e lambendo as partes: próprias ou alheias?! Os primatas, incluindo nossos primos chimpanzés, fazem a mesma coisa. É um comportamento bastante difundido no reino animal. Será que eles fazem isso também só porque é bom? Sim, só por ser bom já é motivo suficiente para fazer, mas então porque é bom? Você nunca pensou nisso? Não é um prazer racional e sim instintivo. E se é instintivo, geralmente tem uma razão de ser.
De alguma forma, o que biologicamente parece um desperdício, na verdade aumenta as chances de reprodução. Parece um dilema, mas é um investimento.
Apesar do nosso sistema nervoso central (SNC) estar ligado conscientemente em detalhes da aparência humana, como roupas, carros e cortes de cabelo, ele também está ligado inconscientemente em outras coisas, mais básicas, como cheiros, sons, formas e movimentos.
Muito bem, um cara sai com uma menina: cinema, jantar, vinho e quando chega a hora o SNC (dele) está atento a cor da calcinha e do sutiã (dela), da cueca e da meia (dele), se ela se depilou e se ele rói as unhas; ao mas o SNC também está atento atento a várias outras coisas: a relação entre a cintura e o quadril (dela), a relação entre a largura dos ombros e a cintura (dele), a freqüência da voz (principalmente dele), que são os elementos mais óbvios de saúde física reprodutiva. Outros sinais são mais sutis e precisam de uma aproximação maior.
Para os especialistas em comportamento reprodutivo humano, como Robin Baker, é ai que o sexo oral entra: para ajudar a captar os sinais mais sutis de saúde reprodutiva. E não apenas de saúde, mas de comportamento reprodutivo em geral.
Por exemplo, um odor ou gosto desagradáveis na genitália da fêmea podem ser sinais de doenças. Mas além disso, ao cheirar e lamber a genitália da fêmea, o macho pode perceber a presença do esperma de outro macho. Uma informação muito importante, quer ela seja a sua fêmea estável, quer não.
A fêmea por outro lado também está buscando informação quando manuseia ou leva o membro do macho a boca. Não, o tamanho não é o mais importante. Mais importante é o tempo que o homem leva para alcançar a ereção. Esse é um tremendo sinal de saúde sexual. Nossos ancestrais tinham que estar atento aos predadores durante a cópula e não havia tempo a perder. Uma fêmea não queria um cara que demorasse para crescer. Nem que demorasse para ejacular já que a quantidade, a cor e o odor do sêmen também são elementos fundamentais para a avaliação da fêmea. Uma porra branca, viscosa e sem odor é preferível a uma amarelada, liquefeita e com cheiro forte. O volume é uma questão a parte, já que depende sempre de outros fatores.
Então a natureza masculina concorda em esbanjar um pouco de sêmen porque isso pode aumentar as chances dele copular no futuro (um futuro próximo).
(Continua no post acima)
Koelman CA, Coumans AB, Nijman HW, Doxiadis II, Dekker GA, & Claas FH (2000). Correlation between oral sex and a low incidence of preeclampsia: a role for soluble HLA in seminal fluid? Journal of reproductive immunology, 46 (2), 155-66 PMID: 10706945