Minha tatuagem pode fritar na ressonância magnética?


Eu tenho uma irmã loira e linda. Na verdade tenho duas irmãs e as duas são lindas, mas atualmente, só uma é loira. Minha sobrinha, essa sim, loira de verdade, é a mais linda. Mas a minha irmã, que, não deixem ninguém saber, nem é loira de verdade (mas é realmente linda), pediu para eu escrever um texto respondendo a sua pergunta, apesar de eu já tê-lo feito ao telefone. “Não, mas você tem que escrever um texto pra mim, só pra mim, sem mencionar mais ninguém. Quero uma resposta exclusiva!” Esse senso de exclusividade das mulheres ainda vai levar a humanidade à extinção!

Um belo dia desses, depois de falar horas pelo Skype com o maridão que está nas Arábias, ela estava, lá pelas 19h, assistindo House, o médico pedante, azedo e brilhante (não necessariamente nessa ordem) do Universal Channel; quando solta um grito e desmaia.

No episódio (que eu também já assisti porque fiquei viciado em House) um presidiário tem de fazer uma Ressonância Magnética. Um exame que quase todo mundo já fez. Não dói, não arde, não queima. O máximo que pode acontecer é uma claustrofobia de ficar dentro da máquina (mas atualmente já existem umas abertas). A enfermeira que acompanha o exame apenas te informa que você não pode usar nada metálico. Brincos, anéis, pulseiras, botões de calça jeans. Apesar do presidiário da TV estar só com o avental do hospital, a médica informa ele que sentira suas tatuagens queimando, e que não havia nada a fazer.

Minha irmã, linda porem louca e escandalosa, com suas 3 enormes tatuagens no corpo (uma ave do paraíso na cintura, um cavalo na nuca e uma serpente no pé) desmaiou na hora. Ela teria de fazer uma ressonância magnética dali alguns dias e… nenhum diagnóstico preciso valia a perda das tatuagens. Alguns dias depois do susto, foi que ela se tocou de perguntar: “Mas porque a ressonância fritaria as tatuagens?” A pergunta é de loira, mas o biólogo explica e responde.

Primeiro a gente tem que explicar o que é a ressonância magnética. O magnetismo é um fenômeno simples, porém pouco intuitívo. Ele tem a mesma origem da eletricidade. Cargas elétricas estáticas produzem um campo elétrico, cargas elétricas em movimento produzem um campo magnético. O As cargas elétricas dos átomos são produzidas pelos seus elétrons (a eletricidade que chega a nossas casas é quase toda transferida pelos elétrons de cobre nos fios). Uma das formas de avaliar a carga das partículas é ver como elas são influenciadas (que significa desviadas no percurso de um tubo com paredes de imãs) por campos magnéticos. E controlando o campo eletromagnético da parede do tubo, podemos controlar o comportamento dos átomos carregados. De forma oposta, quando átomos neutralizados (sem carga elétrica) são submetidos à um campo irregular deveríamos observar um comportamento aleatório. Uma nuvem de particular que migraram aleatoriamente no tubo. Mas o que se vê é que ainda existe um desvio em duas direções, sugerindo ainda a presença de cargas positivas e negativas nos átomos neutralizados. Como as cargas não poderiam vir dos elétrons, a explicação é que os núcleos se comportavam como minúsculos ímãs. Isso porque eles giram, assim como os elétrons, em torno de si mesmos. Para um lado ou para outro.

Com o tempo foram descobrindo que os núcleos dos átomos eram capazes de absorver energia de ondas de rádio por ressonância. O que é ressonância? Imagine que duas coisas estão vibrando próximas uma da outra, como cordas de um violão. Quando essas duas coisas vibram na mesma freqüência, então elas podem trocar energia através de suas vibrações. Isso é ressonância. Como os núcleos de cada elementos são diferentes, eles absorvem a energia de ondas de rádio específicas que ressonam na mesma freqüência que eles. Todos esses fenômenos, que são a base da maquina de ressonância magnética nuclear que você já freqüentou, foram observados no início do século XX.

Para gerar uma imagem por ressonância magnética, um campo magnético muito forte é utilizado para emparelhar os átomos de hidrogênio da água presente no corpo. Depois, ondas de rádio com freqüências específicas são aplicadas de diferentes direções e os muitos espectros obtidos são reunidos por um computador para formar a imagem tridimensional.

É por causa desse campo magnético super forte que não podemos utilizar nada de metal durante o exame. Influenciaria na imagem e poderia até mesmo ser atraído pelo aparelho.

Tudo bem, mas onde entra a história da tatuagem do presidiário? A resposta foi dada 5s depois do desmaio pela própria médica do seriado. Muitas tintas possuem metais pesados em sua composição. Quanto mais barata a tinta, mais chumbo, cádmio, zinco e outras porcarias ela possui. Ao que parece, as tintas de tatuagens de prisão são baratas e cheias de metais. Quando o corpo do paciente é submetido ao inofensível campo eletromagnético, o metal dentro das células começa a se agitar, querendo migrar para o aparelho. A sensação não deve ser boa.

Minha irmã loira fez suas tatuagens no Chico Tatoo, em Búzios. Não acredito que elas tenham metais pesados e acho que ela pode fazer o exame sem problemas. E ela nem teria de perguntar se tivesse assistido o episódio até o final. Mas sem Pitty… não seria ela.

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