Ciência sobre a Divulgação da Ciência

Um recente comentário nesse blog diz respeito a uma questão que virou, ela mesma, motivo de investigação científica, e permanece atualíssima, como se pode notar. Parece mesmo que esse tal “diário de menininhas” acabou virando um veículo de importância para a população, seja “letrada” sob determinado assunto, seja considerada leiga. Por permitir comentários e perguntas diretas aos autores, os blogs acabam desempenhando um papel que permite a transposição dos grandes abismos entre decisões tecnocráticas, descobertas científicas, de um lado, e o entendimento geral da grande massa de não-técnicos de outro. Pelo menos foi o que algumas autoras concluiram.

Em um estudo que teve este blog como objeto ou, mais especificamente, comentários dos leitores feitos a partir de posts sobre a campanha de vacinação contra a gripe A de 2010, Fausto e col. concluiram que os blogs são ferramentas úteis para propagação de informações sobre saúde ao público não-especializado. Nas suas palavras “This approach enlightens the internet blogs as useful tools for searching about health information by the lay public, indicating that the official health campaigns should reinforce their strategies to disseminate health information in a simple and understandable way to the general public, in order to inform and influence individual and community decisions that improve health.”

Pelo que soube, o estudo foi bastante bem recebido no encontro sobre informação e saúde em Bruxelas, o que significa que mesmo em países onde as desigualdades são menores que as nossas, o acesso a informação clara e objetiva é fundamental e desejado. Gostaríamos de parabenizar as autoras Sibele Fausto, Fabiana Carelli, Lúcia Eneida e Helena Neviani pelo excelente trabalho e agradecer a divulgação. De minha parte, tê-las como leitoras é uma honra e tanto. Espero sempre poder corresponder às vossas expectativas.

Para concluir, como não poderia deixar de ser, vamos a um exercício de reflexão. Se esse é um blog de divulgação científica e torna-se, ele mesmo, objeto da ciência, quando escrevo um post divulgando a ciência que o estudou, estou divulgando o quê? O blog propriamente dito ou a ciência que o motiva? Apesar desta pergunta ter me incomodado alguns segundos, entendi que sua relevância era pequena e que este meta-post é bem mais um agradecimento/reconhecimento que uma divulgação aos meus poucos porém altamente seletos (e queridos!) leitores como ficou aqui cartesianamente demonstrado.

ResearchBlogging.org Fausto S, Carelli F, Rodrigues LE, Neviani EH (2012). The Brazilian blog Ecce Medicus and the information on H1N1 flu vaccine for lay people: a case study in Health Communication. Annals of the European Association for Health Information and Libraries Conference, 13th, Brussels, 224-226.  http://sites-final.uclouvain.be/EAHIL2012/conference/?q=node/1444.

 

Ecce Medicus – 1 ano

Quando comecei a escrever este blog, não sabia exatamente onde ia chegar. Eu queria simplesmente organizar uma porção de idéias que povoavam minha cabeça e, quem sabe, um dia colocá-las em um livro. Pela sua própria forma de ser, um weblog permite que você se cite e isso acaba por construir uma matriz de conceitos que, assim postos, são mais fáceis de visualizar e entender. Além disso, e talvez mais importante, um weblog permite que você coloque suas idéias à prova. Os comentários são úteis não para testar a popularidade mas, para saber se o que estamos pensando não contém erros lógicos, preconceitos, inconsistências ou incoerências. Por isso, não me canso de agradecer a cada comentário. Cada pessoa que perde seu tempo comigo manifestando uma opinião sobre algo que escrevi merece no mínimo, um obrigado.

Muitas pessoas que me conhecem perguntam porque ainda uso um pseudônimo. Resolvi responder essa questão somente após um ano de blog. Tenho visto muitos blogs pessoais de médicos e sobre medicina em geral. A enorme maioria é para promover clínicas e consultórios particulares. Sei que muitas idéias presentes aqui vão de encontro ao que pacientes desesperados em sua dor e sofrimento gostariam de ouvir de seus médicos particulares. Nunca neguei que muitas delas aqui expostas são derivadas de minha atividade privada. Na minha maneira de ver, esse contato é onde realmente a relação médico-paciente se dá de forma mais intensa e onde os conceitos provenientes da dúbia (ciência e arte) atividade médica são realmente postos à prova. Por isso, para permanecer público, devo continuar incógnito.

Gostaria, por fim, de agradecer a pessoas/blogs que me ajudaram no início e incentivaram a criação e manutenção do Ecce Medicus. O Amigo de Montaigne de quem recebi incentivo e instruções iniciais sobre a blogosfera; Ciência e Idéias, 100nexos,  o Rainha Vermelha e o Brontossauros em Meu Jardim e a todo o pessoal do Lablogatorios, pelos convites e projetos nos quais o Ecce Medicus se envolveu, pela mão nos widgets e pela qualidade das discussões. Esperava escrever esse post no Scienceblogs o que não foi possível (mas por motivos bons!), mas estaremos lá em breve. Aos blogs amigos, novos e antigos, sempre benvindos. E principalmente, a todos os leitores que comentaram posts, discutiram idéias e me fizeram ver todas as perspectivas de cada detalhe desta maravilhosa forma de conhecer a humanidade e os humanos que é a medicina: Muito Obrigado!