Incoerente?! Eu?!

Quantas vezes já te chamaram (ou acusaram 😉 de incoerente? Mas o que é coerência? Existe todo um ramo da estatística que lida com a tomada de decisões. Todas essas técnicas pretendem avaliar as probabilidades de você alcançar o sucesso escolhendo entre diferentes possibilidades (quem assistiu “Quero ficar com Polly”?). É assim que as companhias de seguros (e também os cassinos) ganham rios de dinheiro. No entanto, para que elas funcionem, é preciso que haja… coerência! Estatisticamente, coerência é descrita da seguinte forma: Se A é melhor do que B, e B é melhor do que C, então, obrigatoriamente, C é melhor do que A. Concordam? Aposto que sim. A maior parte de vocês deve concordar. O problema é quando saímos das ‘letrinhas’. Você pode preferir jogar bola (evento A) do que ir a praia (evento B), e preferir ir ao cinema (evento C) do que ir a praia (evento B). Então, por coerência, você deveria preferir ir ao cinema (evento C) do que jogar bola (evento A). Só que, estatisticamente, nem todos concordariam quanto a essa conclusão. Algumas pessoas, prefeririam jogar bola do que ir ao cinema (seria interessante fazer essa pesquisa pra saber exatamente o resultado entre nossos leitores). E isso seria, do ponto de vista científico, incoerente. Isso é uma exceção? Não. O fato é que o ser humano é, basicamente, incoerente!

É verdade que os problemas que enfrentamos são mais complexos do que isso simplesmente jogar bola ou ir a praia. Mas vamos manter o exemplo e complicar um pouco a situação: você prefere ir a praia se estiver sol, mas e se chover? Chovendo, deve ser melhor ir ao cinema. Mas e se você não sabe se vai chover? Melhor ir pra praia e arriscar? Ou ir ao cinema e correr o risco de perder o dia de sol, mas se divertindo sem o risco de passar frio?

Bom, agora entra em cena outra questão, a ‘propensão ao risco’. Esse fator é ainda mais variável. Principalmente por que a propensão ao risco da chance de ganhar e do premio. Em geral, quanto maior o ganho (ou melhor o premio), maior o risco que a pessoa está disposta a correr. Mas isso pode mudar se as chances de ganhar forem pequenas. A propensão ao risco varia de cultura para cultura e de pessoa para pessoa, mas se ela depende das chances, podem variar até para a mesma pessoa. Nesse caso, dependendo do risco, o premio pode deixar de ser interessante. Parece lógico? Pode (até) parecer, mas a conseqüência é a falta de coerência. E falta mesmo!

Dependendo do premio e do risco, a coerência… flutua!

Bom, e agora?! Como viver nesse mundo cheio de pessoas INCOERENTES? Não é fácil. Desde pequenos vivemos em um mundo dicotômico (dia e noite, muito e pouco, etc) e somos ensinados a escolher entre ‘certo’ ou ‘errado’. Nunca pudemos dizer: tenho 70% de certeza de que tenho a resposta certa.

A forma que o ser humano elegeu para lidar com a incerteza dos eventos foi eliminá-la, ao invés de aprender a lidar com ela. Como eliminar a incerteza é impossível (vocês já ouviram falar do principio de incerteza de Heisenberg?), agora temos de nos re-educar para lidar com ela. Mas não dá pra, depois de macaco velho, sair por ai calculando probabilidades e montando árvores decisórias pra decidir se vamos passar as férias na montanha ou na praia. O que podemos é, sabendo que os eventos são incertos e que as pessoas são incoerentes, propormos escolhas mais flexíveis (até para nós mesmos). Quanto menos você colocar uma situação entre certo ou errado, menos pressão vai colocar sob a pessoa que deve decidir. E mais fácil vai ser (deveria ser) a decisão. Não é coerência, é ciência!

PS: De acordo com diversos estudos, só um elemento consegue generalizar a coerência nos seres humanos. Dinheiro! (apostos que vocês pensaram que eu ia falar sexo!) Repita o teste do ‘se A é melhor que B e B é melhor que C, então A é melhor que C’; substituindo os eventos por quantias monetárias crescentes. Todos os participantes do teste concordarão e serão coerentes: uma quantia maior é sempre preferível a uma quantia menor.

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