Água mineral verde?
Outro dia me perguntaram, por que a água mineral do meu garrafão fica verde?
Segundo o revendedor, seria por causa do sol, na área onde os garrfões ficariam guardados. É verdade, o sol poderia ‘despertar’ as algas que estão na água. Peraí… mas tem algas ná água potável? Não deveria ter!
Bom, essas algas só poderiam se reproduzir se tivessem nutrientes. Principalmente P (fósforo) e N (nitrogênio) que são altamente limitantes em condições normais. Em geral, eles deixam de ser limitantes quando a água está, digamos, suja. Na verdade contaminada com esgoto doméstico (que pode ser representado pelos coliformes fecais). Peraí… á água mineral é suja? Não deveria ser!
Pode ser que alguma confluência de fenomenos complexos faça a sua água mineral ficar verde. Mas o mais provável, é que essa fonte seja uma porcaria.
Quem me perguntou comprou água de uma outra fonte, e ela nunca mais ficou verde!
A que a ciência se propõe?
De acordo com alguns autores, temos 3 esferas de conhecimento: o religioso, o filosófico e o científico. Sim, nessa ordem de importância.
O conhecimento nasce, de forma inerente, da observação da natureza. O principal método para o aprendizado da natureza, por milhares de anos, foi a observação direta dos eventos. Como a observação não era metódica, pouco conhecimento podiam extrair delas. Os fenômenos pareciam inexplicáveis e eram atribuídos a entes superiores: deuses. A religião nasce como uma forma de compreender e se comunicar com esses deuses. Cultos para agradar os diferentes deuses, aplacar sua íra etc…
O conhecimento religioso não necessita de muito para ser comprovado, apenas de fé. Um conhecimento que necessita apenas de fé não pode nunca ser testado. Não precisa mudar nunca.
Os filósofos foram grandes observadores. E queriam encontrar formas de explicar a natureza que não envolvessem, pelo menos diretamente, os Deuses (apesar de mesmo filósofos como Kant sempre encontrarem uma forma de colocar Deus por uma porta dos fundos pra não desagradarem a Igreja). Desenvolveram uma ferramenta muito interessante para testar esse conhecimento: a lógica. Infelizmente, a lógica se mostrou limitada para a busca da verdade. A lógica não pode ser testada. E se uma teoria não pode ser testada… então não é uma teoria!
A busca da verdade ganhou força com o modo científico de pensar. Os primeiros cientistas, que também eram um pouco filósofos e um pouco magos, usavam alem da crença e da lógica, uma outra ferramenta para testar suas observações da natureza: a experimentação. A tentativa e erro foi a forma original e mais simples de experimentação. E Galileu Galilei foi o maestro dessa obra.
Com o tempo, houve a necessidade de sistematizar a observação dos fatos, a experimentação e a comprovação das observações. E Descartes nos presenteou com o método científico.
Com o desenvolvimento do método e a sistematização da produção de conhecimento, o mundo adentrou uma era de desenvolvimento científico e tecnológico que resulta no tipo de vida que levamos hoje.
No início do século XX, uma ampla discussão envolvendo o pai da psicanálise Sigmund Freud e o filósofo da ciência Karl Popper, levou o segundo a formular o conceito (que podemos discutir melhor outra vez) de que uma teoria somente é científica se puder ser REFUTADA. A comprovação de uma teoria não é suficiente para que ela possa ser aceita como tal. Essa discussão tirou quase todas as ciências humanas do campo das ciências propriamente ditas (eu sei… é controverso. Podemos discutir isso). Ou seja, para uma verdade ser científica, ela NÃO pode ser absoluta! E essa é sua beleza.
Até mesmo arte, filosofia e religião são influenciadas pelas ciências, muito mais do que a influenciam. Lembrem como a fotografia mudou radicalmente o cenário da pintura nos séculos XVIII e XIX e continua mudando até hoje com a multimídia. E como tantas religiões tentam se adaptar a fatos científicos que são irrefutáveis, mesmo com a crença em Deus. O próprio “Inteligente design” é uma tentativa (absurda) de conciliar a ciência moderna com a religião.
A ciência têm sim a pretensão de descobrir a verdade, a mesma pretensão da religião e da filosofia, mas não de ser imutável. Ela quer justamente mudar e se aperfeiçoar. A verdade de hoje é uma verdade melhor que a de ontem. E a de amanhã… quem sabe?! Assim que ela cresce!
E enquanto a filosofia e a religião estão há mais de 5000 anos prometendo o que não podem dar, em 5 séculos a ciência nos deu TUDO que temos.
Você pode não gostar, ou não se interessar pelo que temos, mas isso não é culpa da ciência, e sim do uso que os homens fizeram com o conhecimento que ela produziu. Ou do quanto de verdade você pode suportar.
E ai, com a licença de Nietzsche (citado pela mesma amiga), “Que a arte permita que a verdade não nos destrua”.
Amém!
PS: Se você se interessa pelo assunto, leia: Mundo Assombrado Pelos Demônios, O. Carl Sagan. 2002. 1a edição, Companhia das Letras, 448 páginas.