É "Licenciamento Compulsório" ou "Quebra de Patente"?


Essa não é uma pergunta pra biólogo, mas se o biólogo tiver uma namorada advogada… E se ela participou diretamente do evento inédito no Brasil de quebra do monopólio de um medicamento considerado de utilidade pública… Se vocês tiverem alguma dúvida, basta colocar uma pergunta nos comentários que eu peço pra ela responder.

Aproveitem para ver a embalagem na foto porque ela vai virar peça de museu. O Brasil fez ontem o licenciamento compulsório do Efavirenz, um retroviral importante no combate a AIDS.

Alguns vírus, como o HIV são classificados como retrovírus. Isso porque o seu material genético é RNA e não DNA, como a maioria esmagadora dos organismos (tudo bem, há quem diga que vírus nem são organismos, mas essa é uma outra discussão). Quando esses vírus infectam uma célula, eles usam o maquinário dessa célula pra traduzir esse RNA em uma proteína. A primeira proteína produzida é uma retrotranscriptase, uma enzima capaz de converter RNA de volta a DNA. Com isso o cDNA (DNA complementar ao RNA) do vírus pode se instalar no meio do DNA da célula invadida. Assim toda maquinária que a célula usa para produzir proteínas para o corpo a partir do seu DNA fica a serviço do cDNA viral. Uma estratégia muito eficiente. Os anti-retrovirais atuam justamente nessa enzima retrotranscriptase (veja a foto do efavirenz no meio da enzima) e são bastante específicos, já que apenas os vírus possuem retrotranscriptases.


Desde a faculdade existe a discussão sobre as patentes: a importância da proteção da propriedade intelectual vs. o monopólio da exploração econnômica. Desde aquele tempo, venho me debatendo com essas questões. Sou a favor da proteção a propriedade intelectual, mas sou contra o monopólio. Sou muito, muito a favor do livre acesso a todo conhecimento científico. Mas como existem muitas questões legais, ainda estou tentando descobrir se isso me faz contra ou a favor da lei de pantente 😉

Mas a questão aqui é que, com a Pandemia da AIDS, um laboratório farmacêutico não deveria poder jogar com o fato de ser o único a produzir e vender um medicamento que pode salvar a vida de milhões de pessoas, por exemplo, vendendo um comprimido no Brasil a USD 1,69 enquanto para Tailândia o preço é USD 0,69. E foi justamente o que o Brasil fez ontem, disse pra Merck que: “Isso não pode!”

Com o dinheiro que o ministério da Saúde vai economizar, bem que podiam aumentar a verba para pesquisa nas universidades.

Diário de um Biólogo – 5a feira 03/05/07


A Rê pediu pra eu levar ela até Far(away)manguinhos. O carro dela ainda não está pronto e lá fomos nós. Paramos pra tomar café na loja do posto, o que já está virando mania. Veja que não é qualquer posto e está é a mania. Acho que vou ficar cheio de manias quando ficar velho. Depois seguimos pela linha amarela enquanto apreciávamos o congestionamento que eu ia pegar pra voltar. O amor é lindo!

Chegando no fundão eu gastei uma grana em um drive externo para o computador do lab. Cansei de apurrinhação com os backups. Pelo menos em disco eu não vou mais ter problema de espaço. Depois passei o resto do dia preparando e corrigindo poster. Lembrei do tempo em que, depois de terminar o mestrado e antes de entrar no doutorado (e até mesmo um pouco depois) fazia um extra diagramando posters que meu pai imprimia na TecImagem. Eu era bom! Queria ter mais coisas para contar nesse último dia de diário, mas o dia passou e quando eu ví, já era hora de ir embora e nem tinha começado a fazer a aula de ecologia.

Fui tomar um chopp no Belmonte com alguns amigos da Rê mas não fiquei até tarde porque 100 páginas de “Dinâmica de Populações” me esperavam antes da aula as 8 da manhã do dia seguinte.

Preciso me organizar melhor. Preciso realmente voltar a fazer exercícios.

Diário de um Biólogo – 4a feira 02/05/07

Odeio acordar cedo!

Chego no Fundão pra dar aula de Fisiologia Cárdio-Vascular pro curso de Odontologia. Meia duzia de gatos pingados na sala. Poderia dizer que ainda não tinham voltado do feriado, mas na semana anterior tinha sido a mesma coisa. Pior pra eles! Todo mundo se salva em fisiologia porque tiram nota boa em Cárdio. Não tem mistério. Eu e Célio não somos médicos mas sabemos fisiologia, por isso a gente ensina fisiologia e não clínica. Sabemos o que ensinamos e sabemos o que queremos avaliar se eles aprenderam. A prova não tem pegadinha. Sabe-sabe, não sabe-não tem muito como enrolar, a gente percebe na 2a linha. Depois do intervalo tem ainda menos gente na turma. Uma, duas piadinhas… ninguém nem ri. Falo da vazão do coração… ninguém se impressiona. Depois do intervalo tem menos gente ainda. Uma tristeza.

Volto pra minha sala e a quantidade de papel na minha mesa me assusta. Acendo a tela do computador e pipocam vários Post-it eletrônicos com milhares de coisas pra fazer. Fico mais assustado ainda. As coisas estão se acumulando: textos pra ler, artigos pra escrever, coisas pra fazer. Não consigo fazer tudo que eu quero. Eu sei que todo mundo tem esse problema, mas eu gosto de planejar o que eu consigo fazer e FAZER! então pra mim esse é um problema maior que para os outros.

A Silvia veio apresentar uma palestra sobre o trabalho dela na UENF. O títluo parecia chato mas a palestra foi interessante. Vários dinoflagelados (algas que causam a mará vermelha) tóxicos estão presentes ao longo de toda costa do Rio de Janeiro (e do Brasil). Fico pensando se os bichos (eu sei, algas não são bichos) vieram por água de lastro, como espécies invasoras, mas a Silvia acha que eles sempre estiveram aqui, só que ninguém procurou antes. Ainda penso na questão da biotransformação das toxinas pelos peixes, diminuindo a toxicidade (tenho que escrever sobre os P450 um dia). Isso é relativamente inédito e eu gostaria de saber como funciona nos moluscos bivalves.

Volto pra minha sala pra passar o resto da tarde perdido entre os papeis. Consigo discutir um pouco do poster do Rodrigo e, sem saber por onde começar, paro e vou almoçar. Encontro a Silvia e a Gisela almoçando. Fico pensando se faço picuinha por causa da Sala de aquários na Biomar mas deixo pra lá. Algumas fofocas sobre o povo de Rio Grande depois vamos pagar e voltar para o sub-solo. Os representantes da Labiocenter aparecem pra tentar resolver a questão da centrifuga. O fabricante colocou o chip errado e ela funciona no mássimo por 300 s. Fala sério, ninguém merece ter que ficar resolvendo essas porras. Preciso de uma secretária!!!

Decido mexer no artigo para o congresso. Procuro no diretório onde ele deveria estar mas não está. Quando procurei em casa jurava que estava no computador aqui do lab. Agora que estou no lab vejo que realmente está no computador de casa. Um dia ainda vão inventar uma rede como diretórios virtuais acessíveis fácil e rapidamente de qualquer lugar. Olho no relógio doido para ir embora, mas ainda tem análise hoje.

Fui pra Sara e depois peguei a Rê na Estácio em copa. Comemos em um Japa em Botafogo mas sem nenhum atrativo especial. nem mesmo o preço. Precisamos comer mais em casa.

Chego em casa e não consigo produzir direito também. Pelo menos a casa está limpa. A Denise (minha nova faxineira) foi um achado! Preciso liberar espaço no computador mas o gravador de DVD não funciona. Passo horas procurando na Internet o motivo e descubro, totalmente por sorte, que depois de intalar o iTunes o Windows XP para de reconhecer o gravador de DVD como tal, reconhecendo apenas como gravado de CD.

Ah, não!!!! Entro no site do curso a distância da UAB e tem um motim estabelecido. Corto cabeças pra lá e pra cá. Estou esgotado. Duplamente, porque produzi muito pouco. Melhor ir dormir. Amanhã tem que acordar cedo. E eu ODEIO acordar cedo!

Diário de um Biólogo – 3a feira 01/05/07


Acordei com dor nas costas e preguiça de ir a praia. A Rê foi e eu fiquei em casa escrevendo um monte de textos pro blog. Terminei de ler a tese do Rodrigo e comecei a ler aulas novas do curso da UAB. São tantas coisas que tenho de preparar até o dia do congresso (Domingo) que não sei como vou fazer. Mas sei que eu sempre faço!

É dia do trabalho e vai ter show de graça na praia. Nada mais carioca do que show de graça em Copacabana. Quando voltei pro Brasil ia em todos eles, qualquer que fosse, só pra injetar carioquice na veia.

Almoçamos um monte de salada com a truta defumada que compramos ontem e cerveja Original que eu encontrei no supermercado e fomos pro show da Daniela Mercury. Eu sempre a achei melhor que a Ivete, ainda que eu ADORE a Ivete. Mas o show, como os últimos dela que eu vi, foi chatinho. Valeu pela Margareth Menezes.

Voltamos de metrô. Lar-Doce-L… Apagamos antes de terminar a frase.

Quando o homem começou a falar?

“Acredita-se que o homem tenha começado a falar – ou começado a tentar falar – cerca de 60 mil anos antes da Era Cristã. Essa possibilidade foi levantada após a descoberta de um osso hióide – situado na base da língua – em uma caverna do Monte Carmelo, em Israel.”

É impressionante a quantidade de vezes que o texto acima, exatamente como está, aparece na internet. O Google virou realmente um oráculo. Basta estar ali para ser “verdadeiro”. Ninguém mais se dá ao trabalho de verificar as informações. Bom, eu pesquisei pra contar pra vocês.

A fala nos humanos é permitida por uma intrincada articulação entre o cérebro, a laringe, as cordas vocais e a língua. Os elementos necessários para essa que ela pudesse acontecer foram aparecendo ao longo da evolução dos hominídeos. Dê uma olhada no texto sobre a origem do homem para ver a cronologia das diferentes espécies que antecederam o Homo sapiens.

A maior parte dos autores concorda que a adoção da posição bípede tenha sido fundamental para liberar as mãos e a boca dos hominídeos e permitir os dois processos fundamentais para o aparecimento da fala. O primeiro foi o uso das mãos para a construção de ferramentas. As ferramentas rudimentares apareceram entre 2,5 e 2 milhões de anos atrás como o Homo habilis. Segundo alguns autores, seria impossível a criação de utensílios sem a existência das capacidades intelectuais que acabam por definir a própria condição humana: o processo seqüencial mental, a associação de eventos em uma determinada ordem de acordo com uma determinada lógica. As capacidades de abstração, previsão, imaginação e a noção de símbolo.


Os hominídeos desenvolveram processos de reconhecimento de padrões, classificação em categorias e interpretação ordenada do mundo. Processos esses que são, ao mesmo tempo, que estabelecem a base de uma linguagem, necessitam de um mecanismo de transmissão e compreensão de mensagens mais longas e complexas que caracterizam a própria linguagem. A utilização de sinais necessitava da proximidade entre os indivíduos entre eles e entre o objeto discutido. Apenas uma linguagem oral (e depois escrita) permitia transmitir mensagens que não tivessem correspondência com a realidade percebida através dos sentidos (sentimentos, desejos e outros pensamentos abstratos). A partir daí o grupo humano pode passar a se beneficiar das experiências de um individuo e o indivíduo das experiências alheias. O desenvolvimento da fala e das tradições orais foi fundamental para a natureza aditiva do conhecimento humano e para a formação da cultura.

Tão importante quanto o desenvolvimento do cérebro e da inteligência, foi o desenvolvimento do aparelho buco-faríngeio. A maior parte dos cientistas acredita que o Homo habilis, mas principalmente o Homo erectus, possuía algum tipo de vocalização rudimentar. O basicrânio arqueado dos humanos modernos (essencial a fala) começou a aparecer nessa espécie cerca de 2 milhões de anos atrás e ele já poderia produzir certas vogais, como u, a, e, i.


Também a Laringe, que nos primatas é curta e alta, se desenvolveu nos humanos até ficar longa e baixa, funcionado como um órgão de sopro. Curiosamente os bebes humanos, até os dois anos de idade, não possuem a laringe baixa e só por volta dos 14 anos a nossa laringe se estabelece na posição “adulta”. Deve ser por isso que praticamente ninguém aprende a falar antes dos dois anos de idade. Essa laringe mais baixa permitiu, agora sim, o aparecimento do osso hióide, outra adaptação anatômica fundamental para a fala.

O hióide é um pequeno osso em forma de U que segura e permite a articulação da língua e foi descoberto nos Neandertais. Ao contrário do que o texto do início sugere, não é isso que marca o aparecimento da fala. Apesar de ser um pré-requisito importante, o hióide está longe de ser o único ou o mais relevante. Apesar do hióide, nos Neandertais, a base da língua era muito acima da garganta deixando a boca, literalmente, “cheia”. Com isso os sons emitidos por eles deveriam ser muito anasalados, lentos e de difícil compreensão. Muitos antropólogos acreditam que a fala pouco desenvolvida foi a razão da extinção dos Neandertais. “Quem não se comunica, se trumbica”, já dizia o velho guerreiro.


Uma peça chave no enigma é o nervo hipoglosso, que controla os movimentos da língua. Esse nervo se insere no crânio através de um orifício e é duas vezes maior nos humanos modernos que nos chimpanzés. De acordo com esse critério as formas mais primitivas de Homo não poderiam ter falado, o que coloca o início da fala realmente com os Neandertais em torno de 400.000 anos atrás. No entanto, algumas evidências sugerem que o Homo habilis já se comunicava com um repertório de sons maior que o arfada-apupo-grunhido dos chimpanzés modernos.

Uma coisa é certa, a reorganização do cérebro e as mudanças anatômicas necessárias ao aparecimento da fala só apareceram com o surgimento dos Homo e eram inexistentes nos Australopithecus. O que a história não conta é que, certamente, quem começou a falar, foi uma mulher! 😉

Uma breve história do homem

Entrar no campo da paleontologia, e especialmente na origem do próprio homem, é complicado. Como vocês pode imaginar, o tema tem uma carga emocional maior que a quantidade de evicências científicas. Alem disso, muitos paleontólogos forjaram evidências de fósseis humanos querendo os louros de terem descoberto o “Elo Perdido” e os poucos fósseis confiáveis que temos não são suficientes para estabelecer consenso científico. Mas precisei faze-lo para depois falar da origem da fala.

Crânio de Sahelanthropus tchadensisA espécie mais antiga de hominídeo é o Sahelanthropus tchadensis e data de 6 à 7 milhões de anos atrás. Os Australopithecus viveram entre 4 e 2 milhões de anos atrás.

O exemplar fóssil mais famoso do mundo é a Lucy, uma fêmea da espécie Australopithecus afarensis com Esqueleto fóssil do Australopithecus afarensis Lucyaproximadamente 25 anos, 28 kg e 1,07 m; descoberta por Johanson e Gray em 1974 em Hadar na Ethiopia (eles estavam escutando “Lucy in the Sky with diamonds” dos Beatles quando descobriram o joelho do esqueleto). Para muitos os Australopithecus ainda viviam em árvores, apesar de serem capazes de pequenas incursões bípedes por terra.

A grande controvérsia começa com o aparecimento do Homo, provavelmente o Homo habilis, que recebeu esse nome por que apareciam muitas ferramentas junto aos fósseis e que viveu de 2,5 a 1,5 milhões de anos atrás. Logo depois apareceu o Homo erectus, encontrado em boa parte da África, Europa e Ásia e com muito mais capacidade craniana, habilidades manuais e capacidade de caminhar em pé. O Homo sapiens neanderthalensis, ou homem de neanderthal, viveu entre 300 e 30 mil anos atrás.

Crânio do Homem de Cro-MagnoO primeiro Homo sapiens moderno apareceu 200.000 anos atrás. O Homem de Cro-Magnon (5 esqueletos descobertos em Cro-Magnon, na vila francesa de Les Eyzies) viveu na Europa entre 30 e 10 mil anos atrás e eram caçadores hábeis, faziam kits de ferramentas e foram os famosos artistas responsáveis pelas pinturas ruprestes em cavernas de francesas de Lascaux, Chauvet e Altamira.

Atualmente não acredita-se mais que os homens vieram dos macacos, mas que homens e macacos se originaram de um ou mais ancestrais comuns como os Australopithecus.

Diário de um Biólogo – 2a feira 30/04/07


Adoro a tecnologia! Quando já estava me desesperando por ter de ir até Friburgo pra sacar dinheiro e voltar a Lumiar para pagar a pousada que não aceitava cartão, descobri que podia fazer uma transferência entre contas pelo celular no site WAP do BB. Adoro a tecnologia!

No caminho de volta (dessa vez o caminho certo) fomos obrigados a parar em um lugar que anunciava: Orgasmos degustativos! Degustação de orgasmos seria melhor, mas a parada valeu a pena e compramos truta e um monte de outras coisas defumadas.

Chegando no Rio, fizemos compras na Cobal de Botafogo e almoçamos no Zé. A preguiça de Lumiar não largou a gente e deve ter sido duro pra Rê ter de ir dar aula a noite. Eu mal dei conta de desarrumar a mala, mas preparei Pesto Genovês que comemos com uma garrafa de Porca de Murça. Ainda dei uma olhada no curso de capacitação da UAB antes de dormir, mas parece que o povo todo estava de preguiça no feriado: “Nenhuma atividade desde o seu último login“.

Fomos dormir sem lareira, mas com o coração aquecido.

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