Sei ou não sei? Eis a questão!

O tema do Roda de Ciência desse mês é ‘A importância da comunicação da incerteza para o público leigo’.


Eu não tenho certeza, mas foi com o prof. Paul Kinas, e não com Heisenberg, que eu passei a perceber a incerteza do mundo. Ele era um mago da estatística Bayesiana que ensinava estatística como filosofia de vida. Filosofia que eu adotei.

Marcelo Gleiser começa o livro ‘Dança do Universo‘ falando da importância da dualidade para o ser humano: Dia e Noite, Claro e Escuro, Quente e Frio, Certo e Errado! O meu professor de estatística dizia que o problema é que nós não fomos educados a conviver com a incerteza. Durante toda nossa educação formal, fomos obrigados à escolher entre o ‘certo’ e o ‘errado’. Não nos ensinaram que as coisas, muitas delas, eram (e sempre serão) ‘incertas’. Aprendemos a fazer aproximações, aprendemos a escolher entre o ‘certo’ e o ‘errado’. Mas não aprendemos que entre os dois existe o ‘incerto’. Aliás, é muito pior, aprendemos a ignorar o incerto, ou tortura-lo até que se torne ‘certo’ ou ‘errado’. O resultado é desastroso: a grande incapacidade da maioria das pessoas de entender a ciência.

O Kinas dizia que deveríamos poder, na escola, escolher o certo apontando nosso grau de certeza relacionado com a escolha: “Acho que está certo, mas tenho com 70% de certeza!” Não seria lindo poder dar uma resposta dessas no vestibular?

Bom, ele nos deu uma prova assim. Lembro até hoje de algumas das perguntas:
“Qual cidade tem maior área urbana, Rio de Janeiro ou Buenos Aires?” Bairrista, respondi ‘Rio’ sem titubear. 95% de certeza! Mas como a geografia não se dobra a emoção, errei e perdi muitos pontos. Porém, mais pontos perdia quem dissesse que ‘sim’ ou que ‘não’ com 50% de certeza (que reflete não só a ignorância, mas o descaso e o descompromisso com a questão). Isso trás outra questão: a importância de escolher. O fato de existir incerteza não nos exime de ter de tomar decisões frente à ela.

Os psicólogos vão dizer que sempre fazemos escolhas, pois mesmo quem não escolhe, está fazendo uma escolha. E está mesmo. Só que as pessoas acham que têm de estar seguras do ‘certo’ pra escolher, quando o que nos diferencia do todo são justamente nossas escolhas frente ao incerto. Já escrevi aqui que acreditar no óbvio é fácil. Tomar decisões quando se tem todas as informações também é. Já quando a gente não sabe…

Bem, quando a gente não sabe, pode sempre recorrer ao ‘Cálculo de utilidades’ e as muitas outras ferramentas de ‘Tomada de decisão’ e ‘Análise de risco’, que a estatística tem a nos oferecer. E que, diga-se de passagem, deveriam ser matéria obrigatória na escola, porque podem ajudar muito a escolher a melhor opção frente a incerteza. Da mesma forma que companhias de seguro e cassinos fazem (e ganham rios de dinheiro com isso).

Mas enquanto isso não entra no currículo, poderíamos pelo menos parar de perguntar aos nossos alunos ‘se’ eles sabem, e começar a perguntar ‘o que’ ou ‘o quanto’ eles sabem.

Por favor, comentários aqui!

Discussão - 2 comentários

  1. Cris disse:

    Gente, vocês sabem que a discussão desse post tá lá no link que o Mauro pôs no final? Só vi agora... Mas não resisti, resolvi postar aqui também. Desculpa Maurinho, esse foi grande:Hummm... Fiquei um pouco incerta acerca do que escrever... Mas vamos lá, há alguns pontos. Falando em exatas, me ocorreu um exemplo maravilhoso do Zar, o autor de um ótimo livro de bioestatística que me perseguiu (o livro, não o autor) durante os anos de pós. Há 4 lugares onde pardais fazem ninhos: árvores, arbustos, troncos e pedras. Em uma floresta, há 100 pardais. Dentre eles, 90 fizeram ninhos em árvores, 4 em arbustos, 3 em troncos, 3 em pedras. Qual é a chance de você olhar para cima de uma árvore e encontrar um ninho de pardal? Em outra floresta, há 100 pardais. Dentre eles, 25 fizeram ninhos em árvores, 25 em arbustos, 25 em troncos, 25 em pedras. Qual é a chance de você olhar para cima de uma árvore e encontrar um ninho de pardal? Assim ele explicou o conceito de diversidade. Nesse caso, diversidade de lugares de ninhos de pardais. E o mais lindo foi dizer que o índice de diversidade deveria ser chamado de índice de incerteza. A segunda floresta é um ambiente mais incerto, menos previsível, do ponto de vista do local de ninhos. Quanto maior a incerteza, maior a diversidade. Olha aí que frase linda, pra gente transpor para outros domínios! Não vou nem puxar a brasa para a sardinha de minha preferência... E não poderia deixar de citar a máxima que aprendi com meu oráculo, Sonia Rodrigues: “Cris, na vida, você prefere estar certa ou ser feliz?”. A incerteza, estou convencida, está fortemente correlacionada (para usar o termo estatístico correto) com a felicidade. Ou por outra, a opção pela incerteza é um pacto com a felicidade. A importância de escolher! Matéria importante na escola, concordo novamente com o Maurinho. Enquanto isso não acontece, eu fico por aqui me esforçando para ensinar ao homem da minha vida a beleza e a essencialidade da escolha por ser feliz. Ainda bem que ele tem muito tempo pela frente pra exercitar a lição!

  2. Sei ou nao sei eis a questao.. WTF? 🙂

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