Coisas que aprendi ao longo do último ano
- O pensamento é um processo altamente desgastante e impreciso. O fato de podermos pensar não significa que sejamos bons nele.
- Não somos bons em pensar e por isso queremos usar a ‘intuição’. A intuição não traz resultados reprodutíveis.
- ‘Confirmation bias’ e outros fenômenos nos iludem do poder da intuição.
- O pensamento é a inteligência são atividades que podem melhorar com método e prática.
- Existe diferença entre experiência e pratica. Experiência é fruto de repetição. Pratica tem o objetivo de melhoria qualitativa e quantitativa.
- Escolher tarefas que sejam levemente além do seu grau de conhecimento e trabalhar duro para resolver o problema (o que caracteriza pratica) é a única forma de avançar.
- O interesse não é suficiente para manter a atenção. A atenção tem que ser conquistada capítulo a capítulo.
- A distração é um problema maior do que todos queremos que seja e do que estamos dispostos a enfrentar.
- Melhorar o conteúdo para o leitor é uma tarefa do autor.
- A expectativa é a mãe de toda frustração. (Expectation is the mother of all fuck-ups)
- Nossas escolhas NÃO são, na maioria das vezes, frutos de processos inteligentes. São fruto das opções em dadas circunstâncias, do medo e da vontade de agradar aos nossos pares.
- A inteligência entra quando criamos narrativas e selecionamos argumentos que possam sustentar, intelectualmente, nossas escolhas.
- A preguiça e a resistência são uma saída para quem tem medo e dificuldade de se organizar, ou resistir às distrações ou simplesmente não se sente qualificado o suficiente.
- Não ter medo de errar e aceitar o fracasso como parte do processo de aprendizagem é a única forma de avançar. (Isso não significa aceitar ser um fracassado).
- As pessoas querem significado e/ou felicidade.
- Em geral um não vem acompanhado do outro
- Motivação depende de muito mais do que dinheiro: Depende de propósito, realização, compartilhamento e reconhecimento.
- As pessoas querem ser ouvidas sem necessariamente ter algo a dizer. Estão todos parados em conhecimento superficial e com ideias não verificadas que imitam o que outras pessoas já disseram.
- As pessoas adoram as suas próprias ideias e tendem a acreditar que elas são melhores. Sempre.
Sei ou não sei? Eis a questão!
O tema do Roda de Ciência desse mês é ‘A importância da comunicação da incerteza para o público leigo’.
Eu não tenho certeza, mas foi com o prof. Paul Kinas, e não com Heisenberg, que eu passei a perceber a incerteza do mundo. Ele era um mago da estatística Bayesiana que ensinava estatística como filosofia de vida. Filosofia que eu adotei.
Marcelo Gleiser começa o livro ‘Dança do Universo‘ falando da importância da dualidade para o ser humano: Dia e Noite, Claro e Escuro, Quente e Frio, Certo e Errado! O meu professor de estatística dizia que o problema é que nós não fomos educados a conviver com a incerteza. Durante toda nossa educação formal, fomos obrigados à escolher entre o ‘certo’ e o ‘errado’. Não nos ensinaram que as coisas, muitas delas, eram (e sempre serão) ‘incertas’. Aprendemos a fazer aproximações, aprendemos a escolher entre o ‘certo’ e o ‘errado’. Mas não aprendemos que entre os dois existe o ‘incerto’. Aliás, é muito pior, aprendemos a ignorar o incerto, ou tortura-lo até que se torne ‘certo’ ou ‘errado’. O resultado é desastroso: a grande incapacidade da maioria das pessoas de entender a ciência.
O Kinas dizia que deveríamos poder, na escola, escolher o certo apontando nosso grau de certeza relacionado com a escolha: “Acho que está certo, mas tenho com 70% de certeza!” Não seria lindo poder dar uma resposta dessas no vestibular?
Bom, ele nos deu uma prova assim. Lembro até hoje de algumas das perguntas:
“Qual cidade tem maior área urbana, Rio de Janeiro ou Buenos Aires?” Bairrista, respondi ‘Rio’ sem titubear. 95% de certeza! Mas como a geografia não se dobra a emoção, errei e perdi muitos pontos. Porém, mais pontos perdia quem dissesse que ‘sim’ ou que ‘não’ com 50% de certeza (que reflete não só a ignorância, mas o descaso e o descompromisso com a questão). Isso trás outra questão: a importância de escolher. O fato de existir incerteza não nos exime de ter de tomar decisões frente à ela.
Os psicólogos vão dizer que sempre fazemos escolhas, pois mesmo quem não escolhe, está fazendo uma escolha. E está mesmo. Só que as pessoas acham que têm de estar seguras do ‘certo’ pra escolher, quando o que nos diferencia do todo são justamente nossas escolhas frente ao incerto. Já escrevi aqui que acreditar no óbvio é fácil. Tomar decisões quando se tem todas as informações também é. Já quando a gente não sabe…
Bem, quando a gente não sabe, pode sempre recorrer ao ‘Cálculo de utilidades’ e as muitas outras ferramentas de ‘Tomada de decisão’ e ‘Análise de risco’, que a estatística tem a nos oferecer. E que, diga-se de passagem, deveriam ser matéria obrigatória na escola, porque podem ajudar muito a escolher a melhor opção frente a incerteza. Da mesma forma que companhias de seguro e cassinos fazem (e ganham rios de dinheiro com isso).
Mas enquanto isso não entra no currículo, poderíamos pelo menos parar de perguntar aos nossos alunos ‘se’ eles sabem, e começar a perguntar ‘o que’ ou ‘o quanto’ eles sabem.
Por favor, comentários aqui!