Quem quer ser cientista?

O tema desse mês na Roda de ciência é a representação social do cientista e eu não poderia deixar de participar de um tema tão importante e que me mobiliza há bastante tempo.

No mês passado descobri que poderia colocar uma enquete no Blog e o tema que escolhi justamente esse: O que você acha dos cientistas? Em mais ou menos um mês, 25 visitantes do blog votaram escolhendo entre as 4 opções de resposta:

São pessoas normais (25%);
São mais inteligentes que a média (31%)
São muito racionais e pouco emotivos (15%);
São malucos (28%).

Com uma pesquisa assim, meio de brincadeira, só podemos afirmar que felizmente já existem pessoas acham que o cientista é um cara normal, mas muitos ainda enxergam o estereótipo do cientista maluco.

Em 1998, o grupo do prof Leopoldo de Meis publicou um artigo mostrando como as crianças de 8 países vêem os cientistas. Eles analisaram desenhos respostas de 3053 crianças brasileiras e 1842 de crianças dos EUA, França, Itália, México, Chile, Índia e Nigéria. A partir dos 5 anos existe uma definição do que é um cientista e essa imagem está relacionada com um ambiente de trabalho cercado por instrumentos (especialmente vidraria) e equações matemáticas. Algumas vezes com o espaço. Palavras que apareciam relacionadas com os desenhos mostravam ‘descobertas’, ‘invenções’ e ‘experimentos’. A conclusão é que as crianças sabem o que é um cientista.

Mais ou menos como na nossa enquete, 20% das crianças se referiram ao cientista como um ‘humanitário que ajuda os outros’ enquanto outros 20% acreditavam que os ‘cientistas são malucos’ e que a ‘ciência é perigosa’.

Eles terminam o artigo comparando a visão das crianças com a que os professores tem dos cientistas, e que os cientistas tem deles mesmos, e concluem que a visão dos jovens é similar a que o cientista têm de si próprios hoje, e que por isso a ciência não deve mudar nas próximas gerações.

O problema é que a maior parte dos cientistas se desenhou no ambiente de trabalho ou perdido em pensamentos. Ou os dois. O cientista se vê como um ser anti-social. Quem vai querer ser cientista?

Outro dia uma amiga escritora estava se debulhando em elogios para o livro de Oliver Sacks “Um antropólogo em Marte”. Isso porque nos agradecimentos, o autor descreveu as circunstâncias em que escreveu o livro: após uma cirurgia que imobilizou seu braço direito. Com isso, segundo ela, ele humaniza o cientista, e permite empatia do leitor. Não é mais um cientista escrevendo, é uma pessoa. Como um ‘Agora você já pode ler!’

Ter um amigo cientista deve ser legal. Mas ir à uma festa de cientistas deve ser meio pesado. Minha namorada que o diga! Por outro lado, os cientistas parecem achar qualquer festa que não seja de cientistas, um saco. Eu que o diga!

Cria-se um círculo vicioso: visão que a sociedade tem do cientista é influenciada pela visão que o cientista tem da sociedade. E essa, em geral, é distante.

No seu livro, “O quadrante Pasteur – a ciência básica e a inovação tecnológica” Donald Strokes levanta muitas questões relacionadas com o “acordo” selado entre sociedade (governos) e cientistas (comunidade científica) depois da II guerra mundial.

“Essa afirmação (…por um apoio público vigoroso à pesquisa básica pela simples reafirmação dos argumentos a favor da ciência pura nos termos do paradigma do pós-guerra) coloca cada vez mais a comunidade científica no papel de um grupo de interesse procurando apoio para uma atividade que reflete suas próprias necessidades essenciais, em vez de mostrá-la no papel de um porta-voz capacitado de um interesse geral importante.” Mas a resposta da sociedade é clara: Não importa o quanto a comunidade científica se encante e lute pelo ideal de autonomia da investigação pura, esse não é mais um bom argumento para convencer a sociedade a financiar pesquisa!”

Só tem uma chance da gente quebrar esse vício: Nos aproximarmos da sociedade. Não só divulgar, mas popularizar a ciência. O mundo moderno vai ser construído pela informação. Precisamos que mais crianças saibam que a ciência é legal, mas que quando elas crescerem e se tornarem cientistas, não vão se tornar também seres anti-sociais.

Os dois textos mais lidos do VQEB (esse e esse) são de perguntas feitas pela Maria, essa menina linda sentada no meu colo. A curiosidade é inerente ao ser humano. E ser cientista, e explicar o mundo, é a profissão mais linda de todas. Tomara que a Maria concorde comigo.

Por favor, comentários aqui.

Discussão - 3 comentários

  1. Lia disse:

    e o espaço ciencia viva tá aí pra fazer essa divulgação de q fazer ciencia eh legal...

  2. Anonymous disse:

    Os cientistas são pessoas normalíssimas... Mas considero que a noção de que são pessoas que se dedicam muito ao trabalho, que passam muito tempo de volta de papéis e perdidos em pensamentos e dúvidas que nunca mais acabam, também deve ser considerada! Deve porque é a realidade. Nós, que fazemos ou pretendemos fazer ciência, temos que estar preparados para uma entrega muito grande...Mas isso não significa que sejamos malucos!! Apenas somos pessoas diferentes, com uma visão do mundo diferente e com sonhos diferentes. afinal, queremos contribuir para o avanço do conhecimento. E é assim que o mundo evolui...A.M.

  3. Marco disse:

    Vamos ao problema dessa coleta de informações, no caso enquete.
    Os visitantes do blog são pessoas que tem entre 8 a 80 anos, que atuam nas mais diversas áreas? Não 🙂
    Eles são:
    Cientistas idealistas - São pessoas normais (25%);
    Cientistas - São mais inteligentes que a média (31%)
    Psicólogos - São muito racionais e pouco emotivos (15%);
    Pessoas que acharam essa alternativa divertida - São malucos (28%).
    Não quis parecer sério demais, mas usar uma enquete como essa de gancho para uma opinião sua é pedir demais.

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