O mais inteligente de todos

Irmão mais velho

Quando eu era Chubby


Tenho duas irmãs lindas. O que seria de mim se eu não fosse o mais inteligente?

Não me entendam mal. Minhas irmãs não são ‘loiras burras’ (ainda que uma adore ser loira). A Adriana é uma bem sucedida empresaria de gastronomia na França e a Letícia, com talento incrível para lidar com animais (excluindo os da raça humana), é a melhor veterinária do mundo! E ainda são lindas. Sobrou pra mim então ser o mais inteligente. Bom, pelo menos é o que elas dizem.

Mas não são só elas. Desde 1874 a relação sobre a ordem de nascimento e a inteligência é investigada. Na época, o autor, F. Galton, havia encontrado mais primogênitos em posições de destaque na sociedade do que ele atribuiria ao acaso. Desde então foram vários artigos, muitos deles em revistas prestigiosas como a Science (o que de maneira alguma garante a veracidade do estudo, mas ajuda).

Bom, já posso ver a minha amiga Daniela Peres exaltada, contra-argumentando que milhares de outros fatores podem ter levado os primogênitos a serem mais bem sucedidos. Bom, ela também não é a única, e muitos cientistas argumentaram que o ‘efeito primogênito’ seria na verdade uma falácia, uma relação falsa causada por fatores de confundimento dentro de famílias grandes. Mas as evidências eram tantas, inclusive vindas de estudos com gêmeos, que outros pesquisadores ainda, resolveram examinar a questão da falácia. Eles (esses últimos) mostraram, em novos artigos, que artefatos diversos não poderiam produzir os resultados observados (nem mesmo classe social das famílias): existe realmente uma relação entre a ordem de nascimento e a inteligência em nível populacional.

Abre parênteses: Em nível populacional, aqui, significa que na sua família especificamente, você pode ser o mais novo, mais bonito e mais inteligente dos irmãos, mas isso não muda o fato de se pegarmos muitas, muitas, famílias, a maioria dos mais velhos será mais inteligente que os caçulas. Fecha Parênteses.

Mas que teoria biológica poderia explicar isso? Que ‘princípio’ poderia estar na base desse fenômeno?Alguns pesquisadores sugeriram a hipótese do ‘ataque dos anticorpos maternos’: um fenômeno não comprovado mais (pouco) plausível, já utilizado para explicar outros fenômenos interessantes mas sem muito sucesso.

Então o grupo de Kristensen e colaboradores, do artigo que cito abaixo, mostrou uma coisa interessantíssima: nas famílias onde o primogênito morreu, o segundo irmão tem o mesmo QI dos primogênitos de outras famílias! E em famílias onde o primeiro e o segundo irmão morreram, o terceiro irmão apresenta o mesmo QI dos primogênitos de outras famílias (verdade seja dita, com uma variância muito maior). O fator não é biológico: é ambiental. Ou melhor, é cultural. Ou melhor ainda, familiar!

Os primogênitos estão mais expostos a linguagem adulta que os caçulas. Eles também assumem a tarefa de responder perguntas e explicar coisas para os irmãos menores. Diversos estudos já mostraram que a preparação para ensinar alguma coisa, um tema, é a que leva a melhor compreensão daquele tema.

Os irmãos mais velhos não são ‘naturalmente’ mais inteligentes. Eles ficaram mais inteligentes porque eram professores de seus irmãos mais novos.

Irmão mais velho

Kristensen, P., & Bjerkedal, T. (2007). Explaining the Relation Between Birth Order and Intelligence Science, 316 (5832), 1717-1717 DOI: 10.1126/science.1141493

Discussão - 7 comentários

  1. Gabriel disse:

    Gostei muito do texto, Mauro, obrigado!
    Só que, como avisei pelo FB, fiquei com uma pulga atrás da orelha. Trouxe a discussão para cá por achar que a gente deve dar preferência aos comentários do SBBr a FB e Twitter sempre que possível.
    Lá vai: os autores observaram a relação entre a ordem de nascimento e a inteligência em nível populacional; ao mesmo tempo, atribuíram um forte componente familiar a isso, pois em famílias que perdem o primogênito constatou-se que o novo "irmão mais velho" se desenvolve tão bem como primogênitos de outras famílias.
    Então você escreveu que o fato de irmãos mais velhos ensinarem os mais novos resulta nesse desenvolvimento maior. Pelo que entendi, é algo apontado por bastante gente que estuda esse caso.
    Mas eu senti dificuldade em abraçar essa hipótese em seu segundo exemplo, em que "em famílias onde o primeiro e o segundo irmão morreram, o terceiro irmão apresenta o mesmo QI dos primogênitos de outras famílias (verdade seja dita, com uma variância muito maior)."
    Como isso é viável, se esse "novo primogênito" não tem ninguém para ensinar? De onde vem esse estímulo ambiental, já que o contato apontado como importante para o maior QI não existe?
    Você já viu os autores da área discutiram isso? Tem ideia do que pode acontecer? Provavelmente é fruto de um input paterno maior, uma vez que não existe mais "divisão de atenção" e certamente um grande zelo pelo filho remanescente.
    Acabei escrevendo várias dúvidas, foi mal =)
    Abraço!

    • Mauro Rebelo disse:

      Fala Gabriel,
      O texto não foi claro nesse aspecto, mas o estudo foi feito em famílias com mais de 3 filhos. Então mesmo com os dois primeiros ausentes, o terceiro ainda tinha a quem ensinar. Uma outra dúvida que você poderia ter já que se interessou pelo assunto, é: "E os filhos únicos?" Outros estudos mostraram que filhos únicos nunca chegam ao mesmo QI dos primogênitos.

  2. rafael pah disse:

    Sempre quis entender, sou mais novo por parte de mãe e mais velho por parte de pai. Como fica?

  3. Ab equis ad asinos transeunt stulti. disse:

    Britânico de três anos foi admitido na organização dos homens mais inteligentes do mundo
    O britânico Sherwin Sharabi, de 3 anos, tornou-se um dos membros mais jovens da entidade “Mensa” que congrega os homens mais inteligentes do mundo.
    O menino foi testado para o nivel do intelecto e reuniu 136 pontos. O índice médio de um adulto é de 100 pontos, e os homens super-talentosos reunem 130 pontos.
    Sherwin já sabe contar até 200, pode mostrar qualquer país no mapa e indicar sua bandeira. Segundo a mãe, o menino começou a falar aos 10 meses, e aos 20 meses já sabia falar usando proposições complexas.

  4. Jorge Oliveira disse:

    Assino o site porque gosto de ciências.

  5. Milena Pereira disse:

    Muito bom o post!
    Vou recomendar para os meus irmãos (mais novos) lerem!
    Quanto a ficar mais inteligente quando se estuda para ensinar, eu concordo plenamente. Parece que a responsabilidade de ter de passar conceitos corretos nos faz ter mais zêlo em captá-los.
    Irmãos, sinto dizer, mas como primogênita e professora, serei sempre a mais inteligente! ;P

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.

Sobre ScienceBlogs Brasil | Anuncie com ScienceBlogs Brasil | Política de Privacidade | Termos e Condições | Contato


ScienceBlogs por Seed Media Group. Group. ©2006-2011 Seed Media Group LLC. Todos direitos garantidos.


Páginas da Seed Media Group Seed Media Group | ScienceBlogs | SEEDMAGAZINE.COM